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A Bondade Do Redentor Para Com A Alma Crente, por R. M. M’Cheyne

“Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.” (Cânticos 8:5-7)

 

Apresentaremos o grande Redentor e uma alma crente, e lhes faremos ouvir seu diálogo.

 

I. A postura da Igreja.

 

1. Desde o deserto. Para um filho de Deus este mundo é um deserto.

 

Primeiro, porque tudo aqui está desvanecendo. Aqui não há nada permanente, o dinheiro tem asas e foge; os amigos morrem. Todos são como a erva, e se alguns são mais belos, ou mais atraentes do que outros, ainda assim eles são apenas como a flor da erva: um pouco mais ornamentada, porém murchando, muitas vezes brevemente. Às vezes, um conforto mundano é como a aboboreira de Jonas; ela cresceu por cima da cabeça para ser uma sombra, para livrá-lo do seu sofrimento. E Jonas se alegrou com a aboboreira, mas Deus enviou um verme, quando o amanhecer do dia seguinte levantou-se, e secou a aboboreira. Assim, o nosso conforto mundano às vezes cresce sobre a nossa cabeça, como uma sombra, e nós ficamos muito alegres pela nossa aboboreira; mas Deus prepara um verme, e desfalecemos, e ficamos angustiados até à morte. Aqui nós não temos nenhuma cidade permanente, mas buscamos a futura. Este é um deserto: “Levantai-vos, e ide-vos, porque este não é lugar de descanso; por causa da imundícia que traz destruição” [Miquéias 2:10]. Um Cristão experiente olha para tudo aqui como não permanente; pois as coisas que se veem são temporais, mas as coisas que se não veem são eternas.

 

Segundo, porque tudo aqui está manchado com o pecado. Mesmo o cenário natural deste mundo está maculado com o pecado. Os espinhos e cardos falam de uma terra amaldiçoada. Acima de tudo, quando você olha para as inundações de homens ímpios; “sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno” [1 João 5:19]. O mundo não conhece um Cristão, nem o ama. Embora você os ame, e fosse capaz de entregar seu corpo se assim eles pudessem chegar à glória, ainda assim eles não ouvirão. Acima de tudo, o pecado em nosso próprio coração faz com que nos curvemos sob o nosso fardo, e sintamos que este é um vale de lágrimas. Ah, miserável homem! Se nós não tivéssemos nenhum corpo de pecado, quão docemente gloriosas todas as coisas pareceriam; cantaríamos como os pássaros na primavera.

 

2. Saindo do deserto. Almas não-convertidas estão descendo para o deserto, para morrer ali. Todos os Cristãos estão saindo dele. Os dias de Sabath são como marcos, marcando o nosso caminho; ou melhor, eles são como os poços ao qual costumamos retornar à noitinha. Todo verdadeiro Cristão está fazendo progressos. Se as ovelhas estão no ombro do pastor, elas estão sempre chegando mais perto do rebanho. Com alguns, o pastor dá grandes passos. Queridos Cristãos, vocês devem estar avançando, crescendo, mais próximos de Canaã, mais maduros para a glória. No sul da Rússia, existem vastas planícies com estepes graduais. Queridos amigos, vocês devem avançar para um lugar mais alto, dando outro passo a cada Sabath. Durante a viagem, vocês nunca devem pensar em fazer morada no deserto. Então, queridos amigos, não busquem o seu descanso aqui, estamos peregrinando. Que todos os seus esforços sejam empregados a fim de concluir sua jornada.

 

3. Encostada ao seu Amado. É muito notável que não há ninguém aqui, senão a noiva e seu amado, em um vasto deserto. Ela não está se inclinando sobre ele com um braço, e sobre outra pessoa com o outro; mas ela está se inclinando sobre ele somente. Assim acontece com a alma ensinada por Deus; ela se sente sozinha com Cristo neste mundo; inclina-se inteiramente sobre Cristo como se não houvesse outro ser no universo. Ela inclina todo o seu peso sobre o seu Marido. Quando uma pessoa é salva do afogamento, coloca todo o seu peso sobre o seu salvador. Quando a ovelha perdida é encontrada, ela é tomada sobre os Seus ombros. Vocês devem estar contentes, então, por poder apoiar todo o seu peso sobre Cristo. Lancem a carga das coisas temporais sobre Ele. Lancem os cuidados de sua alma sobre Ele. Se Deus é por nós, quem será contra nós? Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças. A águia voa tão diretamente para cima que os poetas têm imaginado que ela estaria almejando o sol. O mesmo acontece com a alma que espera em Cristo.

 

II. A palavra de Cristo para a alma encostada.

 

1. “Te despertei”, e etc. Ele relembra o crente de seu estado natural. Toda alma agora, em Cristo foi uma vez como uma criança exposta (Ezequiel 16), lançada em campo aberto. “Eis que eu nasci em iniquidade” [Salmo 51]. Não se esqueçam do que vocês eram. Se alguma vez vocês chegaram a esquecer do que vocês eram, então vocês podem ter certeza que vocês não estão bem com Deus. Observem quando a contrição vem: Quando vocês estão apoiados em Cristo, então ele diz-lhes sobre o seu pecado e miséria. Ezequiel 36:31.

 

2. Ele se lembra de Seu amor: “Te despertei”. Ele mesmo é a macieira frondosa, proporcionando sombra e frutos. “Te despertei”, Cristo não somente abriga, mas atrai para o abrigo. “A Ele seja a glória”. Não há alguém que se sinta como uma criança lançada fora? Vire o seu olhar para Cristo, somente Ele pode despertar sua alma debaixo da macieira.

 

III. A alma se inclinando clama por graça contínua.

 

Põe-me como selo. É um sinal certo de graça desejar mais. O Sumo Sacerdote tinha um bonito peitoral, adornado com joias — faz-me uma dessas. Ele também tinha uma joia em cada ombro — faz-me uma dessas. Estas foram presas com correntes de ouro, mas o crente com correntes de amor. Esta é uma verdadeira evidência da graça. Se vocês se contentam em permanecer onde estão, sem mais proximidade com Deus, ou mais santidade, este é um claro sinal que vocês não têm nenhuma. Esconde-me mais profundo, leva-me para mais perto e toma-me mais completamente.

 

1. O amor de Cristo é forte como a morte. A morte é muito forte. Quando ela se depara com um jovem viril arrebata-o. Assim é o amor de Cristo.

 

2. Duro, ou cruel, como a sepultura. A sepultura não dará seus mortos, nem Cristo desistirá dos Seus. Oh, ore para que esse amor possa lhe abraçar. Veemente como o inferno — fogo inextinguível. Vocês escolhem, queridos amigos, entre dois fogos eternos. “Quem nos separará do amor de Cristo”, e etc. Romanos 8. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo.

 

3. Ele não pode ser comprado. “Ainda que alguém desse todos os bens de sua casa”, e etc. Vocês devem aceitá-lo voluntariamente ou não o terão de modo algum.

 

Dundee, 1840.