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O Federalismo de 1689 é uma Forma de Dispensacionalismo? | Por Brandom Adams

Eu ocasionalmente me deparo com a afirmação de Pedobatistas de que o Federalismo de 1689 é dispensacional. Ontem mesmo, alguém o chamou de “Dispensacionalismo reembalado” (ignorando o fato de que ele antecede o dispensacionalismo em 200 anos). Infelizmente, esse rótulo equivocado é usado não como iniciador de conversas, mas como algo que interrompe a conversação.

 

Nem sempre é claro o que a reivindicação significa. Geralmente eles pretendem uma das seguintes coisas:

 

• O Federalismo de 1689 não concorda com o Federalismo de Westminster (portanto, é Dispensacional).

• O Federalismo de 1689 faz uma distinção entre Israel e a Igreja (portanto ele é Dispensacional).

• O Federalismo de 1689 acredita que a Antiga Aliança era uma aliança de obras da lei (portanto ele é Dispensacional).

 

Não concorda com o Federalismo de Westminster

 

Isso é apenas declarar o óbvio. Naturalmente, o Federalismo de 1689 não concorda com o Federalismo de Westminster. Essa é a questão. Mas a definição do Dispensacionalismo não é “tudo que não concorda com o Federalismo de Westminster”. Quando pressionados, alguns tentam suavizar sua retórica dizendo que Federalismo de 1689 não é exatamente Dispensacionalismo, mas é “da mesma categoria” do Dispensacionalismo. Qual é essa categoria? “Tudo que não concorda com o Federalismo de Westminster”.

 

Esse tipo de visão estreita é inteiramente inútil e contraproducente para um diálogo significativo. O desacordo com o Federalismo de Westminster existiu (mesmo entre os Reformados), uma vez que a Confissão de Westminster foi escrita mais de 200 anos antes do Dispensacionalismo. O Dispensacionalismo não concorda com o Federalismo de Westminster, mas também muitas outras teologias, incluindo o Federalismo de 1689. Se este é um ponto em que um crítico quer se concentrar, basta dizer que “o Federalismo de 1689 não concorda com o Federalismo de Westminster”.

 

Faz Distinção entre Israel e a Igreja

 

O Federalismo (e a Confissão de Fé) de Westminster não fazem distonção entre Israel e a Igreja. Israel é a Igreja e a Igreja é Israel nesse sistema. Sim, tanto o Dispensacionalismo quanto o Federalismo de 1689 não concordam com Westminster sobre esse ponto. No entanto, o Dispensacionalismo e o Federalismo de 1689 têm visões diferentes e mutuamente exclusivas sobre Israel e a Igreja.

 

A crença mais fundamental do Dispensacionalismo é que Deus fez promessas eternas a dois povos diferentes (Israel e a Igreja) que serão cumpridos em dois destinos eternos diferentes. Em Understanding Dispensationalists [Entendendo o Dispensacionalismo], Vern S. Poythress se esforça para definir e nomear o sistema teológico e sugere que ele possa ser mais precisamente chamado de “‘destinacionismo dual’ (de acordo com um dos principais princípios sobre os destinos separados de Israel e da igreja)”.

 

O Federalismo de 1689 rejeita essa crença. Um dos principais princípios é que Israel segundo a carne é um tipo de Israel segundo o Espírito (a igreja). Isso é anti-Dispensacionalismo. É tão anti-Dispensacionalismo que é o argumento que os teólogos pactuais Pedobatistas e Amilenistas fazem contra o Dispensacionalismo. Meredith Kline disse:

 

A falácia fundamental do esquema dispensacional é o fracasso em fazer justiça à identificação bíblica da realização da nova aliança (ou segundo nível) da promessa do reino como permanente em continuidade com a realização da antiga aliança (ou primeiro nível) como realização antitípica para a tipologia Promessa… A hermenêutica aliancista percebe adequadamente a natureza prototípica, provisória e passageira do reino do primeiro nível e a natureza antitípica, perfeita e permanente do reino do segundo nível.

 

Kline explicou que “de acordo com as Escrituras existe uma clara distinção entre os níveis de cumprimento típico e antitípico do reino prometido no Pacto Abraâmico”, que corresponde à “distinção feita na promessa da semente entre os israelitas literais e os israelitas espirituais”. O Federalismo de 1689 está firmemente de acordo com a hermenêutica aliancista de Kline neste ponto, em detrimento do Dispensacionalismo (na verdade, gostamos tanto dessa hermenêutica que também a utilizamos contra os Pedobatistas).

 

Dado a compreensão do Federalismo de 1689 sobre Israel e a Igreja, não é possível que seja a mesma defendida pelo Dispensacionalismo.

 

Acredita que a Antiga Aliança Era uma Aliança de Obras da Lei

 

O Federalismo de 1689 acredita que o Pacto Mosaico era uma aliança de leis de obras para a vida temporal e para a benção na terra de Canaã. Uma reação brusca de muitos Pedobatistas é associar essa ideia ao Dispensacionalismo, talvez porque esse seja o outro único contexto que eles conhecem.

 

Em primeiro lugar, a ideia de que o Sinai era uma aliança de obras da lei não é excepcionalmente Dispensacional. A ideia era comum durante o tempo da Reforma. Representante da visão Luterana, disse Filipe Melâncton disse:

 

Considero o Antigo Testamento uma promessa de coisas materiais vinculada às exigências da lei. Porque Deus exige justiça através da lei e também promete Sua recompensa, a Terra de Canaã, riqueza, etc… Em contraste, o Novo Testamento não é senão a promessa de todas as coisas boas, sem consideração à lei e sem respeito pela nossa justiça própria… Jeremias, Cap. 31, indica essa diferença entre o Antigo e o Novo Testamentos.

 

Anthony Burgess observou:

 

É verdade, que os teólogos Luteranos, se opõem expressamente aos Calvinistas aqui, sustentando que a Aliança dada por Moisés, é uma Aliança de obras, e então diretamente contrária à Aliança de graça. De fato, eles reconhecem que os pais foram justificados por Cristo e tiveram o mesmo caminho de salvação assim como nós; eles simplesmente concebem que a Aliança de Moisés seja uma coisa superada pela Promessa (Vindicação da Lei Moral, 251).

 

Em seu comentário sobre Hebreus 8, Owen apresenta um resumo da visão Reformada versus a visão Luterana da Antiga e da Nova Alianças e, em seguida, declara seu acordo com os Luteranos sobre esse ponto (como representante dos Congregacionalistas que tendiam a manter essa visão). E os Luteranos apenas estavam repetindo o que eles aprenderam de Agostinho, que disse:

 

Como então a lei das obras — que foi escrita em tábuas de pedra, e sua recompensa, a terra da promessa, que foi a casa que o Israel segundo a carne recebeu após a sua libertação do Egito — pertencia ao Antigo Testamento. Semelhantemente a lei da fé — escrita no coração, e sua recompensa, a visão beatífica que a casa do Israel espiritual, quando liberta do presente mundo, receberá — pertence ao Novo Testamento.

 

Joshua Moon mostra como a visão de Agostinho foi sustentada por muitos através da Reforma. Em “The True Bounds of Christian Freedom“ [Os Verdadeiros Limites da Liberdade Cristã] (1645) Samuel Bolton também declara seu desacordo com a opinião de Westminster em favor da crença de que a Antiga Aliança só prometeu vida temporal e benção em Canaã, e fez isso sob a condição da lei. Isso era conhecido como a visão da aliança subserviente. Ela cresceu em popularidade no século seguinte, encontrando expressão em Presbiterianos como John Erskine e Anglicanos como Thomas Scott em seu popularíssimo comentário da Bíblia inteira. Isso também foi fundamental para a aceitação dos Presbiterianos Americanos da liberdade religiosa. Quando a mesma ideia surgiu mais recentemente nos círculos Presbiterianos, T. David Gordon e Charles Lee Irons argumentaram que a visão da aliança subserviente é o precursor do século 17 para a visão de Kline. O próprio Kline disse que o Dispensacionalismo estava correto nesse sentido.

 

O Dispensacionalismo revisado que se purifica do ensino de duas formas de salvação, ao custo de abandonar a percepção correta do Dispensacionalismo anterior de que um princípio de obras estava operando no reino Mosaico. Uma vez que esses revisionistas, não mais do que os primeiros Dispensacionalistas, discernem as duas camadas distintos (isto é, a superposição do reino tipológico e a camada subjacente da salvação eterna) que coexistem na Antiga Aliança, eles não percebem a verdadeira solução de identificação do princípio das obras com os primeiros, mantendo a continuidade do único caminho da salvação em outro e fundamental nível. Tudo o que eles podem fazer é se juntar a certos críticos do aliancismo ao negar que havia um princípio de obras na Antiga Aliança.

 

Assim, se o Federalismo de 1689 é Dispensacional porque acredita que o Pacto Mosaico foi uma aliança de obras para a vida e benção em Canaã, então todos os teólogos citados acima são Dispensacionalistas também.

 

Em segundo lugar, o Dispensacionalismo tem uma compreensão peculiar do significado do Pacto Mosaico de Obras não compartilhada por nenhum daqueles teólogos que são citados acima. Ele considera que os israelitas estavam confusos ao aceitarem os termos do Pacto Mosaico. Lewis Sperry Chafer disse: “Eles caíram da graça”. A Bíblia de Referência Scofield original disse:

 

A Dispensação da Promessa terminou quando Israel aceitou imprudentemente a lei (Êxodo 19:8). A graça tinha preparado um libertador (Moisés), provido um sacrifício pelo culpado, e pelo poder divino eles foram libertados da escravidão (Êxodo 19:4); mas no Sinai eles trocaram a graça pela lei.

 

Chafer disse:

 

Quando a Lei foi proposta, os filhos de Israel deliberadamente abandonaram sua posição sob a graça de Deus, que tinha sido sua relação com Deus até aquele dia, e se colocaram debaixo da Lei.

 

Eles veem o Pacto Abraâmico como incondicional e se referem a ele como a Dispensação da Promessa em contraste com a Dispensação da Lei do Pacto Mosaico condicional. Agora, se alguém quisesse ser superficial e enganoso poderia argumentar que Kline foi um Dispensacionalista, porque ele também distinguia entre o incondicional Pacto Abraâmico de Graça e o incondicional Pacto Mosaico da Lei. Mas essa comparação seria ridícula porque ignoraria as grandes diferenças entre os dois, como a ideia Dispensacional de que a salvação consiste em passar por vários testes em diferentes dispensações versus a ideia de que subjacente ao Pacto Mosaico tipológico estava o Pacto da Graça através do qual os santos do Antigo Testamento foram salvos através da fé no Messias sofredor, bem como suas interpretações muito diferentes de como o Pacto Abraâmico incondicional é cumprido. Chamar o Federalismo de 1689 de Dispensacional é grandemente ridículo.

 

O Sine Qua Non do Dispensacionalismo

 

Charles Ryrie escreveu sobre a condição sine qua non do Dispensacionalismo. Sine qua non significa “algo absolutamente indispensável ou essencial”. Em outras palavras, sem esses pontos, não existe o Dispensacionalismo. Eles são:

 

1. Manter Israel e a igreja distintos ao longo da eternidade.

2. Uma hermenêutica de interpretação literal. (O #1 é derivado do #2)

3. A salvação não é o principal propósito subjacente da obra de Deus na história.

 

Com relação ao #1, Ryrie diz: “Este é provavelmente o teste teológico mais básico para saber se uma pessoa é ou não Dispensacionalista… A essência do Dispensacionalismo é, então, a distinção entre Israel e a igreja [durante a eternidade]. Isso nasce do emprego consistente do Dispensacionalista da interpretação normal ou simples ou histórica-gramatical [#2]… A espiritualização pode ser praticada em menor ou maior grau, mas sua presença em um sistema de interpretação é indicativa de uma abordagem não-Dispensacional”. E, finalmente, “O erro dos teólogos aliancistas é que eles combinam todas as muitas facetas do propósito divino no único objetivo do cumprimento do Pacto da Graça,” (assim como o Federalismo de 1689 o faz).

 

Em cada um desses pontos essenciais, o Federalismo de 1689 não é meramente contrário ao Dispensacionalismo, ele é contraditório ao Dispensacionalismo. Sua (“espiritualizadora”) hermenêutica cristológica “é indicativa de uma abordagem não-Dispensacional”, resultando em uma visão tipológica de Israel que não passa no “teste teológico mais básico para saber se uma pessoa é ou não Dispensacionalista”.

 

O Federalismo de 1689 é Anti-Dispensacional (basta perguntar a um Dispensacionalista).