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A Obra do Espírito Santo na Salvação, por A. W. Pink

Em Atos 19 aprendemos que quando o apóstolo Paulo chegou a Éfeso, ele perguntou a alguns discípulos de João Batista: “recebestes vós o Espírito Santo quando crestes?” (v. 2) e nos é dito: “eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo”. É triste dizer: a história se repetiu. Sem dúvida, se fosse feita a mesma pergunta aos membros de centenas das chamadas “igrejas” (nas quais o modernismo e o mundanismo imperam), eles seriam obrigados a retornar uma resposta idêntica. A razão pela qual aqueles discípulos em Éfeso não conheciam o Espírito Santo foi, muito provavelmente, porque eles haviam sido batizados na Judéia pelo precursor de Cristo e, em seguida, voltaram para Éfeso, onde eles permaneceram na ignorância do que havia acontecido no dia de Pentecostes. Mas a razão pela qual os membros da “igreja” comumente não sabem nada sobre a terceira pessoa da Trindade é porque os pregadores deles não falam sobre Ele.

 

Também não é muito melhor com muitas das igrejas ainda consideradas como ortodoxas. Embora a pessoa do Espírito não seja repudiada e embora Seu nome possa, ocasionalmente, ser mencionado, contudo, com apenas raras exceções há qualquer ensino bíblico definitivo dado sobre os ofícios e operações do Consolador Divino. Quanto à Sua obra na salvação, isso é pouquíssimo compreendido até mesmo por Cristãos professos. Na maioria dos lugares onde o Senhor Jesus ainda é formalmente reconhecido como o único Salvador para os pecadores, o ensino atual é que Cristo tornou possível que os homens sejam salvos, mas que eles próprios devem decidir se eles serão salvos. A ideia agora tão amplamente predominante é que Cristo é oferecido para aceitação do homem, e que ele deve “aceitar a Cristo como seu Salvador pessoal”, “dar o seu coração para Jesus”, “tomar a sua decisão por Cristo” e etc. se quiser que o sangue da cruz sirva para remir seus pecados. Assim, de acordo com essa concepção, a obra consumada de Cristo, a maior obra de todos os tempos e em todo o universo é deixada na dependência da vontade inconstante do homem para saber se será um sucesso ou um fracasso!

 

Entrando agora num círculo mais estreito da Cristandade, em lugares onde ainda é entendido que o Espírito Santo tem uma missão e ministério em conexão com a pregação do Evangelho, a ideia geral prevalece mesmo onde o Evangelho de Cristo é fielmente pregado, o Espírito Santo convence os homens do pecado e lhes revela a sua necessidade de um Salvador. Mas, além disso, muito poucos estão dispostos a ir. A teoria que prevalece nesses lugares é que o pecador tem que cooperar com o Espírito, que ele mesmo deve ceder ao Espírito “se esforçando” ou ele não vai e não pode ser salvo. Mas esta teoria perniciosa que insulta a Deus nega duas coisas: argumentar que o homem natural é capaz de cooperar com o Espírito é negar que ele está “morto em delitos e pecados”, pois um homem morto é incapaz de fazer qualquer coisa. E, por dizer que as operações do Espírito no coração e na consciência de um homem podem ser resistidas, opostas, é negar Sua onipotência!

 

Antes, prosseguindo adiante, e a fim de abrir o caminho para o que se segue, algumas palavras precisam ser ditas sobre “o meu Espírito não contenderá para sempre com o homem” (Gênesis 6:3) e “vós sempre resistis ao Santo Espírito” (Atos 7:51). Agora, essas passagens se referem ao trabalho externo do Espírito, isto é, o seu testemunho através da Palavra pregada. 1 Pedro 3:18-20 mostra que foi o Espírito de Cristo em Noé, que “se esforçou” com os antediluvianos enquanto o patriarca pregava a eles (2 Pedro 2:5). Assim, Atos 7:51 explica as palavras: “A qual dos profetas não perseguiram vossos pais”. Como disse Neemias: “Porém estendeste a tua benignidade sobre eles por muitos anos, e testificaste contra eles pelo teu Espírito, pelo ministério dos teus profetas” (Neemias 9:30).

 

O trabalho externo do Espírito, Seu testemunho através das Escrituras, uma vez que recai sobre o ouvido externo do homem natural, é sempre “resistido” e rejeitado, o que somente demonstra solenemente o terrível fato de que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8:7). Mas o que vamos hoje salientar é que a Escritura revela outra obra do Espírito Santo, uma obra que é interna, imperceptível e invisível. Esta obra é sempre eficaz. É a obra do Espírito na salvação, começado no coração com o novo nascimento, continuado ou mantido ao longo de todo o curso da vida do Cristão na terra, e concluído e consumado no céu. Isto é o que é referido em Filipenses 1:6: “aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará.” Isto é o que está em vista em Salmos 138:8: “O Senhor aperfeiçoará o que me toca”. Este trabalho é feito pelo Espírito em cada um dos “eleitos de Deus”, e neles apenas.

 

Tem sido dito que “a parte e o oficio do Espírito Santo na salvação dos eleitos de Deus consiste em renová-los. Ele vivifica os herdeiros da glória com a vida espiritual, ilumina a mente para conhecer a Cristo, O revela a eles, forma a Cristo em seus corações e os leva a construir todas as suas esperanças de glória eterna somente nEle. Ele derrama o amor do Pai em seus corações, e dá-lhes um sentido real do mesmo na experiência de Sua obra graciosa e eficaz em suas almas, eles são levados a dizer como o salmista: ‘Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios’ (Salmos 65:4)”.

 

Um dos enganos do dia é que uma crença evangélica em Cristo repousa sobre o poder do homem não regenerado, de modo que pela realização do que é ingenuamente chamado de “um simples ato de fé”, ele se torna um homem renovado. Em outras palavras, supõe-se que o homem é o iniciante da sua própria salvação. Ele dá o primeiro passo, e Deus faz o restante; ele “acredita” e, em seguida, Deus vem e o salva. Isto não é senão uma negação evidente e obscura da obra do Espírito. Se há um momento mais do que qualquer outro em que o pecador se encontra necessitado do poder do Espírito é no princípio. “Aquele que nega a necessidade do Espírito, no início, não pode acreditar em Sua obra nas fases seguintes. Não, não pode acreditar na necessidade da obra do Espírito de forma alguma. A maior e mais insuperável dificuldade se encontra no começo. Se o pecador pode superar essa parte sem o Espírito, ele pode facilmente superar o restante. Se ele não precisa do Espírito para capacitá-lo a crer, ele não precisará dEle para capacitá-lo a amar” (Horatius Bonar).

 

Erram muito os que pensam que depois que o Espírito fez o Seu trabalho na consciência, segue que é o homem quem deve dizer se ele quer ser regenerado ou não, se ele irá crer ou não. O Espírito de Deus não espera que o pecador exerça a sua vontade para crer; Ele opera nos “eleitos” “tanto o querer como o efetuar”. (Filipenses 2:13) Portanto, Jeová declara: “Eu fui achado pelos que não me buscavam” (Isaías 65:1, citado por Paulo em Romanos 10:20). Pois “crer” em Cristo de forma salvífica é um ato sobrenatural, o efeito da graça sobrenatural. Não há mais poder no homem caído para crer para a salvação de sua alma do que mérito de sua autoria que lhe dá direito ao favor de Deus; assim, ele é tão dependente do Espírito por poder como de Cristo por merecimento. A obra do Espírito é aplicar a redenção que o Senhor Jesus comprou para o Seu povo, e os filhos de Deus devem sua salvação a Um tanto quanto ao Outro.

 

Em Tito 3:5, a salvação dos remidos é expressamente atribuída a Deus, o Espírito: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. “Se for perguntado em que sentido os homens podem ser chamados de “salvos” pela renovação do Espírito, a resposta é óbvia: Há uma série de verdades a que nenhuma delas pode ser perdida. Somos salvos pelo propósito Divino, pois Deus nos elegeu para a salvação, somos salvos pela expiação como o fundamento meritório do todo, somos salvos pela fé, como o vínculo de união a Cristo, somos salvos pela graça, em contraste com as obras feitas, somos salvos pela verdade enquanto carregamos o testemunho de Deus, e, como aqui é dito: somos salvos pela renovação do Espírito Santo, como a produção de fé no coração”. (Prof. Smeaton)

 

A REGENERAÇÃO É PELO ESPÍRITO

 

“E vos vivificou estando vós mortos em delitos e pecados” (Efésios 2:1). A vivificação dos que estão mortos em delitos é a obra da terceira pessoa da Trindade: “O que é nascido do Espírito é espírito” (João 3:6). O homem natural está morto espiritualmente. Ele está vivo para o pecado e para o mundo, mas morto para Deus: “separados da vida de Deus” (Efésios 4:18). Se esta verdade solene fosse realmente crida, haveria um fim à controvérsia sobre o nosso tema presente. Um homem morto não pode “cooperar” com o Espírito, nem pode “aceitar a Cristo”. Em 2 Coríntios 3:5, lemos: “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos”. Isto é dito aos Cristãos. Se o regenerado não tem capacidade de “pensar” espiritualmente, ainda muito menos capazes são os não-regenera-dos.

 

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14) O que poderia ser mais claro? O “homem natural” está caído em seu estado não-regenerado. A menos que ele nasça do alto, ele é completamente desprovido de discernimento espiritual. Nosso Senhor expressamente declarou: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3:3). O “homem natural” não pode ver a si mesmo, a sua ruína, sua depravação, a imundícia da sua justiça própria. Não importa o quão claramente a verdade de Deus lhe seja apresentada, sendo cego, ele não pode discernir tanto o seu significado espiritual ou a sua própria necessidade. A compreensão espiritual do Evangelho é verdadeiramente devida à operação do Espírito Santo, assim como Ele é o Autor da revelação Divina. A vida espiritual deve preceder a visão espiritual, e o próprio Espírito deve entrar no coração antes que haja a “vida”: “porei em vós o meu Espírito, e vivereis” (Ezequiel 37:14).

 

A obra do Espírito na regeneração é um milagre Divino, que é primeiramente o resultado da Sua introdução de poder sobrenatural. É a vivificação de um cadáver espiritual; é o trazer uma alma morta à vida. O próprio pecador não mais pode realizá-lo por um ato de sua própria vontade do que ele pode criar um universo. Este milagre da graça é descrito nas Escrituras como: “a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus” (Efésios 1:19-20). “O mesmo poder que foi empregado para levantar Cristo dentre os mortos é exercido na regeneração… A ressurreição de Cristo é o modelo exemplar de nossa ressurreição espiritual, segundo a qual, conforme o Espírito Santo operou nEle, para que Ele operasse em nós uma obra conforme à Sua ressurreição. Assim como a ressurreição de Cristo foi a grande declaração dEle ser o Filho de Deus, também a regeneração é a declaração de sermos filhos de Deus, sendo a prova da nossa adoção, e também a primeira descoberta de nossa eleição. Como a ressurreição de Cristo é o primeiro passo para o Seu reino eterno e glória, do mesmo modo a regeneração é a primeira introdução aberta para a todas as bênçãos do estado de graça na qual o filho de Deus está agora introduzido” (S. E. Pierce).

 

A APTIDÃO PARA O CÉU É POR MEIO ESPÍRITO

Nosso título para a glória reside unicamente na justiça de Cristo; nossa aptidão pessoal para ela reside na nossa regeneração pelo Espírito Santo. Toda a nossa iminência para o estado celeste foi operada em nós na regeneração. Escrevendo aos regenerados de Colossenses o apóstolo disse: “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz”. E então ele mostra no que esta “idoneidade” consiste: “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” [Colossenses 1:12-13]. Este título não vem deles; sua “idoneidade” os antecede. O Espírito Santo criou neles uma natureza que é capacitada para conhecer e desfrutar do Deus Triuno.

 

Em nosso estado não-regenerado estávamos completamente sob o poder das trevas, isto é, do pecado e de Satanás, e erámos menos capazes de nos livrar do cativeiro do que Jonas foi capaz de escapar da barriga do grande peixe. Nós nos “assentávamos na escuridão” e “na região e sombra da morte” (Mateus 4:16). Estávamos “cativos”, “sujeitos” e na “prisão”. (Isaías 61:1) Nós éramos aqueles que “não tinham esperança, e estavam sem Deus no mundo” (Efésios 2:12). A partir desse estado terrível cada alma renovada foi “liberta” pelo poder gracioso, soberano e invencível do Espírito Santo, e tem sido “transportado para o reino do Filho amado de Deus”. Então que cada leitor igualmente honre, adore e louve a Ele, como ao Pai e ao Filho.

 

A JUSTIFICAÇÃO E SANTIFICAÇÃO SÃO PELO ESPÍRITO

 

“E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Coríntios 6:11). Esta é uma Escritura notável e pouco ponderada. Isso nos conduziria a muito longe de nosso tema que estamos tentando expor completamente. Duas coisas aqui nós claramente destacamos: as três bênçãos da salvação enumeradas neste versículo são referidas: em primeiro lugar, pelo “nome” ou méritos de Cristo como Sua própria causa obtida; e depois pelo Espírito Santo, que faz com que os eleitos sejam participantes deles por Sua própria aplicação eficaz. Ele é quem ilumina a mente e abre o coração para receber e ter certeza de que eles são “lavados, santificados e justificados”.

 

A FÉ É PELO ESPÍRITO

 

Um servo de Deus profundamente instruído certa vez escreveu a um jovem pregador, “Nunca apresente a fé como sendo um ato tão ‘simples’ que o trabalho do Espírito não se faça necessário para produzi-la”. No entanto, isso é o que tem sido comumente feito. Uma grande parte dos evangelistas dos últimos séculos tem mostrado um zelo que não está de acordo com o conhecimento (Romanos 10:2), e manifestaram uma preocupação muito maior em ver almas salvas do que em pregar a verdade de Deus em sua pureza. Em seus esforços para mostrar a simplicidade do “caminho da salvação”, eles perderam de vista as dificuldades da salvação (Lucas 18:24, 1 Pedro 4:18). Em sua urgente responsabilidade de fazer o homem crer, eles ignoraram o fato de que ninguém pode acreditar até que o Espírito conceda a fé. Pois apresentar Cristo ao pecador e, em seguida, largá-lo de volta a sua própria vontade, é zombar dele em seu desamparo; a obra do Espírito no coração é tão real e urgentemente necessária, como foi o trabalho de Cristo na cruz. Pois o fato do coração ser realmente levado a acreditar e confiar em Deus é um ato espiritual, um “bom fruto”, e se o homem caído possui poder inerente de fazer o bem, segue-se que apresentar a expiação para ele é completamente desnecessário.

 

Não há meio-termo entre a vida e a morte; nenhum estágio intermediário entre a conversão e não-conversão. A outorga da vida eterna é instantânea; somos “criados em Cristo Jesus” (Efésios 2:10) É um erro gravíssimo supor que depois que o Espírito de Deus tem feito a Sua obra no pecador, ainda permanece para ele a incumbência de ser regenerado ou não, se ele deve crer ou não. Todos os que são recipientes de Suas operações sobrenaturais são regenerados, efetivamente convertidos e realmente acreditam. Não é que o Espírito dá a capacidade de acreditar e aguarda o indivíduo exercer a sua vontade de crer: não, Ele opera nos eleitos “tanto o querer como o efetuar” (Filipenses 2:13). Eu posso dizer a um homem que na sala ao lado, existe uma luz acesa, e ele pode não acreditar em mim, mas deixe-me levá-lo para a sala onde a luz está, e tão logo ele veja a luz por si mesmo ele é irresistivelmente persuadido. Assim, um servo de Deus pode dizer a um homem que Cristo é suficiente para o principal dos pecadores, e ele não acreditar; mas quando Cristo é “revelado nele” (Gálatas 1:16), ele não pode deixar de confiar nEle. Veja 2 Coríntios 4:6.

 

Como o homem perversamente inverte a ordem da verdade de Deus. Eles pedem aos pecadores mortos para virem a Cristo, supondo que eles têm o poder ou vontade de fazê-lo. Considerando que Cristo clara e enfaticamente afirmou: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6:44). “Vir a Cristo” é o afeto do coração sendo atraído para Ele, e como pode uma pessoa amar o que ela não conhece? Veja João 4:10. Ah, é o Espírito que deve levar Cristo para mim, revelá-lO em mim antes que eu possa realmente conhecê-lO. “Vir a Cristo” é um ato interior e espiritual, não um ato externo e natural. Verdadeiramente, “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14) Não podemos “olhar para Cristo” até que tenhamos nascido de novo (João 3:3).

 

A graça salvadora é algo mais do que um fato objetivo que nos é apresentado; é uma operação subjetiva forjada dentro de nós. Como não é pelo meu discernimento natural que eu descubro a minha necessidade de Cristo, também não é por minha força natural e vontade que eu “vou” a Ele. Deve haver vida e luz (visão) antes que possa haver movimento. Um bebê tem que nascer, e possuir visão e força, também, antes que seja capaz de “vir” até o seu pai. Crer em Cristo é um ato sobrenatural, o produto de um poder sobrenatural. Pode-se, por meio de frases gramaticais e proposições das Escrituras ensinar a verdade espiritual para outro, mas isso não pode iluminar a mente dele a esse respeito. Ele pode dizer a um homem que Deus é santo, mas ele não pode dar a ele uma consciência de que Deus é santo. Ele pode dizer a ele que o pecado é infinitamente hediondo, mas ele não pode gerar nEle um sentimento ou fazê-lo compreender de coração que é assim. Para aqueles que estavam bem familiarizados com isso exteriormente, Cristo disse: “Não me conheceis a mim, nem a meu Pai” (João 8:19) Um homem pode “conhecer” o caminho da justiça (2 Pedro 2:21), teoricamente, intelectualmente, mas isso é uma questão muito diferente (embora muito poucos sejam interiormente cientes disso) de um conhecimento experimental e espiritual dEle: “temos portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos” (2 Coríntios 4:13) Aqui, o Espírito de Deus fala de acordo com a obra que Ele opera. “O título 'Espírito de fé’ dá a entender que o Espírito Santo é o autor de fé; pois, nem todos os homens têm fé; ou seja, não é dada a todos e não pertence a todos (2 Tessalonicenses 3:2). A designação significa que a causa, a aquisição da fé é a partir do Espírito Santo, que produz esse efeito por um chamado invisível, um convite que acompanha, de acordo com o beneplácito de Sua vontade, a proclamação externa do Evangelho. A fé, portanto, da qual Ele é o autor, não é afetada pela própria força do ouvinte, ou pela própria vontade efetiva do ouvinte… A operação especial do Espírito inclina o pecador, anteriormente avesso, para receber os convites do Evangelho; pois é somente Ele, atuando como o Espírito de fé, que remove a inimizade da mente carnal contra as doutrinas da cruz, pois sem tais, as doutrinas pareceriam desnecessárias, tolas ou ofensivas” (Prof. Smeaton).

 

Escrevendo aos santos de Filipos, o apóstolo declarou: “A vós é dado… crer nele” (1:29). A fé é “dom” de Deus como Efésios 2:8-9 afirma positivamente. Não é um dom oferecido para a aceitação do homem, mas, na verdade, conferido aos filhos de Deus, soprados neles. Ele a concedeu a cada um dos “eleitos de Deus” no seu tempo determinado pelo Espírito Santo. Não é produzida pela vontade da criatura, mas é “fé no poder de Deus” (Colossenses 2:12) É uma “obra” do Espírito Santo, pela Sua atuação sobrenatural. O Espírito Santo é dado por Cristo para este fim, a saber, para que cada um daqueles por quem Ele morreu seja levado ao conhecimento da salvação da verdade, portanto, é-nos dito: “por Ele (não por nossa vontade) credes em Deus” (1 Pedro 1:21). Em 1 Coríntios 3:5 nos é dito que: “crestes… conforme o que o Senhor deu a cada um”; assim em Efésios 6:23 é declarado: “Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. O próprio grau e força da nossa fé é determinado unicamente por Deus: “pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12:3). Se pela graça Ele fez de você verdadeiramente um “crente”, que o leitor dê a Deus, o Espírito, a honra, a glória e o louvor por isso.

 

A SALVAÇAO É TOTALMENTE APLICADA PELO ESPÍRITO

 

“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2 Tessalonicenses 2:13). A missão do Espírito na terra é aplicar aos eleitos de Deus o resgate proposto por Deus Pai e comprado por Deus, o Filho, para eles. O Espírito Santo está aqui para fazer o bem às almas dos herdeiros da glória pelos frutos das dores de parto da alma de Cristo. Isso Ele faz por meio do Evangelho, pelos escritos e pelo ministério oral da Escritura, pois a Palavra de Deus é o único instrumento que Ele emprega ou utiliza. A Palavra de Deus é “a palavra da vida” (Filipenses 2:16), mas ela só se torna vida na experiência da alma individual pela operação imediata e aplicação do Espírito de Deus. Como Paulo escreveu aos santos de Tessalônica: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2 Tessalonicenses 2:13). Isto não é para negar a eficácia da própria Palavra, mas é para insistir que a agência direta do Espírito sobre o coração é absolutamente necessária para a recepção da Palavra. A Palavra é lâmpada para o nosso caminho, mas deve haver uma abertura dos olhos do nosso entendimento pelo Espírito antes que possamos ver a Sua luz.

 

A salvação dos eleitos de Deus foi proposta, planejada e provida por Deus Pai, antes da fundação do mundo. Foi adquirida e garantida pela encarnação, obediência, morte e ressurreição do Filho de Deus. É revelada, aplicada neles por Deus, o Espírito. Assim, “do Senhor vem a salvação” (Jonas 2:9), e o homem não tem parte ou põe a mão nela em qualquer ponto. O filho de Deus não é o conquistador, mas o recipiente dela. A fé não é uma condição que o pecador eleito deve atingir a fim de obter a salvação, mas é o meio e canal através do qual ele pessoalmente goza a salvação do Triuno Jeová.