Os Credos são Adequados para Batistas que Creem na Bíblia?, por Thomas Nettles

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O esforço para extrair benefício positivo de confissões parece tão estranho para alguns hoje que dificilmente pode ser distinguido da palavra assustadora “credalismo”. Embora existam distinções históricas e práticos válidas entre o uso de declarações de fé como um credo e a sua utilização como uma confissão, estas distinções dificilmente se aplicam à fobia comum dos nossos dias tanto de “credos” quanto de confissões.

Objeções de Alguns Batistas aos Credos

O casamento dos Batistas com a teologia confessional tem sido levado muitas vezes ao tribunal de divórcio. Agora Batistas ferozes e rigorosos estão alegando ter sido ofendidos tão completamente que uma separação total é necessária para a sobrevivência. Outros afirmam que o casamento nunca aconteceu. O historiador Batista Thomas Armitage expressou claramente uma forma de pensar sobre credos.

 

Este livro chamado a Bíblia é dado por inspiração de Deus e é a única regra de fé e prática cristã. A consequência disso é que não temos credos, nem catecismos e nem decretos que nos unem por sua autoridade. Cremos que um credo não vale nada, a menos que seja fundamentado pela autoridade bíblica, e se o credo é fundado sobre a Palavra de Deus, não vejo por que não devamos descansar sobre essa Palavra que sustenta o credo; nós preferimos voltar diretamente para a própria fundação e descansar lá somente. Se ela é capaz de nos sustentar, não precisamos de mais nada, e se não for, então não podemos descansar sobre um credo que nos fundamente quando esta crença não tem fundamento para si mesma.[1]

O prefácio de Baptist Faith and Message [Fé e Mensagem Batista], de 1963, afirma que seus escritores agem segundo o princípio de uma “aversão Batista por todos os credos, exceto a Bíblia”. E, é claro, há a questão exclamatória de John Leland: “Por que essa Virgem Maria entre as almas dos homens e as escrituras?”, seguida de uma declaração que contém uma outra suspeita quanto às confissões: “Confissões de fé, muitas vezes, não demandam nenhuma outra busca pela verdade”.[2] A união dos Batistas Independentes e Regulares em Virginia foi prejudicada brevemente porque os Independentes “temiam que uma confissão pudesse usurpar um poder tirânico sobre a consciência”.[3] Além disso, a prática Anglicana da concessão de confirmação baseada na memorização do catecismo do Livro de Oração tendeu a fazer do “credalismo” um sinônimo eficaz para o cristianismo nominal.4

Em resumo, quatro objeções ao uso sério de confissões ou credos têm surgido historicamente e continuam a surgir hoje. Em primeiro lugar, no espírito de Thomas Armitage, muitos sinceramente exortam em oposição às confissões devido ao princípio do Sola Scriptura. Em segundo lugar, alguns argumentam que o uso de confissões dará uma falsa confiança de que a verdade da Escritura se esgota na confissão e, assim, inibe o verdadeiro crescimento no conhecimento das Escrituras. Uma pessoa sentirá que o conhecimento da confissão é suficiente e, consequentemente, irá afastar-se da dinâmica da viva Palavra de Deus. Em terceiro lugar, uma confissão pode ser usada como forma de reprimir a busca genuína pela verdade, oferecer respostas artificiais a perguntas e ameaçar aqueles que estão em uma fase de inquérito, tiranizando, assim, a tenra consciência de crentes. Em quarto lugar, a aceitação mental das doutrinas da confissão serviu muitas vezes como um substituto para a verdadeira conversão e levou à uma ortodoxia morta.

Objeções Consideradas em Geral

A administração de nossa herança espiritual exige que essas quatro áreas de preocupação sejam abordadas com sinceridade e seriedade, pois elas não têm surgido em um vácuo. Qualquer uso de confissões que, de fato, usurpam o lugar da Escritura deve ser rejeitado, ou pelo menos corrigido, e isso imediatamente. Além disso, nenhum lugar deve ser dado a uma confissão para que ela sirva como uma síntese exaustiva da verdade bíblica. Sempre devemos confessar: “Deus ainda tem mais luz para revelar através de Sua santíssima Palavra”. Nem o ideal confessional deve ser autorizado para tiranizar a consciência de qualquer pessoa. Um uso sensível e equilibrado para a instrução e disciplina não precisa frustrar o inquérito sério ou reprimir a consciência de ninguém. Finalmente, quaisquer efeitos deletérios que o confessionalismo teria sobre a compreensão da verdadeira natureza da fé salvífica ou da necessidade absoluta do novo nascimento devem ser muito lamentados e escrupulosamente evitados. Alguns dos que estão convencidos do poder e clareza do Evangelho apontam para manifestações históricas, como prova dessas tendências no uso de confissões. Elas devem demonstrar que o que eles temem é mais o fruto do não-confessionalismo do que do confessionalismo.

Em segundo lugar, alegamos que os Batistas sempre reconheceram e evitaram esses perigos. Desde que estes são abusos, eles não devem ser considerados inerentemente essenciais à verdadeira força das confissões. A maioria deles surgem a partir do uso de confissões numa situação de establishmentarian.[5] A união entre a Igreja e Estado traz muito mais males à igreja do que apenas o abuso de confissões. O abuso das Escrituras, o abuso da lei, o abuso do estado, o abuso da igreja e o abuso do sistema penal todos resultam de establishmentarian. No entanto, o abuso não exige a eliminação de qualquer dessas instituições, mas exige sua purificação do constrangimento pecaminoso da união igreja/estado. Esta realidade histórica explica a anedota de John Leland: “Às vezes, é dito que os hereges são sempre avessos às confissões de fé. Eu gostaria de poder dizer o mesmo a respeito dos tiranos”.[6] 

A terceira observação geral sobre estas objeções aponta para a tendência que temos de investir poder em qualquer auxílio de estudo ou figura de autoridade. O desenvolvimento da doutrina da infalibilidade papal mostra o quão longe este abuso chegar. Em uma escala mais reduzida, porém de acordo com o mesmo princípio, pode-se observar professores de Escola Dominical colocando uma maior confiança na palavra dos professores que são responsáveis pelas lições do trimestre do que na clareza da Palavra de Deus. Porém, nenhum desses abusos significa que devemos evitar a submissão bíblica a um ministro que é apto a ensinar ou que devemos rejeitar a ajuda de comentários para a compreensão das Escrituras.

Objeções Examinadas em Particular

Contra o Sola Scriptura?

Agora, precisamos perguntar: “O uso consciente de uma Confissão de Fé usurpa o lugar legítimo da Escritura na fé e prática de alguém?”. Se a confissão for como os artigos do Concílio de Trento, teríamos de dizer: “Sim”. O Concílio de Trento coloca a tradição não escrita ao lado da Escritura como uma autoridade e afirma que somente a igreja (o Papa) tem o direito de interpretar as Escrituras. Mas as Confissões Protestantes têm quase sempre apresentado e defendido a autoridade única da Escritura e têm resistido às tentativas de estabelecer doutrinas em qualquer sentido, exceto por autoridade bíblica. Citações bíblicas e provas escriturísticas incentivam o leitor a examinar as afirmações da confissão à luz dos textos bíblicos.

Além disso, o contexto histórico dessas confissões nos lembra que seus subscritores, acima de todos os homens, não tinham nenhum desejo de produzir algo que pudesse esconder a Palavra de Deus dos olhos das pessoas. Por exemplo, uma leitura da Confissão das Igrejas Reformadas da França mostra esta submissa consideração aos limites estabelecidos pela Escritura regulando a composição da Confissão. Depois de afirmar a doutrina da Trindade como “decidida por concílios antigos”, a Confissão continua, “nós recebemos e concordamos com tudo que neles foi resolvido, como sendo extraído a partir das Sagradas Escrituras, no que unicamente a nossa fé deve ser fundamentada, pois não existe nenhuma outra testemunha adequada e competente para decidir o que é a majestade de Deus, senão o próprio Deus”. As duas naturezas de Cristo demandam a nossa aprovação porque “temos o Antigo e o Novo Testamentos como única regra de nossa fé, por isso, recebemos tudo o que está de acordo com eles”. As orações aos mortos são rejeitadas porque rebaixam a morte de Cristo e “resolvemos ser suficiente afirmá-lo, pela pura doutrina da Sagrada Escritura, a qual não faz qualquer menção disso”. O culto a Deus deve ser feito de forma simples, pois não estamos autorizados a “seguir o que pode ter sido concebido no cérebro de outros homens, mas nos limitamos simplesmente à pureza das Escrituras”. Seguir as tradições humanas produz tal perversidade da doutrina e prática “que estamos muito determinados a não ultrapassarmos os limites da Escritura”. A época da Reforma produziu muitas confissões; isso também indica um compromisso profundo, puro e apaixonado pela autoridade única das Escrituras.

A objeção às confissões, com base em sua tendência a substituir a Escritura me parece ser uma quimera. Isso combina perigos fictícios com as piores características de uma comunhão cristã que confessadamente não opera com base no Sola Scriptura. Na realidade, a história demonstra que aqueles que valorizam suas confissões também dão a mais intensa atenção à Escritura e têm o maior respeito pela pureza e consistência de suas doutrinas. A perda de confiança na infalibilidade e consistência da Bíblia produz naturalmente uma atitude cética em relação às confissões de fé.

Um exemplo radical dessa tendência pode ser visto na convicção de Edward Farley, que devemos “nos recusar a fazer de qualquer coisa humana e histórica um absoluto atemporal, estando acima do fluxo dos contextos e situações”. E qual exemplo ele nos oferece daquilo que é “humano e histórico?” “Alguém se recusa a dar esta caraterística de atemporal e incondicional a uma denominação, às próprias confissões, à própria herança e até mesmo para a própria Escritura”. Posteriormente, Farley nos informa que “Deus pode estar operando salvificamente através das comunidades de outras crenças religiosas, que o budismo, o hinduísmo, o judaísmo e religiões nativas americanas são crenças verdadeiras e que porque elas o são, nós podemos aprender com elas, mesmo tanto quanto elas poderiam aprender conosco”.[7] 

Se Farley é a voz profética para o anticonfessionalismo, devemos ver claramente que a sua força motriz é a perda de qualquer crença no conhecimento humano de absolutos. Não somente a confissão deve cair, a Sagrada Escritura deve cair, e eventualmente, qualquer exigência da singularidade da redenção por Cristo crucificado deve ser chamada de arrogante e intolerante. Parece-me que a mentalidade do não-confessionalismo é muito mais perigosa e destrutiva do que a do confessionalismo jamais foi.
 

 


[1] Thomas Armitage, “Baptist Faith and Practice” [Fé e Prática Batista], em C. A. Jenkyns, Ed. Baptist Doctrines [Doutrinas Batistas] (Chancy R. Barns: St. Louis, 1882), p. 34.

[2] Citado em The Unfettered Word [O Mundo Liberto], ed. Robison James (Waco: Word Books, 1987), p. 139. Esta obra é citada no prefácio de um artigo intitulado “Creedalism, Confessionalism, and the Baptist Faith and Message” [Credalismo, Confessionalismo e a Fé e Mensagem Batista]. Eu escrevi para este livro. O editor procura apresentar um exemplo das “inclinações não confessionais de Batistas do Sul”. Algumas dessas preocupações são abordadas neste artigo. Com a permissão do editor, Robison B. James, espero publicar uma versão ligeiramente editada desse artigo na próxima edição de The Founders Journal.

[3] Robert A. Baker, A Baptist Sourcebook [Um Manual Batista] (Nashville: Broadman Press, 1966), p. 22.

[4] O Livro de Oração Comum afirma:

Tão logo filhos cheguem à uma idade em que se tornem capazes, e possam recitar em sua língua nativa o Credo, a Oração do Senhor e os Dez Mandamentos; e também possam responder às outras questões desse breve Catecismo; eles serão levados ao Bispo. E cada um terá um padrinho ou uma madrinha, como um testemunho da sua confirmação.

[5] *Termo que denota o princípio de uma igreja ser reconhecido oficialmente como uma instituição nacional (Nota de tradução).

[6] [5] James, p. 139.

[7] Edward Farley, “The Modernist Element in Protestantism” [O Elemento Modernista no Protestantismo], em Theology Today [Teologia Hoje] XLVII. no. 2, pp. 141, 143. Farley é professor de Teologia da Vanderbilt University Divinity School. Duas das principais questões do artigo de Farley são a “revisibilidade de confissões” e a “abordagem histórica” da Escritura. Ele gostaria de ver muitos mais temas modernistas inseridos nas confissões presbiterianas e parece modestamente concordar com a Confissão de 1967 por causa de seu reconhecimento de que as Escrituras permanecem “não obstante as palavras de homens” e são condicionadas pela linguagem, formas de pensamento e estilos literários das diferentes culturas e circunstâncias históricas. É óbvio que ele reconhece que o forte confessionalismo tende a retardar o progresso dos conceitos relativistas em relação à Escritura.
 

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