Descrição
Pregado na manhã de Domingo, 9 de julho de 1865. Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.
“E disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.” (1 Samuel 16:12)
SAMUEL foi enviado a Belém para descobrir o objeto da eleição de Deus. Isto teria sido uma tarefa muito difícil se o Deus que o enviou não o acompanhasse, e falasse com voz segura de inspiração dentro dele, assim que o objeto escolhido estivesse diante dele. Irmãos e irmãs não é a sua tarefa, nem a minha adivinhar quem são os eleitos de Deus, à parte das marcas e evidências. O que foi feito nos conselhos da eternidade antes que o mundo fosse feito está escondido na mente de Deus, e não devemos curiosamente nos intrometer onde a porta é fechada pela mão da Sabedoria. Contudo na pregação da Palavra é feita uma descoberta da eleição secreta de Deus. Nós pregamos o Evangelho a toda criatura debaixo do céu, nós anunciamos as ameaças e promessas de Deus a cada pecador e clamamos: “Olhai para Jesus e sejais salvos, vós todos os confins da terra”. Esse Evangelho é, por si só, através de Deus, o Espírito Santo, apto para discernir os escolhidos de Deus, quando sentem o seu poder vivificante e são espiritualmente ressuscitados dentre os mortos.
O Evangelho é um ventilador que, ao mesmo tempo em que afasta a palha, deixa o trigo no chão. O Evangelho é como o fogo do ourives e como o sabão do lavadeiro, removendo tudo o que é estranho e sem valor, mas revelando as preciosas e puras. Nós, os ministros, não temos outra maneira pela qual discernir os santos de Deus, e para separar o precioso do vil, senão por fielmente pregar a verdade de Deus como ela é em Jesus, e observar seus efeitos. Quanto a nós, podemos descobrir a nossa própria vocação e eleição, e fazê-las firme. Paulo disse dos Tessalonicenses que ele reconhecia a sua eleição de Deus, e podemos descobrir a eleição de outros homens com um alto grau de probabilidade, pela sua conduta e conversa, e ser certificados de nossa própria eleição, até a infalibilidade, pelo testemunho do Espírito de que nascemos de Deus. Se o nosso coração é renovado pelo Espírito, se somos feitos novas criaturas em Cristo Jesus, se somos reconciliados com Deus e redimidos das obras mortas, podemos saber que nossos nomes foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro antes da fundação do mundo.
Esta manhã eu estou prestes a falar sobre a maneira em que podemos descobrir os escolhidos, fazendo do caso de Davi, em algum grau, a nossa estrela guia.
I. Eu terei que destacar logo no início, a SURPRESA DE TODOS, quando descobriram que Davi, o menor na casa de seu pai, era o objeto de escolha do Senhor como rei de Israel.
Observa-se que os irmãos não tinham ideia de que Davi seria selecionado. Tal pensamento nunca tinha entrado em suas mentes. Se a questão fosse perguntada a eles: “Quem entre vós alguma vez alcançará o reino?”, eles teriam escolhido qualquer um dos outros sete, mas eles certamente teriam passado pelo seu irmão Davi. Ele parece ter sido completamente desprezado por seus irmãos. Eliabe se dirige a ele em tom de desprezo quando ele vem para o vale de Elá: “Bem conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração, que desceste para ver a peleja” [1 Samuel 17:28]. Este modo de expressão foi, sem dúvida, como ele geralmente se dirigia ao jovem. Suponho que Davi havia sido alguém por si mesmo. Os esportes dos sete eram muitas vezes tais que ele não poderia se envolver neles. Ele não era um companheiro para eles. Se a qualquer momento perpetrasse qualquer ato injusto ou perverso, como, provavelmente, um bando de sete jovens no apogeu da juventude é susceptível de fazer, eles eram ousados em cursos de alegria pecaminosa, Davi seguiria o exemplo de José, e agiria como um reprovador no meio deles e, consequentemente, ele caiu sob o seu desprezo. Ele estava com o seu rebanho no lado da montanha, quando eles estavam se alegrando com sua bebida; seu livro e sua harpa eram seu consolo, a contemplação era o seu grande prazer, e seu Deus, sua melhor companhia, enquanto seus irmãos não encontravam prazer nas coisas Divinas. Ele, como nosso Senhor, podia dizer: “Porque por amor de ti tenho suportado afrontas; a confusão cobriu o meu rosto. Tenho-me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe” (Salmos 69:7-8). Como José, ele era “o sonhador” da família na estima dos outros. Eles pensavam dele [como sendo] “lunático” quando ele considerava os céus, e chamaram-no louco, quando ele meditava dia e noite na Lei de Deus.
Agora, queridos amigos, a quem me dirijo, vocês podem ser um daqueles a quem Deus tem olhado com olhos de amor desde antes da fundação do mundo, e ainda assim, na família a que pertencem podem ser negligenciados e esquecidos. Seus próprios irmãos formaram uma opinião muito baixa de suas habilidades, e eles têm um perfeito desprezo pela singularidade de seu caráter. Você é como um pássaro salpicado entre sua própria parentela, você não pode desfrutar do que eles gostam; seus amores e seus desejos correm em um canal diferente do deles. Não permita que seu desprezo quebrante o seu coração. Lembre-se de que Davi esteve uma vez em sua posição, e ainda havia um outro nos dias anteriores sobre a coroa da cabeça de quem a bênção das colinas eternas descende embora ele foi separado de seus irmãos; e assim pode um enriquecedor sorriso do Céu, no entanto, descansar sobre você, porque o Senhor não vê como o homem vê. Os mais rejeitados entre os homens são muitas vezes os amados do Senhor.
É mais doloroso perceber que o pai de Davi não deveria ter ideia da excelência de Davi. Um pai tem, naturalmente, mais amor ao seu filho do que um irmão por seu irmão e, frequentemente, o filho mais novo é o queridinho, mas Davi não parece ter sido alguém querido de seu pai. Jessé o chama o menor, e se eu compreendo a palavra que ele usa no original, há algo mais implícito do que ele ser o mais jovem, ele era o menor na estimativa do mau julgamento do pai. É estranho que ele tivesse sido deixado de fora quando os outros foram convocados para o banquete, e eu não posso absolver Jessé da culpa por ter se omitido de chamar seu filho, quando esse banquete era um serviço religioso especial. Em um sacrifício todos devem estar presentes, quando o profeta vem, ninguém deve ser afastado, e ainda não se considerou que valia a pena chamar Davi, embora alguém poderia ter pensado em um servo que pudesse apascentar as ovelhas, e assim toda a família poderia teria sido encontrada santificada na ocasião. No entanto, nenhum filho foi deixado no campo, senão Davi, todos os outros estavam reunidos. Às vezes acontece, (mas, quão injustamente!) que alguém na família é negligenciado, até mesmo por seu pai, em suas esperanças e orações. O pai parece pensar: “Deus pode Se agradar em converter William, Ele poderá chamar Mary, eu confio em Sua providência que veremos John crescer para ser uma honra para nós, mas quanto a Richard ou Sarah, eu não sei o que virá sobre eles”. Como, muitas vezes, os pais devem confessar que têm julgado mal, e que o único sobre o qual eles criaram a marca negra foi, afinal, a alegria e o consolo de suas vidas, e lhes deram mais satisfação do que todos os outros juntos! Você é um tal, meu jovem? Você é dolorosamente consciente de que você tem uma parte estreita nos corações dos seus pais? Não te deixes abater afligido ou com o coração partido com isso. Você passará como Davi antes de você, e se ele, o servo favorecido de Deus, o homem segundo o coração de Deus, pôde aguentar a sua posição, não seja você orgulhoso demais para [recusar] permanecer nela, pois mesmo se o seu pai e sua mãe o abandonarem, se o Senhor te conduzir ao alto, Ele será melhor para você do que o melhor dos pais!
É claro, também, que Samuel, servo de Deus, não tinha a princípio nenhuma ideia da eleição de Davi. Os irmãos avançaram um por um, e Samuel, usando seu julgamento humano, estava pronto para selecionar qualquer outro, em vez de Davi. O ministro de Deus, se ele é verdadeiramente chamado e enviado, tem um desejo em sua alma para trazer para fora o escolhido de Deus de seu estado oculto. Seus olhos são rápidos em discernir os primeiros sinais da graça Divina em uma alma renovada. Mas, às vezes, o ministro Cristão é enganado. Ele consulta com carne e sangue, e seleciona Eliabe, que é uma boa pessoa, cujo semblante nobre evidencia algo acima do nível normal, cuja inteira estrutura é tão admiravelmente elegante, que ele é bom de olhar. Quão verdade é que o Senhor não tem prazer nas pernas de um homem. Os dons da aparência pessoal muitas vezes se tornam armadilhas em vez de bênçãos, “enganosa é a beleza e vã a formosura” [Provérbios 31:30]. O Senhor não escolheu Eliabe. Então posições virão perante o ministro, e se ele vê uma pessoa de elevada característica alegremente ouvindo o Evangelho, ele é muito rápido para pensar: “certamente o Senhor o escolheu”. Mas quantas vezes, porém estes são aves de arribação em nossa congregação que nunca demorarão o tempo suficiente para construir um ninho no santuário. Mera curiosidade os traz, e uma nova curiosidade os leva a outro lugar. Certamente o Senhor não tem frequentemente escolhido estes Abinadabes. Mais uma vez, os outros são tão bem educados que quando a Palavra é pregada, eles apreciam o estilo em que ela é entregue, e os comentários que eles fazem a respeito dela são tão sensíveis e tão judiciosos, que o pregador é capaz de dizer: “certamente o Senhor escolheu a estes!”. E, no entanto, como muitas vezes os educados são orgulhosos demais para acreditar nas simplicidades de Cristo, e o intelectual vira-se em seus calcanhares, porque o Evangelho é pouco refinado o suficiente para o seu gosto. Em outros momentos, temos a certeza que temos agora lançado sobre o homem certo, pois estamos encantados com a disposição da amabilidade natural do nosso ouvinte, e estamos animados pela sua ternura e sensibilidade da mente para impressões religiosas, e ainda ficamos desapontados. Muitas flores encantadoras nunca se tornam frutos e mudas de esperança não se revelam plantas de plantio da destra do Senhor, e, portanto, são arrancados.