Entre ou cadastre-se

Dia do Senhor: Alegria, Convocação e Compaixão

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.”  (Salmos 122:1)

Desde que o Senhor me revelou o Seu amor salvador, em meados de 2013, não me recordo de voluntariamente deixar de congregar e de estar em adoração pública, especialmente aos domingos. Esse dia sempre foi o mais anelado, feliz e querido de toda a semana! Por isso, uma de minhas aflições durante o último ano foi a impossibilidade de estar com regularidade em comunhão com os santos na vida diária e nos cultos públicos no dia do Senhor. Isso porque, em setembro de 2017, minha bebê assim que nasceu foi diagnosticada com uma doença genética grave que afeta os pulmões e o pâncreas, causando problemas respiratórios e digestivos. Durante o último ano, ela passou por internação na UTI logo após o nascimento, e hospitalizações para a realização de três cirurgias devido à uma obstrução intestinal. Ela necessita de um tratamento severo e contínuo, além de cuidados e restrições para prevenir doenças comuns, como resfriados e gripes, que para ela podem ser bem graves. Graças ao Senhor, minha filha está muito bem, é uma menina linda e cheia de alegria, mas devido a essas internações e cuidados rigorosos, muitas vezes ficamos privados desse doce privilégio em seu primeiro ano de vida.

Ah, quantas vezes o coração doeu e a alma ficou sedenta por não podermos ouvir a pregação da Palavra, entoar os louvores celestiais, participar das ordenanças e estar em comunhão com parte do povo de Deus. Como um servo do Senhor disse no passado, nossa jornada na terra deveria ser marcada de “sabbath em sabbath”, até que chegue o sabbath eterno de delícias eternas! Por isso, não entendo qualquer “argumento” para ser um “desigrejado”, nem compreendo aqueles que trocam a feira da alma, o dia do Senhor por qualquer ninharia dessa vida, quando está em sua capacidade envolver-se em adoração privada e pública nesse dia precioso, quando Deus em Sua Palavra e providencia nos conclama a participar das assembleias públicas.

Como afirma nossa confissão de fé: Pelo desígnio de Deus, há uma lei da natureza que, em geral, uma proporção do tempo seja destinada ao culto a Deus; dessa forma, em Sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, válido a todos os homens em todas as eras, Deus particularmente nomeou um dia em sete para um descanso, para ser-Lhe santificado (Êxodo 20:8), que desde o início do mundo até a ressurreição de Cristo, foi o último dia da semana; e a partir da ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, o que é chamado de dia do Senhor (1Coríntios 16:1-2; Atos 20:7; Apocalipse 1:10), e deve continuar até o fim do mundo como o sabbath cristão; sendo abolida a observação do último dia da semana… O sabbath é assim santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e ordenado os seus assuntos comuns de antemão não apenas observam um santo descanso durante todo o dia a partir de suas próprias obras, palavras e pensamentos sobre suas ocupações e recreações mundanas (Isaías 58:13; Neemias 13:15-22), mas também dedicam todo o tempo em exercícios públicos e privados de Seu culto e nos deveres de necessidade e misericórdia (Mateus 12:1-13) — A Confissão de Fé Batista de 1689, cap. 22, parágrafos 7-8.

Como esses trechos confessionais muitas vezes me humilharam, mas também consolaram, pois entendi quão longe estou de amar esse dia separado, bem como compreendi que pela “providência” de Deus eu estava sendo chamada naquele momento da vida a adorá-lO cuidando de modo especial de minha filhinha ao lado de meu esposo, em casa. Esses eram meus deveres de necessidade e misericórdia.

Recentemente o Senhor Deus, em Sua grande misericórdia, tem superabundado Sua graça e atendido um grande desejo do meu coração: Ele tem me concedido, junto com minha pequena família (esposo e filhinha) e com minha grande família da fé, estar regularmente na casa do Senhor em comunhão e adoração públicas! Como me alegro por tão grande graça e gosto do céu! Que privilégio! Posso sentir algo da doçura descrita no passado por Robert M’Cheyne:

Quando um crente põe de lado seus cuidados e afazeres deste mundo e vem para a casa de Deus, é como a manhã da ressurreição, o dia em que sairemos da grande tribulação e entraremos na presença de Deus e do Cordeiro. Quando ele ouve a Palavra pregada e escuta a voz do pastor guiando e alimentando sua alma, isso o lembra do dia em que o Cordeiro que está no meio do trono, irá alimentá-lo e guiá-lo para as fontes de água viva. Quando ele participa dos salmos de louvor, isso o lembra do dia em que suas mãos irão tocar na harpa de Deus — onde as congregações não se dividem e os sabbaths não têm fim. 

O período prologando no passado em que não pude gozar de tão doce privilégio me fez recordar de modo especial de duas lições aprendidas em ocasiões de culto público solene por meio de orações de ministros fiéis do Senhor, em dias do Senhor em um passado ainda mais remoto.

A primeira foi a lembrança da oração de um querido pastor* que sempre que elevava as suas petições pela congregação, fazia referência à “santa convocação” de Deus nesse dia, e agradecia ao Senhor pelo privilégio e pela liberdade de adorá-lO de modo público e junto aos amados irmãos. Eu jamais esqueci dessa referência ao domingo como um dia de “santa convocação”, um chamado do Rei dos santos para que eles se unam de modo intencional, em verdade e amor, em suas congregações locais nesse dia deleitoso e solene em todo mundo até que Ele volte!

Como é alegre poder atender a esse chamado santo Teu, Senhor Jesus! “Nossa capacidade vem de Deus”! Que possa ser assim sempre!

A segunda e ainda mais tocante ao meu coração, foi a lembrança de uma oração frequente feita em uma amada igreja onde congreguei por 1 ano.** Aos domingos, o pastor costumava orar e nos estimulava a orar para que as bênçãos de Deus alcançassem aqueles que “por um motivo justo” não pudessem estar presentes nas assembleias solenes.

Confesso que na época, aquilo não fazia muito sentido para mim. Eu era solteira, morava a minutos do local de adoração pública e fruía de plena saúde e disponibilidade para estar sempre aos domingos (e durante a semana) nos cultos. Mas, por meio dessa petição, aprendi que haviam amados irmãos nessa situação… nessa época, eu não imaginava que um dia, ao invés de interceder pelos tais, eu precisaria desse tipo de oração.

Amados irmãos, espero que a alegria de adorar ao Senhor nesse dia de santa convocação seja sempre presente em nossas vidas. Como bem disse Randy Booth: “A decisão de comparecer ao culto no Dia do Senhor é uma decisão feita uma vez na vida, não todo sábado à noite”. E como temos aprendido pelo ensino e exemplo de nossos pastores e irmãos em nossa igreja local, que os cultos públicos sejam uma expressão de cultos diários ofertados individualmente e em família ao Senhor, pois Ele é digno.

Além disso, que possamos exercer misericórdia prática e orar com compaixão por aqueles que “por um motivo justo” e extrema incapacidade não conseguem estar presentes nas assembleias solenes. Que Deus os console e breve conceda o gozo da comunhão cristã aos tais, de modo infinitamente mais gracioso do que podemos pedir ou pensar, como tão misericordiosamente tem feito comigo e com minha família no presente! Quem pode mensurar o valor infinito de viver e adorar em uma comunidade evangélica, cristocêntrica, quebrantada e piedosa? ***

Que alegria, convocação e compaixão sejam algumas das marcas de nossos sabbaths! Que possamos nos alegrar em adoração particular, em doce comunhão nos lares e em assembleias públicas, as quais não devem ser descuidadas, deliberadamente negligenciadas ou abandonadas, quando Deus, pela Sua Palavra e providência, nos conclama a participar delas! Que não se passe um domingo sem que digamos: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Salmos 122:1).

 


Notas:

* Manoel Coelho Jr., pastor da amada Congregação Batista Reformada de Belém-PA.

** Orações frequentemente proferidas pelo querido Rev. João Eiró, pastor da amada Igreja Presbiteriana da Cidade Nova, Ananindeua – PA.

*** Louvamos a Deus sempre por nos conceder na amada Igreja Batista Reformada de Francisco Morato-SP um lar, onde temos provado e experimentado como é bom e agradável que os irmãos vivam em união, e além disso, temos aprendido que alegria em Cristo, submissão ao Seu chamado e compaixão pelas almas eternas também resultarão em evangelismo regular, especialmente aos domingos. Pela graça de Deus somente, uma das frentes evangelísticas de nossa igreja é sairmos e pregarmos o evangelho a cada domingo no centro de nossa cidade após o culto matutino. Mas talvez este possa ser um tema para um próximo artigo.