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O Argumento em Favor do Credobatismo │ Por Samuel Renihan

 

A prática de batizar crentes professos é baseada em dois fundamentos complementares. O primeiro é um argumento dos pactos da Escritura. O segundo é um argumento dos mandamentos da Escritura, relacionados a esses pactos. Credobatistas e pedobatistas frequentemente assumem, ou argumentam, que as pessoas de um determinado pacto recebem o sinal do pacto. Assim, no caso dos participantes do batismo, é preciso simplesmente identificar o povo do pacto. Isso é insuficiente. A administração das ordenanças pactuais é governada por leis específicas, que devem ser obedecidas estritamente. Por exemplo, as mulheres eram membros do pacto com Abraão, mas elas não recebiam seu sinal, a circuncisão. Da mesma forma, os bebês do sexo masculino eram circuncidados, mas apenas ao oitavo dia. Como resultado, para determinar os participantes do batismo deve-se primeiro identificar e distinguir o pacto envolvido e então examinar as leis que o acompanham.

 

1. Um argumento credobatista positivo afirma que o pacto relevante envolvido é a Nova Aliança, e que esse pacto é distinto dos pactos bíblicos que o precederam na história, particularmente o pacto abraâmico. Simplificando, o pacto abraâmico prometia bênçãos terrenas para um povo terreno (Abraão e sua descendência) em um solo terreno. Esse relacionamento pactual foi expandido e desenvolvido no pacto mosaico e no pacto davídico (o pacto mosaico acrescentou leis para a vida em Canaã, e o pacto davídico estabeleceu reis sobre o povo). Esses três pactos estabeleceram e governaram o reino de Israel, constituído pelo povo de Abraão. A Nova Aliança (i.e., o Pacto da Graça) promete bênçãos celestiais para um povo ligado ao céu. Assim, a Nova Aliança é estabelecida sobre promessas melhores, promessas diferentes. Apensa a Nova Aliança é o Pacto da Graça, e é distinta dos pactos israelitas.

 

2. O reino de Israel e o reino de Cristo (a igreja), embora distinguidos por seus pactos, estão tão relacionados quanto um andaime está com um prédio. Os descendentes naturais de Abraão eram trabalhadores arrendatários, construtores, receberam uma promessa do nascimento do Messias e foram encarregados de preparar o caminho para o Seu advento (Mateus 20:1-16, 21:33-46). No entanto, embora o Messias pertencesse à Israel, Israel não pertencia automaticamente ao Messias. O reino de Israel terminou no reino de Cristo e foi desfeito, como um andaime. Jesus não era a principal pedra angular do reino de Israel, nem os apóstolos eram sua fundação (Salmo 118:22; Isaías 28:16; Mateus 21:42; Atos 4:11; Efésios 2:20; 1 Pedro 2:6-7). Jesus estabeleceu o reino de Deus com base na regeneração, arrependimento e fé. Ele pregou para Seu próprio povo, Israel, mas Seu povo verdadeiro e permanente era de um reino que não é deste mundo. Jesus acolhe como Seu todo aquele que nEle crê, e os demais são condenados por sua incredulidade pecaminosa. A fé em Cristo, dada somente por Deus, define o povo de Cristo.

 

3. Ao longo da história de Israel, muitos compreenderam as promessas messiânicas e olharam para Jesus com fé, antes de Seu advento (Hebreus 4:2-3, 11:13-16). O povo de Deus, considerado de acordo com a liderança e os benefícios de Cristo (e, portanto, da igreja), não começou com a encarnação. Isso foi possível porque o reino israelita e seus pactos eram tipológicos. A tipologia sustenta duas verdades: por um lado, um tipo tinha significado em seu próprio contexto, enquanto que por outro, um tipo apontava para um significado maior em Cristo, Seu reino e Seu pacto. Assim como uma pegada não é um pé, nem uma sombra é uma pessoa e mesmo assim eles dão informações sobre o que elas representam, assim também um tipo não é seu antítipo, mas revela o antítipo. O autor de Hebreus afirma claramente que o sangue dos sacrifícios israelitas não podia perdoar pecados. Por quê? Porque, embora esses sacrifícios tivessem significado no contexto israelita, isto é, a purificação da carne, eles não eram o sacrifício de Cristo e não podiam purificar a consciência (Hebreus 10:1-4, 12-14). Paulo considera os tratos de Deus para com Abraão da mesma forma, chamando os crentes de filhos de Abraão e encontrando um significado maior na palavra “descendência” como relacionado a Cristo, em vez de simplesmente a posteridade de Abraão (Gálatas 3:7, 9, 16, 27-29). Não é um ou outro, como se as promessas fossem feitas apenas a Abraão e a seus filhos naturais ou a Cristo e a Sua descendência (inclusive Abraão). Mas ambos, cada um com seu significado particular, mas relacionado em um contexto típico ou antitípico. E assim, o reino e os pactos de Israel não eram o reino e o pacto de Cristo, embora estivessem apontando para Seu nascimento e revelando verdades sobre Ele ao longo do caminho. Os santos do Antigo Testamento foram salvos pela promessa daquele que viria e da Aliança que Ele estabeleceria. Consequentemente, os batistas não usam o reino de Israel e seu pactos como o padrão para a igreja. Eles são distintos.

 

4. Nós podemos acrescentar mais clareza à membresia de um determinado pacto, olhando para o cabeça federal. Deus estabelece pactos com a humanidade por meio de cabeças federais, e designa a descendência que eles representam. Adão, Noé e Abraão representaram um grupo de pessoas, sua descendência natural. Davi representava sua descendência natural no pacto davídico, e ele e seus filhos representavam a nação de Israel no pacto mosaico. Cristo também representa um grupo de pessoas, Sua descendência natural (ou sobrenatural) — os eleitos.

 

5. Deus Pai designou Deus Filho como um cabeça pactual no Pacto da Redenção. As canções do servo de Isaías fornecem um vislumbre dessa designação (Isaías 42:1-7, 49:1-13; 50, 52:13–53:12). Yahwéh declara que o Servo do Senhor verá Sua descendência ao oferecer-Se como um substituto sacrificial pelo qual serão considerados justos (Isaías 53:10-11). O Servo representa um povo, e seus pecados são perdoados em Seu sangue. Essa é uma descrição da Nova Aliança, estabelecida no sangue de Cristo, que traz perdão de pecados a todo o povo de Cristo (Jeremias 31:31-34; Mateus 26:26-29; Hebreus 8). Os Evangelhos contêm expressões maravilhosas do consciente entendimento de Jesus acerca de Sua missão, sendo enviado pelo Pai para redimir um povo específico (Lucas 4:16-21; João 6:35-40, 8:42-47, 10:25-30, 17:1-26). Assim, nós usamos o Pacto da Redenção, não o Pacto Abraâmico, como o padrão para a membresia pactual na Nova Aliança, porque é aqui (no Pacto da Redenção) que a liderança federal de Cristo é estabelecida.

 

6. A descendência de Cristo nasce pelo poder regenerador do Espírito Santo e é unida a Cristo pelo Espírito e através da fé. Como Paulo diz em Romanos 8:9: “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Por estas razões, devemos reconhecer a seriedade de uma reivindicação à participação em Cristo e em Seu Pacto. É uma reivindicação à posse da salvação.

 

7. Olhar para o relacionamento pai-filho é uma tentativa equivocada de entender a membresia pactual. Redirecionar nossa atenção para a liderança federal traz clareza e precisão bíblica para a questão. Nós culpamos Adão, não os nossos pais, pela maldição. Os israelitas olhavam para Abraão, não para seus pais, para uma reivindicação de Canaã e de suas bênçãos, e para a conduta do rei, não de seus pais, para possuir a terra. Assim também, as crianças devem olhar para Cristo, não para seus pais, para reivindicar sua participação no Pacto de Cristo. Consequentemente, nunca houve um pacto em que “crentes e seus filhos” constituíssem o paradigma para pertencer ao pacto. A promessa (salvação em geral, e a habitação do Espírito em particular) é oferecida a eles, assim como é para o mundo inteiro (Atos 2:16-41). Nós nascemos sob a liderança federal de Adão e ninguém escapa do domínio das trevas até que Deus o transporte “para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (Colossenses 1:13-14).

 

8. Os primeiros sete argumentos demonstram a distinção da Nova Aliança das alianças israelitas, e a restrição de sua membresia à cabeça federal de Cristo. Agora podemos examinar as ordenanças das alianças. Isso é importante porque o raciocínio lógico (“se isso, então aquilo”), embora importante, válido e necessário na teologia em geral, não é válido no que diz respeito à observação das leis positivas (leis que dependem apenas do que é ordenado). Somente uma ordenança da Escritura, seja de Cristo, das epístolas ou do exemplo dos Apóstolos pode instituir e regular os sacramentos da Nova Aliança, o batismo e a Ceia do Senhor. Não seria apenas ilegítimo usar ordenanças de outras alianças para governar a Nova Aliança, mas também não se pode desviar-se dos mandamentos de Deus com base em inferências. “Se Deus requer as primícias do rebanho, certamente as primícias de meus campos o agradarão” — Não é assim (Gênesis 4:1-7; Levítico 10:1-3).

 

9. A ordem de Cristo é fazer discípulos das nações e então batizá-los (Mateus 28:18-20). Candidatos ao batismo são aqueles que têm respondido ao Evangelho com fé (Atos 2:41). Isso concorda com a natureza da Nova Aliança e o exemplo dos apóstolos. Mesmo no caso do “silêncio” relativo dos batismos de famílias, que se tende a ler através das lentes dos extensos sistemas que os precedem, pode-se dizer ao menos que enquanto nenhum infante é mencionado, as profissões de fé inclusive dos agregados da família são mencionadas (Atos 10:44-48, 11:14, 16:31, 18:8).

 

10. A natureza objetiva do pacto e a natureza subjetiva da profissão de fé produzem uma eclesiologia batista e uma doutrina do batismo robustas. A igreja é o reino de Cristo, estabelecido e governado por Seu pacto e constituído de Seu povo, que nasceu de novo pelo poder do Espírito Santo. A eleição e a regeneração são realidades objetivas do pacto consumado pelo próprio Deus. Mas como a igreja visível deve ser governada? Como os filhos de Deus são identificados? O choro de um filho de Deus recém-nascido, não importa a idade, é a fé em Jesus Cristo. E pela profissão doutrinária e pela prática de fé individual são admitidos ou removidos da igreja.

 

11. Porque cremos que a fé é dom de Deus (Efésios 2:8) e que todos os que invocam o nome do Senhor serão salvos (Romanos 10:13) temos razões bíblicas para presumir que todos os crentes professos são verdadeiros filhos de Deus. Mas porque uma profissão de fé é subjetiva, haverá falsos crentes em nosso meio. Qual é a relação deles com o pacto de Cristo? Objetivamente, nenhuma. Eles não pertencem a Cristo, supondo que eles nunca se arrependeram ou creram. Todavia, eles são responsabilizados por sua traição. Quando um espião é descoberto, um país não deve deixá-lo em sua própria terra sob a falsa noção de que eles não têm autoridade sobre ele. Muito pelo contrário, o espião é responsável perante as leis do país no qual ele cometeu seus crimes. Assim também, os falsos crentes não são deixados sem punição. Eles são responsáveis perante o Rei Jesus Cristo, e devem ser removidos do corpo de Cristo por excomunhão. As passagens de advertência da Escritura fazem com que as ovelhas fujam para Cristo e os bodes fujam de Cristo.

 

12. Admitir e remover indivíduos com base na profissão de fé, por sua vez, produz um valor proléptico idêntico em se juntar e sair da igreja. Aqueles que se juntam ao reino de Cristo reivindicam salvação nEle, enquanto aqueles que são expulsos são declarados excluídos da salvação, ambos de acordo com o juízo humano operando segundo critérios e diretrizes bíblicas.

 

13. O batismo representa as promessas de Deus e a confiança dos crentes nelas. Simboliza a promessa de Deus de que todos os que confiam em Cristo entraram na morte e no juízo nEle, e emergiram como novas criaturas. O batismo é também a afirmação pública individual de confiança naquelas mesmas promessas e uma declaração de que eles são uma nova criatura. Mortos com Cristo nas águas da morte, o crente se levanta, simbolicamente, vivo nEle (Romanos 6:1-11). Não é um símbolo do que pode acontecer no futuro, mas do que o indivíduo reivindica que é de fato verdadeiro no presente.

 

14. Concluindo, tudo começa e termina com Jesus Cristo. Devemos ser fiéis ao Seu pacto e às Suas ordenanças. Os batistas creem que as Escrituras ensinam que o pacto de Cristo perdoa os pecados de todos os seus membros, que as falsas ovelhas são simplesmente falsas ovelhas e que o batismo é um símbolo das realidades objetivas da Nova Aliança e da participação dos crentes nela. Sabendo que todos aqueles que invocam o nome do Senhor serão salvos, esforcemo-nos juntamente com nossos irmãos pedobatistas, quaisquer que sejam nossas diferenças nesse ponto, para proclamar esse precioso nome ao mundo.