Entre ou cadastre-se

O Espírito Santo na Vida e no Ministério de Jesus Cristo: Um Esboço do Capítulo 8.3 da Confissão de Fé Batista de 1689

— The Founders Journal • Outono de 2014 | Nº 98 —

O Espírito Santo na Vida e no Ministério de Cristo

 

“O Senhor Jesus em Sua natureza humana assim unida à Divina na Pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira; tendo em Si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, em Quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse…” (CFB1689 8:3, grifo nosso).[1]

INTRODUÇÃO:

No Evangelho de João 3:22-36, são reveladas várias características sobre Cristo a que devemos prestar mais atenção para a edificação do corpo de Cristo:

1. Cristo é quem proporciona a iluminação salvífica (vv. 27-29)

2. Cristo é o Preeminente — Ele deve crescer constantemente e Seus ministros devem diminuir constantemente (v. 30)

3. Cristo é acima de tudo (vv. 31-32)

4. Cristo fala a Palavra de Deus como Profeta designado por Deus (v. 34a)

5. Cristo possui o Espírito sem medida (v. 34b)

6. Cristo é o principal deleite do Pai (v. 35a)

7. Cristo tem todas as coisas colocadas em Sua mão (singular) (v. 35b)

8. Cristo é o centro de toda crença salvífica (v. 36a)

9. Cristo é o teste decisivo da vida e da morte (v. 36b)

De particular interesse é o versículo 34b (“…pois não lhe dá Deus o Espírito por medida”), o que leva à declaração da Confissão acima. Todos os crentes têm o Espírito Santo em um grau que pode ser medido; ninguém possui todas as graças e dons do Espírito. Cristo, no entanto, possuía o Espírito Santo plenamente, sem medida.

A relação entre Cristo e o Espírito Santo é necessariamente definida pela união hipostática das duas naturezas de Cristo. Leão I (c. 449) de Roma escreveu um magnífico tratado, equilibrando as verdades exegéticas dos Concílios de Niceia, Constantinopla e Éfeso. É conhecido historicamente como Tomo de Leão e tornou-se o ensino bíblico e fundacional sobre a pessoa de Cristo no Concílio de Calcedônia (451) e nas igrejas Católicas e Protestantes ocidentais de hoje. Notável é sua precisão incomum no belo equilíbrio da verdade:

Aquele que se fez homem na forma de servo é Aquele que na forma de Deus criou o homem… Assim, na natureza completa e perfeita da verdadeira humanidade, nasceu o verdadeiro Deus — completo nas suas propriedades e completo nas nossas propriedades… um e o mesmo mediador entre Deus e o homem, o homem Jesus Cristo, deve ser capaz tanto de morrer em relação a um quanto de não morrer em relação ao outro… Cada forma realiza em conjunto com o outro o que é apropriado para isso, a Palavra realizando o que pertence à Palavra, e a carne realizando o que pertence à carne. O um resplandece com milagre, o outro sucumbe aos ferimentos… por causa desta unidade de pessoa para ser compreendida em ambas as naturezas, diz-se que o Filho do Homem desceu do céu quando o Filho de Deus se tornou carne da Virgem de quem nasceu; e novamente o Filho de Deus é dito ter sido crucificado e sepultado, embora Ele sofreu aquelas coisas não na própria Divindade, em que o Unigênito é coeterno e consubstancial ao Pai, mas na fraqueza da natureza humana.

A definição de Calcedônia (d.C. 451) contém a conclusão de credal:

Nós, então, seguindo os santos Pais, e todos com o mesmo espírito, ensinamos os homens a confessarem um único e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em Divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de uma alma racional e corpo; consubstancial com o Pai segundo a Divindade, e consubstancial conosco segundo a Humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, sem pecado; gerado antes de todas as eras pelo Pai segundo a Divindade, e nestes últimos dias, por nós e para nossa salvação, nasceu da Virgem Maria, a mãe de Deus, de acordo com a Humanidade; um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, a ser reconhecido em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção das naturezas sendo de modo algum anulada pela união, mas antes, a propriedade de cada natureza sendo preservada, e concordante em uma Pessoa e uma Subsistência, não separada ou dividida em duas pessoas, mas um e mesmo Filho, e unigênito, a Palavra de Deus, o Senhor Jesus Cristo; como os profetas, desde o início declararam sobre Ele, e o Senhor Jesus Cristo nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos anunciou.

NOTA: O Concílio de Calcedônia procurou delinear biblicamente a relação entre a humanidade de Cristo e a Sua divindade. Deve-se notar cuidadosamente que a conexão do Espírito Santo sendo dado a Cristo “sem medida” pertence a Sua plena humanidade!

A ideia fundamental relacionada com o Messias, era que Ele DEVERIA SER UNGIDO COM O ESPÍRITO… O título CRISTO ou MESSIAS foi dado ao Redentor a partir da unção peculiar do Espírito conferida a Ele, que era única em natureza e em grau. Os diferentes servos de Deus, que estavam cheios do Espírito, mas de outra maneira, ilustram esta observação em contraste… Mas com Cristo era completamente diferente. A plenitude infinita do Espírito que Lhe foi dada foi constante e ininterrupta, e o resultado da união hipostática — ou seja, foi o efeito da humanidade assumida em união pessoal pelo Filho unigênito. (George Smeaton, The Doctrine of the Holy Spirit [A Doutrina do Espírito Santo], p. 45)

 

I. O que é a Conexão Trinitária Entre Cristo e o Espírito Santo?

NOTA: Há dez eventos em que o Espírito Santo está conectado com a Pessoa e a Obra de Cristo:

A. Seu nascimento (Mateus 1:18-20)

“A encarnação é o mais profundo de todos os mistérios e o milagre no que todos os outros milagres estão ocultos…” (J. Stuart Holden, The Price of Power [O Preço do Poder], p. 49)

1. Foi pela concepção do Espírito Santo que o eterno Filho de Deus se tornou o Filho do Homem; e

2. é claro que o nascimento virginal possibilitado pelo Espírito Santo era necessário para preservar o Messias de toda impureza do pecado;

3. O nascimento virginal não criou uma pessoa, mas um corpo e uma natureza humana;

4. esta natureza humana era da substância de Maria, única e sobrenatural, constituída por todos os elementos de nossa própria natureza humana;

5. A natureza humana de Cristo sofreu o processo de desenvolvimento exato de crescimento físico, crescimento racional e crescimento moral como qualquer outro ser humano;

6. Deus encarnado foi formado pelo Espírito Santo.

 

B. Seu Batismo (Mateus 3:13-17)

1. O batismo de Cristo foi um evento único na história da redenção;

2. nele Cristo estava se identificando com o ministério de João;

3. Ele estava se identificando com Israel e com a necessidade da nação de se arrepender;

4. Ele estava se identificando conosco, à medida que precisávamos nos arrepender;

5. Além disso, no Antigo Testamento, os profetas, sacerdotes e reis foram ungidos;

6. Com a descida do Espírito Santo sobre Cristo (sob a forma de uma pomba), é significada a unção para o Seu tríplice ofício de Profeta, Sacerdote e Rei;

7. Esta unção também foi Sua ordenação em Sua tríplice obra de Profeta, Sacerdote e Rei.

 

C. Sua tentação (Mateus 4:1: “conduziu”, Marcos 1:12: “impeliu”, Lucas 4:1: “encheu e levou”)

1. Imediatamente após Seu Batismo, Jesus é levado e conduzido ao deserto para ser tentado por Satanás por quarenta dias;

2. Ele entrou na tentação como o segundo Adão;

3. o primeiro Adão tinha um cenário ideal: um jardim; e o segundo Adão tinha um cenário hostil: um deserto;

4. de todas as maneiras o primeiro Adão falhou, o segundo Adão triunfou;

5. Sua vitória sobre a tentação, que foi real e intensa, não estava no poder de Sua divindade essencial, mas na unção e no poder do Espírito Santo sobre Sua humanidade.

 

D. Seu início do ministério evangélico (Lucas 4:14-21, “Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia…”)

1. Após os quarenta dias de tentação no deserto, Lucas nos informa de forma pungente que Jesus voltou, não pela Sua própria, mas “pela virtude do Espírito”;

2. Jesus então vai adorar na sinagoga de Sua cidade natal em Nazaré;

3. Quando Ele se levanta para ler as Escrituras Sagradas (sendo Ele um rabino), Jesus interrompe o calendário normal de leitura do dia de Sabbath voltando-se deliberadamente para Isaías 61:1-3, a passagem profética que informa que o Messias seria ungido com o Espírito de Deus.

4. Ao concluir a leitura, Jesus entrega o pergaminho de volta ao atendente e anuncia: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.

5. O Messias começa Seu ministério sob a unção do Espírito Santo, o que é confirmado por Lucas em Atos 10:38: “…Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele”.

 

E. Sua expulsão de demônios (Mateus 12:22-28)

1. Uma marca do Messias era que Ele iria libertar os cativos e os escravos;

2. Quando expulsou demônios, os fariseus cegos, ignorantes de suas próprias Escrituras, acusaram Jesus de expulsar demônios pelo príncipe dos demônios;

3. Cristo raciocinou com os líderes religiosos sobre sua irracionalidade;

4. Ele então declarou que Ele expulsou demônios “pelo Espírito de Deus”;

5. Ele poderia, na essência de Sua divindade, não expulsar demônios com Seu próprio poder divino? Sim, sem dúvida.

6. Por que então Ele não utilizou Sua divindade nativa e essencial em vez do Espírito de Deus?

7. A resposta curta é que Jesus queria afirmar que o reino de Deus havia começado e estava entre eles.

 

F. Sua alegria (Lucas 10:21: “Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo…”)

1. Muitas vezes pensamos em Jesus como “o homem das dores”, o qual Ele era com toda a certeza;

2. No entanto, há outra face de Jesus que é vital para Sua obediência messiânica. Ele era um homem alegre.

3. Quando os setenta retornaram de sua missão bem-sucedida, Jesus declarou que viu Satanás cair como um relâmpago;

4. É então que Lucas (somente) registra que Jesus “se alegrou no Espírito”;

5. também, à medida que Jesus se prepara para o Seu “êxodo”, com os Seus apóstolos no cenáculo, Ele fala do “[Meu] gozo que permanece neles” (João 15:11);

6. Além disso, o escritor de Hebreus nos lembra que o Filho foi “ungido com óleo de alegria” (1:9), e havia uma “alegria posta diante dele” (12:2) enquanto Ele trilhava Seu caminho até a cruz;

7. Assim, o “homem de dores” era também um homem de alegria e Ele era tal no Espírito Santo!

 

G. Sua expiação (Hebreus 9:13-14: “que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”)

1. A expiação só pode ser compreendida por três palavras do NT: redenção, reconciliação, propiciação;

2. É na terceira (propiciação) que o impacto total do pecado se realiza quando a ira de Deus é derramada;

3. Como poderia o corpo de Jesus Cristo suportar a fúria e o thermos sem medida do cálice da ira do Deus Todo-Poderoso?

4. Seu corpo, que foi preparado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, era um corpo real como o nosso:

5. Ele foi auxiliado em Sua agonia e sustentado em Seu corpo pelo Espírito Santo para não ser consumido pela ira de Deus;

6. Assim, foi através da habilitação divina do Espírito que Jesus Se ofereceu imaculado a Deus.

Ora, todas essas coisas sendo operadas na natureza humana de Cristo pelo Espírito Santo, Ele é dito oferecer-Se a Deus através do Espírito eterno (John Owen, Obras, Vol. 4, pp. 391ff).

 

H. Sua ressurreição (Romanos 8:11: “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós…”)

1. Quem ressuscitou Jesus dentre os mortos?

2. Deus o Pai é dito ter ressuscitado Jesus (Atos 17:30-31);

3. Jesus afirmou que Ele ressuscitaria dos mortos pela autoridade dada pelo Pai (João 10:17-18);

4. E aqui somos ensinados que o Espírito Santo ressuscitou Jesus dentre os mortos;

5. há um envolvimento trinitário;

6. De particular importância é que Paulo enfaticamente afirma que foi o Espírito de Deus, que supervisionou o sepultamento de Cristo e o tirou da sepultura.

 

I. Suas ordens finais e comissão aos Apóstolos (Atos 1:1-2: “…depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera…”)

1. Reunidos com Seus apóstolos em Betânia, o Cristo ressuscitado deu Suas ordens finais para serem realizadas em Sua ausência (Lucas 24:50);

2. Na Grande Comissão, Jesus os ordena a ir a todas as nações, a Jerusalém, a Judeia, a Samaria e aos confins da terra (Mateus 24:18-20; Lucas 24:46-49; Atos 1:8);

3. A grande promessa de Jesus precedendo a comissão é que lhe é dado “todo o poder no céu e na terra” e essa é a autoridade pela qual eles deveriam completar sua tarefa;

4. o que Lucas salienta é que Cristo deu essa comissão final não apenas através de Sua divindade nativa e essencial, mas através da autoridade e do poder do Espírito Santo.

 

J. Sua doação/envio do Espírito Santo (Atos 1:4-5)

1. O primeiro ato oficial de Cristo Jesus, ao ser entronizado, foi enviar a “Promessa do Pai”, o Espírito Santo (em toda a Sua plenitude) no Dia de Pentecostes;

2. parte dessa atividade foi a distribuição soberana de dons espirituais entre os homens (para a igreja de Cristo) pelo Espírito Santo;

3. Assim, através da doação do dom desde o trono do Céu à Sua igreja, Cristo batizará uma pessoa com o Espírito Santo (ou seja, a regenerará) ou com fogo (ou seja, a destruirá eternamente no Lago de Fogo);

4. Jesus subiu ao Céu e, juntamente com o Pai, enviou o Espírito Santo de volta à Terra para aplicar eficazmente Sua obra consumada como Mediador (veja CFB1689 10:1-2). 5). A conexão entre Cristo e o Espírito Santo, desde o nascimento até a ascensão, está agora completa.

O Messias, de acordo com o Batista, devia batizar com o Espírito e com o fogo (Mateus 3:11), o que O coloca em uma categoria diferente dos juízes e dos profetas do Antigo Testamento. A autoridade para dar o Espírito foi o ponto culminante da exaltação de Cristo… que Ele deveria derramar o Espírito de graça e de súplica (Zacarias 12:10) (Smeaton, p. 46).

 

II. Por que o Espírito Santo era Necessário na Pessoa e na Obra de Cristo?

PERGUNTA: Posto que Jesus era Deus encarnado, Deus manifestado em carne, por que era necessário que Ele fosse “santificado e ungido”, cheio e revestido do Espírito Santo e do Seu poder?

A. Para ensinar a conexão interna e a igualdade essencial da Trindade ontológica.

B. Para mostrar a obra trinitária do Pacto da Redenção.

NOTA: O Pai foi o Planejador, o Filho foi o Consumador, mas o Espírito Santo foi o Administrador divino do Pacto da Redenção através do Pacto da Graça!

C. Para demonstrar que Ele era um dos e alguém que sucedia os profetas do AT.

D. Para cumprir as Escrituras (Isaías 61:1ss.; Lucas 4:14-21).

E. Para mostrar os sinais necessários e requisitados que acompanhariam o Messias (Mateus 11:2-6).

F. Para mostrar que Cristo (o ungido) foi um de nós, um entre nós, e mais importante, um por nós.

G. Para permitir a Cristo, em Sua humanidade, “pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um Mediador e Fiador” (CFB1689 8:3).

Nosso Senhor precisava do Espírito como um verdadeiro equipamento de Sua natureza humana para a execução de Sua tarefa messiânica (Geerhardus Vos, Biblical Theology [Teologia Bíblica], p. 321).

H. Para nos manter dependentes deste soberano Espírito Santo em nossas vidas e labores.

Esta foi a unção para Sua obra futura: a unção do Profeta, do Sacerdote e do Rei, da qual toda a unção cerimonial da ordenança levítica era apenas um tipo. Assim, Ele entrou em Seu tríplice ministério, e se isso foi necessário para Ele estar revestido antes de começar a obra que Lhe foi confiada, quanto mais isso é necessário para Seus discípulos? (Holden, p. 51).

 

CONCLUSÃO

Nossos antepassados batistas, seguindo os ensinamentos das Sagradas Escrituras, legaram um compêndio de teologia aos seus filhos. No capítulo 8: “Sobre Cristo, o Mediador”, eles modelam um cristocentrismo que é desesperadamente necessário nos dias de hoje. E este é um ponto muito negligenciado: se Deus encarnado, em Sua humanidade, precisava do Espírito Santo em Sua vida e em Seu ministério, quanto mais precisamos nós?

 

***

A Confissão de Fé Batista de 1689, Capítulo VIII: Sobre Cristo, o Mediador

1. Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito, e de acordo com o Pacto estabelecido entre ambos, escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho unigênito, para ser o Mediador entre Deus e os homens,1 o Profeta,2 Sacerdote3 e Rei;4 a Cabeça e Salvador da Igreja,5 o herdeiro de todas as coisas,6 e Juiz do mundo;7 a quem, desde toda a eternidade, deu um povo para ser Sua posteridade e para ser por Ele, no tempo, remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.8

1 Isaías 42:1; 1Pedro 1:19-20

2 Atos 3:22

3 Hebreus 5:5-6

4 Salmos 2:6; Lucas 1:33

5 Efésios 1:22-23

6 Hebreus 1:2

7 Atos 17:31

8 Isaías 53:10; João 17:6; Romanos 8:30

 

2. O Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, o resplendor da glória do Pai, da mesma substância e igual a Ele; Quem criou o mundo, Quem sustenta e governa todas as coisas que Ele fez, quando chegou a plenitude dos tempos, tomou sobre Si a natureza humana, com todas as propriedades essenciais e fraquezas comuns,9 embora sem pecado;10 foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu; e assim foi feito de uma mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e Davi, segundo as Escrituras;11 para que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, fossem inseparavelmente unidas em uma só Pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Esta Pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.12

9 João 1:14; Gálatas 4:4

10 Romanos 8:3; Hebreus 2:14,16,17, 4:15

11 Mateus 1:22-23

12 Lucas 1:27,31,35; Romanos 9:5; 1Timóteo 2:5

 

3. O Senhor Jesus em Sua natureza humana assim unida à Divina na Pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira;13 tendo em Si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento,14 em Quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse,15 a fim de que sendo santo, inocente, imaculado,16 e cheio de graça e de verdade,17 Ele pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um Mediador e Fiador.18 Este ofício Ele não tomou para Si por conta própria, mas para este foi nomeado por Seu Pai;19 que colocou todo o poder e juízo em Sua mão, e Lhe ordenou que os exercesse.20

13 Salmos 45:7; Atos 10:38; João 3:34

14 Colossenses 2:3

15 Colossenses 1:19

16 Hebreus 7:26

17 João 1:14

18 Hebreus 7:22

19 Hebreus 5:5

20 João 5:22,27; Mateus 28:18; Atos 2:36

 

4. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente,21 para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à Lei,22 que Ele cumpriu perfeitamente e suportou o castigo que nos era devido, que nós deveríamos ter recebido e sofrido.23 E foi feito pecado e maldição por nossa causa,24 suportando as mais cruéis aflições em Sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em Seu corpo;25 foi crucificado e morreu; e ficou em estado de morte, mas não viu a corrupção.26 No terceiro dia Ele ressuscitou dentre os mortos,27 com o mesmo corpo no qual Ele sofreu;28 com o qual também Ele subiu ao Céu,29 e lá está assentado à destra do Pai, fazendo intercessão;30 e voltará para julgar homens e anjos, no fim do mundo.31

21 Salmos 40:7-8; Hebreus 10:5-10; João 10:18

22 Gálatas 4:4; Mateus 3:15

23 Gálatas 3:13; Isaías 53:6; 1Pedro 3:18

24 2Coríntios 5:21

25 Mateus 26:37-38; Lucas 22:44; Mateus 27:46

26 Atos 13:37

27 1Coríntios 15:3-4

28 João 20:25,27

29 Marcos 16:19; Atos 1:9-11

30 Romanos 8:34; Hebreus 9:24

31 Atos 10:42; Romanos 14:9-10; Atos 1:11; 2Pedro 2:4

 

5. O Senhor Jesus, pela Sua perfeita obediência e sacrifício de Si mesmo, que Ele, pelo Espírito eterno, uma vez ofereceu a Deus, satisfez plenamente a justiça de Deus;32 obteve a reconciliação e adquiriu uma herança eterna no reino dos Céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai.33

32 Hebreus 9:14, 10:14; Romanos 3:25-26

33 João 7:2; Hebreus 9:15

 

6. Embora o preço da redenção não tenha sido realmente pago por Cristo senão depois da Sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas sucessivamente desde o princípio do mundo, nas, e através das, promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi revelado, e que O apontavam como a semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente,34 e como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo,35 sendo o mesmo ontem, hoje e para sempre.36

34 1Coríntios 4:10; Hebreus 4:2; 1Pedro 1:10-11

35 Apocalipse 13:8

36 Hebreus 13:8

 

7. Cristo, na obra da mediação, age de acordo com ambas as naturezas; cada uma delas atuando como lhe é próprio. Mesmo assim, em razão da unidade da Pessoa, aquilo que é próprio de uma natureza, às vezes, na Escritura, é atribuído à Pessoa de Cristo denominada pela outra natureza.37

37 João 3:13; Atos 20:28

 

8. Cristo certamente aplica e comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos Ele a obteve, fazendo intercessão por eles;38 unindo-os a Si mesmo por Seu Espírito; revelando-lhes, na e pela Sua Palavra, o mistério da salvação, persuadindo-os a crer e a obedecer,39 governando seus corações pelo Seu Espírito40 e por Sua Palavra, e vencendo todos os inimigos deles, por Sua onipotência e sabedoria,41 da maneira e pelos meios mais conformes com a Sua admirável e inescrutável dispensação; e tudo isso por livre e absoluta graça, sem qualquer precondição de neles ter sido vista de antemão uma busca pela redenção.42

38 João 6:37, 10:15-16, 17:9; Romanos 5:10

39 João 17:6; Efésios 1:9; 1João 5:20

40 Romanos 8:9, 14

41 Salmos 110:1; 1Coríntios 15:25-26

42 João 3:8; Efésios 1:8

 

9. Este ofício de Mediador entre Deus e os homens cabe exclusivamente a Cristo, que é o Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus; e isto não pode ser no todo, ou em qualquer parte, transferido de Cristo para qualquer outro.43

43 1Timóteo 2:5

 

10. Este número e ordem de ofícios são necessários. Precisamos de Seu ofício profético,44 por causa de nossa ignorância. Por causa de nossa alienação de Deus, e da imperfeição de nossos melhores serviços, nós necessitamos de Seu ofício sacerdotal para nos reconciliar e apresentar aceitáveis a Deus.45 E no que diz respeito à nossa aversão e incapacidade absoluta de converter-nos a Deus, e para o nosso resgate e segurança contra nossos adversários espirituais, precisamos de Seu ofício real para nos convencer, subjugar, atrair, sustentar, libertar e preservar para o Seu reino celestial.46

44 João 1:18

45 Colossenses 1:21; Gálatas 5:17

46 João 16:8; Salmos 110:3; Lucas 1:74-75

 


[1] Para fins de pregação, simplesmente encaminho o ouvinte ao excelente trabalho de Samuel E. Waldron, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith [Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689] (Evangelical Press: Darlington, Inglaterra, 2005). Junto com a exposição, Waldron dá um esboço conciso e sumário do capítulo 8: “Sobre Cristo, o Mediador” (pp. 123-137).