Lembro-me do domingo quando eu dirigia para casa vindo da igreja quando Becky disse: “Uau, acho que consegui ouvir todo o sermão de hoje”. Nossos filhos finalmente atingiram a idade em que conseguiam ficar quietos durante o culto de nossa igreja sem precisarem de cuidados. Agora, “começamos de novo” com mais dois filhos.
Não há dúvida de que cuidar dos filhos durante o culto é difícil para os pais, mas estou convencido de que essa é a melhor coisa para os filhos, para os pais e para toda a igreja.
Recentemente, um artigo em um blog [The Gospel Coalition] explicou por que deveríamos “deixar as crianças saírem do culto”. Aqui falaremos sobre porque devemos deixá-las participar:
Nós acreditamos no poder transformador da pregação da Palavra de Deus
“Coisas surpreendentes acontecem em nós como uma congregação quando a Palavra de Deus nos lava e o Espírito de Deus age em nosso interior. Quando ouvimos o Evangelho de Jesus Cristo pregado em todo o cânon das Escrituras, somos transformados de glória em glória — essa é a obra do Espírito em nós (2 Coríntios 3:18)”.
Por que reteríamos esses meios de graça ordenado por Deus, prescritos pela Bíblia, de nossos filhos, especialmente se eles não são regenerados? Meus filhos necessitam da pregação da Palavra de Deus tanto quanto eu, e eles precisam disso no contexto de todo o Corpo.
Pode ser difícil para mães e pais assistirem ao culto enquanto cuidam de uma criança pequena? Absolutamente. Mas mesmo isso é transformador. Aprender a ouvir a pregação da Palavra não é importante e transformador apenas para as crianças; o esforço para treinar pacientemente as crianças a ouvirem a pregação da Palavra é santificador para os seus pais
Os seres humanos são facilmente distraídos? Sim, especialmente em uma sociedade “fast food” cada vez mais focada no entretenimento. Então, talvez me forçar para ouvir cuidadosamente o sermão, enquanto uma criança corre pelo corredor e enquanto sua mãe procura biscoitos em sua bolsa é santificador para mim também. E talvez meu sorriso encorajador e consolador para a mãe agitada seja o Corpo de Cristo em ação.
Nós rejeitamos o mito de estilos e estágios de aprendizado
Algumas das razões para tirar as crianças do culto é uma filosofia de educação secularista. Rejeitando a filosofia da educação anterior a ele, Horace Mann defendeu a sistematização da educação, na qual os alunos eram separados em grupos de acordo com as suas idades e colocados sob ritmos fixos de aprendizado. Mais tarde, Granville Stanley Hall, um evolucionista darwinista que também teve um impacto significativo na filosofia de educação dominante de sua época, ensinou que as crianças evoluem de um estágio primitivo para um estágio mais iluminado, refletindo os estágios evolutivos da humanidade, e assim as crianças devem ser educados à parte de seus pais para que seu desenvolvimento não seja prejudicado. Essa filosofia foi aplicada pelo pai da educação pública moderna, John Dewey, que argumentou ainda que os pais eram incapazes de educar os seus próprios filhos. Portanto, a escola pública, não o lar, passou a ser considerado responsável pela instrução da próxima geração.
Não demorou muito para que os cristãos começassem a aceitar e adotar essa filosofia básica da educação. Embora os cristãos inicialmente rejeitassem o fundamento darwiniano dessa filosofia, eles, no entanto, aceitaram a ideia de que os especialistas estavam mais bem capacitados para educar os filhos do que seus pais. Pior ainda, essa filosofia começou a entrar também nas igrejas, impactando a filosofia e a prática do discipulado das crianças.
O crescimento do sistema de educação pública, com sua estrutura gradativa de grupos separados por idade, exacerbou ainda mais a mudança na filosofia da educação na igreja; como as crianças e os jovens estavam acostumados a passar a maior parte do tempo separados em grupos com seus pares, longe dos seus pais e da maioria dos outros adultos (exceto dos professores “especialistas”), não queriam mais participar de reuniões intergeracionais da igreja. O fato de empreendedores espertos haverem criado intencionalmente produtos comerciais com base na idade e na demografia social cada vez mais fragmentadas apenas aumentou as divisões entre as gerações dentro das igrejas.
Foi nesse ambiente, dentro e fora da igreja, que os programas culminaram nas Escolas Dominicais modernas — horas de educação na igreja para crianças que frequentemente substituem o discipulado espiritual regular no lar — e o culto infantil – uma reunião para crianças durante o culto “adulto” normal. Algumas igrejas até criaram reuniões e cultos substitutos para jovens, por não esperarem que eles se integrem ao corpo maior até após a sua formatura no ensino médio, se viesse a ocorrer.
Nós acreditamos na bênção e capacitação da mamãe e papai
Ser pai é um trabalho árduo; não há dúvidas. É por isso que os pais jovens (as mães em particular) precisam de todo o Corpo em torno deles e de incentivos enquanto buscam cuidar dos seus filhos durante o culto.
Eles estiveram sozinhos a semana toda; não seria maravilhoso ter uma pessoa experiente ao lado dos pais nesse esforço, oferecendo uma mão amiga, uma palavra de encorajamento e um comentário de apoio?
Os pais, às vezes, sentem que precisam de um descanso? Claro que sim, especialmente em uma sociedade em que “o tempo para mim” se tornou uma prioridade acima de qualquer outra coisa. Talvez deixar os meus interesses em prol do benefício espiritual dos meus filhos seja uma bênção para mim também. Certamente não há nada de errado com uma mãe e um pai receberem ajuda de uma babá e terem uma noite para si mesmos, mas por que “tirar uma folga” da paternidade durante a hora mais importante da semana? O que isso comunica aos nossos filhos sobre a importância (ou falta dela) do culto público?
Mas, o que a Bíblia tem a dizer?
Surpreendo-me com que frequência essa parte do processo é omitida, ou como as Escrituras são arrancadas do contexto durante a defesa da retirada das crianças do culto. Contrário a tais argumentos, o precedente do Antigo Testamento era que famílias inteiras se reuniam para as assembleias solenes de adoração. Quando o povo se reuniu para renovar seu pacto com Deus antes de atravessar o rio Jordão, Moisés declarou ao povo:
Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei; e que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir (Deuteronômio 31:12-13).
O mesmo aconteceu depois que o povo conquistou Ai, do outro lado do Jordão; eles se reuniram para cultuar a Deus, e “palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse perante toda a congregação de Israel, e as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles” (Josué 8:35).
Mesmo na Lei, Deus deu ordens específicas de que quando o povo se reunisse para adoração, deveriam fazê-lo como famílias (Deuteronômio 12:7, 12; 16:11). Esse precedente continuou sempre que o povo se reunia. Por exemplo, quando o rei Jeosafá orou em favor do povo no templo, “todo o Judá estava em pé perante o Senhor, como também as suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos” (2 Crônicas 20:13). Quando Joel convocou o povo para uma assembleia solene de arrependimento, ordenou: “Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam…” (Joel 2:15-16). Da mesma forma, depois que o povo voltou do exílio e reconstruiu Jerusalém, incluindo o templo, “ofereceram, no mesmo dia, grandes sacrifícios e se alegraram; porque Deus os alegrara com grande alegria; e até as mulheres e os meninos se alegraram, de modo que a alegria de Jerusalém se ouviu até de longe” (Neemias 12:43). É o desejo de Deus ser louvado, não em grupos divididos por idade, mas em um contexto multigeracional: “Moços e moças, velhos e crianças” (Salmos 148:12)!
Nada mudou para a igreja do Novo Testamento. Famílias inteiras se reuniam quando as igrejas se ajuntavam. Um exemplo disso no livro de Atos é Êutico, um menino que ouvia Paulo pregando em um culto em Trôade tarde e adormeceu, caindo de uma janela do terceiro andar (Atos 20:7-12). Quando Paulo escreveu instruções aos filhos em suas cartas às igrejas (Efésios 6:2-3; Colossenses 3:20) — cartas que ele pretendia que fossem lidas em voz alta durante as reuniões da igreja — ele claramente pensou nas crianças como parte da congregação.
Em nenhum lugar das Escrituras, nem no Antigo nem no Novo Testamentos, existe alguma indicação de algum tipo de segregação etária no contexto das reuniões da igreja local.
E o que Jesus disse?
“Deixai vir a mim os meninos”.
As palavras soaram tão estranhas aos ouvidos dos apóstolos. “Ele é o mestre”, talvez eles sussurraram um ao outro. Ele está tentando ensinar, e essas crianças são apenas distrações! Por que Jesus não apenas pede que elas sejam retiradas?
Naquele dia, numa encosta da Galiléia, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, recebeu criancinhas em Seus braços e, ao fazê-lo, nos deu um retrato impressionante de Sua perspectiva em relação às crianças.
Contudo, hoje essa perspectiva talvez tenha sido perdida entre o próprio povo de Cristo. Hoje os seguidores de Jesus copiam, não o exemplo do Seu mestre, mas o exemplo dos Seus discípulos, aqueles que afastaram as crianças para não distraírem os adultos de ouvirem o ensino de Cristo.
Então, deixe os pequeninos virem.
Johnny e Susie precisam disso.
Mamãe e papai precisam disso.
E toda a igreja precisa disso também.