Em um artigo anterior, ofereci três esclarecimentos sobre a teologia pactual histórica dos Batistas Particulares como uma resposta ao artigo do Dr. R. Scott Clark que lida com os mesmos assuntos. Dr. Clark postou um segundo artigo continuando o diálogo, e eu o encontrei como sendo um artigo útil no qual ele se aprofundava e, assim, retratava mais precisamente — eu penso — os detalhes e as diferenças das partes aqui referenciadas (Batistas Particulares e a ampla tradição Reformada).
Como sou a principal pessoa mencionada no post do Dr. Clark, achei que seria útil continuar essa discussão em uma tentativa de promover a causa do entendimento mútuo.
Antes de citar e responder a alguns trechos do post recente do Dr. Clark, quero propor ao leitor, seja um proponente ou um oponente da teologia pactual Batista Particular, duas coisas para sua consideração antes e durante a discussão ou debate dessas questões.
Primeiro, a teologia pactual, quer seja considerada exegeticamente ou histórico-teologicamente, desafia a simplificação e o resumo. Trata, necessária e inevitavelmente, da floresta e das árvores. Abrange toda a Bíblia. Seu escopo é toda a história da redenção. Procura explicar o propósito de todas as ações de Deus. É um assunto que requer perspectivas micro e macroscópicas. Isso não é verdade somente no caso de estudar exegeticamente a teologia pactual, mas quando se acrescenta a isso a história das tentativas da igreja de lidar com o assunto, ou seja, a teologia histórica, o enredo aumenta consideravelmente. É, portanto, um assunto cuja gramática e vocabulário devem ser suficientes para a tarefa de lidar com árvores e florestas. É preciso ter muita cautela e paciência ao estudar um assunto de tal alcance. E é, portanto, um assunto não adequado para o Twitter, para o Facebook ou para postagens de blogs (como este).
Em segundo lugar, os discípulos/apóstolos o entenderam errado a princípio e por algum tempo após a ascensão e o Pentecostes. Os judeus o entenderam errado. Muitos cristãos primitivos erraram, provocando os concílios da Igreja e muitas epístolas apostólicas em nosso Novo Testamento. A tradição Reformada traz uma grande diversidade a respeito de como as peças se encaixam (sem negar considerável unidade em partes do assunto também). Pise com cautela. Reserve um tempo. Não tenha pressa. Não vá para a guerra em seu primeiro ano de casamento.
Agora, tentarei oferecer respostas breves de natureza esclarecedora.
Dr. Clark disse:
os Batistas Particulares não veem o mesmo tipo de administração de benefícios espirituais através da administração externa dos tipos e sombras, as várias administrações do Antigo Testamento do Pacto da Graça como os Reformados entendem as coisas.
De modo similiar,
essa recepção [dos benefícios de Cristo] tem pouco a ver com a administração histórica, real e externa do Pacto da Graça através de tipos e sombras. Para eles, a substância do Pacto da Graça não é a promessa divina de Deus ser Deus para nós e para nossos filhos, mas somente Cristo.
Como um Batista Particular, acho essas palavras um tanto confusas. Deixe-me oferecer a resposta e depois a explicação. A resposta é que acreditamos que os benefícios de Cristo são conhecidos e recebidos especificamente através dos tipos e sombras. De que outra forma eles foram revelados, recebidos e desfrutados se não através do sistema israelita? Então, dizer que “os Batistas Particulares não veem o mesmo tipo de administração de benefícios espirituais através da administração externa dos tipos e sombras” não se encaixa bem, para mim.
Qual é a explicação? Isso está relacionado com a visão da tipologia. Batistas Particulares acreditam que tipos e antítipos são duas coisas diferentes, embora relacionadas. Deus nos diz em Hebreus 10:1-4:
Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. 2 Doutra maneira, teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência de pecado. 3 Nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz comemoração dos pecados, 4 porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados.
Os sacrifícios de animais não são o sangue de Cristo e não podem tirar o pecado. Mas eles ensinam o povo de Deus sobre a expiação penal substitutiva. E eles fazem o povo desejar um sacrifício mais perfeito, lembrando os participantes do seu pecado, ou seja, não purificando suas consciências. Então, o sacrifício animal não é a substância do Pacto da Graça. Não é o sacrifício de Cristo. Mas revela o sacrifício de Cristo. E o povo de Deus, combinando isso com outras revelações em outros tipos e sombras, confiava em um sacrifício ainda não oferecido por eles, e desfrutava de seus benefícios de purificação de consciência através dos sacrifícios de animais, mas não pelos sacrifícios de animais. Foram esses versículos que convenceram John Owen de que a Antiga Aliança não era a Nova Aliança, em substância. Uma Aliança que não tira os pecados não é o Pacto da Graça, por mais que seja subserviente ao Pacto da Graça.
Além disso, não apenas os tipos não são antítipos, mas os tipos têm seu próprio significado e função particulares em seu próprio contexto original. Quando cerimonialmente impuros, os sacrifícios de animais real e verdadeiramente restauravam à santidade, uma santidade exterior concedida pela Antiga Aliança. Omitir esse significado inicial de um tipo e ir direto ao antítipo revelado é subverter a tipologia e transformar a Antiga Aliança em Nova, de uma maneira não-bíblica. Quando a tipologia é reduzida apenas a diferenças externas, diferença acidental, isso abre o caminho para a importação de práticas e detalhes da Antiga Aliança para a Nova, tal como o rito da circuncisão para justificar o pedobatismo. O Novo torna-se meramente o Antigo renovado.
Batistas Particulares tratam todos os tipos da mesma maneira (bem, de qualquer maneira eu o faço, e os Batistas Particulares do século XVII o fizeram). Tipos não são seus antítipos. Eles não podem ser seus antítipos. Eles não são os antítipos em uma forma inferior. Eles não são os antítipos em uma versão mais antiga. Eles não são os antítipos em um arranjo exterior diferente. Mas tipos nunca são não tipos. Eles existem para revelar antítipos. Embora a Antiga Aliança nunca possa ser a Nova Aliança, ela também nunca pode deixar de revelar a Nova Aliança.
Então, quando o Dr. Clark fala da administração externa do Pacto da Graça, nós olhamos para a tipologia como a Bíblia a define e dizemos que o que ele e outros chamam de administração externa do Pacto da Graça era na verdade uma Aliança distinta, mas subserviente, a Antiga Aliança. E, no entanto, por causa da subserviência tipológica, concordamos que os mesmos benefícios do único Pacto da Graça foram revelados, recebidos e desfrutados pelos santos do Antigo Testamento através da Antiga Aliança, mas não pela Antiga Aliança.
E por essa razão eu não reconheço esta afirmação, citada anteriormente, “essa recepção [dos benefícios de Cristo] tem pouco a ver com a administração histórica, real e externa, do Pacto da Graça através de tipos e sombras”. Aquela tem tudo a ver com esta. Mas os tipos não são antítipos. Sangue de touros e bodes não é o sangue do Filho de Deus.
A tipologia merece e exige um tratamento muito mais detalhado. Mas, infelizmente, estamos atualmente presos “no mundo dos blogs”. Seguindo em frente, o Dr. Clark diz:
Não há um único teólogo Reformado que eu saiba, e certamente não no período clássico (confessional), que afirma a doutrina de que existe uma diferença substancial entre a Nova Aliança e o Pacto da Graça conforme administrado nos tipos e sombras do Antigo Testamento.
Esse “pincel é grande demais” para ser útil nesse caso. Por quê? Primeiro, existiram (e existem) muitos teólogos Reformados que afirmaram que há uma diferença substancial entre a Nova Aliança e a Aliança Mosaica. Então, a linguagem “não há um único teólogo Reformado” é um manto que cobre uma diversidade inconveniente. Admitido isso, eu também não conheço teólogos Reformados que afirmaram que a Nova Aliança é distinta do pacto Abraâmico em substância. Mas isso é bem diferente da linguagem usada acima. Segundo, essa linguagem não é útil, pois parece implicar que os Batistas Particulares acreditavam em uma diferença substancial entre a Nova Aliança e o Pacto da Graça no Antigo Testamento. Isso simplesmente não faria sentido. Então, enquanto a linguagem se propõe a retratar duas partes distintas, nenhuma descrição realmente se encaixa até onde eu posso ver.
Dr. Clark diz:
Então, aqui está uma diferença entre os Batistas Particulares e os Reformados. Para os Batistas Particulares, os pactos do Antigo Testamento não são os pactos da graça tanto quanto eles são testemunhas do Pacto da Graça. Para os Reformados, os pactos do Antigo Testamento são administrações terrenas, históricas, reais e externas do único Pacto de Graça através de tipos e sombras. Por meio dessas administrações, Deus, o Espírito, deu mais do que as bênçãos “externas e típicas” (tipológicas). Deus, o Espírito, operava soberanamente no meio de Seu povo através dos sacrifícios, através das cerimônias, através da Palavra profética, para trazer os eleitos para uma nova vida e para a verdadeira fé em Jesus, o Messias. Este é o nosso entendimento de Hebreus 11 quando diz que Moisés preferiu Cristo — não as bênçãos típicas e externas — às riquezas do Egito (Hebreus 11:24-26). Abraão estava procurando por uma cidade cujo artífice e construtor é Deus (Hb 11:10). Se ele quisesse bênçãos “terrenas e típicas”, ele poderia tê-las.
Minha explicação da tipologia acima se aplica a esses comentários. Então, tudo que eu quero dizer aqui é que me parece estranho afirmar a visão Reformada do desfrute dos santos do Antigo Testamento dos benefícios de Cristo como se ela fosse de alguma forma diferente ou distinta da visão dos Batistas Particulares. Não há diferença nesse ponto, como mencionado no meu artigo anterior e acima neste. Então, levantá-lo como uma diferença aparente envia sinais estranhos que provavelmente serão interpretados erroneamente por aqueles que veem o artigo como uma crítica aos Batistas e sobre as diferenças operacionais entre nós.
Dr. Clark diz:
Para os Reformados, os pactos do AT eram mais do que testemunhas e revelações do Pacto da Graça, eles eram administrações do conteúdo do Pacto: “Eu serei Deus para você e seus filhos” [Gênesis 17:7], cujo cumprimento era Cristo, em quem todas as promessas de Deus são sim e amém (2 Coríntios 1:20).
Aqui está uma diferença entre nós em relação à identificação e definição da substância do Pacto. Na medida em que a substância do Pacto da Graça é definida como: “Eu serei Deus para você e seus filhos”, nós discordamos fortemente (e eu diria que essa definição não representa a plenitude da teologia pactual Reformada). A substância do Pacto da Graça é: “Nunca mais me lembrarei dos seus pecados” [Jeremias 31:34; Hebreus 8:12].
Em conclusão, há uma necessidade de mais trabalho em ambos os lados, especialmente no que diz respeito a ser lento para falar e rápido para ouvir. Batistas Particulares precisam publicar mais literatura nas áreas de teologia exegética e teologia histórica. Os pedobatistas precisam ler essa literatura como nós lemos as deles. E ambos os lados precisam buscar a verdade mais do que a vitória.
Que aquele que lê, considere.
Como estudante do debate no século XVII, lamento a divisão. Sempre que ouço alguém se mover de um lado para o outro, fico triste que a divisão exista. Não pode haver desfile de vitória quando os irmãos são os “inimigos”. Ai de mim, ai de nós. Thomas Manton continua sendo útil.
Aflições más nos dividem como a má opinião, e espíritos destemperados ocasionam tempos de distrações, as guerras vêm de nossos maus desejos (Tiago 4:1).