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Um Chamado Ao Autoexame | Por Benjamim Keach

O que pode tornar pior o estado de uma pessoa do que ser um inimigo de Deus, de Jesus Cristo e do poder da piedade, e ainda achar que é santo e um bom cristão? Nada, porque a sua consciência é cega sobre o assunto, ela o absolve porque carece de luz salvífica, enquanto ele se mantém em uma zelosa atuação quanto às ações externas do dever e da religião; pelo que significa que é privado da ajuda que alguns assumidamente profanos recebem dos castigos e das chicotadas de suas próprias consciências, que muitas vezes acabam por se tornar um meio para sua conversão. Mas o professo hipócrita, não sabendo que carece de um coração transformado, nem sequer compreende que está sem esses princípios sagrados de onde devem fluir todas as suas ações e seus dizeres, mas por outro lado é movido por princípios falsos e age apenas pelo poder de sua consciência e de suas afeições naturais, não tendo um juízo claro para discernir seu próprio perigo, nem em que estado ainda se encontra. Sua condição é deplorável, e esse espírito imundo é pior e mais perigoso do que o que ele estava antes.

 

Sua cegueira e sua ignorância consistem em não poderem discernir nem distinguir entre um coração transformado e uma vida alterada, ou entre uma reforma legal e a verdadeira regeneração. Eles pensam que, por seu comportamento parecer muito melhor do que antes, em sua própria percepção e também na percepção dos outros, que sua condição é suficientemente boa. Eles comparam-se consigo mesmos, observando a grande diferença que existe, ou parece existir em relação ao que eram antes, quando eram blasfemadores, bêbados, prostitutas, etc., não podendo senão recomendar-se a si mesmos. Uma vez viram-se pecadores e se chamaram assim, e se envergonharam de suas vidas pecaminosas e perversas; mas agora eles são justos aos seus próprios olhos e, portanto, não precisam de mais trabalho, tendo chegado a um tal estado de santidade, (assim pensam) a um tal grau de piedade, à essa suposta mudança, à essa suposta conversão, que concluem que não precisam buscar mais mudanças e ainda assim estão enganados…

 

O estado das pessoas farisaicas é muito pior do que o estado dos pecadores grosseiros e profanos. Elas estão doentes e não o sabem; feridas, mas não vêm necessidade de um médico… Elas podem concluir que são convertidas, e, portanto, que nada devem buscar após a conversão.

 

É uma coisa dura e difícil fazer com que um indivíduo farisaico, que vê a si mesmo como homem religioso, enxergue seu estado e condição miseráveis.

 

Os homens podem ser civilizados, fazerem uma grande profissão de fé, se passarem por santos na terra e, contudo, não serem assim aos olhos de Deus no Céu.

 

É uma coisa muito perigosa fazer uma profissão de fé sem que a verdadeira regeneração seja primeiramente operada na alma; melhor não professar nada do que não ser sincero…

 

Isso pode nos mostrar a razão de haver tão grande opróbrio sobre a religião, sobre os caminhos de Deus e sobre o povo de Deus, a saber, por causa de alguns que professam o evangelho. Infelizmente, sobre muitos dos que são chamados santos, podemos temer que sejam falsos cristãos, como aqueles que nunca experimentaram uma verdadeira obra da graça; eles podem ter suas mentes instruídas, mas corações não santificados…

 

Outrossim, isso reprova veementemente os pregadores cujo grande trabalho é levar os homens à profissão visível e a torná-los membros de igrejas, cuja pregação tende mais a levar as pessoas ao batismo e a sujeitarem-se a ordenanças externas do que mostrar-lhes a necessidade de regeneração, da fé ou de um coração transformado. Pelo amor de Deus, preste atenção ao você faz, se quiser não ser cobrado pelo sangue de todos os homens. Muitas vezes vemos que, quando as pessoas entram para as igrejas, concluem que tudo está bem; e quando a conversão é pregada, elas não pensam que isso lhes diz respeito, mas a outras pessoas que são claramente profanas: e assim eles ficam cegos, talvez para sua própria destruição…

 

Isso também deve levar a todos nós a um exame rigoroso de nossos próprios corações, para que não sejamos encontrados como um desses cristãos falsos e impostores. E para que possamos nos esclarecer sobre esse assunto, consideremos:

 

1. Você já foi completamente convencido de sua condição pecaminosa e perdida por natureza, e do horrível mal que há no pecado? Você já viu o pecado como o maior dos males, o mais odioso para Deus, não só os efeitos maléficos do pecado, mas também a natureza maligna do pecado, não só porque causou uma ruptura entre Deus e o homem, mas também desfigurou a imagem de Deus no homem, e nos fez como o Diabo, enchendo nossas mentes de inimizade contra Deus, contra a piedade e os contra bons homens?

 

2. Há pecado em sua vida que está sendo praticado e favorecido, o mal hábito nunca é interrompido? O mundo não está mais em suas afeições, desejos e pensamentos do que Jesus Cristo?

 

3. Você está disposto a sofrer e deixar tudo o que você tem em vez de pecar contra Deus? Você vê mais mal no mínimo pecado do que no maior sofrimento?

 

4. Você tem tanto desejo de ter seus pecados perdoados, para ser feito santo, quanto de ser feliz? Você ama a obra da santidade, assim como a recompensa da santidade? Você ama a Palavra de Deus pela pureza que há nela, bem como pela vantagem que advém dela?

 

5. Você já viu sua própria justiça como trapos de imundícia e foi feito pobre de espírito?

 

6. Você recebeu um Cristo inteiro com um coração inteiro? Um Cristo inteiro compreende todos os Seus ofícios (profeta, sacerdote e rei), um coração inteiro inclui todas as nossas faculdades. Seu coração não está dividido?

 

7. Cristo é precioso para você, o melhor entre dez mil? Você é o mesmo em particular como em público? Você ama Cristo acima de seu filho ou de sua filha? Você ama a Pessoa de Cristo?

 

8. Você pode suportar gentilmente a repreensão às suas falhas e olhar aquele que lhe repreende como seu melhor amigo, que mais se preocupa mais você?

 

9. Você espreita mais suas próprias faltas do que os erros de outras pessoas? Você é universal em sua obediência? Você obedece a Palavra de Cristo, Seus mandamentos, porque você O ama?

 

10. Você foi o mesmo num dia de adversidade, como você agora que está em um dia de prosperidade?

 

11. Você pode dizer que odeia o pecado como pecado? Sua mente é espiritual, e se fixa em coisas celestiais? Você ama os santos, todos os santos, embora alguns deles não sejam de sua afeição em alguns pontos da religião?

 

12. Você pode continuar confortavelmente nos caminhos de Cristo, embora você tenha pouca estima entre os santos? Você pode manter sua alma em Deus, embora ande na escuridão e não tendo luz? Toda a ênfase de sua justificação e de sua salvação está edificada sobre Jesus Cristo?

 

Considerem essas poucas perguntas, e não duvidem delas, antes que seus corações sejam sinceros quando vocês darem uma resposta confortável para elas, embora haja algum medo e dúvidas que ainda possam surgir em vocês. Um verdadeiro cristão pode muito bem confundir o que lhe pertence e tomar como seu o que pertence a um hipócrita; enquanto, por outro lado, um hipócrita confunde o que lhe pertence e aplica a si mesmo o que é próprio de cristãos sinceros.

 

— Benjamin Keach

 

 


Extraído de The Counterfeit Christian or the Danger of Hypocrisy [O Falso Cristão ou O Perigo da Hipocrisia”, por Benjamin Keach, (Londres: John Pike, 1691). Algumas palavras arcaicas foram modernizadas.

 

Não leia rapidamente essas perguntas e esqueça delas. Hoje em dia, muitos cristãos professos são simplesmente religiosos, mas seus corações não foram alterados pelo poder regenerador de Deus. Cristo exige o lugar supremo em seu coração e em suas afeições. Se você ama algo mais do que a Cristo; se você ama algo igual a Cristo (embora você possa ter uma riqueza de conhecimento bíblico) você não é um filho de Deus. “Não vos enganeis” (Gálatas 6:7).