Um Gráfico sobre Teologia Bíblica Batista Pactual

O diagrama da teologia bíblica batista pactual expõe visualmente o plano divino revelado nas Sagradas Escrituras do relacionamento de Deus com o homem.

Conforme pode ser claramente observado, a perspectiva bíblica da pactualidade permeia toda a Confissão de Fé Batista de 1689. Em alguns capítulos é possível encontrá-la explicitamente nomeada, em outros momentos, no entanto, essa perspectiva está presente em seu desenvolvimento bíblico-teológico. É possível perceber, por exemplo, uma sucessão de capítulos alinhando os pactos desde a queda e suas consequências (Cap. VI), até a estrutura do plano de salvação (Cap. VII-VIII).

Os capítulos subsequentes ao capítulo VIII, e.g., (seguindo a exposição pactual de Deus com o homem no capítulo VI), até o capítulo XX, tratam do cumprimento daquilo que foi estabelecido no Pacto da Redenção.[1] Segue um breve exemplo dessa sucessão de abordagens pactuais:

“Essa Aliança é revelada no Evangelho; primeiramente a Adão na promessa de salvação pela descendência da mulher (Gênesis 3:15), e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena revelação foi completada no Novo Testamento (Hebreus 1.1); e é fundada naquela transação pactual eterna que houve entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos (2 Timóteo 1:9; Tito 1:2); e é somente pela graça dessa Aliança que todos da posteridade do caído Adão, que já foram salvos, obtiveram a vida e a bem-aventurada imortalidade. O homem é agora totalmente incapaz de ser aceito por Deus naqueles termos em que Adão permanecia em seu estado de inocência (Hebreus 11:6, 13; Romanos 4:1-2; Atos 4:12; João 8:56)” (CFB1689, VII.3).[2]

“Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito, e de acordo com o Pacto estabelecido entre ambos, escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho unigênito, para ser o mediador entre Deus e os homens (Isaías 42:1; 1 Pedro 1:19-20), o profeta (Atos 3:22), sacerdote (Hebreus 5:5-6) e rei (Salmo 2.6; Lucas 1:33); a cabeça e salvador da Igreja (Efésios 1:22-23), o herdeiro de todas as coisas (Hebreus 1:2), e juiz do mundo (Atos 17:31); a quem, desde toda a eternidade, deu um povo para ser Sua posteridade e para ser por Ele, no tempo, remido, chamado, justificado, santificado e glorificado (Isaías 53:10; João 17:6; Romanos 8:30)” (CFB1689, VIII.1).[3]

Portanto, visto que o enredo bíblico descreve a relação de Deus com a criatura através de transações pactuais, é de suma importância compreender corretamente essa conexão federal que o próprio Deus estabeleceu. Logo, se o desenvolvimento do relacionamento de Deus com o homem se dá através de pactos, é imperativo conhecer as naturezas e os papéis de cada um desses pactos, a fim de interpretar corretamente as Sagradas Escrituras. Conforme argumenta Pascal Denault: “[…] a teologia pactual ou teologia do pacto fornece um contexto que permite o entendimento da estrutura global do plano de redenção ao estabelecer as diferenças entre as partes e o todo e ao explicar como essas partes se inserem no todo”.[4]

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Essa abordagem hermenêutica-pactual sempre conferiu unidade às Sagradas Escrituras, e os intérpretes ao longo da história da igreja, especialmente no período da Reforma e pós-Reforma, compreenderam isso muito bem. Embora, infelizmente, esquecida por muitos irmãos e estudiosos da tradição batista, tal abordagem não ficou segregada ao passado, nem confinada a minorias. Esse é o entendimento de irmãos de outras tradições históricas, como Willem VanGemeren, ao observar que “Durante quase quinhentos anos o conceito de aliança deu unidade à teologia reformada. A história do calvinismo revela uma consciência de unidade entre o AT e o NT, entre as várias partes da Escritura e os loci [(locais apropriados)] da teologia sistemática”.[5]

Conforme a própria colaboração acima, ou seja, de um teólogo pedobatista, é possível discernir pontos de contato entre tradições reformadas, ortodoxas, históricas e conservadora. No caso da relação, desenvolvimento e administração dos pactos, pedobatistas e credobatistas concordavam sobre os Pactos da Redenção e o de Obras.

Contudo, desde os primórdios da história dos batistas reformados, existe uma contundente e importante dissonância em relação ao Pacto da Graça. As duas tradições divergem na interpretação tanto na forma quanto no momento histórico em que o Pacto da Graça é administrado no plano de Deus no que concerne a Antiga e a Nova Alianças. Conforme ressalta Pascal Denault, “embora acreditassem na unidade do Pacto da Graça, […] os batistas rejeitaram o modelo um pacto sob duas administrações”.[6] Justamente por isso, na interpretação intertestamentária quanto ao Pacto da Graça, batistas e pedobatistas discordam, pois tal abordagem hermenêutica impactará frontalmente suas eclesiologias.

Em síntese, os batistas compreendem que o Pacto da Graça é administrado apenas uma vez no plano de Deus. Isso acontece apenas na Nova Aliança, em Cristo Jesus. Dessa maneira, portanto, Gênesis 3:15, não pode ser compreendido como uma forma de administração desse pacto, mas a revelação como promessa desse pacto (conforme o diagrama). Logo, todo o Antigo Testamento (como a Antiga Aliança) revela progressivamente aquilo que seria cumprido no Novo Testamento, pela Nova Aliança (Hebreus 1:1-4; 8:1-2, 6-13).

“Os batistas entendiam, portanto, o Pacto da Graça da seguinte maneira: anunciado no AT / realizado no NT; parcialmente revelado no tempo da Lei / plenamente revelado no tempo do Evangelho; uma promessa futura / uma aliança consumada pelo sangue”.[7]

Portanto, nos pontos em que há unidade hermenêutica dos reformados, ou seja, interpretação pactual, existe o fortalecimento para a preservação quanto a teologia dos reformadores. No entanto, tal unidade não deve descaracterizar a identidade, confessionalidade e distinção histórica dos batistas reformados. Logo, o aliancismo, que também é conhecido como pactualismo ou federalismo, são necessariamente distintos quando se fala de batistas e pedobatistas. Infelizmente, tão relevante e solene distinção não tem sido considerada até mesmo entre aqueles que se identificam como batistas reformados, até mesmo os que se consideram pactuais.


[1] Richard C. Barcellos, O Pacto de Obras – Suas Bases Confessionais e Bíblicas, Federalismo Batista (Estandarte de Cristo, 2019).

[2] Confissão de Fé Batista de 1689 (Estandarte de Cristo, 2019).

[3] Confissão de Fé Batista de 1689 (Estandarte de Cristo, 2019).

[4] Pascal DEANULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, Federalismo Batista (O Estandarte de Cristo, 2018).

[5] Willem VanGemeren, “Sistemas de Continuidade”, in Continuidade e Descontinuidade: Perspectivas Sobre o Relacionamento Entre o Antigo e o Novo Testamentos, org. John S. Feinberg e Juan Carlos Martinez, trad. Onofre Muniz, 1a edição. (São Paulo: Hagnos, 2013), 37.

[6] Pascal DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, Federalismo Batista (O Estandarte de Cristo, 2018).

[7] Pascal DENAULT, Os Três Pactos de Deus: Pacto de Obras, Pacto da Graça e Pacto da Redenção, Federalismo Batista (Estandarte de Cristo, 2018). In http://oestandartedecristo.com/livro/os-tres-pactos-de-deus-pacto-de-obras-pacto-da-graca-e-pacto-da-redencao-por-pascal-denault/ Acessado em: 06/06/2019.

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