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A Veracidade da Doutrina da Eleição, por A. W. Pink

[Capítulo 4 do livro The Doctrine of Election • Editado]

 

Antes de prosseguir com uma exposição ordenada desta profunda, mas preciosa doutrina, pode ser melhor (especialmente para o benefício daqueles menos familiarizados com o assunto), que agora seja demostrada a sua origem bíblica. Não devemos tomar nada como garantido, e como alguns dos nossos leitores nunca têm recebido qualquer instrução sistemática sobre o assunto — sim, alguns deles não sabem quase nada sobre isso — e como outros já ouviram e leram apenas perversões e caricaturas desta doutrina, parece essencial que façamos uma pausa para que estabeleçamos a sua veracidade. Em outras palavras, o nosso presente objetivo é fornecer provas de que o que estamos escrevendo. A doutrina da eleição não é uma invenção teológica de Calvino ou de qualquer outro homem, mas é algo claramente revelado na Sagrada Escritura, a saber, que Deus, antes da fundação do mundo, fez diferença entre as Suas criaturas, escolhendo algumas pessoas para serem os objetos especiais de Seu favor.

 

Vamos lidar com o assunto de uma forma mais ou menos geral, ocupando-nos com o fato em si; reservando a análise mais detalhada e esboços de distinções para capítulos posteriores. Vamos começar com a pergunta: Será que Deus tem um povo eleito? Agora, esta questão deve ser proposta para o próprio Deus, pois só Ele é competente para responder. É, portanto, para a Sua Santa Palavra que devemos nos voltar se quisermos conhecer Sua resposta àquela pergunta. Todavia, antes disso, precisamos sinceramente pedir a Deus que nos conceda um espírito dócil, para que possamos humildemente receber o testemunho Divino. Ninguém pode conhecer as coisas de Deus até que o próprio Deus as declare; mas quando Ele as declara, não é somente loucura crassa, mas uma presunção ímpia, alguém contender ou descrer nelas. As Sagradas Escrituras são a regra da fé, bem como a regra da conduta. À lei e ao testemunho, agora nos voltamos.

 

No que diz respeito à nação de Israel, lemos: “o Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7:6); “Porque o Senhor escolheu para si a Jacó, e a Israel para seu próprio tesouro” (Salmo 135:4); “Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo; tu a quem tomei desde os fins da terra, e te chamei dentre os seus mais excelentes, e te disse: Tu és o meu servo, a ti escolhi e nunca te rejeitei” (Isaías 41:8-9). Estes testemunhos tornam inequivocamente claro que o antigo Israel foi o eleito e favorecido povo de Deus. Nós aqui não levantamos a questão de por que ou como Deus os escolheu, ou para que eles foram escolhidos; mas estamos enfatizando somente o fato em si mesmo. Nos tempos do Antigo Testamento Deus tinha uma nação eleita.

 

Em seguida, deve-se observar que, mesmo no favorecido Israel, Deus fez uma distinção: houve uma eleição dentro de uma eleição; ou, em outras palavras, Deus teve um povo especial dentre a Sua própria nação. “Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência” (Romanos 9:6-8). “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu… Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça… o que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos” (Romanos 11:2-7). Assim, vemos que, mesmo no Israel visível, a nação escolhida para desfrutar de privilégios externos, Deus havia feito uma eleição: um Israel espiritual, os objetos de Seu amor.

 

O mesmo princípio de seleção Divina aparece clara e visivelmente no ensino do Novo Testamento. Lá também é revelado que Deus tem um povo peculiar, os súditos de Seu favor especial, Seus próprios filhos amados. O Salvador e Seus apóstolos descrevem és-te povo de várias maneiras, e muitas vezes se referem a eles pelo termo de que estamos aqui tratando. “Por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias… se possível fora, enganariam até os escolhidos… os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 24:22, 24, 31). “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?” (Lucas 18:7). “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?” (Romanos 8:33). “Para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme” (Romanos 9:11). “Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos” (2 Timóteo 2:10). “A fé dos eleitos de Deus” (Tito 1:1). Muitas outras passagens poderiam ser citadas, mas estas são suficientes para demonstrar claramente que Deus tem um povo eleito. Deus diz que Ele tem, quem ousará dizer que Ele não tem!?

 

A palavra “eleito”, e seus derivados, ou seu sinônimo “escolhido” em seus derivados, ocorre na Páginas Sagradas consideravelmente mais de cem vezes. O termo, então, pertence ao vocabulário Divino. Deve significar alguma coisa; deve transmitir alguma ideia definida. Qual, então, é o seu significado? O inquiridor humilde não forçará uma construção em cima da palavra, ou tentará ler para ele seus próprios preconceitos, mas se esforçará humildemente para assegurar-se da mente do Espírito. Não deveria haver tal dificuldade, pois não há palavra em linguagem humana que tenha um significado mais específico. O conceito universalmente expressa que um é tomado e outro deixado, pois se todos fossem tomados não haveria nenhuma “escolha”. Além disso, o direito de escolha sempre pertence àquele que escolhe; o ato é seu, e as motivações também são suas. É aí que a “escolha” difere de compulsão, do pagamento de uma dívida, do cumprimento de uma obrigação ou do atendimento das exigências da justiça. A escolha é um ato livre e soberano.

 

Que não haja incerteza sobre o significado do nosso termo. Deus fez uma escolha, pois eleição significa seleção e designação. Deus exerceu Sua própria vontade soberana e selecionou a partir da massa de Suas criaturas aqueles sobre os quais Ele determinou conferir Seus favores especiais. Não pode haver uma eleição sem uma seleção, e não pode haver seleção sem rejeição. A doutrina da eleição significa que desde toda a eternidade Deus fez uma escolha de quem viria a ser o Seu tesouro especial, os Seus queridos filhos, os coerdeiros de Cristo. A doutrina da eleição significa que antes que Seu Filho encarnasse Deus marcou aqueles que deveriam ser salvos por Ele. A doutrina da eleição significa que Deus não deixou nada ao acaso, a realização de Seu propósito, o sucesso do empreendimento de Cristo e nem o povoamento do Céu estão subordinados ao capricho da criatura inconstante. A vontade de Deus, e não a vontade do homem, estabelece o destino.

 

Vamos agora chamar a atenção para um exemplo muito notável e pouco conhecido da eleição Divina. “Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos” (1 Timóteo 5:21). Se, há “anjos eleitos” então, necessariamente devem haver anjos não-eleitos, pois não pode haver um sem o outro. Deus, então, no passado, fez uma seleção entre as hostes do céu, escolhendo alguns para serem vasos de honra e outros para serem vasos de desonra. Aqueles a quem Ele escolheu para Seu favor, permaneceram firmes, mantiveram-se em sujeição à Sua vontade. O restante caiu quando Satanás se revoltou, e em sua apostasia arrastou para baixo com ele um terço dos anjos (Apocalipse 12:4). A respeito destes lemos: “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo” (2 Pedro 2:4). Mas aqueles deles que pertencem à eleição da graça são “santos anjos”, santos como consequência de sua eleição, e não eleitos, porque eles eram santos, pois a eleição antecedeu a sua criação […].

 

Vamos agora observar e admirar a maravilha e a singularidade da escolha de Deus entre os homens. Ele selecionou uma parte da raça de Adão para serem os altamente favorecidos do Céu. “Agora, isso é a maravilha das maravilhas, quando passamos a considerar que o Céu, o Céu dos céus, é do Senhor. Se Deus deve ter uma raça escolhida, por que Ele não seleciona uma da ordem majestosa dos anjos, ou a partir dos querubins e serafins que flamejando ficam ao redor de Seu trono? Por que Gabriel não foi tomado? […] O que poderia haver no homem, uma criatura menor que os anjos, para que Deus o escolhesse, em vez dos espíritos angelicais? Por que querubins e serafins não foram dados a Cristo? Por que Ele não assumiu a natureza dos anjos, e os levou à união com Ele? Um corpo angelical pode estar mais de acordo com a Pessoa da Divindade do que um corpo fraco e sofredor formado por carne e sangue. Haveria algo congruente se Ele tivesse dito aos anjos: ‘Sereis meus filhos’. Mas não! embora todos estes fossem Seus; Ele passa por eles e se inclina para o homem” (C. H. Spurgeon).

 

Alguns podem sugerir que a razão pela qual Deus elegeu os descendentes de Adão, preferindo-os em relação aos anjos, foi a de que a raça humana caiu em Adão e, portanto, proporcionou uma situação mais adequada para Deus mostrar Sua rica misericórdia. Mas tal suposição é completamente falaciosa, pois, como vimos, um terço dos próprios anjos caíram do seu elevado estado, mas muito pelo contrário de Deus usar de misericórdia com eles, Ele antes os “reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia” (Judas 6). Nem qualquer Salvador foi provido para eles, nem algum Evangelho já foi pregado a eles. Quão impressionante e solene é este fato: os anjos caídos foram deixados e os caídos filhos de Adão se tornaram os objetos da misericórdia Divina.

 

Aqui está algo verdadeiramente maravilhoso. Deus determinou possuir um povo que seria o Seu tesouro peculiar, para serem mais próximos e mais caros a Ele do que qualquer outra criatura; um povo que deveria ser conformado à própria imagem de Seu Filho. E que Seu povo seria escolhido dentre os descendentes de Adão. Por quê? Por que não ter reservado essa honra suprema para as hostes celestes? Eles são uma ordem superior de seres; eles foram criados antes de nós. Eram criaturas celestiais, mas Deus passou por eles; nós somos terrenos, mas o Senhor pôs o Seu coração sobre nós. Novamente perguntamos, por quê? Ah, permitam que aqueles que odeiam a elevada verdade da soberania de Deus e lutam contra a doutrina da eleição incondicional, cuidadosamente ponderarem neste exemplo flagrante desta. Que aqueles que tão descaradamente insistem que seria injusto para Deus mostrar parcialidade entre homem e homem, nos digam por que Ele mostra parcialidade entre raça e raça, concedendo favores sobre os homens que Ele nunca concedeu aos anjos? Apenas uma resposta é possível: porque assim Lhe agradou.

 

A eleição é um segredo Divino, um ato na vontade de Deus na eternidade passada. Mas não para que permanecesse em segredo para sempre. Não, em devido tempo, Deus tem o prazer de manifestar abertamente Seus conselhos eternos. Isto Ele fez em graus variados, desde o início da história humana. Em Gênesis 3:15 Ele deu a conhecer o fato de que haveria duas linhas distintas: a “semente” da mulher que faz referência a Cristo e ao Seu povo, e a “semente” da Serpente que significava Satanás e aqueles que estão conformados com sua semelhança; Deus colocou uma “inimizade” irreconciliável entre elas. Estas duas “sementes” compreendem os eleitos e os não-eleitos. Abel pertencia a eleição da graça, a e evidência disto sendo provida pela sua “fé” (Hebreus 11:4), pois somente os “ordenados para a vida eterna” (Atos 13:48) creem salvificamente. Caim pertencia aos não-eleitos, a evidência disso é encontrada na declaração: “Caim, que era do maligno” (1 João 3:12). Assim, no início da história, dos dois filhos de Adão e Eva, Deus “tomou” a um para Ser seu favorecido, e “deixou” o outro para sofrer o castigo de suas iniquidades.

 

Em seguida, vemos a sequência da eleição na linhagem de Sete, pois era de seus descendentes (e não dos descendentes de Caim) que lemos: “então se começou a invocar o nome do Senhor” (Gênesis 4:26). Mas, no decorrer do tempo, eles também foram corrompidos, até que toda a raça humana tornou-se tão maligna que Deus enviou o dilúvio e os levou a todos. No entanto, mesmo assim, o princípio da eleição Divina foi exemplificado: não só em Enoque, mas em que “Noé achou graça aos olhos do Senhor” (Gênesis 6:8). Era o mesmo depois do dilúvio, pois uma diferenciação foi observada entre os filhos de Noé: “Bendito seja o Senhor Deus de Sem” (Gênesis 9:26), que significava que Deus o havia escolhido e abençoado. Por outro lado: “Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos” (Gênesis 9:25), esta expressão denota a preterição de todas aquelas que estão envolvidos na rejeição de Deus. Assim, Deus fez diferença mesmo entre aqueles que saíram da arca.

 

A partir dos filhos de Noé surgiram as nações que têm povoado o mundo. “E destes [isto é, três filhos de Noé] foram divididas as nações na terra depois do dilúvio” (Gênesis 10:32). A partir dessas setenta nações Deus escolheu aquele em que a grande corrente de sua eleição prosseguiria. Em Gênesis 10:25 lemos que esta divisão das nações foi feita no tempo de Éber, o neto de Sem. Por que isso nos é dito? Para insinuar que Deus, então, começou a separar a nação Judaica, para si mesmo em Éber, pois Éber seria o seu pai; por isso também é que no início da genealogia de Sem nos é dito: “E a Sem [os eleitos e abençoados por Deus] nasceram filhos, e ele é o pai de todos os filhos de Éber” (10:21). Isso é muito marcante, pois Sem tinha outros filhos mais velhos (cuja linha de descendência também está registrada), como a Assur e Elão, os pais dos Assírios e dos Persas.

 

O detalhe aparentemente seco e desinteressante em Gênesis 10 a que acabamos de aludir, marca um passo muitíssimo importante no desenrolar dos conselhos Divinos, pois foi então que Deus começou a separar para Si mesmo os israelitas em Éber, a quem Ele havia nomeado para ser seu pai. Até então os Hebreus tinham ficado promiscuamente misturados com as outras nações, mas agora Deus os “separou” do restante dos povos, assim como também as nações foram dividas umas das outras. Assim, encontramos a posteridade de Éber, mesmo quando eram pouquíssimos em número, foram designados “Hebreus”, como sua denominação nacional (“Israel” sendo o seu nome religioso) na distinção entre aqueles entre os quais viviam: “Abraão, o hebreu” (Gênesis 14:13), “José, o hebreu” (Gênesis 39:14). Assim, quando se tornou uma nação numerosa, e ao mesmo tempo vivendo no meio dos egípcios, permaneciam identificados como “hebreus” (Êxodo 1:15), enquanto que em Números 24:24 estão distintamente chamados de “Éber”!

O que temos procurado explicar acima é definitivamente confirmado por “Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de muitas gerações: pergunta a teu pai, e ele te informará; aos teus anciãos, e eles te dirão. Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel. Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança” (Deuteronômio 32:7-9). Observe, em primeiro lugar, o Senhor mandou aqui Israel voltar suas mentes para os tempos antigos, para as tradições que haviam sido transmitidas por seus pais. Em segundo lugar, o evento especial aludido foi quando Deus “dividia” às nações, isto se refere à famosa divisão de Gênesis 10. Terceiro, essas nações não são ditas “como os filhos de Noé” (que era da linhagem dos eleitos), mas como “os filhos de Adão”, outra dica simples de quem encabeçou a linhagem dos réprobos. Em quarto lugar, Deus atribuiu às nações não-eleitas suas porções de terras, contudo, o Seu olhar de graça e favor estava sobre os filhos de Israel. Em quinto lugar, “conforme o número dos filhos de Israel”, que era de setenta quando se estabeleceram no Egito (Gênesis 46:27), o número exato das nações mencionadas em Gênesis 10!

 

O ponto de ligação e conexão entre Éber e a nação de Israel foi, é claro, Abraão, e no seu caso o princípio da eleição Divina brilha com a uma rutilante luz solar. O chamado Divino que Abraão recebeu marcou mais uma etapa importante no desenvolvimento do propósito eterno de Deus. Na torre de Babel Deus deixou que as nações andassem nos seus próprios maus caminhos, depois de tomar a Abraão para ser o fundador da nação favorecida. “Tu és o Senhor, o Deus, que elegeste a Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus” (Neemias 9:7). Não foi Abraão, que escolheu a Deus, mas foi Deus que escolheu Abraão. “O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia” (Atos 7:2), este título de “o Deus da glória” é empregado aqui para enfatizar o sinal do favor que foi mostrado a Abraão, a glória da Sua graça em elegê-lo, pois não havia nada nele, por natureza, que o fizesse sobressair de seus companheiros e lhe conferisse o direito ao conhecimento Divino. Foi bondade imerecida, misericórdia soberana, que foram mostradas a ele.

 

Isto é muito evidente pelo que nos é dito em Josué 24 de sua condição diante de Jeová, quando este apareceu-lhe: “Assim diz o Senhor Deus de Israel: Além do rio habitaram antigamente vossos pais, Terá, pai de Abraão e pai de Naor; e serviram a outros deuses” (v. 2). Abraão estava vivendo na cidade pagã de Ur, e pertencia a uma família idólatra! Em data posterior Deus trouxe esse fato à memória de seus descendentes, lembrando-os do estado modesto e corrupto em que se encontravam originalmente, e dando-lhes a conhecer que não era por nada de bom naqueles que Ele havia escolhido: “Ouvi-me, vós os que seguis a justiça, os que buscais ao SENHOR. Olhai para a rocha de onde fostes cortados, e para a caverna do poço de onde fostes cavados. Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque, sendo ele só, o chamei, e o abençoei e o multipliquei” (Isaías 51:1-2). Que palavra fulminante para a carne é esta: o grande Abraão é aqui comparado (por Deus) com uma “caverna do poço”, tal era a sua condição quando o Senhor apareceu-lhe inicialmente.

 

Mas há algo mais na passagem acima. Observe cuidadosamente as palavras “sendo ele só, o chamei”. Lembre-se que isto aconteceu enquanto ele morava em Ur, e, como escavações modernas têm mostrado, esta era uma cidade de grande extensão, de toda o seu enorme número de habitantes Deus revelou-se a um só! O Senhor aqui enfatizou esse fato e nos convida a observarmos a singularidade de Sua eleição por esta palavra “só”. Veja aqui, então, a soberania absoluta de Deus, exercendo Sua vontade imperial na escolha de quem Ele quer. Ele teve misericórdia de Abraão simplesmente porque Ele se agradou em fazer assim, e Ele deixou o resto de seus compatriotas na escuridão pagã, simplesmente porque assim pareceu bem aos Seus olhos. Não havia nada mais em Abraão do que em qualquer de seus companheiros pelo que Deus deveria tê-lo escolhido, qualquer bondade foi achada nele mais tarde foi a que o próprio Deus colocou ali, e, portanto, foi a consequência e não a causa de sua escolha.

 

É impressionante o caso da própria eleição de Abraão, contudo o trato de Deus para com sua prole é igualmente digno de nota. É aí que Deus fornece um resumo do que foi amplamente caracterizada a história de todos os seus eleitos, pois é uma coisa muito rara encontrar uma família inteira que (não simplesmente faz uma profissão, mas) dá evidências de desfrutar de Seu favor especial. A regra comum é que um é tomado e o outro é deixado, pois aqueles a quem é concedido realmente acreditar nesta verdade preciosa, mas solene, são levados a experimentalmente perceber a força disso em conexão com a sua própria parentela. Assim, a própria família de Abraão esboça em seus próximos e imediatos sucessores, um protótipo da futura experiência dos eleitos. Em sua família, eis que os exemplos mais marcantes de ambos, a saber, da eleição e da preterição, pela primeira vez em seus filhos, e, em seguida, seus netos.

 

Isaque era um filho da pura graça eletiva (e isto foi a causa e não a consequência de sua fé e santidade), e que, como tal, ele foi colocado na família de Abraão como um dom precioso, enquanto Ismael foi excluído desse favor preeminente, é bastante evidente a partir da história de Gênesis. Antes que ele nascesse, sim, antes de ser concebido no ventre, Deus declarou a Abraão que Isaque seria o herdeiro da mesma salvação com ele, e tinha irrevogavelmente estabelecido o Pacto da Graça sobre ele, diferenciando-o assim de Ismael; que, apesar de abençoado com misericórdias temporais, não estava no Pacto da Graça, mas estava sob o pacto de obras (veja Gênesis 17:19-21 e compare os comentários do Espírito sobre esta passagem em Gálatas 4:22-26).

 

Mais tarde, enquanto Isaque ainda era jovem, e ficou ligado como um sacrifício no altar, Deus ratificou as promessas de bênçãos que Ele havia feito antes de seu nascimento, confirmando-as com um juramento solene: “E disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho, que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus” (Gênesis 22:16-17). Esse juramento dizia respeito à semente espiritual, aos herdeiros da promessa, como Isaque, que foi declarado o filho da promessa. A quem o apóstolo se referiu quando disse: “querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento” (Hebreus 6:17). E o que era seu “conselho imutável”, senão Seu decreto eterno, Seu propósito de eleição? Os conselhos de Deus são os Seus decretos que estavam ocultos nEle mesmo desde a eternidade (Efésios 1:4,9,10). E o que é uma promessa com juramento, senão o imutável conselho ou eleição de Deus posto em forma de promessa? E quem são os “herdeiros da promessa”, senão os eleitos, como Isaque o foi?

 

Um objetor diria que a escolha de Isaque, em detrimento de Ismael não foi um ato de pura soberania, visto que o primeiro foi o filho de Sara, enquanto o último foi o filho de Agar, a escrava egípcia, supondo, assim, que os dons de Deus são regulados por algo na criatura. Mas a próxima ocorrência impede este sofisma e totalmente nos faz calar a boca frente à vontade não-causada e não-influenciada do Altíssimo. Jacó e Esaú tiveram o mesmo pai e mãe, e eram gêmeos. Referente a eles lemos: “(para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú” (Romanos 9:11-13). Vamos nos inclinar em silêncio reverente diante de tal passagem.

 

A nação que surgiu a partir de Abraão, Isaque e Jacó, foi o povo escolhido e favorecido por Deus, escolhido e separado de todas as outras nações, para serem os destinatários das ricas bênçãos de Deus. Foi isso mesmo que acrescentou tão grandemente à enormidade de seus pecados, pois o maior número de privilégios implica maior responsabilidade e maior responsabilidade não cumprida leva à maior culpa. “Ouvi esta palavra que o SENHOR fala contra vós, filhos de Israel… De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniquidades”. Desde os dias de Moisés até o tempo de Cristo, passou-se um período de 1500 anos, e Deus permitiu que todas as nações pagãs andassem em seus próprios caminhos, deixando-as entregues às suas corrupções e à escuridão de seus corações malignos. Nenhuma outra nação tinha a Palavra de Deus, nenhuma outra nação tinha um sacerdócio Divinamente destinado. Somente Israel foi favorecido com uma revelação escrita do céu.

E por que o Senhor escolheu os israelitas para serem Seus favoritos especiais? Os caldeus eram mais antigos, os egípcios eram muito mais sábios, os Cananeus eram mais numerosos; mas eles foram passados ??por alto. Qual, então, era a razão por que o Senhor escolheu Israel? Certamente não foi por causa de qualquer excelência neles, como toda a sua história mostra. De Moisés até Malaquias foram um povo de cerviz e coração duros, insatisfeitos com os favores Divinos, e que não atendiam à vontade Divina. Isto não poderia ter sido por causa de alguma bondade neles, este foi um caso claro da soberania Divina: “O Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra. O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais” (Deuteronômio 7:6-8). A explicação dos atos e de todas as obras de Deus devem ser encontradas nEle mesmo, na soberania de Sua vontade, e não qualquer coisa que haja na criatura.

 

O mesmo princípio de seleção Divina é tão claramente e de forma proeminente revelada no Novo Testamento assim como o foi no Antigo. Isto foi surpreendentemente exemplificado em conexão com o nascimento de Cristo. Em primeiro lugar, no lugar em que Ele nasceu. Quão surpreendentemente a soberania de Deus foi demonstrada nesse acontecimento. Jerusalém não foi o local de nascimento do Salvador, nem o foi uma das cidades importantes da Palestina; em vez disso, Ele habitou em uma pequena aldeia! O Espírito Santo tem chamado especial atenção a este ponto em uma das principais profecias Messiânicas: “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel” (Miquéias 5:2). Quão diferentes são os pensamentos e caminhos de Deus em relação aos dos homens! Como Ele despreza o que nós mais estimamos, e honra que nós olhamos com desprezo. Um dos mais insignificante de todos os lugares foi escolhido por Deus para ser o cenário do mais estupendo de todos os eventos.

 

Mais uma vez; a elevada soberania de Deus e o princípio da Sua eleição singular apareceram naqueles a quem Ele primeiro comunicou estas boas novas. Para quem Deus enviou anjos para anunciar o bendito fato do nascimento do Salvador? Suponha que a Escritura tivesse estado em silêncio sobre a questão, quão diferente nós teríamos concebido o assunto. Será que não teríamos, naturalmente, pensado que os primeiros a serem informados sobre este glorioso evento haviam sido os líderes eclesiásticos e religiosos em Israel? Certamente os anjos entregariam a mensagem no templo. Mas não, não foi nem para os principais dos sacerdotes, nem para os governantes que eles foram enviados, mas aos humildes pastores que vigiavam seus rebanhos nos campos. E mais uma vez nós dizemos, quão completamente diferentes são os pensamentos e caminhos de Deus dos pensamentos e caminhos dos homens. E o que assim ocorreu no princípio da era Cristã foi indicativo da maneira de Deus ao longo de todo o seu curso (veja 1 Coríntios 1:26-29).

 

Vamos agora observar que essa mesma grande verdade foi enfatizada pelo próprio Cristo em Seu ministério público. Olhe para sua primeira mensagem na sinagoga de Nazaré. “E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres [isto é, os pobres de espírito, e não para ricos de Laodicéia]. Enviou-me a curar os quebrantados de coração [e não aos de coração impenitente, mas àqueles que estão aflitos diante de Deus por seus pecados], a pregar liberdade aos cativos [e não para aqueles que tagarelam sobre o seu “livre-arbítrio”], e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos [não àqueles que se consideram donos de si mesmos], a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4:17-19).

 

A consequência imediata é de fato solene: “Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos. E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca” (vv. 21-22). Até aí tudo bem, eles estavam satisfeitos em Suas “palavras de graça”; sim, mas eles tolerariam a pregação da graça soberana? “Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (vv. 25-27). Aqui Cristo pressionou sobre eles a elevada verdade da soberania de Deus, e isto eles não puderam suportar: “todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, o expulsaram da cidade” (vv. 28-29) e observe bem que eram os adoradores respeitáveis ??da sinagoga que, assim, deram vazão a seu ódio a esta preciosa verdade! Então, não deixe que o servo de hoje se surpreenda se ele se encontrar com o mesmo tratamento que foi dado ao seu Mestre.

 

Seu sermão em Nazaré não foi de forma alguma o único momento em que o Senhor Jesus proclamou a doutrina da eleição. Em Mateus 11 nós O ouvimos dizer: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” (versos 25 e 26). Para os setenta Ele disse: “Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus” (Lucas 10:20). Em João 6, será encontrado que Cristo, na presença da multidão, não hesitou em falar abertamente de um determinado número de pessoas a quem o Pai havia “dado a ele” (vv. 37, 39). Para os apóstolos Ele disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto” (João 15:16): como teria chocado a grande maioria dos frequentadores da igreja de hoje se ouvissem o próprio Senhor dizer essas palavras! Em João 17:9 nós O encontramos dizendo: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste” (João 17:9).

 

Como ilustração interessante e instrutiva da ênfase que o Espírito Santo tem colocado sobre esta verdade chamamos a atenção para o fato de que os integrantes do povo de Deus do Testamento Novo são chamados de “crentes” apenas duas vezes, de “cristãos” apenas três vezes, enquanto que são designados como eleitos catorze vezes e santos ou separados umas sessenta e duas vezes! Também quero salientar que vários outros termos e frases são usadas nas Escrituras para expressar a eleição: “Então disse o Senhor a Moisés: Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos meus olhos, e te conheço por nome” (Êxodo 33:17); “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei” (Jeremias 1:5; cf. Amós 3:2). “Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido” (João 13:18; cf. Mateus 20:16). “Creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (Atos 13:48). “Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” (Atos 15:14). “Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hebreus 12:23).

 

Esta verdade básica da eleição fortalece todo o esquema da salvação, é por isso que nos é dito: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus” (2 Timóteo 2:19). A eleição é necessária e claramente implicada por alguns dos termos mais importantes utilizados na Escritura sobre vários aspectos da nossa salvação, sim, estes termos tornam-se ininteligíveis se ela não existisse. Por exemplo, cada passagem que faz menção de “redenção” pressupõe eleição eterna. Como assim? Porque “redenção” implica uma posse anterior, é Cristo comprando de volta e libertando aqueles que eram de Deus no princípio. Mais uma vez; as palavras “regeneração” e “renovação” significam necessariamente uma vida espiritual anterior, perdida quando caímos em Adão (1 Coríntios 15:22). Então mais uma vez o termo “reconciliação” não somente denota que havia um estado de alienação antes da reconciliação, mas uma condição de harmonia e amizade, antes deste estado alienação. Já vimos o suficiente; a verdade da eleição já foi abundantemente demonstrada pelas Escrituras. Se estas muitas e indubitáveis ??provas não são suficientes, seria um desperdício de tempo continuar a multiplicá-las ainda mais.

 

Vamos agora salientar que esta grande verdade foi definitivamente mantida e apropriada por nossos antepassados??. Primeiro, uma breve citação do antigo credo dos Valdenses (século XI), esses confessores renomados da fé Cristã viveram na idade das trevas, no meio das mais terríveis perseguições do Papado: “Este Deus salva da corrupção e da condenação aqueles a quem Ele escolheu desde a fundação do mundo, não por qualquer disposição, fé ou santidade que previu neles, mas de Sua simples misericórdia em Cristo Jesus, Seu Filho, passando por todo o resto, de acordo com a razão irrepreensível de Sua própria vontade e justiça”. Agora, citamos um dos Trinta e Nove artigos da Igreja da Inglaterra: “A predestinação para a vida é o eterno propósito de Deus, pelo qual (antes de lançados os fundamentos do mundo) tem constantemente decretado por Seu conselho, a nós oculto, livrar da maldição e condenação os que elegeu em Cristo dentre o gênero humano, e conduzi-los por Cristo à salvação eterna, como vasos feitos para a honra” [Artigo XVII].

 

Este é da Confissão de Fé de Westminster, subscrito por todos os ministros Presbiterianos: “Por meio do decreto de Deus e para manifestação da Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna, e outros preordenados para a morte eterna” [Cap. III, parágrafo 3]. E este é o terceiro capítulo da antiga Confissão Batista de Londres: “Por meio do decreto de Deus e para manifestação da Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados ou preordenados para a vida eterna por meio de Jesus Cristo, para o louvor de Sua gloriosa graça; outros são deixados a agir em seus pecados para a sua justa condenação, para o louvor da Sua gloriosa justiça”.

 

Que não se pense que nós fizemos as citações desses padrões humanos, a fim de reforçar a nossa causa. Não é assim, este escritor, pela graça Divina, acreditaria e ensinaria esta grande verdade mesmo que ninguém antes dele já houvesse ensinado-a, e mesmo que cada um que faz parte da Cristandade agora a repudiasse. Mas o que acaba de ser apresentado é uma boa evidência de que não estamos avançando aqui para nenhuma novidade herética, mas para uma doutrina proclamada no passado em cada seguimento da Igreja ortodoxa sobre a terra. Fizemos também as citações acima com o propósito de mostrar o quanto a atual geração de Cristãos professos se afastaram da fé daqueles a quem, em Deus, eles devem suas atuais liberdades religiosas. Assim como as negações modernas da inspiração Divina e autoridade das Escrituras (pelos altos críticos), a negação da criação imediata (pelos evolucionistas), a negação da Divindade de Cristo (por Unitários), de modo que a presente negação da soberana eleição de Deus e da impotência espiritual do homem, são igualmente desvios da fé de nossos antepassados??, fé esta que se baseava na inerrante Palavra de Deus.

 

A verdade da Divina eleição foi mais visivelmente exemplificada na história da Cristandade. Se é verdade que durante os últimos dois mil anos da dispensação do Antigo Testamento, as bênçãos espirituais de Deus estavam em grande parte confinadas a um único povo, é igualmente verdade que nos últimos 500 anos uma parte da raça humana tem sido mais assinalada para serem os favorecidos pelo céu mais do que todos as outras partes juntas. As relações de Deus com os anglo-saxões têm sido tão singulares e soberanas como o Seu trato para com os Hebreus no passado. Este é um fato que não pode ser negado, todos nós olhando no rosto, expomos a loucura daqueles que negam esta doutrina, porque em séculos passados??, a grande maioria dos santos de Deus estavam reunidos dentre os Anglo-Saxões! Assim, o próprio testemunho da história moderna inequivocamente repreende a loucura daqueles que repudiam os ensinamentos da Palavra de Deus sobre este assunto, tornando sua incredulidade indesculpável.

 

Digam-nos, vocês que murmuram contra a soberania Divina, por que é que a raça anglo-saxã tem sido selecionada para a fruição de grande parte das bênçãos espirituais de Deus? Será que não haviam outras raças igualmente necessitadas? Os chineses praticavam um sistema mais nobre de moralidade e eram muito mais numerosos; por que, então, eles foram deixaram por tanto tempo em ignorância quanto ao Evangelho? Por que todo o continente africano foi deixado por muitos séculos até que o sol da justiça brilhasse ali novamente trazendo a cura em Suas asas? Por que a América é hoje mil vezes mais favorecida do que a Índia, que possui uma população três vezes mais numerosa? Para todas estas perguntas somos obrigados a recorrer à resposta de nosso bendito Senhor: “Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” [Mateus 11:26]. E, assim como no antigo Israel havia uma eleição dentro de uma outra eleição, assim a Alemanha, a Grã-Bretanha e os EUA são alguns lugares específicos que foram favorecidos com um ministério fiel após outro, enquanto outros lugares foram amaldiçoados com os falsos profetas. “Fiz que chovesse sobre uma cidade, e não chovesse sobre a outra cidade” (Amós 4:7) — Isto é verdade agora, embora de forma espiritual.

 

Finalmente, a veracidade da eleição é claramente evidenciada pela feroz oposição de Satanás contra ela. O Diabo luta contra a verdade, e não contra o erro. Ele deu vazão ao seu ódio contra ela quando Cristo a proclamou (Lucas 4:28-29); ele fez isso quando Paulo a pregou (como é mais do que sugerido em Romanos 9:14, 19); ele fez isso quando os Valdenses, os Reformadores e os Puritanos a proclamavam, usando os papistas como suas ferramentas para atormentar e matar milhares deles que confessam esta doutrina. Ele ainda se opõe a ela. Hoje ele faz isso disfarçado como um anjo de luz. Ele finge ser muito zeloso da honra do caráter de Deus, e declara que a eleição faz de Deus um monstro de injustiça. Ele usa a arma do ridículo: se a eleição é verdade, por que pregar o Evangelho? Ele procura intimidar: mesmo que a doutrina da eleição seja bíblica, não é sábio pregá-la. Assim, o ensino das Escrituras, o testemunho da história e a oposição de Satanás, juntos testemunham a veracidade da doutrina da eleição.