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O Nono Mandamento — Verdade, por Cornelius Van Til

Podemos resumir o significado deste Mandamento, dizendo que ele requer de nós que respeitemos, mantenhamos e desenvolvamos o bom nome de nós mesmos e de nossos vizinhos. O significado literal das palavras refere-se a jurar falsamente em tribunal. Ou seja, de acordo com o modo de promulgação das outras leis, que cada vez mencionam a forma mais extrema de transgressão. Neste caso, como nos outros, devemos voltar a partir desta forma mais extrema de transgressão ao estado original das questões a fim de verificar qual era naquele tempo o requerimento positivo, embora não expresso.

Agora, a fim de fazer isso, devemos observar que o homem como criatura de Deus e como portador da imagem de Deus deveria dar a interpretação ao universo. Ele deveria buscar aprofundar cada vez mais a natureza da realidade criada, da qual ele mesmo fazia parte. Deus expressou Suas ideias, Seu plano neste universo criado. Era o privilégio dos homens buscar estes pensamentos de Deus, que são a verdade do universo criado. Este deveria ser o homem da ciência. E ali havia espaço infinito para expansão. Além disso, havia a garantia real do progresso. O universo criado foi o produto da interpretação de Deus; o homem poderia, portanto, ter certeza de que sua própria interpretação estava correta se esta apenas correspondesse à interpretação de Deus. Se assim fosse, o homem teria coerência consigo mesmo, como Deus teve coerência conSigo mesmo. Assim, o verdadeiro método científico deveria ser a implicação na interpretação de Deus. Não era para ser nem pura indução, nem pura dedução. O universal e o particular, sempre existiram juntos. Nenhum detalhe da existência foi considerado à parte do seu centro de referência no universo criado, a mente do homem e, finalmente, a partir de seu centro de referência na mente de Deus.

O homem amaria a verdade, porque a verdade era uma expressão da mente de Deus e, finalmente, era Deus. Haveria cooperação com o seu próximo, pois cada um teria o mesmo amor por Deus.

Então, em uma má hora o homem não queria mais ser homem. Ele queria ser como Deus. Já não amava a Deus. Fez de si mesmo, em vez de Deus, o centro de referência daquilo que ele agora chamava de a sua busca pela verdade. O Diabo tinha ensinado os homens a olhar para além de Deus, pela verdade. Ele afirmou diante do homem a ilusão de que ele pode, eventualmente, ser como Deus. Não havia possibilidades além Deus? O homem deveria experimentar. Ele não vivia mais pelo ipse dixit de Deus. A história deveria provar o que era verdade.

Qual foi o resultado? Fracasso e ruína. O homem tentou ser o que ele não podia ser. Ele era uma criatura e não poderia ser mais do que isso, visto que existe um Deus. O homem se rebelou contra esta verdade metafísica. Ele estabeleceu-se como um Deus. Ele, em vez de Deus, viria a tornar-se o padrão último da verdade. Ele considerou que o seu pensamento era tão original e tão abrangente quanto o de Deus. Esta foi a mentira. A mentira é autocontraditória. O homem tornou-se uma casa dividida contra si mesma. Quando ele disse que poderia ser como Deus, ele disse que a possibilidade era maior do que Deus. Assim, as leis de Deus, o Seu plano, em suma, a Sua afirmação foi rebaixada. Contra Ele foi estabelecida uma negação que era apenas fundamental. Isso parecia tão inocente. No entanto, porque Deus é a afirmação definitiva nenhuma negação pode ser estabelecida em Seu nível. A tentativa de fazer isso nada é, senão uma fútil negação da afirmação de Deus. Foi isso que uma criatura fez. O Diabo fez isso originalmente. Ele é, portanto, o espírito completamente autocontraditório. Ele é autocontraditório, porque ele contradiz a Deus. A criatura é determinada por definição. Ela não pode viver, senão na atmosfera do plano de Deus. Uma criatura tentar viver uma existência indeterminada implica a sua explosão. A atmosfera externa é removida. Ela encontra-se no vácuo. O Inferno é o único vácuo completo. Por isso no livro de Apocalipse nenhum som perturbador saiu dele para perturbar a glória do novo Céu e da nova Terra. Isto não é devido a qualquer invólucro artificial. É devido à paralisia dos ocupantes no vácuo. O Diabo é a mentira metafísica.

Não é de admirar que quando o homem se identifica com a mentira metafísica, ele deve cair na mentira lógica. Ele errou e errou tristemente em seus esforços “científicos”. Ele deveria ter sido muito mais avançado do que ele é. Abraham em vez de Edison teria descoberto o filamento de tungstênio. Lindbergh chegou milhares de anos depois, tarde demais. O homem tentou estudar os fatos à parte de Deus. Por isso, ele nunca encontrou a verdade universal na experiência humana. Ele não procurou por nenhuma verdade universal definitiva a mais do que a mente do homem em si poderia fornecer. E uma vez que a mente do homem não pode, pelo fato de ser criada, conceber nem mesmo algo como uma verdade universal secundária a menos que seja relacionada a Deus, o definitivo Universal, não havia nenhuma unidade trazida à experiência. A coerência tornou-se impossível para o homem desde que ele procurou a coerência sem correspondência com Deus. As coisas não podem e não poderiam corresponder à falsa estrutura do pensamento pecaminoso.

Desde então também, em terceiro lugar, o homem virou-se para a mentira ética, para a falsidade, para o mal na superfície da questão da relação do pensamento e da expressão, para as coisas que ele conhece. Não poderia ser de outra forma. Ele virou-se para longe de Deus. Ele já não amava a Deus. Por isso, ele já não respeitava a si mesmo e ao próximo por causa de Deus. Por conseguinte, quando já não havia verdade para com Deus, ele não concebeu nenhuma necessidade de ser fiel a si mesmo ou seu ao semelhante. Assim, a sociedade tornou-se infiel.

Mais uma vez nós devemos observar que o real estado das coisas reconhecidamente não responde plenamente a este retrato, como dado. Se assim fosse, teríamos o Inferno. Mas que não o tenhamos não é devido ao homem. Deus enviou a Sua graça comum. É isso que dá ao homem um certo senso de verdade metafísica. Ele sentiu alguma necessidade de um além como um centro de referência; o que testemunha a lógica do idealismo. Isso também deu ao homem um certo senso de verdade lógica. Seus esforços científicos fizeram algum avanço, embora desajeitado. Isso finalmente deu ao homem um certo senso de verdade ética. A pessoa média não mente por causa do mentir. Ele tem alguma autoestima e senso de fidelidade. Na sociedade pode-se encontrar, às vezes, até mesmo uma grande medida de fidelidade. Mas tudo isso não afeta minimamente a afirmação de que no íntimo dos seus corações, os homens se aliaram com o mentiroso desde o princípio, contra a verdade desde a eternidade. Jesus diz aos fariseus que eles falam as coisas que erma próprias de seu pai, cuja natureza é uma mentira.

Por conseguinte, quando o mandado de veracidade vem a nós na lei, ele não vem para nós a fim de avivar as brasas da graça comum, mas para levar a bom termo o dom da graça especial. Verdadeiramente, é o dever de todo homem ser fiel. Deus não diminui nem abranda a Sua exigência somente porque o homem fez-se impotente para cumpri-la. Todos os homens devem ser capazes. Disso segue-se que todos os homens deveriam ser Cristãos. Mas o comando vem principalmente àqueles que são redimidos, a fim de que eles cumpram a verdade que há nEle.

Em Cristo o homem é restaurado para a verdade metafísica, antes de tudo. O homem se reconhece como uma criatura de Deus novamente. Através de Cristo, ele busca o ponto final de referência para toda a sua vida em Deus. O homem é retirado do vácuo. O Espírito Santo tem servido como seu respirador. Lentamente, o homem aprende a respirar conscientemente. Sua experiência determinada revive novamente. Logo ela opera, e opera de forma frutífera. O novo homem em Cristo está assentado “nos lugares celestiais”. Isto se dá pelo ar puro que ele respira.

Assim, o homem progride novamente. Ele está agora na atmosfera da lógica, bem como na atmosfera da verdade metafísica. Uma dificilmente pode ser separada da outra. Seu progresso será lento, no início. O período da adolescência será o período de sua vida presente. Depois disso ele fará seus progressos rapidamente. O novo Céu e a nova Terra serão seus para explorar.

A principal colheita a ser feita nesta vida é a fidelidade ética. O Cristão, ou seja, o ser humano determinado nunca pode, nem mesmo na profundidade mais íntima de seu pensamento, pensar de si mesmo, exceto na presença da Verdade. Os olhos dAquele com Quem temos que lidar não conhecem escuridão. Os recessos mais escuros de nosso coração, muitas vezes escondidos para nós mesmos, estão nus e patentes para Ele. Os sete espíritos de Deus sondam até mesmo as profundezas turbulentas de nossas almas totalmente reflexivas da verdade. A partir disso, aprendemos a amar a verdade. A verdade nos torna livres da escravidão da mentira.

Como deveres específicos, então, podemos enfatizar esta veracidade interna conosco mesmo. O autoexame é a nossa tarefa diária. E este autoexame deve ter a Palavra de Deus como seu padrão. Os não-Cristãos também falam de autoexame. No entanto, seus resultados são sempre autoexaltação ou autoaniquilação. A razão para isto é que o mundo não tem um verdadeiro padrão de autoexame. Este considera Jesus como um homem ideal ou algum outro ideal. O Cristão tem a demanda absoluta da Palavra. Ele sabe que o ideal é a perfeição: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” [Mateus 5:48]. Ele sabe que está longe, muito longe de ter alcançado esse objetivo. Isso o mantém humilde. Mas ele também sabe que a graça de Deus está em seu coração e que, portanto, não precisa se desesperar. Um dia ele será perfeito. A libertação do pecado e um pleno conhecimento da verdade está diante dele. Assim, ele se esforça nobremente enquanto segue em frente.

Assim, nós devemos estar sempre mais preocupados com o que Deus pensa de nós do que com o que o homem pensa de nós. O mundo nos diz que somos um povo peculiar, isto é, um povo estranho. Nós não gostamos de ser assim considerados e somos tentados a ser conformados com o mundo, tanto quanto nós ousamos. Perguntamo-nos se podemos fazer isso e aquilo como Cristãos. Especialmente neste caso em relação a todos os tipos de prazeres mundanos. Em vez disso, Deus nos diz que devemos ousar ser um povo “peculiar”, a fim de que possamos anunciar as grandezas dAquele que nos trouxe das trevas para a Sua maravilhosa luz. Alguns dos líderes dos judeus acreditavam em Jesus secretamente, “Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus” (João 12:42). Assim, não ousamos nos alinhar com as causas impopulares, especialmente quando o ódio que se derrama sobre nós poderia vir daqueles que professam o Cristianismo.

Em seguida, em segundo lugar, não somente devemos respeitar a nós mesmos como portadores da verdade, devemos manter e desenvolver-nos como tal. O autoexame pode ajudar também a isso como tal, uma vez que nos aponta para o ideal. Mas acima de tudo, obedecendo ao Senhor, que é o Espírito (2 Coríntios 3:18), quando ele olha para Aquele que é a Verdade “somos transformados na mesma imagem de glória em glória”. Então, se em nosso caminho de progresso houverem aqueles que procuram interferir, podemos precisar para defender nossa reputação. Falsos irmãos podem tentar retardar o nosso progresso, porque o nosso progresso honra a Cristo. Então para a honra de Cristo, devemos nos defender. Especialmente este é o caso, se Cristo nos honrou, dando-nos um ofício em Sua igreja. Nesse caso, Satanás tentará o seu melhor para nos difamar, a fim de difamar a Cristo. Paulo dá-nos uma boa ilustração do que fazer nesse caso. Ele recebeu uma quantidade excepcionalmente grande de ridicularizarão do adversário, porque ele fez uma obra excepcionalmente grande para Cristo através do ofício excepcional do Apostolado. Era o seu Apostolado que o inimigo ridicularizava. Eles diziam que ele era um homem de imaginação fértil obcecado com uma ideia fixa. O que Paulo faz? Ele estava disposto a suportar muitas outras afrontas, mas quando seu ofício é atacado, ele grita: “Não sou eu apóstolo? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor nosso?”, “os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas” (1 Coríntios 9:1; 2 Coríntios 12:12).

Em todo o tempo, o Cristão não deve apresentar-se como sendo mais do que ele é, nem, por outro lado desnecessariamente rebaixar-se diante dos olhos dos homens. E, especialmente, ele deve crescer na fidelidade comum que mesmo os incrédulos manifestam. Acontece com demasiada frequência que os Cristãos são menos confiáveis no mundo dos negócios do que os não-Cristãos. Logo, os Cristãos desenvolveram consciências muito flexíveis com relação às contas de supermercado, pesos e medidas, e com relação à honestidade nos negócios em geral. Ora, isso é uma vergonha para Cristo. Isso dá muito motivo para o mundo blasfemar o Nome santo que está acima de todo nome.

Semelhante às obrigações com respeito a nós mesmos, são as nossas obrigações no que diz respeito aos nossos próximos. Devemos, em primeiro lugar, pensar fielmente sobre eles. Isso não significa que devemos considerar todos iguais. Isso não deveria ser pensar fielmente. Sabemos que alguns não têm a verdade. Sabemos que, no fundo, eles amam a infidelidade. No entanto, sabemos que, pela graça comum ele pode praticar certa fidelidade geral. Por isso devemos “folgar com a verdade” (1 Coríntios 13:6). Devemos “tudo crer”, ou seja, acreditar em todas as coisas boas ao invés de crermos nas coisas ruins. A suspeita não fundamentada é algo não-Cristão.

Em segundo lugar, devemos falar a verdade ao e sobre o nosso próximo. O pensamento pronuncia-se no discurso. O que dizemos deve corresponder e ser expressivo do que pensamos. Portanto, se sabemos que alguém é um bom homem não ousamos dizer que ele é um homem ruim ou não completamente um bom homem. Por outro lado, se sabemos que alguém é um homem mau, nós não podemos, para o nosso próprio interesse ou dele, especialmente perante o tribunal, dizer que ele é um bom homem. “Estas são as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas. E nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ameis o juramento falso; porque todas estas são coisas que eu odeio diz o Senhor” (Zacarias 8:16-17). Assim, o mexeriqueiro que fala sem ter qualquer base mais sólida do que a de “fema” todos os tipos de histórias sobre o Sr. Fulano de Tal e, especialmente, sobre o Reverendo Fulano de Tal, faz coisas odiadas pelo Senhor. Pois é especialmente com respeito àqueles que estão em um ofício de estado ou igreja que devemos ter cuidado. Sua reputação significa muito para a sociedade. No Antigo Testamento, os juízes são chamados de “Elohim”; (Êxodo 21:6) e, especialmente Salmos 82:8, a que Jesus se refere em João 10:32: “Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois deuses”. Os juízes foram chamados deuses porque eles eram representantes de Deus e Deus falava através deles. E, como aqueles que têm cargo na Igreja, eles representam Deus em Cristo. Daí, a injunção de Paulo ter um cuidado especial da reputação daqueles que eram anciãos, ou seja, governantes representativos de Cristo. Assim, em todos estes casos, se outros têm falado mal nós devemos, tanto quanto está em nós, buscar anular os efeitos deste mal. Procurar acabar com falsos rumores pode ser uma tarefa difícil, mas é nossa tarefa mesmo assim.

Uma tarefa mais difícil ainda nos espera quando observamos que é o nosso dever conversar com outras pessoas e, especialmente, com os nossos irmãos Cristãos sobre o seu dever de serem verdadeiros. Isto é mais difícil quando eles têm, obviamente, falhado a este respeito. A atitude sou-eu-guardador-do-meu-irmão? é uma atitude não-Cristã. Esta tarefa é mais difícil se o infrator estiver em uma em um ofício de alta posição, porém o mais necessário é que nós cumpramos a nossa tarefa. Somente assim nós podemos procurar não somente o respeito, mas também desenvolver a fidelidade sobre nós.

Para que estão investidos de ofícios, especialmente, para os ministros, é necessário lembrar neste momento que, a fim de desenvolver a veracidade eles devem buscar obter confissões de falsidade por um discreto método amigável. Ser suaviter in modo beneficia aquele que vive em uma casa de vidro. Qualquer pretensão de perfeição nesta realização repelirá em vez de atrair. Assim, não se desenvolve, mas se retarda o desenvolvimento da veracidade. Ao mesmo tempo, o segredo pode ser necessário. A Igreja Católica Romana tem com a sua doutrina de sigillum confessionis proibido o seu sacerdócio de revelar os segredos revelados a eles. Agora, existem situações concebíveis em que o sigilo seria um pecado. Suponha que alguém revele uma trama de assassinato para você. Em tal caso, o autor quebrou suas relações com a sociedade e não tem o direito de esperar nada, senão a punição da sociedade.

Ainda mais, se deve haver um desenvolvimento geral da veracidade na sociedade, seus membros, em suas relações, não podem empregar quaisquer reservatio mentalis. Nem sempre é necessário dizer tudo o que nós sabemos (Provérbios 3:7; 29:11), mas o que se entende por reserva mental é a tentativa deliberada de enganar por não falar toda a verdade. Por exemplo, alguém pode questionar-lhe sobre algo que você não se importa em revelar. Você responde-lhe dizendo que você não sabe sobre o assunto, e depois mentalmente reserva o pensamento “quanto a qualquer coisa que é pública”. Tal reserva mental é desonestidade e é produtiva de desonestidade.

Mas, alguém dirá que fazemos isso porque é útil para a sociedade. Nesta base muitos moralistas têm defendido a mendacium officiousum, ou seja, a mentira de necessidade. As razões para a defesa são (a) que tais mentiras são feitas para um bom propósito, (b) que evitam um mal maior, e (c) que devem, por vezes, serem empregada quando se enfrenta uma colisão de deveres. Além disso exemplo, a Escritura é citada para provar que isso é permissível. As parteiras dos israelitas que enganaram Faraó foram abençoadas. O próprio Deus disse a Moisés para pedir a Faraó que deixasse Israel sair, pois este não faria mais do que uma curta viagem ao deserto. Raabe, a meretriz que escondeu os espiões foi mantida viva quando os outros foram mortos. O homem de Baurim escondeu os espiões de Davi em um poço e foi abençoado (2 Samuel 17). Ora, quanto às razões dadas, elas não são conclusivas. Quanto à boa intenção, respondemos que o fim não justifica os meios. Que evitam mal maior nós não podemos aceitar. Elas podem evitar o que nos parece um mal maior. Mas, mesmo Sócrates sabia que perder a vida não é tão grande mal quanto cortejar o desfavor dos deuses. Nem sempre somos realmente colocados diante de uma colisão de deveres. Nosso pensamento de que somos é geralmente devido à falta de oração e estudo das Escrituras. E se temos sido fiéis nestes assuntos, resta para o Cristão apenas pequena dúvida se ele está andando no caminho do Senhor. Então, como os exemplos bíblicos, não temos nenhuma garantia de que as parteiras foram abençoadas por causa de seu engano; foram abençoados, apesar dele, por sua fé. Em segundo lugar Moisés testou o coração de Faraó com um pequeno pedido. Se ele tivesse lhe concedido, o maior assunto teria sido abordado. Vendo que ele não concedeu-lhe, não havia necessidade de mencionar mais nada. O caso de Raabe é semelhante ao das parteiras. Ela era a única que tinha fé e foi salva por causa disso. Finalmente, no caso do homem de Baurim estamos diante de uma estratégia marcial e não há nenhuma garantia de que ele usou de engano. Assim, não vemos nenhuma razão nestes exemplos para se desviar do mais estrito princípio moral que sempre condenou a mentira de necessidade.

A mentira de necessidade é, talvez, a mais frequentemente praticada em caso de doença grave. Agora vamos admitir, é claro que a condição mental é importante. Segue-se, então, que a grosseria desnecessária deve ser evitada. Mas suponha que um descrente esteja mortalmente doente. É misericórdia para com ele esconder dele esse fato? O conhecimento do fato pode levar ao arrependimento enquanto a falta de conhecimento do fato pode levá-lo a confiar em sua falsa esperança novamente. E, quanto ao Cristão, ele também tem o direito de morrer tão autoconsciente quanto possível. Casos difíceis, sem dúvida, surgirão, mas que Cristão se atreve a dizer que a graça de Deus alguma vez honrará medidas que são profanas?

Muito diferente é o caso com o mendacium iocosum, ou seja, ficção por diversão. Estritamente falando, isso não é engano. O dom da imaginação permitiu ao homem criar mundos fantásticos que deliciaram sua alma. O mundo da ficção é baseado nisso. Assim também a conversação da vida social pode ser animada por resposta que envolve a mendacium iocosum. No entanto, devemos observar que uma indulgência livre do imaginativo e romântico muitas vezes nos faz perder até certo ponto, o nosso sentido de veracidade sóbria e nossa aptidão para lidar com o mundo prosaico da realidade. Até mesmo escritores não-Cristãos admitiram que as fantásticas apresentações de filmes futuristas fatalistas têm ajudado a preparar a juventude de nossa nação para muitas carreiras de crime e especulação. A atração do dinheiro “fácil” em vez do dinheiro “honesto” e a atração do prazer “fácil” em vez do prazer “honesto” tem sido frequentemente evocado pela ocupação desproporcional com o sobrenatural.

Mesmo o mendacium humilitatis que é geralmente considerado como não mais do que o óleo que suaviza as articulações rangentes da sociedade, às vezes, pode malmente ser distinto da hipocrisia. Demasiadas vezes aqueles que são mais educados te ferirão “na quinta costela”, entrementes. Há aqui uma média de ouro pela qual se esforçar.

Aquele que quer ser um Cristão, de fato, deve lembrar-se das palavras de Jesus: “Eu sou a Verdade”.