A Igreja e o Estado não têm Jurisdição Um sobre o Outro

O Estado Não tem Jurisdição sobre a Igreja

Embora o poder político possa influenciar o comportamento externo para o bem (que é uma graça comum e uma coisa boa), o poder político não pode desfazer o reino das trevas que está dentro do coração daqueles que estão escravizados ao governante desta presente era maligna. A teocracia do estado judaico no Antigo Testamento provou que nem mesmo a legislação dada por Deus pode estabelecer o reino dos céus na terra. As leis escritas sobre a pedra não mudam os corações de pedra. Em 1523, Martinho Lutero declarou isso desta forma:

O governo mundial tem leis que não se estendem para além da vida, da propriedade e dos assuntos externos na terra. Pois sobre a alma Deus não pode e não deixará ninguém governar senão ele mesmo. Portanto, onde a autoridade mundana arrogar para si o direito de prescrever leis para a alma, ela invade o governo de Deus e apenas engana e corrompe as almas. Queremos deixar isso bem claro para que todos o compreendam e para que nossos nobres, os príncipes e os bispos, vejam quão tolos eles são quando procuram coagir as pessoas com suas leis e mandamentos a acreditarem nisto ou naquilo.[1]

Este texto é um trecho do livro “Os 5 Pontos do Amilenismo“, por Jeffrey D. Johnson. Este livro atualmente está à venda em nosso site.

“A fé é um ato livre”, prosseguiu Lutero, “ao qual ninguém pode ser forçado”.[2] Somente aqueles que, pelo poder do Espírito Santo, voluntariamente vêm a Cristo é que podem realmente vir a ele. A liberdade da consciência e a separação da igreja e do estado são princípios básicos do Cristianismo do Novo Testamento.

Pode-se argumentar, além disso, que o reino de Deus prosperou melhor sob a perseguição romana do que depois que Roma romanizou o cristianismo. Um dos ataques mais terríveis contra o reino de Deus aconteceu quando o cristianismo se tornou a religião do estado na Idade Média.

Não que as hostilidades e perseguições sejam desejáveis, mas o avanço e a perpetuidade do reino de Deus não dependem da ajuda e da assistência de nenhum governo terreno. Cristo prometeu edificar sua igreja com ou sem a proteção do Estado. Além do fato de que frequentemente a igreja cresce mais rapidamente sob a perseguição patrocinada pelo Estado. Uma coisa é certa — assim como o reino de Deus superou o Império Romano, ele superará a todas as outras forças nacionais (Daniel 2:44).

No final das contas, as autoridades civis não têm poder para obrigar a consciência, pois não têm poder para policiar e punir a consciência. O máximo que os governos terrenos podem fazer, mesmo que sejam liderados por cristãos, é restringir o mal e punir os malfeitores (1 Pedro 2:14).

A Igreja não tem Jurisdição sobre o Estado

Da mesma forma que o Estado não tem jurisdição sobre a igreja, a igreja não tem a comissão de cumprir sua missão através do uso das armas terrenas deste mundo (2 Coríntios 10:4). Assim como Cristo não tentou estabelecer seu reino através da força política (João 18:36), a igreja não deve ser seduzida a pensar que pode expandir o reino de Deus através de revoluções políticas e sociais. Assumir o Estado não é o objetivo da igreja. Ativismo político, marchas, protestos e comícios não são as chaves para o reino dos céus. “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12).

Embora o estado esteja sob o governo de Cristo, Cristo não prometeu redimir o estado. Não há maneira de livrar a cultura do pecado sem livrar a cultura dos pecadores. E enquanto existirem pecadores não redimidos neste mundo, o mundo permanecerá sob a influência e a escravidão do pecado. Aquilo que foi deformado pelo pecado não pode ser reformado através da restauração cultural. Não é de uma restauração, mas uma de uma recriação que o mundo precisa. Os pecadores devem morrer para o pecado, para si mesmos e para este mundo e então renascer pelo Espírito Santo antes de poderem entrar no reino de Deus (João 3:3).

Da mesma forma, o mundo (e tudo o que há nele — nações, culturas e filosofias) deve ser destruído com fogo e ser totalmente recriado antes de ser libertado da escravidão e da corrupção da queda. O mundo precisa mais do que ser remodelado; ele precisa ser queimado e recriado para se tornar algo totalmente novo.

A única esperança eterna para este mundo é a mensagem evangélica que foi confiada aos embaixadores do reino dos céus. Por essa razão, a grande esperança não é a restauração desta presente era maligna por meio de reformas sociais e leis políticas, mas que Deus continue a chamar um povo para si de todas as nações e grupos de pessoas deste mundo antes que ele seja destruído.[3]

 


[1] Martin Luther, On Worldly Authority: To What Extent It Should be Obeyed (n.p.: Glocktower, 2016), 35-36.

[2] Luther, On Worldly Authority, 38.

[3] To learn more about the nature and relationship between the two kingdoms, see David VanDrunen, Living in God’s Two Kingdoms: A Biblical Vision for Christianity and Culture (Wheaton, IL: Crossway, 2010).

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