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Os Dois Reinos

Este texto é um trecho do livro “Os 5 Pontos do Amilenismo“, por Jeffrey D. Johnson. Este livro atualmente está à venda em nosso site.

(Leia o texto anterior: As Duas Eras)

 

Até aquele grande dia em que esta presente era maligna chegará a um fim destrutivo, nós, os que cremos, vivemos como estrangeiros, peregrinos e exilados neste mundo (Hebreus 11:13; 1 Pedro 2:11). Embora antes fôssemos estranhos e estrangeiros ao reino dos céus (Efésios 2:19), agora somos cidadãos do céu e estranhos a este mundo (Filipenses 3:20). Como este mundo não é mais nossa casa, nós, como Abraão, estamos procurando uma cidade mais permanente para chamar de nossa casa (Hebreus 11:10).

Durante nossa curta estadia, enquanto esperamos para entrar em nossa morada eterna, somos chamados a viver aqui como embaixadores do reino dos Céus. Fomos enviados por nosso Rei para representá-lo e a seu glorioso reino neste mundo caído (2 Coríntios 5:20). Somos chamados a ser uma luz na escuridão. Fomos enviados ao território do inimigo para pregar o Evangelho do reino e para resgatar aqueles que estão perecendo.

Enquanto somos residentes temporários neste mundo, estamos sob jurisdições duplas. Somos chamados a obedecer a duas autoridades distintas. Somos cidadãos do reino do céu e cidadãos terrenos dos reinos e nações deste mundo. David VanDrunen explica isso desta forma:

Os cristãos são cidadãos de dois reinos distintos, ambos ordenados por Deus e sob sua lei, mas existem para propósitos diferentes, têm funções diferentes e operam de acordo com regras diferentes. Na sua qualidade de cidadãos do reino espiritual de Cristo, os cristãos insistem na não violência e nos caminhos da paz, recusam-se a pegar em armas em nome de seu reino. Na sua qualidade de cidadãos do reino civil, eles participam, quando necessário, do trabalho coercitivo do Estado, portando pegam em armas em seu nome quando a ocasião o justificar. Como cidadãos do reino espiritual, eles não têm lealdade patriótica a nenhuma nação terrena. Mas, como cidadãos do reino civil, um patriotismo saudável certamente é possível.[1]

Por causa de nossa dupla cidadania, devemos “dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Marcos 12:17). Como peregrinos neste mundo, somos chamados tanto a temer a Deus quanto a honrar o rei (1 Pedro 2:17). Somos chamados a pagar nossos impostos ao Estado (Mateus 22:21) e a dar livremente nossas ofertas à igreja (1 Coríntios 9:11). Como cidadãos deste mundo, somos chamados a desfrutar ricamente de todas as coisas (1 Timóteo 6:17). Como cidadãos do céu, somos chamados a depositar nossos tesouros no céu e a buscar primeiro o reino de Deus (Mateus 6:20, 33). Em nossa submissão ao Senhor, somos chamados a estar sujeitos “Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem” (1 Pedro 2:13-14).

Nossa maior lealdade, no entanto, é ao reino dos Céus. Quando as ordens do homem violam as ordens de Deus, somos chamados à desobediência civil. Devemos “obedecer a Deus e não aos homens” (Atos 5:29).

Esta maior lealdade a Deus, mesmo quando nos leva à desobediência civil, é um benefício para a sociedade. Só porque o navio está afundando, não significa que sejamos chamados a abandonar o navio. Nosso amor por Cristo e pela Grande Comissão nos obriga a ir ao mundo em vez de nos retirarmos da sociedade. Nossos valores cristãos influenciam o nosso voto, e eles nos obrigam a ser cidadãos produtivos deste mundo. Entre muitas outras coisas, somos a favor da família tradicional e somos contra o aborto. Nosso desejo de amar nossos vizinhos nos constrange a sermos membros ativos da sociedade e ajudar pessoalmente aqueles que precisam, orar por nossos governantes e a fazer o possível para promover a justiça e a paz nesta presente era maligna.

A cultura como um todo é externamente beneficiada pela transformação interna e pessoal que ocorre dentro dos seguidores individuais de Cristo. Quanto mais uma sociedade é constituída por aqueles que nasceram de novo, mais essa sociedade é impactada pelo bem. Sem dúvida, muitos benefícios temporais acompanham a propagação e recepção do Evangelho. Nós somos de fato o sal da terra (Mateus 5:13). Se não fosse por isso, se não fossem os remidos, nada mais impediria Deus de destruir o mundo.

O Evangelho muda as sociedades em nível individual. O Evangelho não é projetado para a revolução política, mas para alcançar os perdidos com a esperança de vida eterna. A menos que os pecadores se submetam ao Evangelho do reino, eles não têm esperança duradoura. Deus não está interessado em moralizar os ímpios. Deus não prometeu santificar a cultura ou redimir os governos terrenos, nem está preocupado em cristianizar os ímpios com a falsa esperança produzida pela moralidade externa.

 


[1] David VanDrunen, Natural Law and the Two Kingdoms (Grand Rapids: Eerdmans, 2010), 13.