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O Chamado Divino para Missionários, por C. H. Spurgeon

Sermão Nº 1351. Pregado na manhã do Dia do Senhor, 22 de abril de 1877. Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

 

 “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.” (Isaías 6:8)

 

Irmãos e irmãs, os pagãos estão perecendo e só há um caminho de salvação para eles, pois só há um Nome dado debaixo do Céu entre os homens pelo qual eles devem ser salvos. Deus, na gloriosa unidade de Sua Natureza Divina está chamando mensageiros que irão proclamar aos homens o Caminho da Vida. A partir da densa escuridão meus ouvidos podem ouvir aquele som misterioso e Divino, “A quem enviarei?”. Se você apenas escutar com o ouvido da fé, você pode ouvir isso nesta casa hoje: “A quem enviarei?”. Enquanto o mundo jaz sob a maldição do pecado, o Deus vivo, que não deseja que ninguém pereça, mas que venham a arrepender-se, está buscando mensageiros para proclamar a Sua misericórdia. Ele está perguntando, até mesmo em termos apelativos, por alguns que sairão para os milhões que morrem e contarão a maravilhosa história do Seu amor: “A quem enviarei?”.

 

Como que para tornar a voz mais poderosa pelo tríplice apelo ouvimos a sagrada Trindade perguntar: “Quem há de ir por Nós?”. O Pai pergunta: “Quem irá por Mim e convidará Meus filhos tão distantes a retornarem?”. O Filho pergunta: “Quem procurará para Mim, Minhas ovelhas resgatadas, mas desgarradas?”. O Espírito Santo pergunta: “Em quem residirei e através de quem falarei para que Eu possa transmitir vida às multidões que perecem?”. Deus, na unidade de Sua Natureza, exclama: “A quem enviarei?” e na Trindade de Suas Pessoas, Ele pergunta: “Quem irá por nós?”. Felizes ficaremos, hoje, se respostas sinceras forem ouvidas nesta casa: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. É nosso dever, de qualquer maneira, colocar muito solenemente a questão diante de vós, irmãos e irmãs em Cristo, e enquanto tentamos defender a causa de Ywahwé nós confiamos que o Espírito Santo possa estar aqui, dizendo a um e outro indivíduo, completamente desconhecidos para nós, “Separai-me a Saulo e Barnabé para a obra a que os tenho chamado”. Sim, que a convincente voz da chamada especial da graça possa chegar ao ouvido de alguns aqui presentes, para que respondam como o jovem Samuel e digam: “Eis-me aqui, pois tu me chamaste”. Em primeiro lugar, vamos, nesta manhã, considerar a visão da glória com referência à oferta de serviço feita pelo Profeta: a visão que ele viu. E em segundo lugar, a visão de ordenação que ele viu, e que foi mais do que uma visão, pois seus lábios foram tocados. E em terceiro lugar, vamos falar sobre a Voz Divina e concluir estendendo-nos sobre a resposta sincera.

 

I. Com reverência, e com toda a atenção de nossos corações, vamos contemplar A VISÃO DA GLÓRIA que Isaías viu. Era necessário que ele a visse para que pudesse ser trazido à condição de máximo comprometimento da qual viria a consagração total expressa em “Eis-me aqui, envia-me a mim”. Observe o que ele viu. Ele viu, primeiro, a suprema Glória de Deus. “Eu vi o Senhor”, diz ele, “assentado sobre um alto e sublime trono, e a cauda do seu manto enchia o templo”. Foi Jesus quem ele viu? Foi esta uma das antecipações de Sua futura Encarnação? Provavelmente sim, pois João escreve em seu 12º Capítulo, no versículo 41: “Isaías disse isto quando viu a Sua Glória e falou dEle”, referindo-se ao Senhor Jesus Cristo. Não vamos, no entanto, insistir nesta interpretação, pois a palavra, “Senhor”, sem dúvida incluiu, por vezes, toda a Divindade e, portanto, a visão pode ter representado o próprio Senhor revelado de forma visível.

 

Quanto à Sua Essência absoluta, olhos não conseguem contemplar o Senhor, mas Ele escolhe fazer uma aparição de Si mesmo, aparecendo entre os homens de forma a ser compreendido pelos sentidos humanos. Agora, irmãos e irmãs, nós não sabemos de nada que fornecerá um motivo melhor para o trabalho missionário, ou para o esforço Cristão de qualquer espécie, além de um vislumbre da glória Divina. Este é um dos mais fortes impulsos que uma alma pode sentir. Vejam, ó crentes na Palavra Divina, neste dia o Senhor Deus, Ywahwé, não está destronado, mas assenta-se no Trono de Sua glória! Alguns não O conhecem e outros O negam e O blasfemam, mas Ele permanece Deus sobre todos, bendito para sempre!

 

Veja a paciência de Sua infinita majestade; Ele Se assenta em calma glória sobre o Seu Trono eterno. As nações se iram furiosamente e imaginam coisas vãs, mas, “Aquele que habita nos céus se rirá, o Senhor zombará deles”. Ainda são cumpridos Seus propósitos e Sua alma permanece em Sua serenidade. Ele é o mesmo e Seus anos não tem fim. Ele senta-Se como um Rei, observa, sobre um trono. Ele nunca renuncia a Sua soberania e domínio. Todas as coisas ainda sentem a Onipotência do reinado de Deus. “O Senhor tem estabelecido o Seu Trono nos céus e o Seu Reino domina sobre tudo”. As rebeliões dos homens podem abalar o Seu domínio firme? Não, mas fora do tumulto selvagem deles, Ele forma ordem e através da resistência mais violenta Ele executa Seus próprios propósitos! Afinal de contas, o Senhor reina, regozije-se a terra, alegrem-se as multidões de ilhas! Mesmo assim, apesar de toda a confusão de guerra e toda a maldade dos homens nos lugares sombrios da terra, e as blasfêmias detestáveis ​​dos gentios contra o Altíssimo, o Senhor Se assenta em um trono que jamais poderá ser abalado.

 

Não é um simples trono, com alguma dignidade. É o “alto e sublime”. Não está apenas sobre todos os outros tronos por meio de um poder maior, mas sobre todos eles por meio de supremo domínio sobre eles, pois Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores! Eu desejo, queridos irmãos e irmãs, que possamos ter um vislumbre da glória, poder e domínio que pertencem ao Altíssimo! Se assim fosse, embora certamente nos humilhássemos até o pó, se acenderia em nós uma santa indignação contra o fato dos homens buscarem outros deuses. Seríamos cheios de santa coragem contra essas divindades cegas, surdas e mudas, para as quais ainda seria uma grande honra receber nosso desprezo! Sentiríamos confiança no sucesso final da causa e do reino de Deus vivo.

 

Mesmo agora, enquanto Ele restringe Sua mão, Ele está sentado sobre um trono alto e exaltado e é até agora o Governador sobre as nações. O dia certamente chegará quando todas as nações contemplarão Seu Trono e curvar-se-ão diante dEle e Deus será visto como o Senhor sobre todos. O Deus a Quem servimos é capaz de dar a vitória para Sua própria causa. Aqui há um impulso para nós em todas as lutas por Sua causa e coroa. Se você optar por tomar o texto como referência ao Senhor Jesus Cristo, que deleite é para nós pensar que não há mais para Ele a coroa de espinhos e a lança cruel e a cuspida de desprezo, mas Aquele que inclinou a cabeça para morte deixou os mortos, para nunca mais morrer e ascendeu à mão direita de Deus, o Pai! Deus, tendo O exaltado soberanamente, agora O assenta sobre um trono alto e sublime. Essa, na verdade, é a origem da nossa comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Porque todo o poder Lhe foi dado no Céu e na terra, portanto, vamos em frente e subjuguemos o povo debaixo de Seus pés. Oh, quando a Sua Igreja acreditará plenamente na glória de Seu Senhor e regozijar-se-á nela, para que Seu poder possa enchê-la, como Seu manto encheu o templo? Se nós não podemos contemplar Suas maiores glórias, que oremos para que Sua presença, pelo Espírito Santo, como a fumaça perfumada e as bainhas de Suas vestes resplandecentes, sejam conhecidas entre nós e nos encham de adoração a Ele. Os fundamentos se moveram em Sua augusta Presença? Que nossos corações sejam movidos, também, enquanto em humilde adoração nos curvamos diante dAquele que é o Senhor e Cristo!

 

Mas, então, Isaías viu, também, a corte do grande Rei. Ele viu os atendentes gloriosos que perpetuamente realizam homenagem, mui próximo ao Seu Trono. Ele diz: “Acima dele (ou melhor, acima dEle) estavam os serafins”, não implicando que os Seus pés descansavam sobre a terra, ou qualquer outra substância sólida, mas que eles estavam parados em torno e acima do grande Rei, suspensos no ar em um círculo, como um arco-íris ao redor do Trono de Deus, ou como guarda-costas ao redor do Trono da Majestade. Lá estavam eles, querendo saber como agradá-lO, com suas asas, prontos para qualquer missão e adorando enquanto esperavam. Esses serafins podem nos fornecer um padrão para o serviço Cristão; como o Trono de Deus torna-se o impulso para esse serviço, assim, que estes nos sirvam como modelo.

 

Eles habitam perto do Senhor e nós também devemos habitar. Ele é o seu centro e a sua felicidade, e assim Ele deve ser para nós. Mas eu especialmente noto que eles são ardentes, flamejantes, pois tal é o significado da palavra serafins, um termo aplicado em hebraico para as serpentes voadoras ardentes do deserto. Estes cortesãos do grande Rei eram criaturas de fogo, ardentes, brilhantes e refulgentes, eles O adoram, “que faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros labaredas de fogo”. Ywahwé, que é um fogo consumidor, só pode ser apropriadamente servido por aqueles que estão em fogo, sejam anjos ou homens. Daí a pergunta solene: “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” (Isaías 33:14).

 

Ninguém pode fazer isso, somente o homem nas chamas do Amor Divino. Na Presença desse fogo que consome, não é possível que a tibieza ou a indiferença existam, seríamos totalmente queimados. Para atuar como cortesão diante do ardente Trono de Deus requer-se um espírito seráfico ou ardente, e se nos tornamos apáticos e sem alma, não seremos considerados dignos de ser empregados em missões Divinas. Portanto, que toda frieza do amor e do espírito adormecido seja removida. Que o Senhor nos faça, como João Batista, luzes ardentes e brilhantes! Estes cortesãos de Deus eram ardentes e são, também, retratados para nós para lembrar-nos que são apenas representações de coisas realmente invisíveis e vistas apenas em visão, como tendo seis asas. Tais são os Seus servos, cheios de movimento, cheios de vida!

 

Alguns que eu conheço e que professam servir ao Senhor parecem não ter asa alguma, mas são impassíveis e inativos; mais como a preguiça que o serafim; têm mais peso do que asa. Aqueles que se aproximam dEle devem estar em movimento, rápidos, ativos, dispostos, acordados, enérgicos, prontos para voar sobre os negócios do Senhor com poderosa rapidez. Em uma palavra, seis deveriam ser suas asas, para que não parassem nem se cansassem, nem se atrasassem, nem se demorassem no caminho. Temos tal prontidão de espírito? Tendo vida e movimento, esses espíritos gloriosos usam seus poderes com prudência e discrição. Eles não usam todas as suas asas para o voo, mas com duas, cada um cobria seu rosto, pois mesmo eles não podiam contemplar o esplendor do trono de Ywahwé e, portanto, com temor e humilde modéstia eles adoram, com o rosto coberto!

 

“Com duas cobriam os pés”, ou o seu corpo, ou suas partes mais baixas, pois o serafim lembra que, embora sem pecado, ele ainda é uma criatura e, portanto, ele se esconde em sinal de sua nulidade e indignidade na presença dAquele que é três vezes Santo. O par de asas do meio era utilizado para o voo, pois a mera timidez e humildade não pode oferecer completa adoração, deve haver obediência ativa e prontidão de coração para o serviço. Assim, eles têm quatro asas para adoração e duas para energia ativa; quatro para esconder-se e duas para ocupar em serviço. Podemos aprender com eles que vamos servir a Deus melhor quando somos mais profundamente reverentes e humildes em Sua Presença. A veneração deve ser em proporção maior do que o vigor, a adoração deve exceder a atividade.

 

Estar como Maria aos pés de Jesus seria mais preferível para Marta do que o muito serviço, e assim deve a reverência sagrada tomar o primeiro lugar e o serviço enérgico seguir no seu devido tempo. Os anjos atendem os Seus mandados, ouvindo Sua voz e, assim, eles se superam. Nossa excelência deve estar na mesma direção: a união da adoração com o trabalho nas devidas proporções. A cobertura do rosto é tão necessária quanto o voo. O flamejar é tão seráfico na cobertura de seus pés como no alongamento de suas asas. Oremos para que o Senhor nos encha de entusiasmo Divino, que é a obra do Espírito Santo, e assim nos acenda as chamas. E então, quando Ele nos der asas de santa energia, que Ele nos dê mentes humildes, retirando de nós toda vã curiosidade, de modo que não tentemos olhar com os olhos descobertos o grande incompreensível. Oremos para que Ele tire toda ímpia presunção, de modo que não usemos nenhuma bravata orgulhosa, mas cubramos nossos pés na presença solene do Santo. Peçamos a Deus que nos torne preparados para toda boa obra e palavra, prontos para ir a qualquer lugar e em qualquer lugar, quando Ele nos chamar, tendo, por assim dizer, seis asas no serviço de nosso Deus!

 

Novamente, outra parte da visão de Isaías no templo foi a canção perpétua, pois estes seres sagrados continuamente clamavam: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, toda a terra está cheia da sua glória”. Irmãos e irmãs, vamos dar esse brado, para que seja a música da vida de cada um de nós! Adore o santo Deus, a própria perfeição! O que quer que Ele faça com você, bendiga-O e ainda O chame de santo. Não ache falha alguma em Suas dispensações, nunca se atreva a contender com nenhum de Seus caminhos. Santo, santo, santo é Ele em todas as coisas. Na Criação, Providência e Redenção Ele é santo, santo, santo! Louvai-O com ardor! Não se contentem em chamá-lO de santo uma vez, mas se debrucem sobre o tema! Louvai o Senhor com todo o seu poder! Levante de novo e de novo, e de novo a música sacra.

 

Adore não somente o Pai, mas o Filho e o sempre bendito Espírito, que a Trindade na Unidade seja o objeto de sua adoração perpétua:

 

“Santo, santo, santo, Senhor Deus Todo-Poderoso!
De madrugada a nossa canção subirá para Ti!
Santo, santo, santo! Misericordioso e poderoso!
Deus em três Pessoas, bendita Trindade!”.

 

Enquanto você louva a Sua santidade, não se esqueça do Seu poder, mas adore-O como “o Senhor dos Exércitos”. Ele é tão grande quanto Ele é bom, tão alto quanto Ele é santo, tão potente como Ele é puro! Ele criou os céus, a terra e todos os exércitos deles. Legiões de anjos cumprem o Seu mandar! Exércitos de inteligências aguardam a Sua chamada! Todas as forças da Criação, animadas e inanimadas, marcham ao Seu comando! Desde o estrondo do trovão ao voo de um inseto, todas as coisas estão à Sua disposição e convocação. Multidões de aves migram sob Sua direção. Milhares de peixes enchem o mar sob Sua chamada. Nuvens de gafanhotos e lagartas devoram os campos à Sua ordem. Seus exércitos são inumeráveis e todos os seres vivos em seus regimentos são uma parte de Seu acampamento que é muito grande.

 

Homens, também, queiram ou não, serão subservientes ao Seu domínio supremo. Seus exércitos e Suas marinhas cumprem Seus decretos, mesmo quando eles acham que não. Ele é o Senhor de todos! Exultem nisto e encham seus corações de coragem por causa disto. E então, medite, para que você possa sentir um espírito missionário, nessa última parte da canção, “Toda a terra está cheia da Sua glória”, pois realmente é assim, em certo sentido. “Senhor dos exércitos é a plenitude de toda a terra”. Deus é glorioso em todo o mundo! O Céu e a terra estão cheios da majestade da Sua glória. Tudo O adora, exceto essa criatura errante e rebelde, o homem! Inverta esta atribuição, pois pode ser lida assim, como um desejo: “Que toda a terra se encha com a Sua glória”. Leia-a, por favor, como se fosse uma profecia: “Toda a terra se encherá de Sua glória”, e então prossigam, ó servos do Altíssimo, com esta decisão: que em Suas mãos vocês serão o meio de cumprir a profecia, espalhando o conhecimento de Seu nome entre os filhos dos homens! A terra é do Senhor e toda a sua plenitude, e Ele deve reinar sobre ela. Você vai sucumbir à moderna teoria de que o mundo nunca se converterá a Deus? A história humana acabará com o triunfo do Diabo sobre a Igreja de Deus? O Senhor desistirá da presente batalha do bem contra o mal com os homens fracos como instrumentos? As condições do conflito serão mudadas por completo? O Espírito Santo falhará até que um reino terreno seja estabelecido para o Senhor Jesus?

 

O Evangelho nunca se espalhará entre as nações? Cristo voltará para um mundo pagão não iluminado, com Maomé, o falso profeta, ainda invicto e a prostituta de Roma ainda sobre as suas sete colinas e todos os ídolos em seus lugares? A batalha que agora glorifica a Deus pela fraqueza do homem será travada de outra maneira? Você pode acreditar nisso se quiser, e ir para a cama de sua preguiça inglória! Mas eu acho que há algo mais digno de fé do que isso, ou seja, que Deus será vitorioso na atual batalha e no presente conflito! Por Sua Igreja, Sua Palavra e Seu Espírito, Ele quer conquistar a vitória! Pelo testemunho de homens fracos e falíveis para o Evangelho de Sua graça, Ele quer conquistar os poderes das trevas!

 

Por quase 2.000 anos, nosso Senhor ficou de pé a pé com Satanás e Ele não terminará esta luta até que dê ao Seu adversário uma queda mortal! Então o brado subirá de um mundo resgatado: “Aleluia! Aleluia! Pois reina o Senhor Deus Onipotente”. Nossas orações nunca se acabarão até que vejamos o desejo do piedoso Davi cumprido, quando ele disse: “Que toda a terra se encha com Sua glória! Amém e amém. Aqui terminam as orações de Davi, filho de Jessé”. Nós estamos aguardando e trabalhando para essa consumação e acreditamos que vamos presenciá-la, embora pareça improvável, especialmente agora, quando as nações estão convertendo os nossos missionários, em vez de os missionários converterem os pagãos! Tivemos bispos se transformando em Zulus, em vez de Zulus em Cristãos e vários outros casos menos conhecidos! Mas nós ainda acreditamos na conquista do mundo, porque acreditamos na onipotência de Deus. Nada menos do que “o domínio de mar a mar” ousamos pedir em oração ou procurar no serviço de nosso Senhor Jesus! Os ídolos devem ser totalmente abolidos! Erro e pecado devem fugir diante da luz da verdade e da santidade de Deus! Os confins da terra devem ainda ver a salvação do nosso Deus e toda a terra deve ser preenchida com a Sua glória!

 

II. Tornemos agora os nossos pensamentos para A VISÃO DA ORDENAÇÃO. Este homem, Isaías, tinha que prosseguir em nome de Ywahwé, mas a fim de preparar-se para tão alto privilégio, ele deveria passar por um processo peculiar, mas necessário. Ele foi trazido a um estado em que, para o juízo humano, parecia desqualificá-lo para toda utilidade futura, esmagando sua coragem e deixando-o como uma cana quebrada. Por causa da visão gloriosa que ele teve, não restou nenhuma força nele. Ele sentiu-se como o mais indigno e menos que nada.

 

Na Presença de Deus, ele gritou: “Ai de mim! Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros”. “Ai, ai, ai”, diz ele, “o ai tomou posse de minha alma. Estou destruído por Ele”. Sim, querido irmão, e este é o nosso caminho para o sucesso. Deus nunca fará nada conosco até que Ele tenha, em primeiro lugar, nos desfeito! Devemos ser feitos em pedaços e passar por um processo muito parecido com a destruição, e então seremos recém-formados de acordo com um molde mais nobre, mais adequado para ser utilizado pelo nosso grande Senhor. Não vou lamentar se cada irmão aqui chamado para a obra do Senhor sentir-se incapaz de continuar e lamentar diariamente sua incapacidade, sua indignidade e fracasso! É bom para nós sermos lançados ao pó. O descer para ser quebrado, esmagado, moído, transformado em pó é necessário, pois este é o caminho para ser fortalecido no Senhor e na força do Seu poder! A morte de si mesmo é a vida da graça Divina. Quando somos fracos, então somos fortes. Só poderemos subir para tarefas mais nobres ao nos esvaziarmos de toda autossuficiência e nos enchermos do Espírito todo-suficiente de Deus! Observe-se, em seguida, que ele fez uma confissão do pecado enquanto se achava prostrado. Ele disse: “Eu sou um homem de lábios impuros”. Por que ele lamentou a incircuncisão de seus lábios, em vez do mal do seu coração? Foi em parte porque ele desejava juntar-se aos serafins em sua canção, mas sentiu seus lábios impróprios. E mais, porque ele era um profeta e, portanto, seus lábios eram os instrumentos do seu ofício e ele estava mais consciente do pecado aonde sentia mais a necessidade da graça. Eu não sei se Isaías já tinha retido qualquer parte da verdade de Deus, ou se tinha falado em numa tonalidade inadequada, ou se, em seu trabalho de profeta ele tinha sido infiel em alguma coisa, mas ele sentiu suas deficiências. Não havia nada nele que você e eu pudéssemos para criticar, mas ele viu. Ele sentiu!

 

E qual será o ministro, enviado por Deus que, ao examinar seu ministério não sente que é um homem de lábios impuros? Muitas e muitas vezes nossa alma diz, “Oh, o que estes meus lábios dizem! São estúpidos e não falam coisas retas. Oh, se em vez de carne eles fossem chamas, para que pudéssemos deixar cair uma torrente ardente de persuasões, súplicas e solicitações que corressem em meio a uma multidão de homens como fogo em palha seca!”. Mas não é assim conosco. Somos muitas vezes frios e sem vida e por isso nos lamentamos porque temos lábios impuros. Quem, que já tenha visto a glória de Deus, ou o amor de Cristo, se recusaria a fazer esta confissão?

 

E, então, este homem de Deus sentiu, também, um profundo senso do pecado do povo no meio do qual habitava. Ele gritou: “Eu habito no meio de um povo de lábios impuros”. Eu não acho que um homem pode ser um bom missionário se ele pisca para o pecado que o rodeia. A menos que isso feda em suas narinas. A menos que faça sua alma ferver com santa indignação. A menos que, como Paulo, o seu coração esteja comovido em si mesmo, como ele pode falar como deveria, a mensagem do seu Deus? A familiaridade com o mal muitas vezes tira a sensibilidade. Homens facilmente deixam de chorar sobre o pecado que está sempre diante de seus olhos. Você pode olhar para as superstições de Roma até o ponto de quase admirar o espetáculo! E eu suponho que você possa admirar os templos pagãos até que a majestade de sua arquitetura possa fazer você esquecer a infâmia de sua finalidade.

 

Mas não deve ser assim! Devemos sentir que vivemos no meio de um povo de lábios impuros e devemos suportar os seus pecados em nossos corações, nos arrependendo por eles, se eles não se arrependerem, e quebrar os nossos corações por eles porque seus corações são como granito contra o seu Deus. Somente em tal estado de espírito estaremos aptos a prosseguir em nome de Deus. E você percebe que ele tinha um santo temor sobre si por causa da Presença Divina? Você vê como ele curvou-se porque seus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos? Oh, favorecido servo de Deus! Isaías, você é honrado acima de seus companheiros, para contemplar o trono de Deus e a glória! O que você e eu não daríamos para que pudéssemos estar no templo, olhar por dentro da porta e ver a fumaça, e ter algum vislumbre do Resplendor? Mas Isaías nunca exultou com isso. Pelo contrário, ele clamou: “Ai de mim!”. Não há nenhum pensamento da dignidade para a qual a visão maravilhosa o levantou, no profundo do pó ele grita: “Estou perdido, porque vi o Rei, o Senhor dos Exércitos!”.

 

Agora, este senso de temor da Presença Divina é necessário para fazer um homem servir ao Senhor apropriadamente e de forma aceitável. Esqueçam que Deus é tudo em torno de vocês, esqueçam que vocês vivem em Sua Presença e são Seus servos; saiam de perto dEle e vocês podem ser descuidados, vocês podem restringir o seu zelo e suas consciências podem estar à vontade. Mas deixe um homem sentir que Deus o vê e deixe-o saber que ele está sob a Sua orientação imediata e ele será despertado de uma vez para fazer a vontade do Senhor na terra assim como é feita no Céu! Ele vai empregar todas as suas energias, porque Deus deve ser servido com o nosso melhor! Mas estará consciente de que, quando ele fez o seu melhor, ele ficou aquém da glória de Deus, e ele será muito humilde, como deveriam ser aqueles que estão diante de tal Presença.

 

Oh, Senhor Jesus, por Teu Espírito Santo dá-nos o senso avassalador da Tua presença! Se assim fizeres, seremos uma tenda cheia de adoradores, em primeiro lugar, e de trabalhadores depois, e adoraremos e trabalharemos para Ti com alegria. Nesta segunda parte da visão do Profeta, a coisa mais notável é a maneira pela qual Deus encontrou e removeu as enfermidades do Seu servo. Seus lábios impuros eram seu grande impedimento. Aonde ele mais precisava de poder, ele mais sentiu a sua enfermidade, e assim veio um serafim com as pinças de ouro, ou apagadores, e tomou uma brasa viva do altar e tocou os lábios dele com ela. O que isto significa? Nós temos a explicação: “Sua iniquidade foi tirada e seu pecado purificado”.

 

A comunhão com o grande Sacrifício, a aplicação de uma das brasas que consumiram o sempre bendito Jesus é o caminho para tornar os nossos lábios prontos para pregar! Acredito que a maioria dos meus queridos ouvintes tem a aplicação da brasa viva em seus corações, de modo a terem sido purificados, pois acreditamos nAquele que morreu por nós e estamos descansando em Seu grande sacrifício. Mas, a fim de estar preparado para o serviço, precisamos ter essa brasa nos tocando novamente até sentirmos o fogo. Precisamos de comunhão com as dores e aflições de Cristo! Precisamos sentir como se nós, também, desejássemos ser consumidos pelos outros, como Ele foi consumido por nós! O amor desinteressado que O fez morrer tem que vir e influenciar-nos, para que possamos estar dispostos a morrer pelos outros. Precisamos apenas disso.

 

Será que vocês não sentiram alegria em seus companheiros, no outro dia, quando vocês leram sobre os pobres homens no poço e de seus salvadores? Alguém se regozijou de que alguns homens pudessem apresentar tal heroísmo. “Não podemos fazer mais nada”, disseram alguns, “é morte certa entrar no poço novamente. Nós não podemos salvar os pobres coitados e é inútil arriscar a vida sem razão”. Os bravos homens que tinham labutado nas entranhas da terra, encontrando-se na presença de uma morte quase certa, poderiam muito bem ter ficado para trás, mas não os corajosos galeses. Um disse: “Se é a morte ir e salvá-los, eu irei, com morte ou sem morte”, e, em seguida, outros vieram e disseram que iriam também. Se eu estivesse lá eu estaria pronto para chorar, porque, sendo totalmente inexperiente no ofício de mineiro, eu seria impotente para ajudar. Mas não lhes faltariam os meus mais sinceros aplausos nem as minhas orações mais ardentes, ou qualquer outra coisa que eu pudesse fazer.

 

Certamente, desde que Jesus Cristo morreu por nós, precisamos ser tocados por um pouco do mesmo zelo para com o resgate de outros da ruína eterna. A brasa do altar onde Ele foi consumido deve ser colocada sobre nós para que possamos nos sentir dispostos a fazer qualquer sacrifício por Seu amor e pelas almas dos homens! Esse toque dos lábios foi o modo do Senhor acender no Profeta as chamas onde era necessário o fogo. Ele precisava de lábios cheios com as tristezas de Cristo e ardentes de amor às almas dos homens, e ele teve tais lábios concedidos pelo seu Deus, e assim estaria pronto para ir e pregar em nome do Senhor. Aqui, então, está a verdadeira ordenação para um trabalhador Cristão!

 

Você deve ser nada, deitado no pó com a confissão do pecado, e você deve ser purificado pelo grande sacrifício do Calvário e sua língua levada a contar a história porque você sentiu tal misericórdia real, tal graça indizível, de modo que se você não falar sobre isso, as próprias pedras da rua clamarão contra você! Você precisa disto para sua preparação e se você tem isso, meu irmão, você obteve a sua ordenação do grande Pastor e Bispo da sua alma, e você não precisa de nenhuma outra!

 

III. Quando um homem está preparado para o trabalho sagrado, ele não demora muito antes de receber uma comissão. Chegamos, então, a pensar no CHAMADO DIVINO. Eu sinto em minha alma, embora não consiga falar, uma simpatia para com Deus, pois o próprio Deus teve de clamar do Seu trono, “A quem enviarei?”. Ai, meu Deus, não há voluntários para o Seu serviço? O quê? Todos estes sacerdotes e filhos de Arão, nenhum desses aceitará a missão? E todos estes levitas, nenhum deles se oferecerá? Não, nem um sequer. Ah, é grave, grave além de todo pensamento, que deve haver tais multidões de homens e mulheres na Igreja de Deus, que, no entanto, parecem incapazes de ser enviados para a obra do Mestre, ou nunca se oferecem para ir, e Ele tem que clamar, “a quem enviarei?”.

 

O quê? De todos estes salvos, nenhum mensageiro disposto para as nações! Onde estão os Seus ministros? Será que nenhum deles quer cruzar os mares para as terras pagãs? Aqui estão milhares de nós que trabalham em casa. Nenhum de nós é chamado para ir para o estrangeiro? Será que nenhum de nós levará o Evangelho às regiões mais além? Nenhum de nós sente-se obrigado a ir? Será que a Voz Divina apelará aos nossos milhares de pregadores e não encontrará resposta, e mais uma vez Ele clama, “A quem enviarei?”. Aqui estão multidões de Cristãos professos ganhando dinheiro, enriquecendo, comendo a gordura e bebendo a doçura; e não há um para ir por Cristo? Homens viajam para o exterior para o comércio, eles não vão por Jesus? Eles até mesmo arriscam a vida no meio das neves eternas, não existem heróis para a Cruz? Aqui e ali, um jovem, talvez com pequenas qualificações e sem experiência, oferece-se, e ele pode ou não pode ser bem-vindo. Mas pode ser verdade que a maioria dos jovens Cristão educados, inteligentes, estão mais dispostos a deixar que as nações sejam condenadas do que deixar os tesouros do mundo passar para outras mãos? Infelizmente, por um motivo ou outro, (não questionarei os motivos), o próprio Deus pode olhar sobre toda a Sua Igreja e, não encontrando voluntários, pode proferir o brado comovente: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”.

 

Mas havia os serafins de seis asas. Por que o Senhor não os enviou? Ah, irmãos e irmãs, Ele poderia ter feito, mas não está de acordo com a ordem da dispensação do Evangelho, pois a Ele agradou, pela loucura da pregação, salvar os que creem, e os pregadores devem ser homens como o resto da humanidade. É grande condescendência de Sua parte que Ele escolheu homens, e aos anjos Ele não pôs em sujeição o mundo por vir do qual estamos falando. Mas Ele deu esta honra a nós, colocando Seu tesouro em vasos de barro para que a excelência do poder seja toda Sua. Devemos regozijar-nos nisso, mas é triste, infinitamente triste, que, dentre os milhares de serafins dispostos, o clamor de Deus deve vir aos homens que não querem: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós”.

 

Chamo a sua atenção, mais uma vez, para o fato de que esta é a voz do único Deus e é, também, a pergunta da Sagrada Trindade: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”. O Pai, o Filho e o Espírito assim questionam-nos, a tríplice Voz não deve ser considerada? Observe o determinado tipo de homem a quem essa voz está buscando. Ele é um homem que deve ser enviado, um homem sob impulso, um homem sujeito à autoridade; “A quem enviarei”. Mas é um homem que está disposto a ir, um voluntário, alguém que, no íntimo do seu coração, se alegra em obedecer, “Quem irá por nós?”. Que estranha mistura é essa! “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho”, e ainda “tomar a liderança do rebanho de Deus, não por constrangimento, mas espontaneamente”. Impulso irresistível e alegre escolha e compulsão Onipotente e anelo alegre mui misteriosamente combinam! Temos que ter uma mistura destes dois!

 

 Eu não sei como eu poderia colocar em tantas palavras essa maravilhosa sensação de liberdade e impulso avassalador, de necessidade e liberdade, mas a nossa experiência entende o que a nossa língua não pode expressar. Estamos dispostos e ainda um poder está sobre nós. Estamos dispostos no dia do poder de Deus, surgindo tão livremente como as gotas de orvalho do ventre da manhã e ainda como produto do poder Divino, como elas são. Assim deve ser um servo de Deus. Eu me pergunto se eu ecoo a voz de Deus, esta manhã, se encontrará em meio a milhares de pessoas nesta casa e os milhares que podem ler esta palavra, algumas respostas amorosas em pelo menos alguns corações escolhidos? “A quem enviarei?”. É a voz de Ywahwé, “E quem há de ir por nós?”. É a voz do Cordeiro! É a voz do Pai amoroso! É a voz do sempre bendito Espírito!

 

Será que ninguém saltará neste momento e livremente oferecer-se á a si mesmo? Devo falar em vão? Ah, isso seria uma coisa leve; a voz do céu seria em vão? A criança Samuel responde, “Eis-me aqui, pois tu me chamaste”, e não irá um homem crescido responder à voz do Eterno? Deixo isso com os vossos corações e consciências.

 

IV. Agora vem o último ponto, e esta é A RESPOSTA SÉRIA. A resposta de Isaías foi: “Eis-me aqui; envia-me”. Eu acho que vejo nessa resposta uma consciência do seu ser em uma determinada posição que ninguém mais ocupou, e que o levou a dizer: “Eis-me aqui”. Não havia mais ninguém no templo. Ninguém mais viu essa visão e, portanto, a ele a voz do Senhor veio de uma só vez e, pessoalmente, como se não houvesse outro homem em todo o mundo. “Eis-me aqui”.

 

Agora, irmãos e irmãs, se em algum momento o campo missionário carece de trabalhadores, (é uma coisa triste que assim seja, mas ainda assim é), não deve este fato fazer com que cada homem olhe para si mesmo e diga: “Onde estou eu? Que posição ocupo nesta obra de Deus? Posso não ser colocado exatamente onde eu estou, porque posso fazer o que os outros não podem?”. Alguns de vocês, rapazes, principalmente, sem os laços de família para mantê-los no país; vocês, sem uma igreja grande em torno de si, ou não tendo, ainda, mergulhado no mar dos negócios; vocês, eu digo, que estão de pé onde, no ardor do seu primeiro amor, vocês podem apropriadamente dizer: “Eis-me aqui”. E se Deus dotou você com qualquer riqueza, lhe deu qualquer talento e o colocou em uma posição favorável, você é o homem que deveria dizer: “Talvez eu tenha chegado ao reino para um momento como este. Posso ter sido colocado onde eu estou, de propósito, para que eu possa prestar ajuda essencial para a causa de Deus”.

 

“Aqui, de qualquer forma, estou; eu sinto a presença do Deus glorioso. Vejo a orla de Suas vestes enquanto Ele Se revela a mim. Eu quase ouço o bater das asas seráficas enquanto percebo quão perto o Céu está da terra e eu sinto em minha alma que devo me entregar a Deus. Sinto em meu próprio coração a minha dívida para com o Cristo de Deus. Eu vejo a necessidade das nações. Eu amo-as por causa de Jesus. A brasa ardente está tocando meus lábios até agora, aqui estou eu! Tu me colocaste onde estou! Senhor, me aceite como eu sou e me use como Tu queres”. Que o Espírito Divino influencie alguns de vocês que amam muito o meu Senhor, até vocês sentirem tudo isso.

 

Então você observará que ele fez uma entrega total de si mesmo. “Eis-me aqui”. Senhor, eu sou o que sou por Sua graça, mas aqui estou eu. Se eu sou um homem de um talento, aqui estou eu. Se eu sou um homem de dez, aqui estou eu. Se no vigor da juventude, aqui estou eu. Se de idade mais madura, aqui estou eu. Tenho firmeza? Aqui estou. Falta-me habilidades? No entanto, eu não fiz a minha própria boca, nem criei minhas fraquezas. Aqui estou. Assim como eu sou, como eu me entreguei ao Seu amado Filho para ser resgatado, então eu me entrego, de novo, para ser usado para Sua glória, porque sou redimido e não sou de mim mesmo, mas comprado por bom preço.

 

“Aqui estou”. Isaías entregou-se ao Senhor completamente, pois sua missão era tão cheia de tristeza. Ele não ganharia os homens, mas selaria os seus destinos colocando diante deles a verdade de Deus, que eles estavam prontos para rejeitar. Lemos: Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado” [Isaías 6:9-10]. Graças a Deus a nossa tarefa não é tão difícil! O Espírito de Deus está conosco e homens são transportados das trevas para a luz. Não deveríamos estar ainda mais ansiosos para ir?

 

É um ponto de grande importância, um argumento mui eloquente. Não recusem sentir o seu poder, mas ofereçam-se a Deus, vendo que Ele lhes chama para o trabalho mais feliz e abençoado que Ele, Ele mesmo, poderia lhes convocar. Em seguida, vem a oração de Isaías para autoridade e unção. Se lermos esta passagem, retamente, não devemos sempre jogar a ênfase sobre a última palavra, “me”, mas ler, também, isso, “Eis-me aqui, envia-me”. Ele está disposto a ir, mas ele não quer ir sem ser enviado, e por isso a oração é: “Senhor, envia-me. Rogo-Te, por Tua infinita graça, qualifica-me! Abra a porta para mim e para dirigir os meus caminhos. Eu não preciso ser forçado, mas eu gostaria de ser encomendado. Eu não peço que me obrigues, mas peço orientação. Eu não iria de minha própria cabeça fazer o Teu serviço. Envia-me, pois, ó Senhor, se eu puder ir! Guia-me, me ensina, me prepara, e fortalece-me”. Há uma combinação de vontade e santa prudência: Eis-me aqui; me envie”.

 

Tenho certeza de que alguns de vocês estão ansiosos para ir para o meu Senhor e Mestre aonde quer que Ele os nomeie. Não se afastem, peço-vos, irmãos, não façam acordo com Deus. Digam, “Eis-me aqui; envia-me onde Tu quiseres, para a região mais selvagem, ou até mesmo para as garras da morte. Eu sou Teu soldado, me coloque na frente da batalha se quiseres, ou manda-me deitar nas trincheiras. Dê-me galantemente a liderança do meu regimento, ou dê-me a silenciosa tarefa de minar as fundações da fortaleza do inimigo. Usa-me como Tu queres. Envia-me e eu irei. Entrego tudo a Ti. Somente aqui estou eu, Teu servo disposto, inteiramente consagrado a Ti”.

 

Esse é o espírito missionário correto e que Deus Se alegre em derramá-lo sobre todos vós e sobre o Seu povo em todo o mundo. A mim me parece que, se uma centena saltar e cada um exclamar: “Eis-me aqui; envia-me”, não seria de admirar. Pelo amor e feridas e morte de Cristo. Por sua própria salvação. Por sua dívida para com Jesus. Pela terrível condição dos pagãos e por esse terrível Inferno cuja boca escancarada está diante deles, não seria necessário vocês dizerem: “Eis-me aqui; envie-me”? O navio está destruído, os marinheiros estão perecendo, eles estão se agarrando aos destroços da melhor forma possível, eles estão sendo lavados um a um! Meu Deus, eles morrem diante dos nossos olhos e ainda há o bote salva-vidas novo e em bom estado. Precisamos de homens! Homens que manejem o barco! Aqui estão os remos, mas nunca um braço para usá-los! O que deve ser feito? Aqui está o barco galante, capaz de saltar de onda em onda, mas homens são necessários! Não há nenhum? Somos todos covardes? Um homem é mais precioso do que o ouro de Ofir.

 

Agora, meus bravos irmãos, quem pulará e tomará um remo por amor a Jesus e salvará os homens que estão morrendo? E vocês, mulheres corajosas, vocês que têm o coração como o de Grace Darling, não vão envergonhar os retardatários e enfrentar a tempestade por amor às almas em perigo de morte e do Inferno? Levem a sério o meu apelo, pois é o apelo de Deus! Sentem-se e ouçam o triste, ainda que majestoso apelo: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”. E, em seguida, respondam: “Prontos, sim, prontos! Prontos para qualquer coisa que o nosso Redentor nos chamar”. Que aqueles que O amam, pois percebem à sua volta o terrível sinal de extrema necessidade do mundo, clamem em uma agonia de amor Cristão: “Eis-me aqui; envie-me!”.