“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação.” (1 Tessalonicenses 4:3)
A palavra santificação significa consagrar e separar para uso sagrado. Por conseguinte, são pessoas santificadas as que estão separadas do mundo e separadas para o serviço de Deus. Santificação tem uma parte negativa e outra positiva.
- A parte negativa consiste na remoção do pecado. O pecado é comparado ao fermento, que leveda; e à lepra, que contamina. A santificação remove “o velho fermento” (1 Coríntios 7). Embora não tire a existência do pecado, no entanto, elimina o amor a ele.
- A parte positiva, que é a purificação espiritual da alma; que na Escritura é chamada de “renovação da nossa mente” (Romanos 12:2), e a “coparticipação da natureza divina” (2 Pedro 1:4). Os sacerdotes sob a Lei não eram apenas lavados numa grande pia, mas também adornados com um glorioso vestuário (Êxodo 28:2); assim também a santificação não só lava do pecado, mas adorna com pureza.
O que é santificação?
É um princípio da graça produzido de forma salvífica, pelo qual o coração se torna santo e feito segundo o coração de Deus. Uma pessoa santificada tem não só o nome de Deus, mas também Sua imagem. Na exposição da natureza da santificação, mostrarei as seguintes sete posições:
(1) A santificação é algo sobrenatural e é divinamente infundida. Estamos poluídos por natureza, e Deus toma para si a prerrogativa da limpeza: “Eu sou o Senhor que vos santifica” (Levítico 21:8). As ervas daninhas crescem por si mesmas, no entanto as flores são plantadas. A santificação é uma flor, resultado da plantação do Espírito, daí que é chamada “a santificação do Espírito” (1 Pedro 1:2).
(2) A santificação é algo intrínseco; encontra-se principalmente no coração. Ela é chamada de “o ornamento do homem encoberto no coração” (1 Pedro 3:4). O orvalho molha a folha, a seiva está escondida na raiz. Similarmente, a Religião de alguns consiste somente nas coisas externas, mas a santificação está profundamente enraizada na alma. “No oculto me fazes conhecer a sabedoria” (Salmos 51:6).
(3) A santificação tem seu aspecto extenso: ela se espalha por todo o homem. “O Deus de paz vos santifique em tudo” (1 Tessalonicenses 5:23). Como a corrupção original depravou todas as faculdades — “Toda a cabeça está doente, todo o coração fraco”, nenhuma parte está sã, como se toda a massa de sangue estivesse corrompida, assim, a santificação abrange toda a alma. Após a Queda, houve ignorância na mente; mas devido à santificação, nós somos “luz no Senhor” (Efésios 5:8). Após a Queda, a vontade depravou-se; não havia apenas impotência para o bem, mas também obstinação. Na santificação, há uma maleabilidade abençoada na vontade; ela simboliza e harmoniza-se com a vontade de Deus. Após a Queda, os afetos foram deslocados para objetos errados; na santificação, eles são transformados em uma doce ordem e harmonia, a tristeza é colocada sobre o pecado, o amor sobre Deus e a alegria no Céu. Assim, a santificação se espalha tanto quanto a corrupção original; ela vai ao longo de toda a alma: “o Deus de paz vos santifique em tudo”. Não é uma pessoa santificada, quem apenas é bom em alguma parte, senão quem é santificado em tudo como um todo; portanto, nas Escrituras, a graça é chamada de “novo homem”, não um novo olho ou uma nova língua, mas um “novo homem” (Colossenses 3:10). Um bom Cristão, embora seja santificado em parte, no entanto, ele é santificado em todas as partes.
(4) Santificação é algo intenso e ardente. Qualitates suint in subjecto intensivo [Suas propriedades ardem dentro do crente]. “Fervorosos no espírito” (Romanos 12:11). Santificação não é uma forma morta, mas está inflamada em zelo. Chamamos de água quente, quando esta chega ao terceiro ou quarto grau; desta maneira, santo é aquele cuja Religião é aquecida a tal ponto que seu coração se consome por amor a Deus.
(5) A santificação é algo belo. Faz Deus e os anjos caírem em amor por nós. “Os ornamentos de santidade” (Salmos 110:3). O que o sol é para o mundo, a santificação é para a alma, embelezando-a e adornando-a aos olhos de Deus. Aquilo que faz com que Deus seja glorioso é necessário que também faça em nós da mesma forma. Santidade é a joia mais brilhante da Divindade. “Glorioso em santidade” (Êxodo 15:11). A santificação é o primeiro fruto do Espírito; é o início do Céu na alma. A santificação e glória diferem apenas no grau: a santificação é a glória em semente, e glória é a santificação em flor. A santidade é a quintessência da felicidade.
(6) A santificação é algo permanente. “Sua semente permanece nele” (João 3:9). Aquele que é verdadeiramente santificado, não pode cair daquele estado. De fato, a santidade aparente pode ser perdida, as cores podem ser removidas; a santificação pode sofrer um eclipse. “Deixaste o teu primeiro amor” (Apocalipse 2:4). A verdadeira santificação é uma flor da eternidade. “A unção que vós recebestes permanece em vós” (1 João 2:27). Aquele que é verdadeiramente santificado não pode mais cair do que os anjos, que são fixos em suas órbitas celestes.
(7) A santificação é progressiva. Ela está em crescimento; ela é comparada a uma semente que cresce: primeiro a erva brota, depois a espiga, depois o milho maduro na espiga; assim os que já são santificados podem ser mais santificados (2 Coríntios 7:1). A justificação não admite graus; um crente não pode ser mais eleito ou justificado do que ele já é, mas ele pode ser mais santificado do que ele o é. A santificação sempre está progredindo, como o sol da manhã, que brilha gradualmente até ao meridiano completo. Diz-se do conhecimento que cresce e da fé que aumenta (Colossenses 1:10; 2 Coríntios 10:15). Um Cristão está continuamente adicionando um côvado à sua estatura espiritual. Não acontece conosco o que aconteceu com Cristo, que recebeu o Espírito sem medida; pois Cristo não poderia ser mais santo do que era. Temos o Espírito apenas em medida, e a nossa graça ainda pode ser aumentada. Como Apeles, que depois de haver pintado um quadro, ainda estava aprimorando-o com o seu pincel. A imagem de Deus está desenhada em nós, mas imperfeitamente, portanto, devemos ainda ser melhorados e pintados com cores mais vivas. A santificação é progressiva; se não cresce, é porque ela não está viva. Assim, você pode ver a natureza da santificação.
Trecho da Obra “Santificação“, pelo Puritano Thomas Watson.
Sobre o autor
Thomas Watson
O doce Puritano Thomas Watson nasceu 1620, estudou em Cambridge (Inglaterra). Em 1646, iniciou um pastorado de dezesseis anos em Londres. Em 1651, foi aprisionado com alguns outros ministros evangélicos, tendo sido liberto em 30 de junho de 1652 e reintegrado formalmente ao púlpito de sua igreja.
Watson continuou a exercer seu ministério particularmente, quando encontrava oportunidade. Quando sua saúde decaiu, retirou-se para Barnston, em Essex, onde morreu repentinamente, enquanto orava em secreto. Foi sepultado em 28 de julho de 1686.
Suas ilustrações práticas, doçura no ensino e fidelidade bíblica são cativantes. O seu Body of Pratical Divinity (Compêndio de Teologia Prática), foi publicado postumamente em 1692, composto de 176 sermões.