Sermão Nº 872. Um sermão pregado na manhã de Domingo, 23 de maio de 1869. Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo.” (Filipenses 1:6)
Os perigos que acompanham a vida espiritual são do tipo mais terrível; a vida de um Cristão é uma sequência de milagres. Veja uma faísca permanecer no meio do oceano, veja uma pedra pendurada no ar, veja a saúde florescer em uma colônia de leprosos e o cisne branco em os rios sujos, e você vê um retrato da vida Cristã. A nova natureza é mantida viva entre as garras da morte, conservada pelo poder Divino contra a destruição instantânea, pois não poderia continuar por meio de nenhum poder menor do que o Divino. Quando o Cristão instruído olha em seu redor, ele se vê como uma pomba indefesa voando para o seu ninho, enquanto contra ela dezenas de milhares de flechas são atiradas. A vida Cristã é como o voo frenético daquela pomba, enquanto segue em seu caminho entre as flechas mortais do inimigo e, por um milagre permanente, escapa ilesa. O Cristão iluminado vê a si mesmo como sendo um viajante de pé no caminho estreito de um cume elevado, à direita e à esquerda há abismos insondáveis que podem destruí-lo; se não fosse pela graça Divina — que faz seus pés como os pés da corça, de modo que ele é capaz de saltar sobre os montes — ele teria muito antes caído para a sua perdição eterna. Infelizmente, meus irmãos e irmãs, temos visto muitos professos da religião caírem assim!
É o grande e permanente sofrimento da igreja Cristã que muitos no meio dela se tornam apóstatas; é verdade que eles não pertencem verdadeiramente a ela, mas antes não era possível saber disso. Não poucas de suas estrelas mais brilhantes foram engolidas pela noite. Aqueles que pareciam mui prováveis de serem árvores frutíferas na vinha de Cristo acabaram por ser obstáculos no solo ou como árvores venenosas, pingando veneno em torno de si mesmas. O jovem Cristão, portanto, se ele é observador, teme após afivelar o seu cinto em meio às felicitações de amigos, ele pode retornar da batalha vergonhosamente derrotado. Ele não se orgulha porque, como um cavaleiro galante, ele coloca seu cinto reluzente, mas enquanto ele afivela seu capacete e toma a sua espada, ele teme voltar para o acampamento com seu escudo danificado e seu elmo arrastado no pó. Para tal pessoa consciente dos perigos espirituais e com receio de que não seja derrotado por eles, a doutrina do texto produzirá um grande e valioso encorajamento. Se formos ajudados a expor a doutrina da perseverança final dos santos, de modo a recomendar esta verdade de Deus aos seus entendimentos e confirmá-la em suas almas, teremos o maior prazer no coração, porque a verdade fará vocês felizes, fortes e gratos!
Sem mais prefácio, vamos expor as palavras do apóstolo, a fim de mostrar detalhadamente a razão de sua confiança; depois, em segundo lugar, apoiaremos essa confiança por novos argumentos; e, em seguida, em terceiro lugar, procuraremos extrair determinadas aplicações excelentes a partir da doutrina que o texto indubitavelmente ensina.
I. Primeiro, vamos expor as próprias palavras do apóstolo.
Ele fala sobre uma boa obra iniciada em “todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos”. Com isso, ele intenciona a obra da graça Divina na alma, que é a operação do Espírito Santo. Esta é eminentemente uma boa obra, uma vez que nada opera senão o bem no coração que é o sujeito da mesma. Trazer um homem da escuridão para a luz é bom; livrá-lo da escravidão da sua corrupção natural e torná-lo livre para ser um homem do Senhor é bom; é bom para ele; é bom para a sociedade; é bom para a igreja de Deus; é bom para a glória do próprio Deus. É tão bom que aquele que a recebe torna-se o herdeiro de todo o bem, e além disso, o favorecedor e autor de mais bem! Este bem é o melhor que um homem pode receber. Fazer com que um homem seja saudável no corpo e rico em propriedades, educar sua mente e treinar suas faculdades; todos estas coisas são boas, mas em comparação com a salvação da alma, eles afundam em insignificância! A obra da santificação é uma boa obra no sentido mais elevado possível, uma vez que influencia um homem por meio de bons motivos, o leva às boas obras, o introduz entre os homens de bem, dá-lhe a comunhão com os bons anjos, e por fim, o faz semelhante ao próprio bom Deus.
Além disso, a vida interior é uma boa obra, porque ela flui e origina-se da pura bondade de Deus. Como é sempre bom mostrar misericórdia, assim é preeminentemente bom da parte de Deus agir sobre homens pecadores e caídos, a fim de renová-los, segundo a imagem dAquele que os criou. A obra da graça tem sua raiz na bondade Divina do Pai. É semeada pela bondade abnegada do Filho e é diariamente regada pela bondade do espírito Santo. Origina-se bem e se desenvolve bem, e por isso é totalmente boa. O apóstolo chama de “obra” e no sentido mais profundo é de fato um trabalho converter uma alma. Se o Niágara de repente fosse feito subir em vez de sempre correr para baixo da sua altura rochosa, não seria um milagre como mudar a vontade vil e as paixões ferozes dos homens; tornar branco o etíope ou remover as manchas do leopardo é, proverbialmente uma dificuldade, mas estas são apenas obras superficiais, pois renovar a própria essência da humanidade e remover o pecado e sua influência do coração do homem, isto é não apenas o dedo de Deus, mas o erguer de Seu braço. A conversão é uma obra comparável à criação de um mundo. Somente Aquele que formou os céus e a terra poderia criar uma nova natureza. É uma obra incomparável, é única e inigualável, vendo que o Pai, o Filho e o Espírito todos devem cooperar nisso: para a implantação da nova natureza no Cristão são necessários o decreto do Pai Eterno, a morte do sempre bendito Filho e a plenitude da operação do adorável Espírito. É um trabalho de fato! Os trabalhos de Hércules eram apenas ninharias em comparação com este; pois, matar leões e hidras, e limpar estábulos de Augias, tudo isso é brincadeira de criança em comparação com renovar um espírito reto na natureza caída do homem!
Observe que o apóstolo afirma que esta boa obra foi iniciada por Deus. O apóstolo não acreditava, evidentemente, naqueles poderes notáveis que alguns teólogos atribuem ao “livre arbítrio”; ele não era um adorador daquela moderna Diana dos Efésios, pois ele declara que a boa obra foi iniciada por Deus, de onde deduzo que o menor desejo gracioso que finalmente floresce na flor perfumada da oração fervorosa e da fé humilde é a obra de Deus. Não, pecador, você nunca estará na frente de Deus! O primeiro passo para acabar com a separação entre o filho pródigo e seu pai é tomado pelo pai, não pelo filho! A meia-noite nunca busca o sol; poderia antes a escuridão encontrar dentro de si os raios da luz ou o Hades desenvolver as sementes do Céu ou a Geena descobrir em seu fogo os elementos da luz eterna, assim também poderia acontecer que a natureza corrupta extraísse de si mesma as sementes da vida nova e espiritual ou o anelo pela santidade e por Deus! Eu tenho ouvido ultimamente, para minha profunda tristeza, certos pregadores falando de conversões como consistindo em desenvolvimentos. Então, a conversão não é senão o desenvolvimento de graças escondidas dentro da alma humana? Não é! Tal teoria é uma mentira completa! Não há dentro do coração do homem nenhum grão ou vestígio de bem espiritual. Quanto a todo bem, ele está alienado, insensível, morto e ele não pode ser restaurado a Deus, senão por uma ação do alto que está totalmente fora dele mesmo! Se você pudesse desenvolver o que está no coração do homem, você produziria um diabo, pois esse é o espírito que opera nos filhos da desobediência! Desenvolva essa mente carnal que é inimizade contra Deus e você não pode por qualquer possibilidade ser reconciliado com Deus, e o resultado é o Inferno. O fato é que a vida Divina se apartou do homem natural; o homem está morto em pecado e a vida deve vir até ele a partir do Doador da vida ou ele permanecerá morto para sempre. A obra que há na alma de um verdadeiro Cristão não é de sua própria iniciativa, mas é iniciada pelo Senhor!
É ainda implícito no texto que Aquele que começou a obra deve desenvolvê-la. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará”. O apóstolo não diz muito, contudo ele se faz entender, ou seja, que Deus deve realizar esta obra ou então ela nunca será realizada. Ao longo da estrada do pecado para o Céu, desde a primeira taça de vinho até a entrada alegre para o banquete, a música e a dança dos espíritos glorificados, cada passo que damos deve ser através da capacitação que provém da graça Divina. Cada bem que há em um Cristão, não apenas começa, mas é aperfeiçoado e é consumado pela força da graça de Deus por meio de Jesus Cristo. Se meu dedo estiver no ferrolho de ouro do paraíso e meu pé estiver em sua soleira de jaspe, eu não daria o último passo, de modo a entrar no Céu a menos que a graça Divina que me impulsionasse e concedesse plena e justamente completar a minha peregrinação! A salvação é uma obra de Deus e não do homem! Esta é a teologia que Jonas aprendeu na grande universidade do grande peixe, na universidade do grande abismo; seria muito bom que muitos de nossos teólogos atuais fossem enviados para esta universidade! A erudição humana, muitas vezes, incha-se com a ideia da suficiência humana, mas aquele que é educado e disciplinado na faculdade de uma experiência profunda e levado a conhecer a vileza de seu próprio coração, enquanto ele olha de perto para os seus próprios ídolos, confessará que do início ao fim a salvação não é do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia!
Mas o que o apóstolo principalmente intenciona dizer no verso é que esta boa obra que é iniciada nos crentes por Deus, a qual só pode ser feita por Deus, certamente será assim continuada. Observe que ele se declara confiante nesta verdade de Deus. Por que Paulo precisa escrever de forma tão positiva: “tendo por certo isto mesmo”? Certamente, como um homem inspirado, ele poderia simplesmente ter escrito: “Aquele que em vós começou a boa obra”; mas ele nos dá, além da inspiração do Espírito Santo, a confiança que tinha sido operada nele como o resultado de sua própria fé pessoal. Ele mesmo havia sido mui graciosamente preservado e ele tinha sido favorecido pessoalmente com tão visões claras do caráter de Deus e do Senhor Jesus Cristo, de modo que se sentia bastante confiante de que Deus não deixaria Sua obra inacabada. Ele sentiu em seu próprio espírito que, não obstante, o que qualquer um pudesse afirmar, ele estava totalmente assegurado e ficaria com a verdade e a defenderia com toda a força, a saber, que Aquele que começou a boa obra em Seu povo certamente a completará no devido tempo.
Na verdade, queridos amigos, há um bom argumento nas palavras do apóstolo, pois se o Senhor começou a boa obra, por que Ele não a aperfeiçoaria e completaria? Qual seria o motivo para que Ele detivesse a Sua mão? Quando um homem começa uma obra e a deixa inacabada é frequentemente por falta de poder; os homens dizem da torre inacabada: “Este homem começou a edificar e não pôde acabar” [Lucas 14:30]. A falta de planejamento ou de capacidade deve ter parado a obra, mas você pode supor que o Senhor, o Onipotente, pararia uma obra por causa de dificuldade imprevista que Ele não seria capaz de superar? Ele vê o fim desde o início; Ele é todo-poderoso; Seu braço não está encolhido; nada é demasiado difícil para Ele; seria uma vil imaginação sobre a sabedoria e o poder de Deus crer que Ele começou uma obra que não a conduzirá, no devido tempo, a uma conclusão feliz! Deus não começou a obra na alma de qualquer homem sem a devida deliberação e conselho; desde toda a eternidade Ele sabia as circunstâncias em que esse homem seria colocado, e Ele previu a dureza do coração humano e a inconstância do amor humano. Se, então, Ele considerou sábio começar, como pode-se supor que Ele mude e altere a Sua determinação? Não pode haver nenhuma razão concebível para Deus deixar inacabada tal obra; o mesmo motivo que ditou o início ainda deve estar em operação, e Ele é o mesmo Deus, portanto, deve haver o mesmo resultado, ou seja, Ele continuará a fazer o que começou.
Onde há um caso de Deus iniciar qualquer obra e deixá-la incompleta? Mostre-me por uma vez um mundo abandonado e lançado fora incompleto! Mostre-me um universo fora da roda do Grande Oleiro, com a forma em esboço, o barro meio moldado e a forma deformada por incompletude! Aponte-me, peço, a uma estrela, um sol, um satélite — não, eu vou desafiá-lo na terra — aponte-me uma planta, uma formiga, um grão de pó que tenha sobre si qualquer aparência de incompletude! Tudo que o homem completa, mesmo que ele capriche tanto quanto quiser, quando é colocado sob o microscópio, está apenas mais ou menos acabado, porque o homem só chegou a um certo estágio e não pode ir além disso. Está perfeito aos seus olhos fracos, mas não é a perfeição absoluta; porém, todas as obras de Deus são concluídas com cuidado maravilhoso; Ele, com precisão molda o pó da asa de uma borboleta, como aqueles corpos celestes que alegram a noite silenciosa. No entanto, meus irmãos e irmãs, alguns gostariam de nos convencer que esta grande obra da salvação das almas é iniciada por Deus, e, em seguida, abandonada e deixada incompleta; e que haverá espíritos perdidos para sempre, embora sobre os quais Espírito Santo uma vez exerceu Seu poder santificador, por quem o Redentor derramou Seu sangue precioso e a quem o Pai Eterno uma vez olhou com olhos de amor complacente! Eu não acredito em tal coisa! A repetição de tais crenças coagula o meu sangue com horror!
Tais crenças soam como uma blasfêmia! O que o Senhor começa, Ele completará e se Ele coloca Sua destra em qualquer obra, Ele não parará até que a obra esteja consumada, se for atacar Faraó com pragas Ele, finalmente, afogar seus cavaleiros no Mar vermelho ou se for conduzir o Seu povo pelo deserto, como ovelhas Ele finalmente os trará à terra que mana leite e mel. Nada faz Yahwéh Se desviar de Sua intenção. “Porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”. “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” [Números 23:19; Malaquias 3:6]. Há muita argumentação nas simples palavras que o apóstolo usa. Ele está confiante no que conhece do caráter de Deus, que Aquele que começou a boa obra em Seus santos a aperfeiçoará até o dia de Cristo. Observe o tempo mencionado no texto, a boa obra deve ser aperfeiçoada no dia de Cristo, que supomos ser a segunda vinda de nosso Senhor. O Cristão não será aperfeiçoado até que o Senhor Jesus Cristo desça do Céu com alarido, com a trombeta de arcanjo e voz de Deus. Mas, você diz, e sobre aqueles que morreram antes de Sua vinda? O que ocorre com eles? Eu respondo que sua alma é, sem dúvida, aperfeiçoada e eles são feitos idôneos para participar da herança dos santos na luz. Mas a Sagrada Escritura não considera um homem assim perfeito quando a alma é aperfeiçoada, ela considera o corpo como sendo uma parte dele mesmo e assim o corpo não subirá novamente da sepultura até a vinda do Senhor Jesus; nesta ocasião nós seremos revelados e seremos semelhantes a Cristo quando Ele for revelado em Sua Segunda Vinda. Aquele dia da Segunda Vinda é definido como o dia da conclusão da obra que Deus começou, quando estaremos sem mancha nem ruga ou coisa semelhante; corpo, alma e espírito verão a face de Deus de forma irrepreensível e para sempre nos alegraremos com os prazeres que estão à destra de Deus. É por isso que nós olhamos para a frente: Deus, que fez com que nos arrependêssemos, também nos santificará completamente; Aquele que fez as lágrimas fluírem, também enxugará todas as lágrimas dos mesmos olhos; Aquele que fez com que fôssemos ao pó e à cinza da penitência, ainda nos vestirá com o belo linho branco que é a justiça dos santos! Aquele que nos trouxe à cruz, também nos levará até a coroa! Deus que nos fez olhar para Aquele que nós traspassamos e nos lamentar sobre Ele, também nos levará a ver o Rei em Sua beleza e a terra que está mui distante. A mesma querida mão que feriu e depois sarou, nos acariciará nos últimos dias! Aquele que olhou para nós quando estávamos mortos em pecado e nos chamou para a vida espiritual, também continuará a nos considerar com favor até que nossa vida seja consumada na terra onde não há morte, nem tristeza e nem gemidos! Essa é a verdade de Deus que o texto evidentemente nos ensina.
Sinto-me obrigado a fazer uma colocação aqui, embora saia um pouco do tema. É o seguinte: Admira-me muito aqueles de nossos irmãos e irmãs Cristãos que sustentam a doutrina da perseverança final dos cristãos e ainda assim permanecem na Igreja Anglicana, pois sua permanência nela é totalmente inconsistente com tal crença! Você dirá: “Como? A doutrina da perseverança final não é ensinada nos 39 artigos da Igreja Anglicana?”. Sem dúvida, é; mas é uma contradição com o que é ensinado no Catecismo do Livro de Oração Comum. No Catecismo, e em partes da liturgia, somos claramente ensinados que as crianças são nascidas de novo e feitas membros de Cristo no Batismo. Agora, ser regenerado ou nascido de novo é certamente o início de uma boa obra Divina na alma; e, em seguida, de acordo com este texto e de acordo com a doutrina da perseverança final, uma obra tão Divina que foi iniciada, certamente será aperfeiçoada até o dia de Cristo. Ora, ninguém será tão imprudente em afirmar que a boa obra que de acordo com o Livro de Oração Comum é iniciada em uma criança em seu assim chamado “batismo”, é sem sombra de dúvida aperfeiçoada no dia de Cristo; pois, infelizmente, vemos essas pessoas regeneradas bebendo, mentindo, praguejando; nós as vemos na prisão, condenados por todos os tipos de crimes; temos conhecido até os que são enforcados! Se eu fosse um clérigo evangélico e cresse na doutrina da perseverança final, deveria ao mesmo tempo renunciar a uma igreja que ensina uma mentira tão intolerável quanto essa: que há uma obra da graça iniciada em uma criança inconsciente em todos os casos quando a água é aspergida pelas mãos sacerdotais! Nenhuma tal obra é iniciada e, consequentemente, nenhuma tal obra é aperfeiçoada; tudo que envolve a questão do batismo infantil, tal como é praticado na Igreja Episcopal Anglicana, é uma perversão da Escritura, um insulto a Deus, uma paródia da verdade de Deus e um engano para as almas dos homens! Que todos os que amam o Senhor e odeiam o mal, saiam desta igreja que cada vez mais apostata, para que não sejam participantes das pragas que virão sobre ela no dia de sua visitação!
II. Em segundo lugar, devemos mostrar o fundamento adicional para nossa crença na doutrina da perseverança final dos santos.
Nosso primeiro fundamento deve ser o ensino expresso das Sagradas Escrituras. Porém, meus queridos amigos, citar todas as passagens bíblicas que ensinam que os santos perseverarão em seu caminho, seria citar uma grande parte da Bíblia, pois, ao meu ver, a Escritura está repleta desta verdade de Deus. E eu já disse muitas vezes que se alguém conseguisse me convencer de que a Escritura não ensina a perseverança dos crentes, eu rejeitaria a Escritura completamente, como se Ele nada ensinasse, como sendo um livro incompreensível para um homem simples, pois, de todas as doutrinas, esta parece ser a mais evidente. Leia o nono verso do capítulo 17 do Livro de Jó e ouça o testemunho do patriarca: “E o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá crescendo em força”. Não é: “o justo será salvo, faça o que quiser”; isso nós nunca cremos e nunca creremos, mas sim: “o justo seguirá o seu caminho”, seu caminho de santidade, seu caminho de devoção, seu caminho de fé, ele seguirá neste caminho e ele crescerá no mesmo, pois aquele que tem as mãos puras “irá crescendo em força”, como o hebraico o coloca, ou como se dissesse: “será cada vez mais forte”. No Salmo 125, leia o primeiro e segundo versos: “Os que confiam no SENHOR”, esta é a descrição especial de um crente, “serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. Assim como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do seu povo desde agora e para sempre”. Aqui há dois exemplos de espigas retirados daqueles ricos feixes que podem ser encontrados no Antigo Testamento.
Quanto ao Novo Testamento, quão peremptórias são as palavras de Cristo, no capítulo 10 de João, verso 28: “E dou-lhes a vida eterna”, não a vida temporal que pode morrer, “e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. O apóstolo nos diz, no capítulo 11 de Romanos, verso 29, que “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”. Ou seja, sejam quais forem os dons que o Senhor dá, Ele nunca muda de ideia quanto a tê-los concedido, de modo a tomá-los de volta; e qualquer que Ele chama, não importa quem seja, Ele nunca Se arrepende; não há inconstância na misericórdia Divina; Seus dons e vocação são sem arrependimento. Seguindo aquela temível passagem no sexto capítulo de Hebreus, que tem suscitado tantos questionamentos, você encontra o apóstolo, que parece à primeira vista ter ensinado que os crentes possam apostatar, nos versos 9 e 10 negando qualquer tal ideia! “Mas de vós, ó amados”, ele diz, “esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis”. O apóstolo Pedro, que não costuma administrar muito conforto aos santos, mas lida muito severamente com a hipocrisia, colocou isso muito fortemente no primeiro capítulo de sua primeira epístola, no quinto verso, onde ele diz sobre todos os eleitos segundo a presciência de Deus, que “mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo”.
Irmãos e irmãs, no capítulo 54 de Isaías, que eu li para vocês nesta manhã, com muitos outros para o mesmo efeito, dificilmente podem conceber ser verdade que os filhos de Deus podem ser lançados fora e que Deus possa abandonar aqueles a quem que de antemão conheceu! A Bíblia parece ser lançada fora e despojada de sua vida, se o amor imutável de Deus for negado! A palavra de Deus é colocada na eira, e somente o joio é recolhido e o trigo é lançado fora, se você tirar dela o seu constante e incessante ensino de que o “caminho dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito” [Provérbios 4:18].
Mas, além dos testemunhos expressos da Escritura, temos todos os atributos de Deus para apoiar esta doutrina, pois se os que creem em Cristo não são salvos, então certamente todos os atributos de Deus estão em perigo; se Ele começa e não finaliza a Sua obra todo o Seu caráter é desonrado. Onde está Sua sabedoria? Por que Ele começará o que Ele não tinha a intenção de concluir? Onde está o Seu poder? Os espíritos malignos não dirão para sempre “que ele não conseguiu fazer o que Ele não fez”? Não será uma constante zombaria ao longo dos corredores do Inferno que Deus começou a obra e, em seguida, a parou? Eles não dirão que a obstinação do pecado do homem era maior do que a graça de Deus, que era muito difícil para Deus dissipar a dureza do coração humano? Não haveria um insulto sobre a onipotência da graça Divina? E que diremos da imutabilidade de Deus, se Ele lançar fora aqueles a quem ama? Como pensaremos que Ele não muda? Como o coração humano alguma vez será capaz de olhar para Ele como imutável, se depois de amar, Ele odiar? E, meus irmãos e irmãs, onde estará a fidelidade de Deus às promessas que Ele fez uma e outra vez, e assinou e selou com juramentos por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta? Onde estará a Sua graça se Ele lançar fora aqueles que confiam nEle, se depois de ter nos extasiado com goles de amor, Ele não nos leve a beber do manancial? É completamente em vão para nós, portanto, confiar, se Sua promessa pode ser esquecida e Sua mente pode ser mudada. Portanto, não precisamos falar dos Ebenézers no passado como algo que nos consola para o futuro, caso o Senhor já tenha rejeitado os Seus filhos, pois o passado não é garantia do que Ele pode fazer nos próximos dias! Mas a veracidade de Deus em relação à Sua promessa, a fidelidade de Deus para com o Seu propósito, a imutabilidade de Deus em Seu caráter e o amor de Deus em Sua essência, todos estes provarão que Ele não abandona e nem abandonará a alma para a qual Ele olhou com misericórdia, até que a grande obra seja consumada.
Além disso, como pode ser que o justo, afinal, caia da graça e pereça, se você recordar a doutrina da expiação? A doutrina da expiação, como nós a sustentamos e cremos que esteja na Escritura, é esta: Jesus Cristo prestou à justiça Divina uma satisfação pelos pecados de Seu povo; Ele foi punido no lugar deles. Agora, se Ele assim o fez e eu não creio que quaisquer outras expiações tenham algum valora, se Ele realmente foi o nosso sacrifício vicário satisfatório, então, como o filho de Deus poderia ser lançado no Inferno? Por que ele seria lançado lá? Seus pecados foram colocados sobre Cristo, o que o condenaria? Cristo foi condenado em seu lugar! Em nome da justiça eterna, a qual permanecerá, mesmo que o céu e a terra estremeçam e se abalem, como pode um homem por quem Cristo derramou Seu sangue ser tido como culpado diante de Deus quando Cristo levou a sua culpa e foi punido em seu lugar? Aquele que crê deve certa e finalmente ser levado à glória, a expiação exige isso e uma vez que ele não pode ir à glória sem a perseverança na santidade, ele deve então perseverar ou então a expiação é uma coisa que não tem eficácia e força.
A doutrina da justificação também prova isso. Todo homem que crê em Jesus é justificado de todas as coisas das quais ele não poderia ser justificado pela lei de Moisés. O apóstolo Paulo diz em relação a um homem que é justificado como sendo completamente livre da possibilidade de acusação. O som do trovão da santa jactância do apóstolo não permanece em seus ouvidos: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus”? Se nada pode ser dito em acusação a eles; se não há acusador, quem os condena? Se Deus considera os crentes justos e retos por meio da justiça de Seu Filho amado; se eles revestiram o Seu manto maravilhoso, o belo linho branco da justiça do Salvador, onde há espaço para que algo seja feito contra eles, até o ponto de que eles sejam condenados? E se não são acusados e nem condenados, eles devem perseverar em seu caminho e ser salvos!
Mais ainda, meus irmãos e irmãs, a intercessão de Cristo no Céu é uma garantia da salvação de todos os que confiam nEle. Lembrem-se do caso de Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” [Lucas 22:31-32]. E esta oração de Cristo preservou Pedro e o fez chorar amargamente depois de ter caído em pecado. Semelhante oração do nosso Pastor sempre vigilante é feita por todos os Seus eleitos; dia e noite, Ele roga, vestindo o peitoral como nosso grande Sumo Sacerdote diante do trono de Deus e se Ele intercede pelo Seu povo, como eles perecerão, a menos que, de fato, a Sua intercessão perdesse a sua autoridade?
Além disso, não se lembram de que cada crente é dito ser “um com Cristo”? “Porque somos membros do seu corpo”, diz o apóstolo, “da sua carne, e dos seus ossos” [Efésios 5:30], e a imaginação de vocês é tão depravada que podem imaginar Cristo, a Cabeça, unido a um corpo no qual os membros frequentemente decaem; mãos e pés e os olhos, talvez, apodrecendo, de modo que haja a necessidade que membros novos sejam criados em seu lugar? A metáfora é demasiada atroz para que eu ouse continuar a falar sobre ela! “Porque eu vivo, e vós vivereis” [João 14:19], esta é a imortalidade que abrange todos os membros do corpo de Cristo; não há temor de que o justo volte para o pecado e se entregue às suas antigas corrupções, pois a santidade que está em Cristo, pelo poder vital do Espírito Santo, penetra todo o sistema do corpo espiritual e o menor membro é preservado por meio da vida de Cristo!
Novamente, a vida interior do Cristão é uma garantia de que ele não voltará ao pecado. Leia passagens como estas: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pedro 1:23). Agora, se essa semente é incorruptível, vive e permanece para sempre, como dizem alguns entre vocês que os justos se tornam corruptos e caem da graça? Ouçam o Mestre: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. Como vocês dizem, então, que essa água que Jesus dá seca e deixa de fluir? Ouçam-nO mais uma vez: “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre” (João 6:57-58). A vida que Jesus implanta no coração de Seu povo está vinculada à Sua própria vida, “porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3:3). “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” [Colossenses 3:4]. O Espírito Santo habita em nós! “Não sabeis que os vossos corpos são templos do Espírito Santo?” [1 Coríntios 3:16]. Ó amado, o próprio Deus morreria se o Cristão perecesse, uma vez que a vida de Deus é eterna e é essa vida que Cristo nos deu! “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” [João 10:28].
Deixo a doutrina com os seus entendimentos, a Palavra de Deus está em suas mãos e que o Espírito de Deus coloque para além da dúvida em sua alma que é mesmo assim. Lembrem-se, não é a doutrina de que todo aquele que crê em Cristo será salvo, faça o que ele fizer, mas a doutrina é esta: que todo homem que crê em Jesus receberá o espírito de santidade e será conduzido no caminho da santidade, de força em força, até que ele venha à perfeição que Deus operará em nós na vinda de Seu Filho querido.
III. Por último, precisamos extrair certas inferências úteis desta doutrina.
Uma das primeiras é esta: há muito nesta verdade de Deus que traz conforto a um filho de Deus que caminha hoje em trevas e não vê a luz. Você sabe que há algum tempo atrás o Senhor Se revelou a você; lembre-se dos tempos quando as promessas eram peculiarmente doces, quando a Pessoa de Cristo era revelada à sua visão espiritual em toda a Sua glória; então, amado, se alguma temporária depressão do espírito agora o oprime, se alguma tribulação pessoal está ocorrendo com você, ouça as palavras: “Eu, o Senhor, não mudo” [Malaquias 3:6]. Acredite que mesmo quando Ele esconde a Sua face, Ele ainda ama você! Não O julgue por providências exteriores, julgue-O pelos ensinamentos de Sua Palavra. Faça como os navegantes fazem quando eles remam para trás para conduzirem o barco para frente; obtenha conforto do passado, tome tições de consolo dos altares de ontem para inflamar os sacrifícios de hoje:
“Determinado a salvar, Ele viu ao longo do seu caminho,
Quando como escravo cego de Satanás, você brincava com a morte;
E Ele ensinou você a confiar em Seu nome,
E, até agora, Ele lhe guardou, e isso para envergonhá-lo?”
Esta doutrina deve sugerir a todos os Cristãos a necessidade de diligência constante, de modo que ele persevere até o fim. “O quê?”, diz alguém, “esta é uma inferência a partir da doutrina? Eu tinha pensado o inverso, pois, se o crente perseverará em seu caminho, qual a necessidade de diligência?”. Eu respondo que o mal-entendido encontra-se no opositor. Se o homem perseverará em santidade até o fim da vida, certamente há a necessidade de que ele deve ser mantido em santidade e a doutrina que ele será preservado é um dos seus melhores meios para produzir o resultado desejado. Se algum de vocês deve estar bem certo de que em uma determinada linha de negócio você juntaria uma grande soma de dinheiro, faria com que a sua confiança o fizesse negligenciar o negócio? Isso o levaria a ficar na cama o dia todo ou de algum modo o faria abandonar a sua posição? Não, a garantia de que você seria diligente e prosperaria, faria você ser diligente!
Tomarei emprestarei uma metáfora dos esportes da época, como Paulo fez em relação aos jogos da Grécia: Se qualquer piloto de corridas estivesse confiante de que estava destinado a vencer, isso o faria diminuir a velocidade? Napoleão acreditava ser ele mesmo o filho do destino, isso paralisou as suas forças? Para mostrar que a certeza de algo não impede um homem de correr atrás dele, mas sim anima-o, vou contar-lhes uma anedota minha, que aconteceu comigo quando eu era apenas uma criança de cerca de 10 anos ou menos. O sr. Richard Knill, de feliz e gloriosa memória, um zeloso trabalhador para Cristo, sentiu-se movido, não sei porque, a me levar colocar em seu colo na casa do meu avô e proferir palavras como estas, que foram estimadas pela família e por mim, especialmente: “Esta criança”, disse ele, “pregará o Evangelho, e ele pregará para as maiores congregações do nosso tempo”. Eu cri em sua palavra e minha posição aqui hoje é, em parte, motivada por tal crença. Isso não impediu a minha diligência para estudar, porque eu cria que eu estava destinado a pregar o Evangelho a grandes congregações, de modo algum, estas palavras contribuíram para que isso se tornasse realidade! Orei, busquei e me esforcei tendo sempre presente a Estrela de Belém diante de mim que viria o dia em que pregaria o Evangelho. Semelhantemente, a crença de que um dia seremos perfeitos nunca impede qualquer verdadeiro crente de ser diligência, antes é o maior incentivo possível para fazer o homem lutar contra as corrupções da carne e buscar perseverar de acordo com a promessa de Deus.
“Bem, mas”, diz alguém, “se Deus garante a perseverança final a um homem, por que ele precisa orar por isso?”. Senhor, ele ousaria orar por isso se Deus não o tivesse garantido? Não me atrevo a orar por aquilo que não é prometido, mas assim que está prometido, então, peço por isso! E quando eu vejo algo prometido na Palavra de Deus, eu me esforço por isso. “Diga o que quiser”, diz alguém, “você é inconsistente”. Ah, bem, meu caro amigo, somos obrigados a explicar da melhor forma possível, mas não somos obrigados a dar entendimento para aqueles que não têm nenhum! É difícil tentar fazer as coisas parecem claras para os olhos míopes; às vezes, acontecerá que as pessoas não conseguem ver as verdades de Deus que particularmente não querem ver; mas a prática é o principal e espero que por nosso argumento prático provemos que, enquanto aqueles que pensam que eles podem cair da graça correm riscos terríveis, e caem, contudo, aqueles que sabem que não cairão, se eles realmente creram, ainda assim buscam andar com todo cuidado e vigilância! Eu busco viver como se a minha salvação dependesse de mim mesmo, e então, volto para o meu Senhor, sabendo que a salvação absolutamente não depende de mim, em qualquer sentido. Gostaríamos de viver como a doutrina oposta é suposta fazer os homens viverem, que é exatamente como a doutrina Calvinista realmente faz os homens viverem, ou seja, com seriedade de propósito e com graciosa gratidão a Deus — que é, afinal, a influência mais poderosa — por ter assegurado a nossa salvação por meio de Jesus Cristo nosso Senhor.
Outra questão extraída do texto é esta: aprendamos a partir do texto a como perseverar. Irmãos e irmãs, vocês observarão que a razão para o apóstolo crer que os Filipenses perseverariam não era porque eles eram pessoas muito boas e sinceras, mas porque Deus havia começado a obra! Assim, o nosso fundamento para a perseverança deve ser o nosso descanso em Deus. Há um querido irmão sentado aqui nesta manhã, um membro desta igreja, que outrora era um membro de outra denominação de Cristãos; uma noite, quando ele era muito jovem, e, recentemente convertido, ele se ajoelhou para orar e sentiu-se frio e morto, e não orou muitos minutos, porém foi para a cama. Mal deitou, um horror da escuridão veio sobre ele, e disse para si mesmo: “Eu caí da graça”. Tão boa alma ele era e é que se levantou da cama e começou a orar, mas não obteve melhora e às cinco horas da manhã, ele foi até o seu líder de classe! Ele começou a bater na porta e gritou para despertá-lo. “O que você quer?”, disse o líder de classe, quando ele abriu a janela. A resposta foi: “Oh, eu caí da graça!”, “Bem”, disse o líder da classe, “se tiver caído da graça, vá para casa e confie no Senhor”. “Mas”, disse meu amigo, “eu tenho confiado”. Sim, e se ele conhecesse a grande verdade antes, ele não teria sido afetado com tal absurdo como o de ter caído da graça! “Caiu da graça? Então vá e simplesmente confie no Senhor”. Sim, e é isso que todos nós devemos fazer, caídos ou não! Não devemos confiar de modo superficial, mas sempre descansar sobre o querido Cristo que morreu na cruz. “Senhor, se eu não sou um santo, e muitas vezes eu temo que não tenho nada a ver com a santidade, ainda assim, Senhor, eu sou um pecador e Tu morreste para salvar os pecadores e eu me agarrarei a isso! Ó precioso sangue, se eu nunca experimentei o seu poder purificador; se até agora tenho estado em fel da amargura e nos laços da iniquidade, ainda ali está o velho e grande Evangelho da cruz: ‘Quem crer e for batizado será salvo’. Senhor, eu creio hoje, se eu nunca cri antes! Ajude a minha incredulidade”. Esta é a verdadeira teoria da perseverança: é perseverar em ser nada e deixar que Cristo seja tudo! É perseverar em descansar total e simplesmente no poder da graça que há em Cristo Jesus.
Por último, esta doutrina tem uma palavra para os não-convertidos. Eu sei que teve para mim. Se alguma coisa neste mundo me levou ao desejo de ser um Cristão, em primeiro lugar, foi a doutrina da perseverança final dos santos. Eu já tinha visto companheiros de minha infância, um pouco mais avançados do que eu, que para mim eram como padrões de tudo o que é excelente, eu já os havia visto estudando em grandes cidades ou lançarem-se em negócios pessoais, e logo sua excelência moral se foi; em vez de serem exemplos, eles chegaram a ser pessoas contra as quais os jovens foram alertados pela sua preeminência no vício. Este pensamento me ocorreu: “Essa também pode ser minha situação nos próximos anos! Existe alguma maneira pela qual um caráter santo pode ser assegurado para o futuro? Existe alguma maneira pela qual um jovem, tomando cuidado, seja impedido de cair em impureza e maldade?”. E eu descobri que se eu colocasse a minha confiança em Cristo, eu tinha a promessa de que eu perseveraria em meu caminho e cresceria em força! E embora eu temia que eu nunca pudesse ser um verdadeiro crente, e assim obter a promessa cumprida a meu respeito, porque eu era tão indigno, contudo a sonoridade disso sempre me encantou. “Oh, se eu pudesse apenas ir a Cristo e esconder-me como uma pomba em Suas feridas, então eu estaria seguro! Se eu pudesse apenas tê-lO para me lavar dos meus pecados passados, então o Seu Espírito me guardaria do pecado futuro e eu seria preservado até o fim”. Isso não atrai você? Oh, eu espero que haja alguns que serão atraídos por tal salvação como esta! Nós não pregamos nenhum Evangelho frágil que não suportará o seu peso! Não é nenhuma carruagem cujos eixos se quebrarão ou cujas rodas serão retiradas. Este não é um alicerce de areia que pode afundar no dia do dilúvio! Aqui é o Deus eterno comprometendo-Se a Si mesmo por aliança e juramento que Ele escreverá a Sua lei em seu coração; que você não se desviará dEle; Ele irá guardar você para que não vagueie em pecado; mas se por um tempo você se desviar, Ele vai restaurá-lo novamente para os caminhos da justiça! Ó rapazes e moças, venham para cá! Lancem-se em sua porção com Cristo e Seu povo. Confiem nEle! Confiem nEle! Confiem nEle e, então, esta preciosa verdade será sua e esta experiência será ilustrada em sua vida:
“Meu nome das palmas das Suas mãos
A eternidade não apagará!
Gravado em Seu coração permanece
Em marcas de indelével graça!
Sim, eu até o fim perseverarei,
Tão certo quanto o penhor é dado;
Mais felizes, porém não mais seguros,
Estão os espíritos glorificados no Céu.”
Porção da Escritura lida antes de Sermão — Isaías 54.