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5 Lições Aprendidas A Partir da Prática da Disciplina Eclesiástica, por Tom Hicks

Eu tenho pastoreado há mais de dez anos, e creio na prática da disciplina eclesiástica com todo o meu coração. Mas a disciplina eclesiástica tem sido uma das maiores tristezas e pesares da minha experiência pastoral. Eu não gosto de praticar a disciplina eclesiástica, mas acredito que devo fazê-la porque Cristo a ordena (Mateus 18:15-20; 1 Coríntios 5:1-13; Gálatas 6:1; 2 Tessalonicenses 3:13-14) e porque é uma das maneiras pelos quais os pastores são chamados a amar e servir a igreja. A Segunda Confissão Batista de Londres diz com razão: “Ele tem dado [às igrejas] todo aquele poder e autoridade, que é em toda forma necessário para a sua realização naquela ordem no culto e disciplina, que Ele instituiu para que eles observem” [CFB1689 26:7]. Durante vários anos na minha igreja, parecia que tínhamos um caso de disciplina eclesiástica após o outro. Aqui estão algumas das lições que aprendi na prática dessa disciplina.

 

1. Sou um pecador maior do que eu sabia.

 

Eu não estava preparado para a ira que senti quando vi um homem em particular destruindo a sua família. Eu não esperava o medo que senti quando ele me ameaçou. Eu precisei me lembrar da grandeza do meu próprio pecado e da grandeza da graça de Deus antes que eu pudesse ministrar fielmente a graça do Evangelho a ele. Estou convencido de que o amor é a chave para praticar fielmente a disciplina eclesiástica. Confesso que é difícil para mim amar pecadores endurecidos que destruíram as suas consciências e se recusam a ouvir a verdade. É difícil para mim sentir genuína compaixão por alguém que está maltratando a sua família. Mas, isso só é difícil por causa do pecado remanescente em meu próprio coração. Quando eu vejo o meu próprio pecado e percebo que eu poderia ser tão endurecido quanto o pior dos pecadores, e quando eu vejo que a única coisa que me guarda do pecado não arrependido é a grande graça de Deus para comigo em Cristo, só então posso falar a verdade em amor genuíno e sentir sinceramente compaixão e anseio pelas almas dos pecadores endurecidos. Cristo chama pastores para serem pastores amorosos que lidam firmemente com aqueles que põem o rebanho em perigo, mas sempre fazem isso enquanto carregam o fruto do Espírito: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança; como Jesus fez, enquanto esteve pendurado na cruz.

 

2. Qualquer pessoa pode cair em um grande pecado.

 

Eu sempre soube teologicamente que qualquer um pode cair em pecado grosseiro. Davi, um homem segundo o próprio coração de Deus, caiu em terrível pecado com Bate-Seba, e depois matou o marido dela. Paulo disse: “Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica…” (2 Timóteo 4:10). Mas eu não estava preparado para que um dos meus próprios amigos abandonasse a Cristo. Ele estava treinando para o ministério pastoral. Ele estava ansioso para aprender a Palavra de Deus. Eu sabia que ele tinha algum orgulho juvenil, mas na época, não achava que fosse tão sério. Ele adorava ler grandes obras teológicas e conversar sobre elas comigo e seus amigos. Ele falou muito sobre a graça e a salvação em Jesus. Ele pregou em nosso púlpito várias vezes, e as pessoas lhe davam um bom retorno. Muitos responderam ao seu ministério. Nós nos reunimos e oramos juntos muitas vezes. Mas um dia, esse homem abandonou completamente a Cristo. Aconteceu durante a noite, ou assim me pareceu. Um dia, ele parou de vir à igreja, e disse que não cria em Deus e que não amava a sua esposa e ia se divorciar dela. Fui à sua casa para tentar me aproximar dele, e ele exigiu que eu saísse imediatamente. Ele me encarou e ameaçou com sua linguagem corporal. Então, eu tive que fazer uma das coisas mais duras e tristes que já fiz no ministério. Eu tive que conduzir nossa igreja a disciplinar meu amigo. Parecia que eu estava lhe traindo, mas não fazê-lo teria sido trair tanto a Cristo quanto a meu amigo. Depois, tentamos ministrar à sua esposa e aos dois filhos. Ainda sinto falta dele, o amo e oro por ele muitas vezes. Qualquer pessoa pode cair em pecado.

 

3. É possível agir muito rapidamente ou muito lentamente.

 

Bem cedo em meu ministério, eu sempre disse que deveríamos agir devagar na disciplina. Se errássemos, deveríamos errar devido à graça e ao cuidado. E enquanto eu ainda acredito nesse princípio, agora também acredito que é possível agir de modo muito lento no processo da disciplina. Alguns pecados são profundamente prejudiciais a outras pessoas, causando danos no lar e na igreja. A Bíblia ensina que o pecado pode se espalhar como fermento (1 Coríntios 5:6), e deve ser tratado antes que cause muito mal. Às vezes, estive disposto a esperar muito tempo antes de lidar com um caso de pecado, endurecido e impenitência persistentes, e pessoas foram prejudicadas. Aprendi de modo experiencial que os pastores não são apenas chamados para proteger os membros pecadores da congregação, mas também aqueles contra quem o pecado é cometido. Determinar quão rapidamente agir nos passos da disciplina eclesiástica pode ser a coisa mais difícil no ministério pastoral para mim. Se pressiono a disciplina entre os outros pastores e a igreja muito rapidamente, eu posso não dar tempo suficiente para o arrependimento. Se eu me ajo muito devagar, as pessoas podem se machucar. Essa é uma das coisas que, às vezes, me mantém acordado à noite.

 

4. Os pastores precisam conhecer todo o conselho de Deus.

 

O ministério pastoral não é para todos. O ofício de ancião nunca deveria ser considerado como uma posição rotativa na qual todos os homens na igreja podem servir. Deus chama pastores para lidar com as almas e vidas do Seu povo amado, o que significa que eles precisam conhecer todo o conselho de Deus para que possam aplicá-lo sabiamente a pecados particulares e a circunstâncias específicas. Para fazer isso, todo ancião deve entender a Bíblia inteiramente e deve compreender como tudo aponta os pecadores para Jesus Cristo. Um ancião precisa entender a teologia bíblica para si mesmo em primeiro lugar, de modo que seja um homem amoroso e compassivo antes que possa aplicá-la aos outros. Ele precisa conhecer a relação entre a Lei e o Evangelho, que está enraizada nos grandes pactos bíblico-teológicos de obras, redenção e graça. E ele precisa conhecer essas doutrinas de modo prático para que possa tratar as várias enfermidades do pecado que contaminam o coração dos homens. Os pastores precisam conhecer toda a Bíblia para que possam tomar decisões sábias sobre como proceder na disciplina eclesiástica, evitando tanto o autoritarismo quanto a passividade prejudicial. Se forem admitidos ao presbitério homens que não entendem todo o conselho de Deus, que não sejam eles mesmos homens amorosos e graciosos e nem saibam aplicar a Lei e o Evangelho, isso pode causar um grande dano às ovelhas de Cristo.

 

5. Um ministério pastoral completo é de importância vital.

 

Um membro de outra igreja disse uma vez: “Nossos pastores só aparecem quando estamos com problemas por fazermos algo que não deveríamos ter feito”. Essa declaração causou medo ao meu coração. Percebi que em alguns casos, eu só aparecia na vida das pessoas quando elas estavam com problemas. Eu não gosto disso. Eu quero ser um fiel pastor de todo o rebanho, o tempo todo. Estou convencido de que a única maneira de evitar que os pastores sejam legitimamente acusados ​​de “só aparecerem quando as pessoas estão com problemas por causa do pecado” é estar de modo consistente em suas vidas. Não basta que os pastores preguem sermões, liderem à distância e disciplinem as ovelhas desobedientes. Pastores precisam ter membros da igreja em suas casas e construir relacionamentos e amizades verdadeiras com eles. Os pastores precisam fazer a si mesmos acessíveis ​​à igreja e permitir que a igreja tenha contato com as suas famílias. Eles precisam estar disponíveis para conversas nos corredores após os cultos. Eles devem visitar os hospitais e as casas dos membros da igreja. Eles devem se comprometer a realizar casamentos e funerais, empregando suas vidas no ministério para o povo de Deus. Os pastores são chamados a falar do Salvador em todas as circunstâncias da vida, não apenas quando as pessoas estão persistindo no pecado. Somente quando pastores pastoreiam a congregação em um ministério pastoral integral podem evitar ser justamente acusados ​​de “só aparecerem quando as pessoas estão com problemas”, e somente quando pastoreiam a congregação com um ministério pastoral pleno eles estão realmente pastoreando as ovelhas amadas de Deus.