[Introdução e Parte I • Série de pregações ministradas na Congregação Batista Reformada em Belém por ocasião dos 498 anos de Reforma Protestante • Outubro de 2015]
Introdução: A Palavra Divina contra a Cegueira Humana
“Pois, se em verdade e sinceridade usastes com Jerubaal e com a sua casa hoje, alegrai-vos com Abimeleque, e também ele se alegre convosco. Mas, se não, saia fogo de Abimeleque, e consuma aos cidadãos de Siquém, e a casa de Milo; e saia fogo dos cidadãos de Siquém, e da casa de Milo, que consuma a Abimeleque.” (Juízes 9:19-20)
I. INTRODUÇÃO.
Estamos no mês em que a Reforma Protestante completa mais um aniversário. Por isso estou apresentando esta série de estudos. Em 31 de Outubro de 1517 Martinho Lutero publicou as suas famosas noventa e cinco teses. Ali, historicamente iniciou-se o movimento que abalou a Igreja e Sociedade e até hoje tem seus efeitos sobre nós. Mas na verdade este movimento iniciou-se muito antes, pois foi o resultado da Graça de Deus no coração de certos homens, o que pretendo demostrar nestes breves estudos. Meu propósito é mostrar biblicamente qual a natureza, origem e efeitos de uma verdadeira Reforma, e também fazer o mesmo com relação ao que chamarei de Antirreforma, o que evidentemente seria o oposto a Reforma ou algo que a combate frontalmente. Acredito que qualquer comunidade que se chame Cristã está debaixo de uma situação ou de outra. Ou é uma Igreja em Reforma constante, ou está em afastamento de Deus e da Sua Verdade em atitude de Antirreforma. Farei isso num primeiro momento olhando para dois textos em Juízes, procurando mostrar seus ensinos gerais, e em seguida aplicando à questão da Reforma e Antirreforma. Olhemos agora para Juízes 9. Ali se mostra a história de um morticínio abominável e da reação de Deus a esta maldade. Qual a relação disso com a Reforma e Antirreforma? Veremos na continuidade dos estudos. Peço que você leia com atenção Juízes 9.
II. A CEGUEIRA HUMANA.
Ao olharmos para um homem como Abimeleque vemos a demonstração terrível da maldade e cegueira do coração humano. Ele mata seus irmãos e apresenta razões para isso con-vencendo o povo de Siquém a segui-lo. Ele mostra uma aversão, desprezo e ingratidão ao que Deus fizera por seu pai Gideão. Mostra um ódio no coração contra Deus e contra o próximo e um raciocínio cego que tenta justificar tudo isso. Se seguirmos o coração natural será isso que teremos inevitavelmente. Vejamos estas coisas de maneira um pouco mais detalhada:
1. O Desprezo a Deus e Sua Obra:
E Abimeleque, filho de Jerubaal, foi a Siquém, aos irmãos de sua mãe, e falou-lhes e a toda a geração da casa do pai de sua mãe, dizendo: 2 Falai, peço-vos, aos ouvidos de todos os cidadãos de Siquém: Qual é melhor para vós, que setenta homens, todos os filhos de Jerubaal, dominem sobre vós, ou que um homem sobre vós domine? Lembrai-vos também de que sou osso vosso e carne vossa… 5 E veio à casa de seu pai, a Ofra, e matou a seus irmãos, os filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre uma pedra. Porém Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porque se tinha escondido (Juízes 9:1, 2, 5).
No argumento de Abimeleque não vemos nenhuma consideração ao que Deus fizera por seu pai Gideão. E o assassinato de seus irmãos mostra com mais clareza este desprezo. Ele queria dominar sobre o povo sem submissão a Deus. Mas notemos que seu pai não quis isso. Observe: “Porém Gideão lhes disse: Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o Senhor sobre vós dominará” (Juízes 8:23). Gideão não era perfeito. Ele tinha seus pecados. Mas ele temia ao Senhor e não queria dominar sobre o povo, pois Deus era seu Rei. Todavia seu filho Abimeleque não pensava assim. Muito ao contrário, ele queria dominar sobre o povo. Em tudo ele desprezava ao Rei verdadeiro e a obra que fizera por seu pai Gideão. É sempre assim, ou seja, o coração humano despreza a Deus e sua obra. Assim foi com Cristo. Os Seus O rejeitaram (João 1:11). Há aqui a rejeição do Rei, a rejeição de Cristo. Amigos, não nos iludamos. Nosso co-ração sem a graça se rebelará contra o Rei. Se você não for convertido seu coração será sempre rebelde. Saiba claramente desta verdade.
2. Ódio ao próximo:
E veio à casa de seu pai, a Ofra, e matou a seus irmãos, os filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre uma pedra. Porém Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porque se tinha escondido (Juízes 9:5).
O homem que despreza a Deus é o mesmo homem que mata seus irmãos. Estes dois fatores estão sempre unidos nas Escrituras. É impossível amar ao próximo sem amar a Deus. Por isso Cristo resumiu assim os mandamentos: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12:30-31). Toda a união no pecado não é amor, mas um jogo de interesses. Assim acorreu entre Abimeleque e o povo de Siquém. Mas isso se evidencia neste abomi-nável assassinato. Oh leitor, se você não está convertido, então não ama a Deus. Se não ama a Deus você não ama ao próximo. É possível que nunca mate a ninguém, mas em seu coração você é um assassino. Esta maldade está em seu coração e se manifesta em atitudes e palavras que procuram ferir seus semelhantes (Leia: Mateus 5:21-16).
3. Raciocínio Errado:
Falai, peço-vos, aos ouvidos de todos os cidadãos de Siquém: Qual é melhor para vós, que setenta homens, todos os filhos de Jerubaal, dominem sobre vós, ou que um homem sobre vós domine? Lembrai-vos também de que sou osso vosso e carne vossa (Juízes 9:2).
Abimeleque raciocina meramente sobre questões sanguíneas, o que é admitido pelos moradores de Siquém. Baseando-se nisso mata seus oponentes. Evidentemente que este é um argumento inválido e perverso, mas é o resultado do pecado. O pecado no coração leva os homens a raciocinarem de maneira equivocada atribuindo ao mal dos males, que é o próprio pecado, o status de grande bem. Permita-me lembrar-lhe que se você não é convertido o mesmo está lhe acontecendo. O pecado está fazendo você raciocinar errado, impedindo-lhe de ver a maldade de seu coração, desejos e atos. O pecado está se justificando e você está ficando tranquilo. Note a tranquilidade de Abimeleque e dos moradores e Siquém diante a terrível maldade cometida. Cuidado com os raciocínios do pecado!
Contudo desejo também destacar que Abimeleque peca, mas não sozinho. O povo de Siquém peca com ele. Eles desprezam a Deus e sua obra. Eles odeiam aos próximos como Abimeleque. Eles raciocinam errado e justificam-se uns aos outros por suas maldades. Ora, o povo odeia a Deus como Rei, por isso aceita o domínio perverso de Abimeleque. É sempre assim. Ainda hoje os homens se deixa dominar por pessoas que satisfazem o seu ódio a Deus, satisfazem seus desejos pecaminosos. Isso acontece em todos os setores, mas especialmente na vida religiosa. Amigos, se estivermos dominados pelo coração natural, procuraremos homens mentirosos que farão e dirão o que queremos ouvir, isto é, a mentira. Oh terrível cegueira humana!
III. A CONFRONTADORA E ESCLARECEDORA PALAVRA DE DEUS.
“Pois, se em verdade e sinceridade usastes com Jerubaal e com a sua casa hoje, alegrai-vos com Abimeleque, e também ele se alegre convosco. 20 Mas, se não, saia fogo de Abimeleque, e consuma aos cidadãos de Siquém, e a casa de Milo; e saia fogo dos cidadãos de Siquém, e da casa de Milo, que consuma a Abimeleque” (Juízes 9:19-20).
Deus salva Jotão e o levanta para proclamar sua Palavra. Se compararmos o argumento de Jotão com o de Abimeleque veremos a veracidade da Palavra Divina. Ela confronta e esclarece. Jotão conta uma espécie de parábola ilustrando a situação com as árvores. Fala que todas as árvores frutíferas se eximiam de dominar sobre as demais, mas o inútil espinheiro se candidatou. Naturalmente, as frutíferas referem-se a Gideão e o espinheiro a Abimeleque. Ele dominaria, mas nestes termos: “Se, na verdade, me ungis por rei sobre vós, vinde, e confiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano” (Juízes 9:15). Sempre haverá prejuízos quando o ímpio governa. Mas vejamos o que faz a Palavra de Deus:
1. A Palavra Confronta:
Porém vós hoje vos levantastes contra a casa de meu pai, e matastes a seus filhos, setenta homens, sobre uma pedra; e a Abimeleque, filho da sua serva, fizestes reinar sobre os cidadãos de Siquém, porque é vosso irmão (Juízes 9:18).
Ninguém via erro em tudo o que estava acontecendo. Pelo menos ninguém falava nada. Mas Jotão o demostrou, e isso porque estava trazendo a Palavra de Deus. O Senhor não Se dobra ao pecador, mas confronta o seu pecado. Nossa única e suficiente esperança para libertação do engano do pecado é a Palavra de Deus.
2. A Palavra Esclarece:
Agora, pois, se é que em verdade e sinceridade agistes, fazendo rei a Abimeleque, e se bem fizestes para com Jerubaal e para com a sua casa, e se com ele usastes conforme ao merecimento das suas mãos 17 (Porque meu pai pelejou por vós, e desprezou a sua vida, e vos livrou da mão dos midianitas; 18 Porém vós hoje vos levantastes contra a casa de meu pai, e matastes a seus filhos, setenta homens, sobre uma pedra; e a Abimeleque, filho da sua serva, fizestes reinar sobre os cidadãos de Siquém, porque é vosso irmão) — Juízes 9:16-18.
“Fizestes mal a quem fez o bem a vocês”. Essa é a essência do argumento de Jotão. Já o argumento de Abimeleque é: “Sou do mesmo sangue que vocês”. Qual o argumento válido? Qual o argumento de acordo com os fatos? Qual o argumento verdadeiro? É evidente que é o de Jotão. É o argumento de Deus, da Palavra, que leva em conta o Reinado de Deus e o amor ao próximo. A Palavra é esclarecedora, pois tira-nos da falsidade dos argumentos do pecado.
IV. O ODIOSO PECADO.
“Pois, se em verdade e sinceridade usastes com Jerubaal e com a sua casa hoje, alegrai-vos com Abimeleque, e também ele se alegre convosco. 20 Mas, se não, saia fogo de Abimeleque, e consuma aos cidadãos de Siquém, e a casa de Milo; e saia fogo dos cidadãos de Siquém, e da casa de Milo, que consuma a Abimeleque… 56 Assim Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando a seus setenta irmãos. 57 Como também todo o mal dos homens de Siquém fez tornar sobre a cabeça deles; e a maldição de Jotão, filho de Jerubaal, veio sobre eles. (Juízes 9:19, 20, 56, 57).
Deus odeia o pecado e o que peca. Esta é uma verdade clara nas Escrituras, apesar de pouco mencionada em nossos dias. Deus abominou a maldade de Abimeleque e dos moradores de Siquém. O Senhor não os perdoou. O Senhor os condenou. O Senhor os matou. A Ira justa de Deus caiu sobre eles. Isso mostra que o Deus Santo não pode de forma alguma compactuar com o pecado. Isso seria afrontar Sua própria Santidade. Não e não! O pecado é imundo e odioso aos olhos do puríssimo Deus. O Santíssimo Senhor. Lembremos sempre disso e não consideremos o pecado como algo normal e aceitável. Essa história deve nos levar a solenemente admitirmos a odiosidade do pecado aos olhos do Santo Deus, e que Ele pode de forma justa destruir o pecador. Oh, que pensemos seria-mente nisso. Amém!
V. A GRAÇA DE DEUS EM CRISTO.
“Assim Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando a seus setenta irmãos. 57 Como também todo o mal dos homens de Siquém fez tornar sobre a cabeça deles; e a maldição de Jotão, filho de Jerubaal, veio sobre eles” (Juízes 9:56-57).
Deus não perdoou estas pessoas, mas as matou. Isso mostra a justiça Divina, e que é somente pela graça que podemos ser salvos. Graça, graça e graça em Cristo é com o que podemos contar e nada mais. Se Deus por Graça não nos salvar em Cristo, seremos condenados de forma absolutamente justa. Oh, que olhemos então para Ele esperando e oran-do por sua Graça em Cristo. Nada em nós. Tudo nEle!
VI. CONCLUSÃO.
Nosso coração natural é enganoso, pois nele está o pecado. Nele está a cegueira que pro-voca a Ira justa de Deus. Mas A Palavra nos confronta e Ilumina e pela Graça somos salvos. Que assim seja com cada leitor! Amém!
Parte I
“Pois, se em verdade e sinceridade usastes com Jerubaal e com a sua casa hoje, alegrai-vos com Abimeleque, e também ele se alegre convosco. Mas, se não, saia fogo de Abimeleque, e consuma aos cidadãos de Siquém, e a casa de Milo; e saia fogo dos cidadãos de Siquém, e da casa de Milo, que consuma a Abimeleque.” (Juízes 9:19-20)
I. INTRODUÇÃO.
Vamos agora aplicar o texto anterior à questão da Reforma e Antirreforma. Pretendo olhar para a natureza, a origem e o efeito destas coisas nas comunidades ditas Cristãs, o que está relacionado ao que aconteceu no século XVI. Mas pretendo que pensemos especial-mente em nossos tempos. Pode ser que aqui e ali eu faça alguma referência mais direta a algum movimento moderno. Mas o que desejo é apresentar princípios gerais sobre o assunto, de forma a ajudar o leitor, pelas Escrituras, a analisar seu próprio caso, como da comunidade Cristã a qual pertence. Creio que precisamos urgentemente de uma Reforma hoje. Que o Senhor nos ajude e conceda-nos esta Graça. Todavia acredito piamente que já há indício desta obra maravilhosa em nosso meio, o que muito me alegra. Ao Senhor a Glória. Mas vamos às aplicações.
II. DEFINIÇÕES NECESSÁRIAS.
Para melhor compreensão gostaria de definir o que é Reforma e Antirreforma. Pelo estudo anterior creio que as definições vão ficar evidentes. Mas, à medida que avançarmos nos assuntos, penso que ficará mais fácil o entendimento destes conceitos.
1. Reforma:
É uma obra da Graça de Deus no coração do homem, levando-o a ouvir e render-se à Palavra Divina, percebendo o engano e maldade do pecado, a Ira e a Glória de Deus, e a Redenção única em Cristo; tendo, a partir de então, ao Senhor como Rei, vivendo apenas para Sua honra em todas as coisas. Isso faz com que o Cristianismo seja genuíno.
2. Antirreforma:
É a rebelião do coração natural não-regenerado, que odeia a Deus e Sua Palavra, estabelecendo seus próprios caminhos em todas as coisas, mesmo que seja chamado de religião Cristã. Isso produz evidentemente um falso cristianismo.
Cada leitor, juntamente com sua comunidade chamada Cristã, ou está numa situação ou noutra. Evidentemente que se a Reforma é obra da Graça de Deus, devemos clamar continuamente a Ele, e lembrar-nos do perigo constante da Antirreforma, pois mesmo nos convertidos há pecado, e nas comunidades Cristãs sempre há pessoas que nunca foram regeneradas, sendo assim fontes diretas de Antirreforma.
Dada as definições vamos agora aplicar o texto anterior.
III. A REFORMA ILUMINA, ENQUANTO QUE A ANTIRREFORMA OBSCURECE.
Abimeleque e Siquém são exemplos de Antirreforma. O coração humano que odeia a Deus produz profunda cegueira que não consegue ver a maldade do pecado no coração, desejos e obras. Um homem e uma “comunidade cristã” quando dominados pelo coração humano se afastarão da Luz de Deus e não perceberão seus pecados abomináveis. Isso é Antirreforma. Já um homem e uma comunidade, que sejam objetos da Graça de Deus, verão seus pecados e a Redenção plena em Cristo. Isso é Reforma. Reforma é iluminação, enquanto que Antirreforma é obscuridade. Qual é o seu caso e da sua Igreja?
IV. A REFORMA É PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA CONFRONTADORA E ILUMINA-DORA, ENQUANTO QUE A ANTIRREFORMA É APAZIGUAMENTO DO CORAÇÃO NO PECADO.
Na Reforma encontraremos muitos proclamadores como Jotão, homens que confrontam os pecados pela Palavra da Verdade de Deus. Já na Antirreforma encontraremos muitos pro-clamadores como Abimeleque, homens que apresentam discursos dominados pela mentira do pecado, para justificar suas iniquidades e as de seus ouvintes. Quando há Reforma os pregadores proclamam o Evangelho com coragem para condenar o pecado, e os ouvintes ouvem porque querem a verdade. Já na Antirreforma os proclamadores mentem para encobrir o pecado e os ouvintes recebem esta mentira porque desejam ser enganados para manterem suas iniquidades. Pergunto novamente: Qual é o seu caso e de sua Igreja?
V. A REFORMA É A DEMONSTRAÇÃO DO PECADO COMO ODIOSO A DEUS, EN-QUANTO QUE A ANTIRREFORMA É MASCARAR O PECADO.
Na Reforma os “Jotãos” demostram a odiosidade do pecado. Mostram claramente que Deus odeia o pecado e o pecador, e que não há obrigação nEle em perdoar os transgressores. Deus pode de forma justa condená-los, matá-los e mandá-los para o Inferno. Isso fica claro na Reforma, pois nela se proclama a Palavra, como fez Jotão. Já na Antirreforma há o mascaramento do pecado por meio de argumentos falaciosos como o de Abimeleque, que usou a indiferente questão sanguínea para convencer os de Siquém. Na Reforma o pecado é denunciado pela proclamação da Verdade. Na Antirreforma, ao contrário, ele é justificado por argumentos falsos. Mais uma vez: Qual é o seu caso e de sua comunidade?
VI. A REFORMA PROMOVE O VALOR DA GRAÇA EM CRISTO, ENQUANTO QUE A ANTIRREFORMA ENALTECE O MÉRITO HUMANO.
Na Reforma, como na proclamação de Jotão, vê-se que nada merecemos de Deus a não ser Ira justa. Tudo é pela Graça e nada mais. Essa é a mensagem consequente da Reforma diante a maldade do pecado humano contra Deus Santo, Justo e Gracioso. A Reforma reconhece o valor da Graça em Cristo e tira toda a esperança no mérito humano. Já a Antirreforma deixa os homens dominados por discursos que não mostram a maldade do pecado. Isso leva consequentemente à desvalorização da Graça, já que o pecado não é visto como uma coisa tão ruim assim. E agora, eu devo perguntar-lhe mais uma vez: Qual é o seu caso e de sua Igreja?
VII. CONCLUSÃO.
Na Reforma haverá iluminação, confrontação, denúncia do pecado, e o anúncio da Graça em Cristo. Já na Antirreforma, há trevas, apaziguamento e encobrimento do pecado, e enal-tecimento do mérito humano. Na Reforma há Verdade, pois é uma volta à Palavra de Deus, enquanto que na Antirreforma há mentira, pois abandona-se a Palavra. A Reforma é obra da Graça. Já a Antirreforma é fruto do coração pecaminoso dos homens. Deus nos dê Graça. Que venha a Reforma e que ela prossiga entre nós!
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Enganosa Religião da Vontade: Juízes 17 e 18.
“Então ele disse: Os meus deuses, que eu fiz, me tomastes, juntamente com o sacerdote, e partistes; que mais me resta agora? Como, pois, me dizeis: Que é que tens?” (Juízes 18:24)
I. INTRODUÇÃO.
Peço que antes de tudo você leia atentamente os dois Capítulos base desta nossa meditação. Particularmente considero estes textos extremamente solenes, pois mostram até que ponto alguém pode ser sincero e ao mesmo tempo rebelde e enganado. Temos tratado sobre os assuntos da Reforma e Antirreforma e estes Capítulos são de importância crucial para estas questões, porque no âmago está se tratando dobre o que domina um homem, se é seu coração ou Deus. As complicações ou soluções virão da definição desta situação. O que se segue tem seu início nesta questão de domínio e isso refletirá se estamos em Reforma ou Antirreforma. Como anteriormente, trarei primeiramente uma abordagem geral dos capítulos para num segundo estudo fazer aplicações aos nossos temas dominantes.
II. A VONTADE ENGANOSA.
“Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 17:6).
Creio que este texto é a chave para o entendimento destes dois Capítulos. Cada pessoa em Israel fazia o que pensava ser o mais correto. Além disso, agiam assim porque não havia rei em Israel. Não havia um governo central e as pessoas decidiam por si mesmas os seus caminhos. Naturalmente que isso é uma referência direta à liberdade da vontade, à independência, à autonomia humana. E rei se refere a um governo humano, todavia muito mais esse governo representa o Governo de Deus, o Reinado de Cristo, pois Cristo é o Rei tipificado em todo o Antigo Testamento. Assim o que o texto está dizendo é que os homens estavam seguindo suas vontades independentemente da Vontade de Deus.
Isto é bom? Logicamente que não. Todo o texto mostrará as consequências trágicas desta situação. Veremos muitos enganos que levam a ainda mais enganos, e tudo começa com a vontade humana posta em “liberdade”. Dessa forma podemos afirmar que a vontade humana é enganosa. Sei que costumamos ouvir que nossos desejos são o que importa e que bom seria se pudéssemos realizar todos os nossos sonhos. No entanto a Palavra de Deus vai nos informar que a tragédia está em nossos desejos. Deus nos guarde desta Liberdade da Vontade. Se formos deixados a fazer tudo o que quisermos, o fim será a perdição eterna, pois nossos desejos são dominados pelo pecado que é rebelião a Deus. Então, meu preza-do leitor, cuidado com sua vontade. Lembre-se: Sem o domínio de Cristo nossa vontade não é boa. Sem o domínio de Cristo nossa vontade é enganosa, terrivelmente enganosa.
III. A SINCERIDADE ENGANOSA.
“Então disse Mica: Agora sei que o SENHOR me fará bem; porquanto tenho um levita por sacerdote” (Juízes 17:13).
Quando lemos estes dois Capítulos, percebemos que há uma sinceridade em Mica, em sua mãe e nos danitas. Eles estão convencidos que suas ações são boas. Isso é consequência de fazer o mais correto segundo seus entendimentos (Juízes 17:6). No entanto isso é tudo enganoso, pois como vimos, a vontade humana sem o domínio de Cristo é enganosa. Portanto, há aqui o que podemos chamar de sinceridade enganosa. Estas pessoas são sin-ceras, mas mesmo assim estão laborando em erro grave. Estão todas muito rebeladas contra Deus, mesmo pensando que fazem algo bom. Concluímos que uma pessoa pode estar sinceramente errada. Assim, prezado leitor, não confie na avaliação que faz e nem em sua sinceridade resultante de tal avaliação. Você pode acreditar piamente em algo e ser zeloso nisso sendo sincero em suas ações, a ainda assim ser um rebelde contra Deus. Ainda as-sim você pode estar contra Cristo. Lembra-se de Paulo antes da conversão? Lembra-se de seu zelo? Lembra-se de sua sinceridade? Leia Filipenses 3:2-11. Porém um dia Paulo ouviu: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Atos 9:4). A sinceridade humana é enga-nosa quando não dominada por Cristo, pois é fruto de uma vontade rebelada contra a Verdade. Pensemos nisso!
IV. A CUMPLICIDADE ENGANOSA.
“Assim restituiu as mil e cem moedas de prata à sua mãe; porém sua mãe disse: Inteiramente tenho dedicado este dinheiro da minha mão ao Senhor, para meu filho fazer uma imagem de escultura e uma de fundição; de sorte que agora to tornarei a dar. 4 Porém ele restituiu aquele dinheiro à sua mãe; e sua mãe tomou duzentas moedas de prata, e as deu ao ourives, o qual fez delas uma imagem de escultura e uma de fundição, que ficaram em casa de Mica. 5 E teve este homem, Mica, uma casa de deuses; e fez um éfode e terafins, e consagrou um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote” (Juízes 17:3-5).
Uma sinceridade enganosa gerada pela vontade enganosa não ficará sozinha, mas fomentará apoio de outros que também estão enganados pela mesma vontade rebelada contra Deus. É na verdade um jogo de interesses onde cada um se aproveita de seu próximo para enganar-se e enganar, e isso acontece mesmo que a pessoa não perceba e seja sincera. Ora, é a sinceridade enganosa. O fato é que a cumplicidade somente reforça o engano. Trata-se da cumplicidade enganosa. Em outras palavras, eu me aproximo de outro enga-nado porque ele me apoia no mesmo engano e o reforça.
Mas há também uma cumplicidade que não é assim tão “sincera”. É o caso do levita (Juízes 17:7-13). Ele não passa de um oportunista que se aproveita de Mica e o abandona assim que vê a possibilidade de se aproveitar dos danitas. Por outro lado, nem Mica nem os danitas são inocentes. Eles também usam o sacerdote para servi-los em sua farsa religião. Eles o usam para que os engane. Ele os engana, mas eles querem ser enganados. Que impres-sionante, não? Mas essa é a cumplicidade em torno da rebelião ao Rei que é Deus.
No final a cumplicidade enganosa é uma união em torna da mentira e da rebelião a Deus. Assim cumpre-se constantemente o Salmo 2. É uma rebelião a Deus e ao Seu Ungido. “Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas” (Salmos 2:1-3). Assim é primordial que reflitamos sobre a natureza de nossa união. Não será uma cumplicidade enganosa? Não estamos nos unindo a outros para sermos enganados e para enganá-los? Não estamos nos aproveitando de pregadores falsos que mentem de acordo com nossos desejos rebeldes? Não estamos nos unindo contra Deus e Seu Ungido? Não somos cúmplices de grave rebelião a Deus?
V. A FÉ VÃ E ENGANOSA.
“Então ele disse: Os meus deuses, que eu fiz, me tomastes, juntamente com o sacerdote, e partistes; que mais me resta agora? Como, pois, me dizeis: Que é que tens?” (Juízes 18:24).
Que triste exemplo é o de Mica. Ele era sincero, era crédulo, mas também enganado. Sua fé vinha de sua vontade enganosa que o unia a outros numa cumplicidade enganosa e que se mostrou totalmente inútil (Leia Isaías 44: 9-20). Eis que ele fez um deus e o próprio deus não pôde se livrar dos danitas. Como poderia livrar a Mica? Como algo fabricado pelo homem pode livrar o homem? Como algo que o homem fez pode ser maior que ele próprio ao ponto de livrá-lo. Isso tudo é loucura, estupidez. É a fé vã e enganosa. Um homem pode crer em algo que ele mesmo fez, e nesta “fé” pode agir zelosamente, mas isso é completo engano. Irá decepcioná-lo de forma desesperadora. Mica diz: “que mais me resta?”. Isso obviamente vai acontecer com todo aquele que segue sua própria vontade. Por isso que o que é descrito em Juízes 17:6 é tão trágico. Percebe amigo leitor, como não é nada bom que você faça o que acha melhor? Isso acontecerá com você se seguir seu coração enganoso. O resultado será uma fé vã e enganosa. Seu deus não vai livrá-lo por que é uma criação sua. Esse deus não existe. Esta “fé” é uma mentira. É a enganosa religião da vonta-de. É a fé do coração enganoso e rebelado. Pense nisso.
VI. A NECESSIDADE DA GRAÇA EM CRISTO.
“Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 17:6).
Agora já podemos compreender que a liberdade da vontade tinha produzido todo este destrutivo engano. Também podemos ver de forma clara que isso ocorria porque não havia um rei em Israel.
Assim temos:
1 – O Problema: A Liberdade da Vontade.
2 – A origem do problema: Não havia um rei em Israel.
Qual a solução?
Penso que a resposta é óbvia. Ou seja, a solução é que haja um rei. Mas qual rei? Ora, trata-se aqui de uma tipologia que aponta para Cristo. Assim, Cristo é o Rei que precisamos. Cristo é Aquele que nos liberta de nós mesmos. Cristo é o Rei que vence nossos inimigos, isto é, a carne, o mundo, e o diabo (Efésios 2:1-10). Ele liberta Seu povo destes inimigos e os conduz em segurança ao seu Reino. Amigos, é a Graça que nos liberta. Se Deus não operar em nosso coração por seu Filho, estaremos perdidos em nós mesmos. Há grades e cadeias espirituais que são mais limitadoras do que cadeias físicas. É a prisão da vontade enganosa. A prisão do pecado. Apenas Deus em Cristo rompe estas cadeias e nos liberta. Qual é o seu caso? Você está livre de sua vontade pecaminosa? Percebe que seu problema é seu coração? Entende que necessita da Graça de Deus em Cristo, O Rei dos reis? Você já foi liberto da vontade rebelada? A sua vontade já foi quebrada e tornada submissa ao Rei Jesus? Oh, olhe para Deus e clame por Graça em Cristo.
VII. CONCLUSÃO.
A vontade natural do homem é rebelde a Deus e, portanto, enganosa. Ela leva a uma cumplicidade que reforça o engano, e produz uma fé e religião vã que logo decepciona. É a enganosa religião da vontade. Somente a Graça de Deus em Cristo pode nos libertar desta vontade escrava do pecado. Ele é o Rei que precisamos, o Rei que nos liberta de nossos inimigos espirituais. Diante destes fatos, peço que reflita nestas questões: Quem está do-minando a sua vida? É seu coração natural ou o Rei Jesus? Sua vontade natural está livre ou você é conduzido pelo Rei Jesus? Você é cúmplice de rebelados ou não compactua com eles? Você está sendo enganado por um falso pregador ou quer apenas a Verdade de Deus? Seu culto, fé e religião são de Deus em Cristo, ou é apenas a enganosa religião da vontade?