Cristo é Tudo Em Todos, por Jeremiah Burroughs

[Versão Abreviada de “Tesouro dos Santos” (1657), Editado por Don Kistler]

 

“Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos.” (Colossenses 3:11)

 

O apóstolo Paulo era um vaso escolhido para levar o nome de Cristo, para levá-lO para cima e para baixo no mundo. Na verdade, o seu espírito estava cheio de Cristo. Ele não desejava saber nada além de Cristo, pregar nada além de Cristo, não ser encontrado em nenhum outro, senão em Cristo. O próprio nome de Cristo era maravilhoso para ele. Ele pretende magnificar Cristo em todas as suas epístolas e, com estas palavras que eu li para vocês, ele exalta a Cristo. Ele busca não apenas engrandecê-lO, mas ele faz dEle tudo. Não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é tudo e em todos. Ou seja, não há nenhum privilégio em alguém para recomendá-lo a Deus, e não há em outro alguém falta alguma que o impeça de vir a Deus. Que os homens sejam o que quiserem em seus aspectos exteriores, o que isto é para Deus? Deixe que eles estejam tão maus em relação a todas as coisas exteriores, contudo isso nunca pode impedir-lhes o gozo de Deus, pois Deus não olha para essas coisas, mas para Cristo é tudo e em todos eles.

 

Na medida em que Deus vê Cristo em quem quer que seja, Ele o aceita. Se Cristo não está lá, não importa o que ele tenha, Deus não o considerará. Cristo é tudo em todos, mesmo no deleite do próprio Pai. Ele era a alegria do Pai desde toda a eternidade (Provérbios 8:30), e o Pai se contentava infinitamente nEle, em Sua vontade de empreender esta bendita obra da redenção da humanidade. Deus Pai é infinitamente satisfeito em Cristo. Ele é tudo em todos para Ele. Certamente, se Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai, muito mais, então, Ele é um objeto suficiente para a satisfação de qualquer alma.

 

Entretanto o escopo principal do Espírito Santo aqui é esta alta expressão da excelência transcendente de Cristo, a qual eu pregarei nesta proposição doutrinária: Cristo é o único meio de transmissão de bem que Deus Pai tem a intenção de comunicar aos filhos dos homens para a vida eterna, Ele é tudo em todos. Isto que estou pregando a vocês agora, ou seja, a vontade de Deus comunicar-Se em Sua misericórdia para com a humanidade através de um Mediador, é a suma do Evangelho, o grande mistério da piedade. É a parte principal da mente e conselho de Deus que Ele deu a conhecer aos filhos dos homens neste mundo. Esta é a grande mensagem que os ministros do Evangelho têm que trazer, e é o ponto mais absolutamente necessário em toda a teologia.

 

O que eu devo me esforçar neste dia é para mostrar algo da glória de Deus brilhando nesta verdade, a saber, que Deus Se comunica através de um Mediador, através de Seu Filho. Isto é absolutamente necessário para saber se você terá vida eterna. É possível ser ignorante em muitas outras verdades e ainda ser salvo, mas deve haver algum conhecimento desta verdade ou não pode haver salvação. O erro nesta mesma coisa é o abortamento e a ruína eterna de milhares e milhares de almas. Muitos acreditam que eles têm necessidade, e nunca podem ser salvos sem a misericórdia de Deus. A luz da natureza nos convence disso. Mas eles são ignorantes, e não veem a realidade desta verdade: que Deus comunica a sua misericórdia através de um Mediador. Eles fracassam e perecem eternamente clamando a Deus por misericórdia, porque eles vêm a Deus, mas não através de um Mediador.

 

Esta é a suma do Evangelho e da verdade mais sobrenatural revelada em todo o Livro de Deus. É uma verdade que estava escondida de quase todo o mundo por muitos séculos. Não há verdade revelada em todas as Escrituras através da qual nós podemos honrar a Deus tanto quanto nesta. Esta, aliás, é a grande honra que Deus tem no mundo, a saber, ser honrado no Seu Filho e no grande plano que Ele trouxe à luz as coisas gloriosas pelo Mesmo e, portanto, embora nós nunca saibamos muito de Deus e possamos honrá-lO apenas como o Criador do céu e da terra, contudo Deus não aceita essa honra. Isso é apenas honrá-lO de uma maneira natural. Nós nunca sabemos o que é honrar a Deus corretamente, de modo a ser aceito por Ele até que cheguemos a honrá-lO de uma forma evangélica, honrá-lO no Seu Filho. No entanto, a melhor honra que Ele tem da maior parte deste mundo, mesmo a partir de multidões na própria Igreja de Deus que ouvem o mistério de Cristo revelado a eles, é oferecido a Ele apenas de uma forma natural e não neste serviço evangélico espiritual de Deus.

 

Não há como vir ao Pai senão por Cristo. Ele é o caminho. O apóstolo diz em 1 Coríntios 3:22: “Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso”. Que isto significa? Observe isto: “tudo é vosso, e vós sois de Cristo e Cristo de Deus”. Deus Pai é o princípio de todo o bem. Tudo vem de Deus em primeiro lugar, mas o bem não vêm dEle imediatamente. Ele não diz que todo é vosso por vocês serem de Deus, porque vocês têm participação em Deus, portanto, tudo chega a ser vosso. Não, mas tudo é de vocês e vocês são de Cristo, e Cristo é de Deus. Então veja aqui como Cristo vem entre vocês e Deus.

Todo o bem está em Deus, é verdade, mas como devemos chegar a participar desse bem? Há uma distância tão grande entre você e Deus que, não fosse Cristo no meio, você nunca viria a juntar-se a Deus. Mas Cristo veio entre vocês e se juntou unindo-se a vós com tudo que é vosso, porque sois de Cristo e Cristo é de Deus. Pense em Deus como a fonte de todo o bem, e Cristo, por assim dizer, a cisterna, e dEle os canos convergem para todo crente. A fé suga na boca de cada cano e tira de Deus, mas vem de Deus através de Cristo. O Pai enche o Filho com todo o bem e por isso vem do Pai, através do Filho, pela fé, para a alma de cada crente.

 

Temos uma expressão notável deste mistério em Efésios, no segundo e terceiro capítulos. No capítulo 2:12, Paulo disse que eles estavam sem esperança e sem Deus no mundo, mas ele diz no versículo 13: Vós que estavam, por vezes, longe foram aproximados pelo sangue de Cristo. É pelo sangue de Cristo que você tem alguma relação com Deus. Mas, especialmente em Efésios 3:12: “no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele”. Em quem? Em Cristo, chegamos a ter ousadia e acesso. A palavra “ousadia” significa liberdade de expressão. Podemos chegar diante de Deus com a liberdade de expressão, e também temos acesso. Somos levados pela mão de Cristo ao Pai. Não há como vir ao Pai senão por Cristo, e Cristo leva o crente pela mão e o conduz ao Pai, e então ele vem a ter coragem.

 

Ele é o meio de transmitir o bem para nós por Sua intercessão, pois Ele está agora e estará para sempre à direita do Pai, na glória, intercedendo por Seu povo. Isto é, Ele está continuamente apresentando diante do Pai o trabalho de Sua mediação, Seus méritos, o que Ele fez e sofreu e está, por assim dizer, a pleitear com Seu Pai pelo envio de toda a misericórdia necessária e bem para as almas e os corpos de Seu povo que Ele redimiu. É como se Ele, a cada momento, eternamente falasse assim ao Pai: “Pai, eis que aqui está o Meu sangue, Meus méritos, Minha morte, todos os Meus sofrimentos, a obra de Minha humilhação. É para estes. Sim, por essa pobre alma e por essa pobre alma particularmente”. Sabemos que Cristo pensa não apenas na multidão de crentes em geral, mas particularmente em cada crente, e está continuamente apresentando Seus méritos infinitos diante do Pai para pleitear com Ele para suprir de toda a graça e misericórdia para nós. Assim, Ele se torna uma forma infinita de transmitir o bem para a alma do Seu povo e para ser tudo em todos para eles aqui e eternamente.

 

No que diz respeito à justificação e ao perdão dos pecados, a grande coisa que necessitamos de Deus é a nossa aceitação como justos. Cristo é tudo em todos para nós neste ponto, o qual é o teor do Evangelho, Romanos 3:24: “… sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Jesus Cristo”. Nossa justificação não é feita com o que temos feito ou tudo o que podemos fazer. Você vai dizer: “É verdade, temos feito muito pouco”. Mas suponha que qualquer um de vocês faça o seu melhor em qualquer pormenor que Deus requer. Você dirá: “Eu espero conseguir fazer o melhor que posso para que Deus o aceite”. Não, você comete um grande erro se você pensa isso. As pessoas são muito aptas a olhar para Deus como se os termos entre Deus e eles não fossem outros do que isso: Deus é cheio de compaixão e misericórdia e nós somos fracos e só podemos fazer um pouco, mas se fizermos o que somos capazes, Deus vai aceitar a intenção para a ação. Não, Deus não aceita a vontade para a ação no ponto de justificação. É verdade que naqueles que já são justificados Deus aceita a vontade para a ação no cumprimento de um dever, de modo a ter prazer neles, mas no ponto de justificação, o perdão do pecado e aceitação para a justiça, Ele deve ter a perfeita obediência. Embora nunca nos esforcemos tanto, a menos que possamos oferecer a Deus uma justiça perfeita, estamos perdidos para sempre. Portanto, não é para você descansar no fato de que você faça o que puder, tenha bons desejos, e vontades, e afins; pois se toda a justiça de todos os homens justos que já viveram estivessem em um único homem, isso não seria suficiente para a sua justificação. Não é o que Deus permite que você faça, tampouco que esta possa ser a formalidade de sua justificação. Tais são os termos entre Deus e você que não há nada que você pode fazer de si mesmo, ou estar habilitado a fazer, que é aceito por Ele para sua justiça para a vida eterna.

 

Cristo é tudo em todos no que diz respeito à adoção, Gálatas 3.26: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus”, e no capítulo 4:4-5: “porém, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos”. E, especialmente, João 1.12: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome”. A palavra traduzida por “poder” é outra palavra no grego. “Ele deu-lhes ‘autoridade’ de serem feitos filhos de Deus”. É uma palavra que significa mais do que o poder explicitado. Todo mundo vai contestar uma parte na filiação e dizer que é um filho de Deus, mas somente aqueles que estão em Cristo tem autoridade para contestá-lo como o seu direito.

 

No que concerne à reconciliação e paz com Deus, Cristo é tudo em todos aí também, “sendo justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Toda a potestade criada no céu e na terra não pode trazer a paz para a alma perturbada. Não há remédio para um espírito ferido, senão o sangue de Cristo aplicado a ele. Ele é a serpente de bronze e somente Ele é capaz de curar as inquietações da consciência. Como Lutero disse: é uma tarefa mais difícil consolar uma consciência aflita do que ressuscitar os mortos. Digo-vos que se não estivesse ali um poderoso Redentor, a consciência de um homem ou uma mulher nunca poderia ser pacificada, uma vez que eles percebessem a ira de Deus contra eles. Assim, Cristo é tudo em todos aqui.

 

Mais uma vez, Ele é tudo em todos na falta de coisas, o que quer que nos falte. Não nos faltam graças, não nos faltam dons, não nos faltam os confortos exteriores no mundo? Há suficiência disto em Cristo. É Cristo que é, ao invés de tudo, melhor do que tudo, e que irá fornecer tudo em seu devido tempo. Aqueles que conhecem a Cristo e possuem familiaridade com Ele, embora tenham este e aquele conforto tirados deles, ainda sabem como prosseguir sem provisão em Cristo. Eles têm essa habilidade, e arte, e mistério da piedade que eles podem fazer que Cristo seja tudo em todos na falta de tudo, e isso é uma grande habilidade e mistério da piedade saber como fazer de Cristo seu tudo, na falta de tudo.

 

Novamente, para os santos, Cristo é tudo em todos no gozo de todos. Quando eles nunca sequer gozam dos confortos das criaturas, Cristo é tudo em todos para eles. A satisfação que suas almas têm não é que eles têm propriedades maiores, mais amigos, ou mais conforto do que outros, mas que eles sabem como desfrutar Cristo em tudo, e podem olhar para isto como um fruto do Pacto que Deus fez com eles em Cristo e como descendo da fonte do amor eterno de Deus e da misericórdia em Seu Filho. Em Zacarias 9:11, Deus diz que, quanto a ti, por causa do sangue do Seu Pacto, eu libertei os teus presos da cova em que não havia água. O que é dito da libertação dos prisioneiros pode ser aplicado a todas as misericórdias que um crente desfruta. Seja qual for a libertação que ele tem do mal, tudo de bom que ele é possuidor, é por causa do sangue do Pacto.

 

Um crente pode olhar para cada alimento que ele tem, e sobre tudo de bom que ele goza, e pode ver que tudo isso vem a ele pelo fluxo do sangue de Cristo. E assim vêm mais docemente. O sol não brilha tão quente pelo ar como o faz através de uma lupa. Pegue uma lupa e segure-a entre você e o sol e a lente vai concentrar os raios do sol de modo que ele terá uma eficácia de calor, a ponto de queimar. Assim, a bondade de Deus que vem para as pessoas através da generosidade comum e paciência de Deus não tem uma eficácia para aquecer e esquentar seus corações, para os atrair a Deus. Mas, agora, Cristo é, por assim dizer, a lente de aumento que é mantida entre Deus e a alma, e como a misericórdia que vem através Deste aquece a lente de aumento e esquenta os confortos exteriores! Portanto, não há pessoas no mundo que possam desfrutar de confortos exteriores com tanta plenitude de contentamento como faz o povo de Deus, porque todos eles [os confortos exteriores] vêm a eles por meio de Cristo. Cristo é tudo em todos no gozo de todos.

 

Apenas para dar-lhe mais um detalhe. Como Ele é tudo em todo bem que temos da parte de Deus, assim também, Ele é tudo em tudo o que oferecemos a Deus: como na descida de Deus para nós, bem como na subida de nós para Deus. Cristo deve estar aqui. Ele deve ser tudo em todos em nossos serviços. Apesar de nossos serviços nunca serem realmente bons, embora eles sejam espirituais, eles devem ainda encontrar aceitação junto do Pai por meio de Cristo. Este texto em 1 Pedro 2:5 é muito marcante quanto a isto: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pedro 2:5). Observe, para oferecer sacrifícios espirituais. Embora o sacrifício seja espiritual, isso não é suficiente para torná-lo aceitável. Cristo deve estar nele, portanto, ele acrescenta: “agradáveis ??a Deus por Jesus Cristo”.

 

Se Cristo é tudo em todos, então vamos bendizer a Deus que já conhecemos a Cristo, e que o grande mistério do Evangelho foi revelado a nós. Caso contrário, teríamos estado sem Deus no mundo, e o que teria sido de nós se não tivéssemos essa graça de Deus no Evangelho que nos foi revelado? Poderia já ter entrado em seu coração? Certamente que não, nem para o coração de qualquer criatura no céu e na terra. Portanto, bem-aventurados os vossos ouvidos que ouvem as coisas que vocês ouvem. Bem-aventurados os olhos que veem o que vós vedes, e sei que quando chegarem a viver sob o ministério do Evangelho, vocês desfrutarão da maior misericórdia que vocês já tenham desfrutado desde que nasceram.

 

Isso mostra o quão querido Jesus Cristo deve ser por nós. Oh, como devemos nos deleitar e contentar-nos nAquele que traz a nós os tesouros da graça do seio do Pai. E Ele não somente predispõe os ânimos de Deus Pai para nós, mas vem e dispensa o tesouro da bondade de Deus por nós. Ele foi interrompido antes, mas Cristo abre as comportas e permite que a corrente de graça e misericórdia venha sobre nós. Oh! quão querido, então, deve ser Cristo por nós?

 

Este foi o discurso do mártir sr. Lambert: “Ninguém senão Cristo, ninguém senão Cristo”. Sim, quando ele sofreu o martírio por Cristo. Então ninguém senão Cristo era querido por ele, porque ele viu que Cristo era a maneira de transmitir tudo de bom para ele. Se Deus fosse agora fazer de um homem o meio de transmitir uma grande porção de bens para uma nação, cada homem estará pronto para ter seus olhos sobre aquele homem. Mas nunca houve uma tal maneira de transmitir bens para nós como Cristo. Portanto, como é que os nossos corações deveriam amá-lO, valorizá-lO, e alegrar-se com o próprio pensamento nEle?

 

Se você tem um amigo querido, e Deus faz desse amigo um instrumento de misericórdia para você, como é que você valoriza esse amigo? Se o marido é um instrumento de bênçãos para sua esposa ou a esposa para o marido, se um ministro ao seu povo ou o povo para o seu ministro? E assim é em todas as relações. E se ele faz isso entre homem e homem, como devemos fazê-lo muito mais entre nós e Cristo, que é de fato o Noivo de Sua Igreja, e através de Quem a plenitude de Deus é trazida para o Seu povo? Oh, quão caro e precioso, portanto, Ele deveria ser para nós!

Cristo é tudo em todos? Então, se temos uma participação nEle, Ele deve satisfazer e contentar-nos ainda que não tenhamos nada ou que não sejamos nada. Por quê? Porque, se temos a Cristo, temos tudo. Apesar de vocês terem falta de bens, amigos, propriedades e conforto externos, conhecer a Cristo é o seu tudo, e Ele não é o suficiente? Como Eli disse: Não sou eu melhor para ti do que dez filhos? Então, Cristo diz à alma: “O que lhe falta? Você não tem esse ou aquele conforto, mas Eu não sou tudo em todos para você, e melhor do que tudo isso?”. Sim, esteja disposto a não fazer nada, pois tudo é feito em Cristo.

 

Novamente, Ele deveria ter nos colocado sobre isso, estar disposto a desistir de tudo o que temos por Cristo. Infelizmente, o nosso tudo não passa de um tudo-pobre, ainda assim dê-lo a Cristo. Nossos bens, as nossas propriedades, os nossos nomes, que Cristo tenha tudo, porque Ele é o nosso tudo.

 

Que Ele seja a regra da nossa valorização das coisas. Na medida em que vermos algo de Cristo, o valorizemos adequadamente. Relata-se do sr. Bucer que se ele não pudesse ver nada de Cristo em qualquer homem ou mulher, embora eles nunca tenham sido tão miseráveis e maldosos, seu coração iria fechar-se para eles. Diz-se de Agostinho, que antes de sua conversão, ele teve grande prazer em ler obras de Cícero, mas depois ele disse: “Eu não encontrei o nome de Cristo em todos os escritos de Cícero”, o que levou o seu coração para longe dele. Assim, em tudo o que você apreciar, observe o quanto você vê de Cristo nisto. Até o momento deixe o seu deleite e estima fluírem em direção a isto e não mais adiante.

 

Com a poderosa intenção de espírito deve ser o coração inclinado em direção a Jesus Cristo em todas as coisas! Embora Deus dá-lhe uma propriedade e honra no mundo, se você não tem a Cristo, você não tem nada. Você não tem aquele que abre caminho por você para a eternidade. Portanto, não esteja satisfeito com nada sem Cristo. Como Abraão disse: Que me darás Senhor, pois ando sem filhos? Então você diz: “Senhor, Tu me deste uma porção neste mundo. Tu me deste crédito e reputação entre os homens, mas, Senhor, o que é tudo isso para mim, se eu estiver sem Cristo e não tendo a Ele que é o canal de graça para minha alma, Ele que é tudo em todos? Ó, Senhor, Tu me ensinaste neste dia que tal é a distância e ruptura entre Ti e eu que, a menos que seja feito por meio de um Mediador, eu devo perecer eternamente. Portanto, dá-me a Cristo, mesmo que me negues qualquer outra coisa”.

 

Não se satisfaçam com qualquer coisa fora de Cristo! Muitos hipócritas se satisfazem com dons. Se eles têm dons, então eles estão contentes. Considere que na parábola em Mateus 13:45-46, o comerciante procurava boas pérolas, mas quando Ele encontrou a pérola de grande valor, então ele foi e vendeu tudo o que tinha e comprou-a. Agora, dádivas, e bens e outras realizações são essas boas pérolas, mas Cristo é a pérola de grande valor. Portanto, o que você tiver, esteja disposto a separar-se disto por Ele. Se Deus revelou-lhe a pérola de grande valor, não deixe pérolas formosas satisfazê-lo. Muitas almas perecerão eternamente, porque elas estão satisfeitas com boas pérolas e não se esforçam para obter esta pérola de grande valor. Em sua busca por Deus, não se esqueça de levar Cristo junto com você.

 

Vou dar-lhe apenas esta advertência: se este fosse o último momento para orar a Deus e sua herança eterna dependesse da misericórdia de Deus, você deveria buscar a Deus tão sinceramente como nunca antes, se for apenas de uma forma natural, como o seu Criador; a sua condição será muito terrível, e você perecerá eternamente. Se Deus colocasse qualquer um de vocês sobre sua enfermidade ou leito de morte vocês deveriam clamar a Deus por misericórdia, não se esqueçam de levar Cristo junto com você e olhar para Deus por meio de Cristo, ou então todos os seus gritos não serão de nenhum proveito. Lutero disse que o olhar de Deus para o que está fora de Cristo é terribilíssimo e espantoso. E isso prova a grande quantidade de ignorância em nós quando pensamos que podemos ir a Deus e encontrar misericórdia nEle, sem considerá-lO como um Deus que se reconciliou conosco somente através de Seu Filho.

 

Para concluir tudo, como disse Cristo: Se eu for levantado, atrairei todos os homens a mim. Portanto, este é o trabalho do nosso ministério. Nós gastamos o tempo entre vós, para que possamos trabalhar para levantar Cristo para vocês, e oh, que Deus satisfaça-Se em atrair todas as suas almas para Si Mesmo.

 

 


Nota do Editor:

 

Este resumo de “Cristo é Tudo em Todos” foi retirado de O Tesouro dos Santos (The Saints' Treasury), uma coleção de cinco sermões pregados por Jeremiah Burroughs durante seu ministério na Inglaterra no século 17. Eles foram transcritos por um paroquiano e publicados por seus amigos após sua morte. Cada sermão possui quase 40 páginas.

 

Os títulos de sermões são os seguintes:

1. A Incomparável Excelência E Santidade De Deus

2. Cristo É Tudo Em Todos

3. O Glorioso Deleitar-Se Das Coisas Celestiais Pela Fé

4. A Sujeição Do Homem Natural À Lei & A Liberdade Do Cristão No Evangelho

5. Preparação Para O Julgamento

 

Este livro nunca foi reimpresso, desde a sua edição original. Nós digitamos todo o livro a partir de sua edição original em nosso computador, corrigimos erros de ortografia, acrescentamos alguma pontuação necessária, e reformatamos, quando necessário. Ele está disponível pela [Editora] Soli Deo Gloria. O livro é de quase 200 páginas.

 

[Este sermão abreviado é reproduzido a partir de Sola Scriptura, uma revista anteriormente publicada pelo Ministério Soli Deo Gloria, com a permissão do editor. Para mais informações sobre The Saints Treasury e outros livros Puritanos, entre em contato Don Kistler em:

 

Soli Deo Gloria

P.O. Box 451

Morgan, PA 15064

(412) 221-1901/ Fax (412) 221-1902
 

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