Descrição
As Escrituras Sagradas e a nossa Confissão revelam que “a distância entre Deus e a criatura é tão grande, que, embora as criaturas racionais Lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam ter alcançado a recompensa da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus, que Ele Se agradou em expressar por meio de aliança” (CFB1689 7.1).[1] Sendo assim, uma compreensão correta dessas alianças e de como, através delas, Deus condescende em se relacionar com os homens, é da mais alta importância para todos aqueles que, com um coração pronto e sincero, desejam interpretar e aplicar corretamente as Escrituras para a glória de Deus e para edificação de Seu povo pactual, a igreja.
Portanto, quando falamos de aliancismo, estamos falando de um método de interpretar a Bíblia, ou, para usar uma linguagem mais moderna, estamos falando de um método de fazer teologia bíblica, mas que, ao mesmo tempo leva em conta a sistematização de todo o conselho de Deus declarado na “palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15).
Sobre a importância vital desse tema, bem como a abrangência de sua influência e relação com as demais doutrinas bíblicas, o amado pastor Jeffrey Johnson disse com propriedade:
Quando se trata de uma visão sistemática e holística da Escritura, nada é mais vital do que uma compreensão adequada do relacionamento entre os pactos de Deus — principalmente o relacionamento entre a Antiga e a Nova Alianças. A teologia pactual molda o entendimento da soteriologia, da eclesiologia e da escatologia, e, em particular, a visão da natureza e do futuro de Israel, do reino de Deus, da igreja, das ordenanças e da natureza do retorno de Cristo. Além disso, observar como a Bíblia é dividida em dois Testamentos (o Antigo e o Novo) e compreender a continuidade e a descontinuidade entre eles é primordial para o teólogo sistemático.[2]
Particularmente, estou convencido da extrema necessidade e urgência da igreja brasileira, especialmente os batistas, recuperar um entendimento bíblico profundo e piedoso sobre os pactos de Deus. E estou igualmente convencido de que este excelente livro, do querido pastor Fernando Angelim, tem muito a contribuir para esse fim.
Escrito de maneira clara e didática, e sobretudo bíblica, este livro se mostrará útil tanto para o pai de família que deseja conhecer melhor sua Bíblia e guiar a sua família piedosamente quanto para aquele que foi chamado a se “apresentar a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15).
O autor inicia definindo o que é teologia bíblica e, mais especificamente, o que é teologia bíblica reformada, bem como seu método e suas características. Então, nos toma pela mão e nos conduz a um passeio pela história da igreja, mostrando como os batistas surgiram no contexto da Inglaterra do século XVII, a partir do separatismo. Esses batistas ingleses confessavam uma teologia bíblica que era distintivamente reformada e pactual.
Em seguida, somos levados a perceber como Deus estruturou a grande história da Bíblia através de alianças, desde a revelação do Pacto da Graça, na promessa do Salvador em Gênesis 3:15, até o seu cumprimento na Nova Aliança, em Cristo Jesus. O livro, então, passa a tratar dos três grandes pactos de Deus: em primeiro lugar, do Pacto de Obras, que diz respeito à aliança feita por Deus com Adão no Éden, antes da queda. Adão era o representante de toda a humanidade, portanto, a queda de Adão em pecado afetou todos nós. Mas Cristo é o Segundo Adão, o que cumpre perfeitamente as exigências divinas no lugar do Seu povo crente, que nos liberta da maldição e nos concede vida eterna. Em segundo lugar, o Pacto da Graça, que surge do eterno Pacto da Redenção, é revelado progressivamente na Antiga Aliança e formalmente estabelecido na cruz do Calvário, no derramamento do sangue do Mediador Prometido. Em terceiro lugar, o Pacto da Redenção, que foi feito na eternidade e consiste em um acordo entre as pessoas da Trindade para a redenção dos eleitos no tempo.
Após um tratamento bíblico desses três grandes pactos, surge então a oportunidade para lidar com o assunto fundamental da natureza da Antiga e da Nova Aliança, e da distinção entre elas. A Antiga Aliança diz respeito, particularmente, à aliança legal feita por Deus com Israel, mediada por Moisés, mas também pode se referir, grosso modo, a todo o período anterior à morte e ressureição de Cristo. E a Nova Aliança, que, segundo as Escrituras, equivale ao Evangelho e ao Pacto da Graça, é a maneira pela qual Deus salva pecadores da caída posteridade de Adão através da obra redentora do Filho.
Os capítulos 8 e 9 são dedicados a mostrar o relacionamento do cristão com a lei de Deus, especialmente com o Quarto Mandamento do Decálogo. O entendimento reformado, puritano e confessional da lei é explicado à luz das Escrituras e somos exortados a obedecer à lei moral de Deus em amor e gratidão, seguindo o exemplo do Senhor Jesus, e evitando tanto o antinomismo quanto o legalismo.
O último capítulo traz uma comparação na qual são traçados as semelhanças e os contrastes entre a teologia pactual credobatista e a pedobatista. O livro é concluído com breves reflexões sobre os temas bíblicos estudados, nas quais o escritor expressa a esperança de que sua obra seja útil para promover nos leitores o aumento de seu amor a Deus e ao próximo, e de que todo o conhecimento adquirido nestas páginas resulte em uma vida piedosa para a glória de Deus.
[1] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado por C.H. Spurgeon. 9ª ed. Francisco Morato: O Estandarte de Cristo, 2019. p. 46-47.
[2] JOHNSON, Jeffrey D. A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o Dicotomismo Pactual: Continuidade e Descontinuidade dos Pactos de Deus. São Paulo: 1ª ed. O Estandarte de Cristo, 2018. p. 303.
William Teixeira,
Trecho do Prefácio.