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O Continuísmo é Compatível com o Protestantismo Reformado? | Joshua Sommer

 

Os cristãos ainda recebem revelação extra-bíblica de Deus? Muitos pensam que novas revelações, ou pelo menos revelações repetidas, continuam no tempo da Nova Aliança. Isso parece ser verdade mesmo para muitos que reivindicam a teologia “Batista Reformada”. É verdade que alguns desses queridos irmãos admitidamente adotam apenas um entendimento parcial da teologia batista reformada. No entanto, há outros que gostariam de utilizar a Segunda Confissão de Londres na definição de suas convicções teológicas. Essa prática é consistente? A Confissão afirma:

 

CFB1689 1.1: As Sagradas Escrituras são a única, suficiente, correta e infalível regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos, embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação; portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja; e, posteriormente, para melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrupção da carne e da malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente por escrito; o que faz da Sagrada Escritura indispensável. Aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram.

(2 Timóteo 3:15-17Isaías 8:20Lucas 16:2931Efésios 2:20Romanos 1:19-212:14,15Salmos 19:1-3Hebreus 1:1Provérbios 22:19-21Romanos 15:42 Pedro 1:1920)

 

Nossos antepassados batistas particulares ou reformados descartaram a ideia de revelação contínua, e por boas razões. Você notará na citação acima a articulação do cessacionismo convencional. Esta convicção teológica desdobrou-se como uma conclusão exegética, bem como uma reação elêntica contra a Igreja Católica Romana. É também uma conclusão lógica de uma convicção que todos os protestantes deveriam ter. Podemos articulá-la num argumento da seguinte forma:

 

1. Se as Escrituras são suficientes, não existem revelações novas ou repetidas.
2. As Escrituras são suficientes.
Portanto,
3. Não existem revelações novas ou repetidas.

 

Veja, se quisermos reivindicar que revelações novas ou repetidas continuam durante a economia da Nova Aliança, nós precisamos também admitir que a Escritura é insuficiente. Mas, por que é assim? Bem, se algo é suficiente, como a revelação especial de Deus, isso necessariamente torna supérflua a revelação suplementar. No entanto, isso não só torna a revelação suplementar supérflua, mas também uma contradição lógica. Se uma ferramenta específica (A) é suficiente para realizar uma tarefa específica, usar outra ferramenta (B) admite exatamente o oposto, isto é, que (A) não é boa o suficiente e precisa ser auxiliada por (B). Todavia, se (A) é verdadeiramente suficiente para realizar essa tarefa, então (B) se torna inútil ou supérfluo.

Além disso, se (B) é inútil não deve ser usado, uma vez que Deus não revela Sua Palavra em vão (Isaías 55:11). Uma objeção pode ser levantada neste ponto, de que a Escritura é suficiente para salvação, mas Deus usa muitos meios em Sua providência para atrair os homens para Si mesmo. Em primeiro lugar, respondo que, se os cristãos devem se engajar em tudo e qualquer coisa que possa ser usada como um meio de salvação, eles também podem jogar fora toda lei moral e o princípio regulador do culto; pois Deus frequentemente usa os ímpios para iluminar os eleitos. Em segundo lugar, a Escritura é suficiente tanto para a fé como para a prática. Não é apenas o principal meio de Deus revelar a salvação aos pecadores, é o principal meio de Deus conduzir a prática dos crentes. Como poderia ser mais útil recitar um sonho do que pregar a inspirada e infalível Palavra de Deus para uma alma desanimada?
 

Conclusão

​Eu expus acima duas razões pelas quais o continuísmo é inconsistente com a teologia protestante reformada. A primeira razão é que a Segunda Confissão de Londres (que representa a posição protestante unânime sobre as Escrituras) assume uma posição explicitamente cessacionista. A segunda razão é que o continuísmo é ilógico à luz do dogma protestante. A Escritura não pode consistentemente ser considerada uma ferramenta suficiente se ela precisa ser auxiliada por algum outro instrumento.