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As Realizações de Jesus Cristo, o Mediador: Uma Exposição do Capítulo 8:4-10 da CFB1689 | Por Justin McLendon

— The Founders Journal • Primavera de 2017 | Nº 108 —

Uma consequência da transformação moderna do louvor congregacional é a ignorância que muitos cristãos têm em relação aos hinos clássicos. Inúmeros cristãos hoje não conhecem a profundidade e a beleza das músicas que os adoradores cristãos do passado desfrutaram. Essas músicas buscavam capturar as afeições que os crentes tinham pela obra trinitária da graça nas vidas do povo de Deus. Um tal hino, “Louvai-o”, escrito pela famosa poetisa americana Fanny Crosby, captura o tema do capítulo VIII da Confissão de Fé Batista de 1689 (CFB1689). A igreja Batista da minha juventude cantava esse hino de Crosby com frequência, e sempre fiquei comovido pela terceira estrofe: “Coroai-o, coroai-o, Profeta e Sacerdote e Rei”. Ao longo dos anos, perguntei o que isso poderia significar. Como posso coroar a Jesus, e o que significa que Jesus seja coroado como Profeta, Sacerdote e Rei? Os parágrafos quatro a dez do capítulo VIII da CFB1689 oferecem resposta a esta pergunta complexa.

 

Samuel Waldron agrupa os parágrafos 4-10 em um tema sobre a execução do oficio de mediador. Neste artigo, esses sete parágrafos serão analisados em três unidades. O resumo dos parágrafos quatro e cinco trata da humilhação e exaltação de Jesus e de Seu sacrifício e herança. Os parágrafos seis e sete enfatizam o cumprimento de Jesus das promessas do Antigo Testamento. Os parágrafos oito a dez centram-se na obra de intercessão de Jesus, na Sua autoridade de governo e na preservação soberana dos Seus eleitos.

 

Parágrafo 4

 

Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente,21 para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à Lei,22 que Ele cumpriu perfeitamente e suportou o castigo que nos era devido, que nós deveríamos ter recebido e sofrido.23 E foi feito pecado e maldição por nossa causa,24 suportando as mais cruéis aflições em Sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em Seu corpo;25 foi crucificado e morreu; e ficou em estado de morte, mas não viu a corrupção.26 No terceiro dia Ele ressuscitou dentre os mortos,27 com o mesmo corpo no qual Ele sofreu;28 com o qual também Ele subiu ao Céu,29 e lá está assentado à destra do Pai, fazendo intercessão;30 e voltará para julgar homens e anjos, no fim do mundo.31

21 Salmos 40:7-8; Hebreus 10:5-10; João 10:18
22 Gálatas 4:4; Mateus 3:15
23 Gálatas 3:13; Isaías 53:6; 1Pedro 3:18
24 2Coríntios 5:21
25 Mateus 26:37-38; Lucas 22:44; Mateus 27:46
26 Atos 13:37
27 1Coríntios 15:3-4
28 João 20:25,27
29 Marcos 16:19; Atos 1:9-11
30 Romanos 8:34; Hebreus 9:24
31 Atos 10:42; Romanos 14:9-10; Atos 1:11; 2Pedro 2:4

Parágrafo 5

 

O Senhor Jesus, pela Sua perfeita obediência e sacrifício de Si mesmo, que Ele, pelo Espírito eterno, uma vez ofereceu a Deus, satisfez plenamente a justiça de Deus;32 obteve a reconciliação e adquiriu uma herança eterna no reino dos Céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai.33

32 Hebreus 9:14, 10:14; Romanos 3:25-26
33 João 7:2; Hebreus 9:15

Humilhação e Exaltação

 

A cruz parece desastrosa para a credibilidade de Jesus. Os Evangelhos retratam em detalhes a Sua vida e ministério, que inclui milagres inexplicáveis ​​e reivindicações notáveis ​​de deidade. No entanto, Ele está, aparentemente indefeso, julgado e condenado, condenado à morte em uma cruz de criminoso. Não é incomum que os não-cristãos tropecem enquanto descrevemos a morte de Jesus em proclamações vitoriosas. O que é tão maravilhoso sobre um rei crucificado? O que é tão glorioso quanto a um milagroso derrotado? Claro, nos apoiamos na ajuda do Espírito para proporcionar paciência necessária ao compartilhar verdades bíblicas aos outros. Nós humildemente respondemos que pode parecer que a missão dEle falhou quando foi morto, mas a cruz não é um fracasso e não foi uma surpresa. A CFB1689 declara que Jesus “voluntariamente” assumiu o Seu papel como Mediador. Ele não foi coagido e Ele não devia a ninguém um favor. Ele não foi enganado pelo diabo. Seu trabalho de obediência ativa e passiva foi intencional. Em Sua obediência ativa, Jesus obedeceu perfeitamente à lei e obteve a justiça para o Seu povo; por Sua obediência passiva, Ele suportou as “mais cruéis aflições em Sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em Seu corpo” (parágrafo quatro, acima). Ele sofreu a angústia da ira de Deus sobre Si mesmo por causa do nosso pecado. Observe como o parágrafo quatro inclui tanto a tristeza da alma de Jesus como a ira que Ele suportou em Seu corpo. Ambos eram necessários, ambos foram reais e ambos faziam parte de Seu ato salvador.

 

É importante observar o que está inserido nos parágrafos acima sobre o que os teólogos se referem como exaltação e humilhação de Jesus. Como observa Wayne Grudem, esses dois estados referem-se às “diferentes relações que Jesus teve com a lei de Deus pela humanidade, à posse de autoridade e à receber honra para Si mesmo”[1]. Compreender a obra de Jesus através dessas duas distinções ajuda a esclarecer tudo o que envolve a morte de Jesus pelos eleitos. A encarnação, o sofrimento, a morte e o sepultamento de Jesus constituem a Sua humilhação. Em Filipenses 2:7-8, Paulo afirma que Jesus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”. Nossa salvação exigiu cada uma dessas ações, mas a obra de humilhação de Jesus por nós é apenas parte de Sua obra.

 

Paulo afirma a exaltação de Jesus no mesmo contexto: “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:9-11). A ressurreição de Jesus, a ascensão, o seu lugar à destra de Deus e o seu futuro retorno, todos compreendem a Sua exaltação. Herman Bavinck estava correto quando declarou: “Todo o Novo Testamento ensina o Cristo humilhado e exaltado como a essência do Evangelho”.[2] Quando somos confrontados por céticos ou em conversas gerais com incrédulos, devemos afirmar tanto a humilhação quanto a exaltação de Cristo; e ao fazê-lo, começamos a comunicar como a Sua obra de expiação realizou os Seus propósitos.

 

Sacrifício e Herança

 

Como merecemos a ira de Deus devido à nossa transgressão da lei de Deus, o castigo “que nos era devido, que nós deveríamos ter recebido e sofrido”, Jesus sofreu. A Escritura é clara que é maldito aquele que for pendurado no madeiro, mas Jesus “nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3:13). A CFB1689 afirma claramente que Jesus morreu fisicamente. Esta declaração é crucial para a nossa salvação e também inclui a ênfase que o Seu corpo “ficou em estado de morte”. Duas questões importantes surgem. Em primeiro lugar, Jesus realmente morreu. Ele não esteve apenas perto da morte ou inconsciente. Seu coração parou de bater até a morte. Às vezes, os cristãos são culpados de fazer pouco caso da verdade da ressurreição, mas ela é de grande importância teológica e evangelística (os muçulmanos, por exemplo, negam a morte real de Jesus na cruz).

 

Em segundo lugar, somos informados de que Jesus permaneceu no estado de morte e que o Seu corpo “não viu a corrupção”. O espaço não permite uma análise extensiva aqui e uma visão explícita não é descrita aqui na Confissão, mas neste momento de Sua humilhação, surge a questão se Jesus foi ao inferno. Curiosamente, John Dagg aborda esta questão ao tratar da humilhação de Cristo. Ele observa como “alguns têm pensado que ele desceu ao inferno; mas essa opção surgiu da má interpretação das Escrituras”.[3]

 

Na minha perspectiva, as explicações de Grudem são claras e persuasivas.[4]

 

No terceiro dia, Jesus ressuscitou dentre os mortos com o mesmo corpo que foi crucificado. O testemunho das Escrituras deixa claro que a sepultura não poderia conter Jesus. Ele Se revelou a testemunhas masculinas e femininas, a indivíduos e grupos. Ele confrontou a descrença ao mostrar as Suas feridas, convocando os duvidosos para observar e tocar; para demonstrar que Ele não era um espírito, pediu e comeu peixe. Paulo afirma que o Senhor ressuscitado apareceu a ele, e que a ressurreição é de importância vital, mostrando como a pregação é inútil e a fé é vã se a morte tivesse vencido a Cristo. Após a Sua ressurreição, Jesus ministrou e ensinou durante quarenta dias e subiu ao céu e sentou-Se à destra do pai. Em Seu estado totalmente exaltado, Jesus Cristo intercede em nome de Seu povo como o Mediador deles. Mesmo neste reino celestial, Jesus permanece o Profeta, o Sacerdote e o Rei dos eleitos.

 

Expiação Definitiva

 

O que a morte de Jesus realizou? Responder a esta pergunta é crucial, e exige uma investigação cuidadosa da revelação do Novo Testamento. Em Sua morte, Jesus pagou pelos pecados. Através de Seu sacrifício, Jesus restaurou o relacionamento correto entre Deus e o homem, e um preço era necessário para que este relacionamento fosse garantido. Toda a humanidade é culpada em Adão, e somos pecadores por natureza, objetos da ira (Efésios 2:3). Deus é puro e santo, um juiz justo que não negligencia o pecado ou inocenta a impiedade. Sua natureza exige justiça, e o Antigo Testamento fornece figuras da necessidade de expiação. O perdão é impossível sem pagamento, e o derramamento de sangue era a exigência de Deus para a misericórdia.

 

No Novo Testamento, Jesus demonstra em Si mesmo o que os sacrifícios do Antigo Testamento prefiguravam. O sangue de touros e bodes é insuficiente; nossa única esperança era o Seu precioso sangue. O grande valor no estudo de outras teorias da expiação é que se podem encontrar aspectos para afirmar as suas apresentações, mas no final, a substituição penal captura todas as ênfases bíblicas da reconciliação encontradas na propiciação, expiação e purificação. A CFB1689 afirma claramente essa visão. A obra de humilhação e exaltação de Jesus realizou tudo o que era intencionado. A CFB1689 declara explicitamente a intencionalidade da expiação de Jesus, na medida em que “adquiriu uma herança eterna no reino dos Céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai”. Enquanto os debates se prolongam sobre a extensão da expiação entre os Batistas e grande parte da comunidade evangélica, a evidência bíblica que apoia a expiação definitiva é esmagadora.

 

Tom Nettles define expiação definitiva como Cristo morrendo “pelas mesmas pessoas por quem Ele intercede; estes são os mesmos que o Pai elegeu e que o Espírito efetivamente chamou”.[5] É impossível realizar uma defesa adequada da expiação definitiva nesse breve artigo, e a CFB1689 não pretende defender esta doutrina de forma detalhada, mas algumas declarações são necessárias. Primeiro, no mínimo, a substituição penal sugere uma expiação definitiva. Jesus fez uma substituição real para um certo povo a fim de adquirir uma herança segura. Em segundo lugar, como Nettles observou acima, o papel sacerdotal da intercessão de Cristo é um aspecto integral desta doutrina. Em seu tratado minucioso sobre este ponto, Stephen Wellum mostra um resumo unificado do sacerdócio do Antigo Testamento, e ele contrasta os seus papéis com a obra de Jesus como nosso Sumo Sacerdote. Wellum demonstra por que o papel de Jesus como Sumo Sacerdote da Nova Aliança requer necessariamente a expiação de um povo particular.[6] A grande oração sacerdotal de João 17 é significativa aqui. Jesus tem em mente um povo específico enquanto Ele ora e reconhece a obra particular que Ele realizará somente por eles.

 

Tom Schreiner faz uma pergunta interessante sobre a expiação feita por Jesus. Ele questiona: “Jesus poderia ter expiado nossos pecados tendo dez anos de idade?” Esta não é uma pergunta complicada e também não é importante. Schreiner afirma que Jesus não poderia ter expiado os nossos pecados com dez anos de idade porque “lhe teria faltado a maturidade e experiência como um ser humano para sofrer por causa de seu povo em uma idade tão terna. Ele teve que experimentar uma profunda tentação e resistir às seduções do pecado para se qualificado como um sacrifício expiatório (Hebreus 4:15)”[7]. Assim, a importante oração sacerdotal de João 17 é um resumo de tudo o que Ele havia feito, Sua vida e ministério. Cada aspecto do Seu ministério que conduziu a este ponto O preparou para oferecer uma expiação definitiva.

 

Parágrafo 6

 

Embora o preço da redenção não tenha sido realmente pago por Cristo senão depois da Sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas sucessivamente desde o princípio do mundo, nas, e através das, promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi revelado, e que O apontavam como a semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente,34 e como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo,35 sendo o mesmo ontem, hoje e para sempre.36

34 1Coríntios 4:10; Hebreus 4:2; 1Pedro 1:10-11
35 Apocalipse 13:8
36 Hebreus 13:8

 

Parágrafo 7

 

Cristo, na obra da mediação, age de acordo com ambas as naturezas; cada uma delas atuando como lhe é próprio. Mesmo assim, em razão da unidade da Pessoa, aquilo que é próprio de uma natureza, às vezes, na Escritura, é atribuído à Pessoa de Cristo denominada pela outra natureza.37

37 João 3:13; Atos 20:28

 

Promessas Cumpridas

 

Em meio a tudo o que englobava a rebelião de Adão e Eva na narrativa do Gênesis, eles tiveram o privilégio de ouvir a promessa da futura salvação. O enganador seria esmagado. A partir deste momento, Deus revelou um plano que somente Ele poderia ter projetado. A natureza progressiva da revelação nos permite unir como os atos e promessas subsequentes se relacionam com a declaração original de que a semente da mulher viria. Em todo o Antigo Testamento, há um testemunho consistente de que Deus está realizando o Seu plano, e as pessoas através de quem Ele agiu indagaram “que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir” (1 Pedro 1:10-11). Para comunicar o abrangente testemunho bíblico do plano de Deus, a CFB1689 declara Jesus como o Cordeiro morto desde a fundação do mundo. Em outras palavras, muito antes do jardim, e muito antes da encarnação, da cruz e da ressurreição, Jesus comprou a redenção e foi aplicado ao Seu povo (as pessoas específicas que Ele menciona em João 17).

 

O parágrafo sete explica distinções importantes na Pessoa de Cristo pelo que Ele cumpre essas promessas. Tanto a Sua natureza divina quanto a humana são necessárias para esmagar Satanás. Como observa a CFB1689, cada natureza realizou o que é consistente dentro dessa natureza. Em outras palavras, precisávamos de um Adão melhor, e em sua natureza humana, Cristo viveu sob a lei sem pecado. Sua plena natureza humana contribuiu para o cumprimento de Sua tarefa. Da mesma forma, Sua obra divina é consistente com Sua plena deidade em Sua Pessoa. A CFB1689 reitera cuidadosamente como essas duas naturezas eram distintas e também as obras associadas a cada natureza. Como Stephen Wellum observa, “não há união de naturezas que obscureça a integridade de qualquer natureza”.[8] As Escrituras afirmam isso por suas indicações repetitivas de Suas qualidades divinas e humanas (o Seu sustento do universo e Sua fome).

 

Parágrafo 8

 

Cristo certamente aplica e comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos Ele a obteve, fazendo intercessão por eles;38 unindo-os a Si mesmo por Seu Espírito; revelando-lhes, na e pela Sua Palavra, o mistério da salvação, persuadindo-os a crer e a obedecer,39 governando seus corações pelo Seu Espírito40 e por Sua Palavra, e vencendo todos os inimigos deles, por Sua onipotência e sabedoria,41 da maneira e pelos meios mais conformes com a Sua admirável e inescrutável dispensação; e tudo isso por livre e absoluta graça, sem qualquer precondição de neles ter sido vista de antemão uma busca pela redenção.42

38 João 6:37, 10:15-16, 17:9; Romanos 5:10
39 João 17:6; Efésios 1:9; 1João 5:20
40 Romanos 8:9, 14
41 Salmos 110:1; 1Coríntios 15:25-26
42 João 3:8; Efésios 1:8

Parágrafo 9

 

Este ofício de Mediador entre Deus e os homens cabe exclusivamente a Cristo, que é o Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus; e isto não pode ser no todo, ou em qualquer parte, transferido de Cristo para qualquer outro.43

43 1Timóteo 2:5

 

Parágrafo 10

 

Este número e ordem de ofícios são necessários. Precisamos de Seu ofício profético,44 por causa de nossa ignorância. Por causa de nossa alienação de Deus, e da imperfeição de nossos melhores serviços, nós necessitamos de Seu ofício sacerdotal para nos reconciliar e apresentar aceitáveis a Deus.45 E no que diz respeito à nossa aversão e incapacidade absoluta de converter-nos a Deus, e para o nosso resgate e segurança contra nossos adversários espirituais, precisamos de Seu ofício real para nos convencer, subjugar, atrair, sustentar, libertar e preservar para o Seu reino celestial.46

44 João 1:18
45 Colossenses 1:21; Gálatas 5:17
46 João 16:8; Salmos 110:3; Lucas 1:74-75

 

Intercessão Total

 

A força desses parágrafos está na afirmação da fidelidade de Deus. Deus pretende salvar um povo através de Cristo, e Ele cuidará disso para que esta salvação seja completa. Assim, a salvação é realizada através de Cristo e aplicada em Cristo, e Ele é fiel para realizar todos os aspectos desse trabalho. Os propósitos de Deus são eternos e imutáveis. Neste ponto, devemos garantir que nossa compreensão da intercessão inclua todo o Seu trabalho. Em outras palavras, quando nos concentramos no ministério da intercessão de Cristo, não devemos pensar apenas em termos de Sua intercessão em oração. Como o parágrafo oito observa, Ele intercede através da aplicação e comunicação do Evangelho para nós através do poder do Espírito. É através deste trabalho que somos “persuadindo-os a crer”. Paulo trata desse fato em Efésios 1 quando descreve o momento em que ouvimos a palavra da verdade, o evangelho da salvação, e cremos e somos selados. Cada componente desse gracioso ato é evidência da intercessão total de Jesus. Além disso, a Sua intercessão inclui o Seu governo de nossas vidas por Sua Palavra e Espírito.

 

Jesus Cristo Preserva o Seu Povo

 

As origens do parágrafo dez se derivam da Primeira Confissão de Londres. Este parágrafo resume muito do que foi tratado nos nove anteriores. Jesus Cristo, o Mediador, foi fiel na execução de Seus ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei. A ordem desses três ofícios é importante. Como os profetas de antigamente, Jesus foi ungido pelo Espírito de Deus para proclamar a Palavra de Deus. Moisés previu um futuro profeta (Deuteronômio 18:15), e Pedro atribuiu essa profecia a Jesus (Atos 3:22). Devido à nossa ignorância, precisamos de Cristo para declarar e prover o Evangelho para nós. À luz da nossa inimizade com Deus, nosso Sumo Sacerdote procurou reconciliar um povo escolhido com base em Seu decreto soberano. Nosso grande Sumo Sacerdote nos torna aceitáveis ​​aos olhos de Deus, e Sua obra de intercessão é eterna. Em todos os momentos Cristo é nossa justiça, nossa defesa e nosso sustentador. Cristo, o Rei, reina em nossas vidas, porque o Seu senhorio se estende a todas as esferas das nossas vidas. Seu governo soberano garante a nossa preservação. Em cada um desses modos, Jesus está preservando o Seu povo.

 

Como respondemos à graciosa provisão que temos em Cristo? Bem, como a canção diz, nós O coroamos. Deus nos criou para adorar, e nós o fazemos com nosso coração, alma, mente e força. Como coroamos a Jesus como Profeta, Sacerdote e Rei? Suponho que haja várias respostas, mas nossas respostas não devem ser menos do que o nosso humilde reconhecimento de que Deus nos forneceu tudo o que precisamos em Cristo. Coroa-lO como Profeta, Sacerdote e Rei é algo que Deus já fez, então, a nossa Coroação dessa forma é essencialmente nossa alegre confissão em nosso louvor e estilo de vida que nós pertencemos a Ele. Ele enriquece as nossas almas através de Sua palavra profética, Ele reconcilia e intercede por nós como nosso Sacerdote e Ele governa todas as coisas como Rei dos reis.

 

 


[1] Wayne Grudem, Teologia Sistemática (Editora Vida Nova).

[2] Herman Bavinck, Dogmática Reformada: O Pecado e a Salvação em Cristo, vol. 3. (Editora Cultura Cristã).

[3] John Dagg, Manual de Teologia (Editora Fiel).

[4] Grudem, Teologia Sistemática.

[5] Tom Nettles, By His Grace and For His Glory [Pela Sua Graça e Para a Sua Glória] (Lake Charles, LA: Cor Meum Tibi, 2002), 298.

[6] Stephen J. Wellum, “The New Covenant Work of Christ: Priesthood, Atonement, and Intercession,” in From Heaven He Came and Sought Her: Definite Atonement in Historical, Biblical, Theological, and Pastoral Perspective [A Obra de Cristo na Nova Aliança: Sacerdócio, Expiação e Intercessão”, em Do Céu Ele Veio e A Buscou: Expiação Definitiva em Perspectiva Histórica, Bíblica, Teológica e Pastoral], editado por David Gibson e Jonathan Gibson (Wheaton, IL: Crossway, 2013), 517–540.

[7] Thomas R. Schreiner, New Testament Theology: Magnifying God in Christ [Teologia do Novo Testamento: Magnificando a Deus em Cristo] (Grand Rapids, MI: Baker, 2008), 388.

[8] Stephen J. Wellum, God the Incarnate Son: The Doctrine of Christ [Deus, o Filho Encarnado: A Doutrina de Cristo] (Wheaton, IL: Crossway, 2016), 307.