A Primeira Confissão de Fé de Londres: Confissão de Fé Batista de 1644

CONTEXTO HISTÓRICO

No início do século 17, em 1633, na Inglaterra, começara a desabrochar um grupo de igrejas com práticas e ideias diferentes daquelas da igreja estatal. Estes irmãos eram integrantes de uma congregação independente, formada por separatistas ingleses que haviam deixado a igreja do Estado. Por não aceitarem o pedobatismo, amigavelmente, resolveram deixar a congregação e dar início a uma outra, que foi liderada pelo pastor John Spilsbury. Eram os Batistas Particulares. Não tinham nenhuma ligação com a igreja da Inglaterra. Discordavam abertamente, embora cautelosamente, da forma de religião estatal. Por isso, embora sendo pouco numerosos, começaram a ser notados. As igrejas Batistas começaram a crescer e a despertar um interesse maior por parte dos de fora. Suas crenças e práticas eram observadas e analisadas por alguns membros da igreja Anglicana e por outros separatistas, que também tinham deixado o anglicanismo.

Após o surgimento de muitos rumores que envolviam algumas congregações batistas em Londres, rapidamente elas passaram a ser identificadas com os Anabatistas. Estes eram considerados inimigos do estado, foras da lei, e não eram tolerados na Inglaterra. Um grande tumulto com numerosos mortos havia acontecido em um país vizinho, a Alemanha, e os Anabatistas eram acusados de serem os responsáveis. Por terem práticas semelhantes às dos Anabatistas, os primeiros batistas foram confundidos com eles na Inglaterra.

Porém, estas congregações batistas, diferente dos Anabatistas, defendiam uma teologia calvinistas.[1] Por isso, eram também denominados de Batistas Particulares. A qualificação ‘particular’ era necessária não apenas para demonstrar o tipo de teologia calvinista que eles defendiam, mas, para distingui-los do outro grupo de batistas ingleses, denominados batistas gerais. Estes últimos haviam regressado da Amsterdam liderados por Thomas Helwys. Enquanto os Anabatistas negavam o pecado original, os batistas particulares seguiam longe deste pensamento. Acreditavam na depravação completa de todos os seres humanos; na eleição incondicional, livre de qualquer fé prevista ou boa obra; na redenção particular, somente aos eleitos e não em um tipo de morte em favor de toda a humanidade e nem em uma ideia de morte para “tornar possível” ou criar uma “possibilidade de salvação” para todos os homens; perseverança de todos os eleitos e na graça irresistível sobre todos os eleitos. Tinham em alta estima uma forte teologia pactual. Traços doutrinários que os distanciava dos Anabatistas e os aproximava dos separatistas puritanos.

Em 1642 foi publicado um texto bastante suspeito, onde o povo da Inglaterra era convocado a ficar em alerta. O texto de nove páginas relembrava todos os incidentes que ocorreram na Alemanha, em Münster, onde os Anabatistas provocaram grande tumulto. O texto, anônimo, trazia o seguinte título: Um aviso para a Inglaterra, especialmente para Londres, na famosa história dos Anabatistas, suas pregações e práticas selvagens na Alemanha.[2] Obviamente, embora sutil, o texto era um alerta para o povo inglês se precaver contra os Batistas, pois acreditavam estarem diante de mais um movimento de Anabatistas. Havia um temor de que o motim que terminou em um grande tumulto provocado pelos Anabatistas na Alemanha se repetisse na Inglaterra.

A IDEIA DE PRODUZIR UMA CONFISSÃO DE FÉ

As sete igrejas batistas de Londres começaram a perceber que os rumores sobre eles se espalhavam e que a cidade já estava ficando alvoroçada com a ideia de que eles eram Anabatistas e que o horror que aconteceu em Münster se repetisse realmente em Londres. Havia deturpação e desentendimento em relação ao grupo de igrejas batistas. Suas crenças eram erroneamente apresentadas por seus opositores, suas práticas também eram rechaçadas e muitos as consideravam desafiadoras. Eram muitas vezes confundidos com o outro grupo de batistas, os gerais[3], ou não eram distinguidos deles.

No entanto, os batistas particulares pouco tinham em comum com os Anabatistas ou com os Batistas Gerais, com quem eram identificados. Embora houvesse uma forte semelhança no princípio do batismo, tendo em vista que os Batistas ingleses, assim como os Anabatistas só batizassem adultos que professassem sua fé em Cristo; suas diferenças eram muito maiores. Os Batistas Particulares, já por volta de 1641 praticavam a imersão completa no batismo, enquanto os Anabatistas e os Batistas Gerais simplesmente derramavam um pouco de água sobre a cabeça da pessoa batizada, a afusão. Quanto a essa “nova” forma de batismo, lemos:

Na década de 1640, vários membros desta congregação chegaram à convicção de que o batismo por afusão ou por aspersão, quer administrado a adultos ou a crianças, não era a forma de batismo praticada pelos apóstolos. Eles sustentavam o batismo de crentes por imersão. (SANTOS, Gilson. Fé e Ordem: Identidade e Unidade na História Batista, 2006. p. 05).

O que mais causava estranheza aos ingleses era exatamente a negação do pedobatismo, amplamente praticado por todos até aquele momento. Qualquer grupo que rejeitasse o batismo de criancinhas era taxado rapidamente de herege ou Anabatista. Era extremamente necessário para os Batistas tomar uma atitude.

Os batistas eram cidadãos honestos e que procuravam cumprir todas as suas obrigações civis.[4] No entanto, cada vez mais eles eram vistos como anabatistas que estavam prestes a provocar uma revolta em Londres. A literatura que circulava em Londres taxava-os de anabatistas e os pregadores também os acusavam. Foi devido a estes acontecimentos e por causa da incompreensão e deturpação dos ingleses quanto aos seus pontos de vista doutrinários e sociais, que, no início do movimento batista inglês, foi necessário que estas poucas congregações produzissem uma confissão de fé que servisse de defesa contra a acusação que lhes era lançada.

Embora seu modo de batizar fosse diferente daquele praticado pela igreja da Inglaterra, e, além disso, negarem o batismo a infantes, suas diferenças doutrinárias eram muito pequenas. A confissão a ser produzida seria um documento oficial das igrejas batistas que comprovaria a ortodoxia destes irmãos. Qualquer dúvida seria logo dissipada, pois qualquer cidadão inglês que estivesse interessado poderia obter o documento e examina-lo. A confissão a ser produzida, além de ser um documento oficial dos batistas particulares, e nesse sentido, um documento particular, era também, por outro lado, um documento aberto à sociedade inglesa e outros interessados. Foi por isso que foi produzida a Primeira Confissão Londrina ou Batista, em 1644.

A PRIMEIRA CONFISSÃO DE FÉ DE LONDRES

Em 1644 foi produzida a primeira Confissão de Fé dos Batistas de Londres. Jonh Spilsbury, William Kiffin e Hansed Knollys, dentre outros, redigiram uma Confissão onde eles declaravam suas crenças e de suas congregações. Um total de quinze pastores batistas particulares participaram da elaboração deste documento. A confissão tinha o propósito explicito de acabar com a confusão provocada pelos ingleses de que eles eram anabatistas. Na página do título lemos: “A CONFISSÃO DE FÉ de sete congregações ou igrejas de Cristo em Londres, que são comumente, embora injustamente, chamadas de Anabatistas”.​ [5]A Confissão de 1644, além de provar sua fidelidade doutrinária, claramente negava qualquer tipo de ligação com os anabatistas.

A confissão provava, dentre outras coisas, que os batistas tinham uma base firme e sólida, que muito se assemelhava à posição dos puritanos e às igrejas londrinas. A Confissão Batista de 1644 apresenta 53 artigos ricamente expostos em uma linguagem clara e sem deixar impressão de dubiedade. No final, em uma conclusão primorosa, reforça-se o que foi dito inicialmente: os batistas não são anabatistas. E num tom forte e corajoso, anunciam sua firme posição de não renunciarem sua fé, mesmo que a perseguição se torne evidente:

Assim, desejamos dar a Cristo o que é Seu, e a toda a autoridade legal o que lhe é devido, e não devendo nada a ninguém a não ser o amor, para que vivamos tranquila e pacificamente, como convém aos santos, esforçando-nos em todas as coisas para manter uma boa consciência, e fazer a cada homem (seja de que julgamento for) como gostaríamos que eles fizessem a nós mesmos, de modo que como é a nossa prática, assim possamos ser provados ser um povo consciencioso, pacífico, inofensivo (de modo nenhum perigosos ou perturbadores da sociedade) e que labora e trabalha com suas próprias mãos, para que nós não sejamos pesados a ninguém, mas suprindo aquele que está em necessidade, seja amigo ou inimigo, considerando ser melhor coisa dar do que receber. Nós também confessamos que nós conhecemos em parte, e que nós somos ignorantes em muitas coisas que nós anelamos e buscamos conhecer; e que se alguém nos mostrar fraternalmente, a partir da Palavra de Deus, aquilo que não vemos, teremos motivo para agradecer a Deus por eles. Mas, se qualquer homem impor sobre nós qualquer coisa que consideremos não ser ordenada por nosso Senhor Jesus Cristo, nós, em Sua força, antes abraçaremos todas as reprovações e torturas de homens, de modo a sermos despojados de todos os confortos exteriores, e se fosse possível, morreríamos mil mortes, ao invés de fazer qualquer coisa contra o menor til da verdade de Deus, ou contra a luz de nossas próprias consciências. E, se qualquer um chamar de heresia o que nós temos dito, então, nós com o Apóstolo confessamos que conforme aquele caminho que chamam seita, assim servimos ao Deus de nossos Pais, crendo em tudo quanto está escrito na Lei e nos Profetas e Apóstolos, desejando renunciar e afastar para longe de nossas almas todas as heresias (corretamente assim chamadas), porque elas são contra Cristo, e seremos firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, como sabendo que o nosso trabalho não será em vão no Senhor. (Primeira Confissão de Fé de Londres, 1644. Grifo meu).

Este documento batista foi dependente de várias fontes mais antigas. Já era prática comum a confecção e o uso de confissões de fé e catecismos. Lutero produziu tanto confissões, como catecismos para os iniciantes firmarem seus primeiros passos. Mas os batistas ainda não haviam produzido documentos confessionais. O grupo de separatistas que migrou para a Holanda liderado por John Smith e Thomas Helwys tinha se esfacelado. Smith havia se juntado aos menonitas e Helwys assumiu a liderança do pequeno grupo. Algumas cartas escritas por Helwys aos menonitas, na tentativa de que eles não recebessem a John Smith, apresentam declarações de fé do próprio Helwys, mas que nunca foram oficialmente reconhecidas e nem publicadas[6] (naquele período). Estas são as raízes dos Batistas Gerais.

AS FONTES UTILIZADAS NA ELABORAÇÃO DA PRIMEIRA CONFISSÃO LONDRINA

Segundo Nettles “Uma grande parte destas afirmações, da Primeira Confissão de Londres, estava baseada na confissão Separatista escrita por Henry Ainsworth, um membro da congregação Separatista de Francis Johnson.”[7] O primeiro pastor Batista Particular, John Spilsbury, também teve grande participação na teologia da Primeira Confissão Londrina. Uma outra confissão conhecida como A TRUE CONFESSION, de 1596, parece ter sido amplamente utilizada na confecção da primeira confissão londrina, bem como o livro do puritano William Ames:

Provavelmente o melhor e mais detalhada confissão à sua disposição foi a Verdadeira Confissão, de 1596, (…) About 50% of their Confession was taken directly from this older document. Cerca de 50% de sua confissão foi influenciada diretamente a partir deste documento mais antigo. In addition, they relied very heavily on a book called The Marrow of Theology , written by a very famous and important puritan, William Ames. Além disso, eles confiaram muito em um livro chamado The Marrow of Theology, escrito por um famoso e muito importante puritano William Ames. They brought together this material from the sources available to them, for one specific purpose: to prove that they had a great deal in common with the churches and ministers around them. Eles reuniram esse material a partir das fontes disponíveis, para uma finalidade específica: provar que eles tinham muito em comum com as igrejas e os ministros em torno deles. (RENIHAN, James M. Confessing The Faith in 1644 and 1689. Tradução minha).

As sete congregações batistas reconheceram nestas obras uma excelente fonte, já que a antiga Confissão Verdadeira apresentava pontos eclesiológicos comumente aceito pelos Batistas Particulares: 1. Uma igreja pura; 2. Liberdade de consciência; 3. Batismo somente de crentes; 4. Autonomia da congregação; e 5. Separação da igreja com o Estado.[8] O livro de William Ames, por outro lado, serviu como base teológica saudável e ortodoxa.  Um fato importante é que esta confissão batista é totalmente independente da Confissão de Fé de Westminster, a mais importante confissão de fé reformada do século 17. Já a Confissão de Fé Batista de 1689 utilizou-se amplamente deste último documento, diferindo dele apenas em alguns pontos, sobretudo nos pontos distintivos dos batistas. Essa dependência tem gerado certo mal estar entre alguns batistas.

Alguns estudiosos têm apresentado uma interpretação histórica diferente quanto à origem da Confissão Londrina. Defendem a idéia da originalidade da Confissão Londrina de 1644, sem qualquer fonte primária de consulta e apoio. Seria um documento essencialmente Batista: “A Primeira Confissão de Londres é puramente uma confissão batista. Ela não deve a sua origem a qualquer outra confissão.” A desaprovação da Segunda Confissão Londrina é clara e imediata: “Portanto, em lugar de copiar uma confissão pedobatista já existente, ou norma de teologia, como é o caso da Segunda Confissão de Londres, os escritores da Primeira Confissão de Londres ocuparam um lugar original, reafirmando suas declarações” (The First London Confession Of Faith: In Parallel Forms with Supporting Documents Being the Editions of 1644, 1646, 1651 and 1652).[9]

Embora a Segunda Confissão de Londres seja quase idêntica em grande parte de sua linguagem e teologia à Confissão de Westminster e à Declaração de Savoy, não podemos chamá-la simplesmente de “cópia” destes outros documentos. Os teólogos batistas acreditavam em um sistema teológico que expressava, em quase tudo, o corpo doutrinário apresentado nos documentos citados. A Primeira Confissão de Londres é uma prova disso.

O contexto político em que a Segunda Confissão foi produzida teve grande influência. A Inglaterra atravessava um período de grandes mudanças políticas:

1.O rei há pouco tempo havia sido decapitado por Cromwell;

2. Cromweel assume a posição de “Protetor da Inglaterra”, dando-lhe uma nova direção política;

3. Com a morte de Cromweel, a linhagem dos Stuart reassume o trono inglês e inicia-se um período de perseguição a todos os protestantes dissidentes, inclusive os Batistas.

Depois deste período de trevas, quando as igrejas estavam entrando em um período de paz e liberdade, e a fim de demonstrar acordo teológico com as demais igrejas reformadas, observando as declarações de fé então produzidas pelos demais grupos cristãos, os Batistas optam por reafirmar sua fé, produzindo a sua Segunda Confissão, que não anula em nada a primeira, sendo apenas mais estendida e mais detalhada que a Confissão de 1644, e apresentando claramente um acordo com os demais igrejas reformadas:

Em seus esforços para mostrar grande acordo com outros grupos protestantes, eles decidiram por fazer uso de muitas palavras iguais em ambos os artigos em que a nossa fé e doutrina é a mesma deles. Com espírito humilde eles afirmaram: “nós não temos nenhuma coceira no ouvido para obstruir a religião com novas palavras, mas prontamente concordamos com a boa forma de expressão que tem sido, de acordo com a Sagrada Escritura, usadas por outros antes de nós.” (NETTLES, Thomas. By His Grace, And For His Glory, Founders Press, 2006, p. 8.)

Porém, a Segunda Confissão Batista apresenta claramente pontos doutrinários divergentes com a Confissão de Westminster e Savoy. Além do mais, as sentenças não são totalmente iguais, mas contém pequenas mudanças na linguagem, onde os teólogos batistas acharam necessário. Provando assim, sua marca e singularidade que a torna inegavelmente uma Confissão de Fé Batista.

Quanto à primeira confissão dos Batistas, A Confissão Londrina de 1644 foi adotada por sete Igrejas Batistas Particulares. Eram elas: 1. A Igreja em Wapping; 2. A Igreja de Devonshire Squire; 3. A Igreja Crutched Fryars; 4. A Igreja em Southwark; 5. A Igreja em Petty France; 6. A Igreja de Glasshouse. Por falta de documentos históricos, existe certa obscuridade quanto à última das sete igrejas a assinarem a Primeira Confissão de Fé de Londres. Na página inicial da edição de 1646, lemos:

A CONFISSÃO DE FÉ de sete congregações ou igrejas de Cristo em Londres, que são comumente, embora injustamente, chamadas de Anabatistas; publicada pela vindicação da verdade e a informação dos ignorantes; semelhantemente para a remoção daquelas calúnias que são com frequência, tanto no púlpito e por impresso, lançadas injustamente sobre elas.

Impressa em Londres, Ano de 1646.

A REPERCUSSÃO DA CONFISSÃO ENTRE OS PEDOBATISTAS

A Confissão dos batistas logo foi alvo de críticas. Um ano após ter sido concluída e apresentada ao povo inglês, o Rev. Stephen Marshall lançou dúvidas e não poupou críticas à confissão londrina. Marshall foi membro da Assembléia de Westminster e atacava os Batistas em virtude do grupo rejeitar o pedobatismo. John Tombes enviou uma carta a Marshall,[10] e analisou um dos seus sermões onde foram feitas críticas aos Batistas. Na carta ele responde a acusação de Marshall contra os Batistas apontando-lhe justamente a Confissão Londrina como uma prova da ortodoxia dos Batistas Particulares.

O Dr. Featley, um outro homem que esteve presente na Assembléia de Westminster, falou em favor dos Batistas Particulares após examinar a Confissão Londrina. Embora também tenha feito críticas a alguns artigos da confissão, ele a reconheceu como ortodoxa. Segundo ele, os batistas não podem ser comparados com as numerosas heresias em voga. Os Batistas não ensinavam o livre arbítrio ou o ‘cair da graça’ como os arminianos; não negavam o pecado original, como faziam os pelagianos; não eram insubordinados com os magistrados, como os Jesuítas; não promoviam a idéia da comunhão dos bens; não eram polígamos, não andavam nus, como os adamitas; não acreditavam no ensino da aniquilação da alma (morte da alma).[11]

Embora com alguns defensores, os batistas particulares apresentavam na Confissão Londrina de 1644 alguns artigos de fé que colidiam com o pensamento dominante naqueles dias: 1. O artigo VIII assegura que as Escrituras são inteiramente suficientes para governar os santos em todos os aspectos da vida; 2. Os artigos XXXIX; XL e XLI, asseguram que o batismo deve ser administrado exclusivamente em pessoas regeneradas e por imersão completa; 3. O artigo XXV torna a pregação da lei desnecessária, bem como todo o sistema cerimonial do Antigo Testamento; 4. O artigo VII trata da salvação e condenação. Quanto à salvação das crianças que morrem na infância, os batistas silenciam quanto ao seu futuro. Nem afirmam a sua eleição e nem a sua preterição. Isso era visto como um dos mistérios insondáveis de Deus. Todos esses pontos de vistas escritos na confissão londrina causavam um clima de desconfiança, que aliás, era de ambas as partes. Os primeiros batistas também se recusavam a ouvir um pedobatista pregar, além de não permitirem que seus mortos fossem sepultados com eles.[12] Isso nos mostra que os batista conservavam, num certo grau, um certo tipo de orgulho exclusivista.

Não obstante tudo isso, a Confissão Londrina de 1644 passou a ser observada com mais seriedade. Três edições, com pequenos ajustes, foram editadas e apresentadas em 1646, 1651 e 1652 respectivamente. Os batistas particulares passaram a ser vistos como um grupo separatista distinto, principalmente dos anabatistas e dos batistas gerais.

O FUTURO DA PRIMEIRA CONFISSÃO DE LONDRES

Depois de suas sucessivas edições, a Confissão Londrina continuou ser o documento comumente aceito pelas Igrejas Batistas Particulares na Inglaterra e no continente. Mas, com a elaboração da Confissão de Westminster, que arrolava todas as igrejas reformadas e que fora organizada com um conteúdo teológico considerado excelente, e sua popularidade em alta, a velha confissão começou a perder força.

Poucas igrejas, depois de 1677, quando a Segunda Confissão Londrina foi elaborada, tendo como base a Confissão de Fé de Westminster e a Confissão de Savoy, continuaram a usar a Primeira Confissão de Londres. Na promulgação da segunda confissão, em 1689, a velha confissão recuou ainda mais, e a grande maioria das Igrejas Batistas adotou a Segunda Confissão Londrina. Nos Estados Unidos a Confissão de 1689 foi amplamente adotada por Igrejas, Associações e Convenções. Com o título de CONFISSÃO BATISTA DA PHILADÉLFIA, e com o acréscimo de mais dois capítulos e sem qualquer alteração nos capítulos já presentes, ela foi largamente difundida. Hoje, raríssimas são as igrejas que adotam a Primeira Confissão, embora ela não seja desprezada. Seu interesse parece estar mais restrito a indivíduos do que a igrejas ou Associações.

 


[1] O texto da primeira confissão londrina deixa explicito a teologia esposada pelas sete congregações batistas, não apenas no que se refere à teologia calvinista, mas a outros pontos importantes que asseguravam a sua ortodoxia.

[2] RENIHAN, James M. Confessing The Faith in 1644 and 1689. Acessado em: http// reformedreader.org. Acessado em 27/05/10.

[3] Os Batistas Gerais sempre foram um número reduzido em Londres, sem muita expressividade.

[4]  Ibid.

[5] A Confissão de Fé de Londres de 1644. Nesta nota inicial da confissão batista lemos uma declaração que desqualifica qualquer pessoa a insinuar uma ligação dos batistas com os Anabatistas. Era exatamente assim que os ingleses, em sua maioria, entendiam. Eles fizeram questão de esclarecer com esta nota sua total desarmonia com este grupo. A idéia de que a origem dos batistas remonta aos Anabatistas ainda é defendida por muitos pessoas hoje em dia, embora falte-lhes argumentos históricos.

[6] Alguns documentos de autoria de Thomas Helwys: Short Confession of Faith in XX Articles (1609); A Short Confession of Faith (1610); A Declaration Of Faith Of English People Remaining At Amsterdam (1611). Esta última foi escrita em nome da sua igreja.

[7] NETTLES, Thmas. By His Grace, And For His Glory, Foundres Press, 2006, pp. 4-5.

[8] A True Confession. Acessado em: http://reformedreader.org/ccc/atf.htm. Acessado em 28/05/10.

[9] The First London Confession Of Faith: In Parallel Forms with Supporting Documents Being the Editions of 1644, 1646, 1651 and 1652. Acessado em: http://vitorian.fortunecity.com/dadd/464/confession.html. em 27/05/10.

[10] As declarações de Tombes em defesa dos batistas estão em um tratado intitulado: “Um Exame no Sermão do Sr. Stephen Marshall, sobre batismo infantil.”

[11] RENIHAN, James M. Confessing The Faith in 1644 and 1689. Acessado em: http// reformedreader.org. Acessado em 27/05/10.

[12] The First London Confession Of Faith: In Parallel Forms with Supporting Documents Being the Editions of 1644, 1646, 1651 and 1652. Acessado em: http://vitorian.fortunecity.com/dadd/464/confession.html. em 27/05/10.

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