As diferenças teológicas substanciais que começaram a surgir nos dias dos apóstolos fizeram com que eles desenvolvessem declarações confessionais curtas e concisas que resumissem elementos vitais do ensino apostólico. Estes serviram de ponto de divisão entre os que professavam a verdade e os que professavam o erro. O apóstolo João encontrou alguns professos infiltrados na igreja que ensinavam que Jesus era apenas um espírito que parecia estar em um corpo verdadeiro. Outros ensinaram que Jesus era apenas um homem que serviu por pouco tempo como um veículo para a presença e o ensino de que um espírito divino o deixou pouco antes dEle morrer.
A fim de expor os professos de ambos os erros, João apresentou uma declaração confessional simples, mas altamente evocativa: “Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus”. (1 João 4:2-3). A parte negativa dessa confissão toma o contexto da primeira parte, isto é, não é de Deus quem não confessa que o homem chamado Jesus é o Cristo que veio em carne.
1. Significa que temos comunhão com o Pai
Essa confissão resume muito do ensino básico que João enfatizou ao longo desta carta. Ao mostrar que Deus, o Filho, Jesus de Nazaré e o Cristo prometido eram todos a mesma pessoa desde o ponto de sua concepção, João encheu sua curta epístola com uma pertinente e fértil fraseologia. Nossa comunhão é com “Pai, e com seu Filho Jesus Cristo” (1:3). O homem que eles conheciam como Jesus existiu eternamente como o Filho de Deus e veio ao mundo em cumprimento de todas as profecias messiânicas, para efetuar nossa comunhão com o Pai.
2. Significa que temos perdão
O perdão dos pecados só vem através do “sangue de Jesus Cristo, seu Filho” (1:7). Este que eternamente é o Filho de Deus, na sua vinda à Terra, teve sangue como outros seres humanos. Agora, no Céu exaltado, aquele que intercede por nós como um advogado com base em seu derramamento de sangue substitutivo, sentado à mão direita do Pai é “Jesus Cristo, o justo” (2:1). Essa é uma verdade tão fundamental que João perguntou: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?” (2:22).
3. Significa que não há outro caminho
Tão vital para o conhecimento e a comunhão com o verdadeiro Deus é uma visão apropriada e crença neste Jesus que João afirmou absolutamente: “Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai”, e por outro lado, “aquele que confessa o Filho, tem também o Pai” (2:23). Se a mensagem que tinham ouvido dele permanecesse em suas mentes como uma verdadeira confissão de seus corações, então eles mesmos “permaneceriam no Filho e no Pai” (2:24).
4. Significa que as ameaças de Satanás são vãs
“Para isto o Filho de Deus se manifestou”, João ensinou, “para desfazer as obras do diabo” (3:8). Assim, o escritor de Hebreus também afirmou em Hebreus 2:14-15. Parece que a oposição original que surgiu na mente desse anjo originalmente glorioso foi precisamente no ponto do propósito de Deus para enviar seu infinitamente glorioso, eternamente gerado, perfeitamente amoroso e amado Filho para ser um em natureza com os seres humanos (Hebreus 2:11). Diante da ideia da posição gloriosa que isso daria à humanidade, Satanás, certamente mesmo sem compreender tudo que isso envolvia, revoltou-se. Jesus reconheceu claramente a natureza sinistra dessa objeção primitiva ao propósito eterno e ao arranjo da aliança imutável de Seu Pai quando Pedro argumentou que Jesus certamente não tinha vindo para morrer (Mateus 16:21-23). Ironicamente, “as obras do diabo” tornaram necessária exatamente aquilo que Satanás tanto odiou.
5. Significa que a lei de Deus é cumprida
Verdadeiramente encontramos o resumo de todos os mandamentos de Deus neste: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (3:23). Pois, amarmos uns aos outros cumpre a segunda tábua dos Mandamentos; crer em “seu Filho Jesus Cristo” é equivalente à perfeita obediência à primeira tábua. Ao crermos no nome de “seu Filho Jesus Cristo”, adoramos o único Deus verdadeiro, honramos Seu nome e adoramos a imagem do Deus invisível. O resumo confessional vem então nos primeiros 8 versículos do capítulo 4, versículo 2 em particular: “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus”. Nesta confissão, João envolve tudo o que disse sobre o Filho de Deus, Jesus, o Cristo.
6. Significa que a vida de fato é nossa
A confissão, então, promove várias outras afirmações de peso que dão maior plenitude e consistência ao resumo confessional: Confessar-Lhe é ter vida pois “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (4:9), e quem tem “o Filho tem vida” e quem “não tem o Filho de Deus não tem vida” (5:12).
7. Significa que conhecemos o amor de Deus
Foi somente na carne que Jesus pôde fazer aquilo para o que Ele veio, e somente na carne Ele pôde dar a manifestação plena e efetiva do amor soberano de Seu Pai pelas pessoas dadas ao Seu Filho. “Ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (4:10). Com seus próprios olhos, João tinha visto, e o Espírito Santo revelara esta verdade para seu próprio espírito: “E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (4:14). A confissão apropriada, a confissão que expressa total confiança no amor de Deus para conosco, portanto, é reiterada: “Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus” (4:15).
8. Significa que nascemos de novo
A primeira evidência do novo nascimento, a fé que vence o mundo, é a crença de que “Jesus é o Cristo” e que “Jesus é o Filho de Deus?” (5:1, 5). Tal crença só vem quando o Espírito testifica à consciência de alguém, pois “quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho” (5:10).
9. Significa que acreditamos na pessoa e na obra de Cristo
A crença verdadeira de que Ele é o Cristo e o Filho de Deus inclui a convicção da necessidade de Sua plena justiça e morte substitutiva, porque Aquele em Quem professamos acreditar é “aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo” (5:6). Ele se submeteu ao Batismo de João Batista, não para o arrependimento, mas para “cumprir toda justiça” [Cf. Mateus 3:15]. O arrependimento e sua manifestação pública no Batismo testemunham a justiça absoluta da lei de Deus e a nossa submissão à Sua resposta na morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Cristo se identificou com aquela confissão em Seu Batismo, comprometendo-se assim a Seu batismo em sangue pelo qual faria a mesma confissão. Ele veio pela água, comprometendo-Se com a justiça absolutamente perfeita. Ele veio pelo sangue, completando essa justiça e testemunhando a Sua inviolabilidade por ser “obediente até à morte, e morte de cruz” [Cf. Filipenses 2:8].
10. Significa que somos mantidos pela verdade
De fato, a totalidade da fé Cristã, a confiança da vida eterna, a única esfera em que alguém pode ter o verdadeiro conhecimento do verdadeiro Deus, encontra expressão nesta confissão: “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (5:20).
Portanto, a confissão sumária de 4:2-3 tem implicações poderosas e a linguagem é cuidadosamente selecionada para manter a fidelidade com cada parte do ensinamento do apóstolo de que Jesus, o Filho de Deus, é o Cristo em natureza humana para o propósito da redenção. Acreditar em outra coisa é acreditar em um deus falso. A admoestação final, portanto, adverte sobriamente: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (5:21).
11. É um paradigma para todas as confissões
Embora não se possa atribuir o status de inspiração às proposições individuais de confissões históricas, extra-canônicas, o mesmo princípio apostólico de dar uma suma que distingue a verdade do erro é operacional. Além disso, deve-se admitir que essas confissões, na medida em que se pode afirmar a verdadeira natureza bíblica de cada proposição, têm a força moral da inspiração e exigem o compromisso consciente.