Batistas Particulares e suas Confissões de Fé: O início da história confessional dos Batistas, por Marcus Paixão

A Origem dos Batistas 

Os Batistas constituem-se um grupo cristão que está espalhado hoje em todos os continentes do globo terrestre, auxiliado por fortes instituições educacionais e um grande empenho missionário, o que faz com que o grupo cresça e se propague rapidamente. Sua história tem origem no século XVII, na Europa, num momento de grande efervescência religiosa.

A origem dos Batistas tem demonstrado uma certa complexidade, sendo geralmente apresentadas quatro propostas básicas.[1] Segundo (THOMPSON, 2011), a primeira proposta defende a existência de uma sucessão de igrejas Batistas desde o primeiro século, iniciada com João Batista. É conhecida popularmente como JJJ (João Batista – Jordão – Jerusalém). A segunda proposta ensina que os Batistas são descendentes do grupo mais radical no período da reforma protestante: os Anabatistas. Mesmo não formando uma linha de ligação clara entre igrejas Anabatistas e Batistas, defende-se a existência de formas de fé e de práticas que podem ser traçadas até os Anabatistas. A terceira visão defende que, mesmo os Batistas tendo emergido do movimento Separatista inglês, eles foram fortemente influenciados pelos radicais Anabatistas. Finalmente, o quarto ponto de vista defende que os Batistas descendem do movimento Puritano Separatista inglês na primeira metade do século XVII. Nesta visão os Anabatistas teriam influenciado minimamente os Batistas.

Atualmente as três primeiras teorias são pouco sustentadas pelos historiadores modernos devido à falta de evidências históricas. O quarto ponto, que defende a origem dos Batistas a partir do movimento puritano separatista inglês apresenta forte embasamento documental, além do fato de que os Batistas podem ser ininterruptamente identificados a partir deste movimento. Pela farta evidência documental, seguimos a quarta teoria.[2]

A moderna denominação Batista originou-se na Inglaterra e na Holanda, no início do século XVII. Os Batistas emergiram num período onde os movimentos de reforma religiosa estavam bem fortalecidos, tendo à frente radicais que eram chamados de Puritanos,[3] Separatistas[4] e possivelmente Anabatistas,[5] todos sob forte influência teológica dos reformadores, especialmente de Zwínglio e Calvino, e um poderoso desejo de reforma espiritual (MCBETH, 1987).

Os primeiros Batistas podem ser divididos em dois grupos. Alguns destes primeiros crentes seguiram a uma tradição teológica diferenciada quanto ao entendimento do batismo. Passaram a batizar somente indivíduos que professassem a fé, adultos, abandonando a prática comum do batismo infantil. Também passaram a adotar a imersão[6] como a maneira de batizar, excluindo o batismo por afusão[7] ou aspersão.[8]Esse grupo ficou conhecido como Batistas Particulares, não tanto por essas práticas, mas principalmente por entender que a morte de Jesus Cristo foi um ato específico em favor dos eleitos, isto é, daqueles que foram predestinados para a salvação. Cristo morreu “particularmente” pelos eleitos, daí o termo Batista Particular.

Este movimento dos Batistas Particulares nasceu por volta de 1630, através da insatisfação de alguns separatistas ingleses, que já não suportavam mais conviver em meio a crenças que eles não concordavam, em especial o pedobatismo.[9] Os Particulares inicialmente foram liderados por Henry Jessey, William kiffin e John Spilsbury, ambos ministros ordenados. De forma pacífica deixaram a comunhão da igreja separatista que faziam parte e começaram a formar uma nova comunidade de crentes, cujo entendimento bíblico se distanciava em alguns pontos dos demais separatistas. Em 1633, em Londres, foi formada a primeira Igreja Batista Particular, liderada pelo pastor John Spilsbury (NETTLES, 2005; THOMPSON, 2011).

Um pouco antes dos Batistas Particulares, em 1609, surgiu na Holanda outro grupo, que mais tarde foi denominado de Batistas Gerais, definidos dessa forma exatamente para que os dois grupos não fossem confundidos. Assim como os Batistas Particulares, os Batistas Gerais eram formados por separatistas ingleses. Estes, fugindo da perseguição inglesa promovida pelo rei Tiago I, procuraram abrigo na Holanda. Ali, sob a liderança de dois homens, John Smith e Thomas Helwys, fundaram aquela que ficou conhecida como a primeira Igreja Batista. Conforme destaca (OLIVEIRA, 1997, p. 29):

Neste ambiente foi que surgiu a primeira igreja batista, cujo primeiro pastor foi João Smith, que tinha formação teológica em Cambridge. Ele contou com um auxiliar muito importante, que era leigo e também advogado, Thomas Helwys. Eles, que antes eram anglicanos, tornaram-se seguidamente puritanos, separatistas e depois batistas.

Ao contrário dos Particulares, defendiam que Jesus Cristo morreu para salvar toda a humanidade, isto é, a salvação não era de caráter exclusivista, mas geral. Também defendiam o batismo somente de crentes, deixando a prática de batizar infantes. Porém, a forma de batismo continuou sendo a antiga prática da afusão. Na ocasião do início dos trabalhos, John Smith, que pastoreava o grupo, rebatizou a si mesmo, derramando água sobre a própria cabeça, depois tratou de batizar Helwys e os demais, que contavam cerca de quarenta pessoas (OLIVEIRA, 1997). Este grupo Batista foi bastante influenciado pelo Anabatistas Menonitas holandeses, principalmente seu pastor, John Smith, que mais tarde deixou o grupo e juntou-se aos Anabatistas. Em 1612 Helwys retorna a Inglaterra e em Spitafields funda a primeira Igreja Batista inglesa. Segundo (PEREIRA, 2001, p. 51) “em 1626 essa igreja e mais quatro outras entraram em correspondência fraternal com os Menonitas da Holanda”, revelando que Batistas Gerais e Anabatistas – apesar do desprezo de Helwys pelos Anabatistas – mantiveram algum tipo de comunhão.[10]

Os Batistas Particulares também tiveram algum tipo de influência dos Anabatista, através de um grupo chamado Colegiants.[11] Conforme menciona (McBETH, 1987, s/p) em sua pesquisa

Ambos os grupos floresceram na Inglaterra. Em 1650 os Batistas Gerais contavam cerca de quarenta e sete igrejas. Eles se agruparam em associações, produziram várias confissões de fé, e tinham os rudimentos de uma organização nacional. Os Batistas Particulares, enquanto poucos, tinham apenas sete igrejas em 1644. Estas igrejas atuaram juntas para elaborar uma confissão de fé naquele ano.

Mesmo com raízes separatistas, os dois grupos mantinham claras distinções. Smith e Helwys defendiam ideias separatista mais rígidas, enquanto que o grupo dos Batistas Particulares era mais moderado, oriundo de um grupo considerado semi-Separatista. Dessa forma

Smith exigia uma total separação da Igreja da Inglaterra, a qual ele considerava como Anticristo. Em contraste, o semi-Separatismo em torno dos Batistas Particulares aceitava a Igreja da Inglaterra como uma igreja verdadeira, mesmo com muitos problemas e imperfeições. Seu relacionamento com a Igreja da Inglaterra, e suas razões para adotar o batismo de crentes, revelam muita diferença dos Batistas Gerais (McBETH, 1987, s/p).

Essa distinção entre os dois grupos de Batistas deu início a uma tradição teológica distinta. Enquanto que um dos grupos, os Gerais, recebeu menos influência dos teólogos calvinistas e mais influência dos Anabatistas holandeses (Menonitas), o que moldou fortemente suas crenças, o outro grupo, os Particulares, seguiu fortemente o calvinismo, sendo pouco influenciado pelos Anabatistas (Colegiants). Essas diferenças foram expressas com clareza nos primeiros documentos ou confissões de fé que os dois grupos produziram.

Inicialmente estes grupos não eram designados de Batistas. Geralmente eram confundidos com Anabatistas por causa da prática de rebatizar. Segundo (McBETH, 1987)  eles se auto-proclamavam “irmãos” ou “igrejas batizadas” ou ainda “igrejas que batizam pelo caminho”. Foi somente no início de 1640 que eles passaram a ser chamados por outros cristãos de “Batistas”, levando-os a se auto-denominar dessa forma nos anos iniciais de 1650, e, ao longo do século, essa designação foi aceita de forma generalizada pelos dois grupos. Ainda que os dois grupos tenham sido chamados de “Batistas”, o entendimento doutrinário de cada grupo era distinto, sendo expostos nos vários documentos de fé que eles elaboraram.

As Primeiras Confissões de Fé dos Batistas

Os Batistas Gerais produziram, em 1609, sob a liderança de John Smith, sua primeira confissão de fé, intitulada Uma Pequena Confissão. Esse documento refletia os padrões de fé confessados pelos Batistas Gerais. Surgiram várias outras confissões de fé no grupo dos Batistas Gerais: Uma Pequena Confissão de Fé, redigida pelo grupo de Thomas Helwys em 1610; Uma Declaração de Fé do Povo Inglês Permanecendo em Amsterdã na Holanda, em 1611; Proposições e Conclusões, de 1612-1614; Fé e Prática das 30 Congregações, de 1651; a Confissão Padrão, em 1660; e o Credo Ortodoxo, escrito em 1678, que, nas palavras de (McBETH, 1987, s/p), “talvez a mais completa de todas as confissões dos Batistas Gerais”.

As Principais Confissões de Fé dos Batistas

CONFISSÃO DE FÉ

ANO

Uma Pequena Confissão

1609

Uma Pequena Confissão de Fé

1610

Uma Declaração de Fé do Povo Inglês Permanecendo em Amsterdã

1611

Proposições e Conclusões

1612 – 1614

Confissão de Fé de Londres

1644

Fé e Prática das 30 Congregações

1651

A Confissão Padrão

1660

Credo Ortodoxo

1678

Segunda Confissão de Fé de Londres

1677 – 1689

Confissão de Fé da Filadélfia

1742

Confissão de Fé de New Hampshire

1833

Declaração de Fé das Igrejas Batistas do Brasil

c. 1890

Mensagem e Fé Batista

1963

Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira

1986

Mesmo florescendo inicialmente na Inglaterra, em meados do século XVIII, o grupo dos Batistas Gerais começou a se dissolver doutrinariamente, abandonando os pilares da fé cristã e defendendo posições consideradas heréticas. O grupo passou a defender a posição Unitarista,[12] distanciando-se da ortodoxia cristã e tornando-se sem muita expressão na Europa e nos Estados Unidos, para onde tinham migrado anteriormente.

O grupo dos Batistas Particulares, embora tenha iniciado alguns anos depois dos Gerais e não tenha crescido tanto inicialmente, começou a ganhar destaque em meados de 1640 (McBETH, 1987; NETTLES, 2005). Enquanto os Gerais, depois de experimentarem um rápido crescimento começaram a perder força, os Particulares, ao contrário, depois de um começo mais tímido, ganharam força e cresceram, sobrepujando os Batistas Gerais e se tornando o grupo Batista mais numeroso e influente em toda a Europa.

Classificação das Confissões de Fé Batistas

CONFISSÃO DE FÉ

ANO

GRUPO

PAÍS

Uma Pequena Confissão

1609

Geral

Holanda

Uma Pequena Confissão de Fé

1610

Geral

Holanda

Uma Declaração de Fé do Povo Inglês

Permanecendo em Amsterdã

1611

Geral

Holanda

Proposições e Conclusões

1612 – 1614

Geral

Confissão de Fé de Londres

1644

Particular

Inglaterra

Fé e Prática das 30 Congregações

1651

Geral

Inglaterra

A Confissão Padrão

1660

Geral

Credo Ortodoxo

1678

Geral

Segunda Confissão de Fé de Londres

1677 – 1689

Particular

Inglaterra

Confissão de Fé da Filadélfia

1742

Particular

EUA

Confissão de Fé de New Hampshire

1833

Particular

EUA

Declaração de Fé das Igrejas Batistas do Brasil

c. 1890

Particular

Brasil

Mensagem e Fé Batista

1963

Moderada[13]

EUA

Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira

1986

Geral

Brasil

Os Batistas Particulares discordavam cautelosamente da religião estatal predominante na Inglaterra. Por isso, embora sendo pouco numerosos, começaram a ser notados. As igrejas Batistas começaram a crescer e a despertar um interesse maior por parte da Igreja Anglicana e de outros grupos separatistas. Suas crenças e práticas eram observadas e analisadas pelos anglicanos e pelos Separatistas, que também tinham deixado o anglicanismo.[14] Após o surgimento de muitos rumores que envolviam algumas congregações Batistas em Londres, rapidamente os Particulares passaram a ser identificados com os Anabatistas, que eram considerados inimigos do estado, foras da lei, e não-tolerados na Inglaterra. Um grande tumulto com numerosos mortos havia acontecido na Alemanha, e os Anabatistas eram acusados de serem os responsáveis. Por terem práticas semelhantes às dos Anabatistas, os primeiros Batistas Particulares foram confundidos com eles na Inglaterra.[15]

Em 1642 foi publicado um texto bastante suspeito, onde o povo da Inglaterra era convocado a ficar em alerta. O texto de nove páginas relembrava todos os incidentes que ocorreram na Alemanha, em Munster, onde os Anabatistas haviam provocado grande tumulto. O texto, anônimo, trazia o seguinte título: “Um aviso para a Inglaterra, especialmente para Londres, na famosa história dos Anabatistas, suas pregações e práticas selvagens na Alemanha”.[16] O texto era um alerta para o povo inglês se precaver contra os Batistas, pois acreditavam estar diante de mais um movimento de Anabatistas. Havia um temor de que o motim que terminou em um grande tumulto provocado pelos Anabatistas na Alemanha se repetisse na Inglaterra.

As sete igrejas Batistas de Londres começaram a perceber que os rumores sobre eles se espalhavam e que a cidade já estava ficando alvoroçada com a ideia de que eles eram Anabatistas. Havia deturpação e desentendimento em relação aos Batistas Particulares. Eram muitas vezes confundidos com o outro grupo de Batistas, os Gerais. Os Batistas Particulares, já por volta de 1641, praticavam a imersão completa no batismo, enquanto os Anabatistas e os Batistas Gerais simplesmente derramavam um pouco de água sobre a cabeça da pessoa batizada, a afusão. Quanto a essa “nova” forma de batismo, lemos:

Na década de 1640, vários membros desta congregação chegaram à convicção de que o batismo por afusão ou por aspersão, quer administrado a adultos ou a crianças, não era a forma de batismo praticada pelos apóstolos. Eles sustentavam o batismo de crentes por imersão. (SANTOS, 2006. p. 5).

O que mais causava estranheza aos ingleses era exatamente a negação do pedobatismo, amplamente praticado por todos até aquele momento. Qualquer grupo que rejeitasse o batismo infantil era taxado rapidamente de herege ou Anabatista. Era extremamente necessário para os Batistas Particulares tomar uma atitude.

Início da Prática Confessional entre os Batistas Particulares

A literatura que circulava em Londres taxava os Batistas Particulares de Anabatistas e os pregadores anglicanos e separatistas igualmente os acusavam. Foi devido a estes acontecimentos e por causa da incompreensão e deturpação dos ingleses quanto aos seus pontos de vista doutrinários e sociais, que, no início do movimento batista inglês, foi necessário que estas poucas congregações produzissem uma confissão de fé que servisse de defesa contra a acusação que lhes era lançada (SANTOS, 2006).

Embora seu modo de batizar fosse diferente daquele praticado pela igreja da Inglaterra, e, além disso, negarem o batismo a infantes e interpretarem a teologia do pacto de uma forma diferente dos padrões de Westminster, suas diferenças doutrinárias eram consideradas muito pequenas. A confissão a ser produzida seria um documento oficial das igrejas Batistas que comprovaria a ortodoxia do grupo. Qualquer dúvida seria logo dissipada, pois qualquer cidadão inglês que estivesse interessado poderia obter o documento e examiná-lo.

Em 1644 foi produzida a Primeira Confissão de Fé de Londres. Jonh Spilsbury, William Kiffin e Hansed Knollys, dentre outros, redigiram uma confissão onde eles declaravam suas crenças e de suas congregações. Um total de quinze pastores Batistas Particulares participaram da elaboração deste documento. A confissão tinha o propósito explicito de acabar com a confusão provocada pelos ingleses, que continuavam taxando-os de Anabatistas. Na página do título lemos: “A Confissão de Fé das igrejas que comumente (embora falsamente) são chamadas Anabatistas”.[17] A Confissão de 1644, além de provar sua fidelidade doutrinária, claramente negava qualquer tipo de ligação com os Anabatistas.

A Confissão Batista de 1644 apresenta 53 artigos ricamente expostos em uma linguagem clara e sem deixar impressão de dubiedade. No final, em uma conclusão primorosa, reforça-se o que foi dito inicialmente: os Batistas não são Anabatistas. E num tom forte, anunciam sua firme posição de não renunciarem sua fé, mesmo que a perseguição se torne evidente:

Queremos dar a Cristo o que é dele e a toda a autoridade legal o que lhe é merecido, e não dever nada a ninguém a não ser o amor; viver em tranquilidade e pacificamente, como é digno de um santo, esforçando-nos em tudo para manter uma boa consciência; e responder a todo homem como desejamos ser também respondidos. Nossa prática comprova que somos um povo inofensivo e calmo (não representamos perigo e nem causamos males à sociedade humana). Laboramos e trabalhamos com nossas mãos, para que ninguém nos acuse, senão que possamos dar ao que tem necessidade, tanto a inimigos como a amigos, levando em conta que é melhor dar do que receber. Reconhecemos que só conhecemos em parte, e que desconhecemos muitas coisas que queríamos e buscamos conhecer, e se alguém não nos compreende, devemos agradecer a Deus e a eles. Mas se alguém nos pedir qualquer coisa não ordenada por nosso Senhor Jesus Cristo, devemos suportar reprovações e torturas dos homens, e perder as comodidades físicas, e se for necessário, morreremos mil vezes, do que fazer qualquer coisa que vá contra nossa própria consciência. E se alguém chama heresia ao que dissemos, então juntamente com o Apóstolo reconhecemos que segundo aquilo que chamam de heresia, nós adoramos ao Deus de nossos Pais, eliminando toda verdadeira heresia, porque está em oposição a Cristo, e assim permanecemos firmes, irremovíveis, sempre abundando em obediência a Cristo, sabendo que nosso labor não será em vão no Senhor.[18]

A declaração inicial do grupo Batista, conforme apresentada acima, foi crucial para que a desconfiança dos ingleses diminuísse, porém, o corpo da confissão também foi fundamental, pois retratava um grupo cujas doutrinas, em muito se assemelhavam aos demais grupos evangélicos do período. A Primeira Confissão de Fé de Londres teve mais três reimpressões: 1646, 1651 e 1652. Desde então, os Batistas Particulares percorreram uma linha de ascendência numérica. O Grupo produziu outros documentos de menor circulação: a Midland Confession, em 1655; a Somerset Confession, em 1656. Embora não muito difundidos, asseguravam o mesmo padrão doutrinário (LUMPKIN, 2011; McBETH, 1987).

Capa da segunda edição da confissão de fé de Londres (1646)

Em 1677, os Batistas Particulares, um grupo já bem fortalecido, elabora a Segunda Confissão de Fé de Londres (LUMPKIN, 2011, pp. 216-220). Uma carta havia sido enviada às igrejas Batistas da Inglaterra e País de Gales convocando representantes para uma reunião.

Ao realizar-se o encontro, tomou-se conhecimento que Williams Collins (talvez juntamente com outros), ministro de uma igreja de Londres, havia trabalhado sobre os documentos de Westminster e Savoy, alterando onde achou necessário. Neste mesmo encontro o produto do trabalho de Collins foi aprovado e a Confissão foi editada em nome dos representantes reunidos.[19]

Esse novo documento teve como base três outras confissões: A primeira Confissão de Fé de Londres (1644), a Confissão de Savoy (1658), e especialmente a Confissão de Fé de Westminster (1646). Boa parte de sua redação é quase idêntica a esta última confissão. Este segundo documento dos Batistas continuou a incluir capítulos sobre a igreja e sobre a interpretação da ceia do Senhor e do batismo de forma distintamente Batista, além de capítulos que tratam da teologia do pacto e do casamento com um tom diferenciado. Embora tenha sido formulada em 1677, ela só foi publicada em 1689, por isso é mais conhecida como a Confissão de Fé de Londres de 1689.[20]A partir daí a confissão de 1644 começou a perder terreno e aos poucos foi sendo abandonada: “Sendo baseada na Confissão de Westminster, uma das mais nobres declaração de crenças evangélicas, a Confissão de 1677 é muito mais completa e melhor ordenada do que a de 1644”.[21]

A Segunda Confissão de Fé de Londres tornou-se o documento de fé mais largamente utilizado e de maior circulação nas igrejas Batistas na Europa e posteriormente nos EUA, no século XVIII. Esse documento foi inserido nos EUA por volta do final do século XVIII, nas colônias recentemente estabelecidas pelos separatistas ingleses.

Havia grande perseguição na Inglaterra contra todos os separatistas. Desde fins do século XVI e por todo o século XVII, há registros de perseguição religiosa na Europa. Ainda que em alguns momentos a perseguição diminuía, com breves períodos de paz, ela nunca foi completamente extinta. Fugidos especialmente da Inglaterra, temendo a perseguição ou banidos pelo governo inglês, muitos separatistas se abrigaram em outro continente, a América. O Novo Mundo era parte dos domínios da Inglaterra, e começava a ser colonizado. Centenas de Presbiterianos, Congregacionais e Batistas, dentre outros, passaram a habitar nas colônias da América inglesa. Por não ter a liberdade de consciência para escolher uma religião, preferiram arriscar tudo no Novo Mundo. Porém, a medida que as colônias iam se estabelecendo, com igrejas sendo implantadas, os Batistas voltaram a ser alvo de perseguição. Tratava-se basicamente do mesmo problema enfrentado na Inglaterra: questões acerca do batismo. Igrejas Congregacionais e Presbiterianas passaram a perseguir os Batistas, expulsando-os de suas colônias, sob a acusação de que eles não poderiam conviver no meio deles. A mesma intolerância religiosa de que os próprios Presbiterianos e Congregacionais tinham sido alvo, agora era, por eles, instigada sobre os Batistas (McBETH, 1987; OLIVEIRA, 1997; NETTLES, 2006; SANTOS, 2004b).

Um dos colonos, Roger Williams, foi obrigado a deixar a colônia no intenso inverno americano, e arriscou a vida na selva, em perigo constante de ser atacado por índios. Outros Batistas sofreram violência nas colônias: John Clark e Obadiah Holmes são dois grandes exemplos (McBETH, 1987).[22] Algumas colônias foram organizadas por Batistas. Roger Williams, vítima da intolerância Congregacional no Novo Mundo, junto com outros dissidentes fundou a colônia de RhodeIsland, em 1638, cuja característica principal era a liberdade de consciência. Providence e Newport foram outras colônias fundadas pelos Batistas. Mesmo com dificuldade, os Batistas conseguiram se estabilizar na América. A maioria dos Batistas na América eram Particulares, mas os Batistas Gerais, em menor número, também estavam presentes. Entre os dois grupos haviam claras diferenças teológicas, o que acabava por distanciá-los.

A Segunda Confissão de Fé Londrina de 1689 chegou na América através de Elias Keach, filho de um dos mais importantes ministros de Londres – Benjamin Keach, um dos responsáveis pela elaboração da segunda confissão londrina – no final do século XVII. Keach logo foi ordenado ao ministério e passou a pastorear a Igreja de Pennepack, na Filadélfia. Seu ministério se estendeu pelas cidades vizinhas, alcançando New Jersey e a Pensilvânia. As primeiras igrejas organizadas se reuniam em residências, e o trabalho Batista Particular, assim como aconteceu na Inglaterra, começou a florescer também na América, inicialmente na região da Filadélfia:

Verificando a distância entre as congregações, e a necessidade de reuniões periódicas e cooperação conjunta para tratar de assuntos que surgiam de tempos em tempos, em 27 de julho de 1707 a reunião geral foi transformada em Associação. Surgia a Associação Batista de Filadélfia, a primeira da América (SANTOS, 2004b, p. 7).

A primeira confissão americana dos Batistas ingleses foi denominada de Confissão de Keach, pois foi através da reflexão de Elias Keach e seu pai, que resolveram desenvolver essa nova confissão, cópia da segunda confissão londrina de 1689, com o acréscimo de dois novos artigos.[23] Em 1724, a Associação Batista da Filadélfia utilizou da Segunda Confissão de Fé de Londres de 1689 para resolver um problema doutrinário. A referência é “a Confissão adotada pelos ministros e irmãos reunidos em Londres, em 1689, e a nós pertencente” (SANTOS, 2004, p. 8). Em 1742, a Associação ordenou a impressão de uma nova edição da Confissão de 1689. A Confissão americana passou a ser chamada de Confissão de Fé da Filadélfia, contando com os dois artigos da Confissão de Keach.

As igrejas Batistas Particulares se desenvolviam na América e a presença da Associação Batista da Filadélfia foi fundamental para fortalecer as igrejas doutrinariamente, principalmente expandindo o uso da Confissão da Filadélfia rapidamente. Em 1774 a Associação passou a enviar “cartas circulares” às igrejas. As cartas eram exposições dos artigos da Confissão da Filadélfia, o que potencializava o ensino da doutrina nas inúmeras igrejas associadas. Foi publicada, em 1831, uma nova edição da confissão, estendida, contando com alguns apêndices, formando um todo de 108 páginas. A confissão se espalhou por praticamente todo o vasto território americano e muitas associações e igrejas Batistas passaram a adotar a Confissão da Filadélfia (SANTOS, 2004b, pp. 6-11).

Desde de 1644, com a elaboração e publicação da primeira confissão de fé dos Batistas Particulares, podemos traçar com segurança uma linha ininterrupta de igrejas deste grupo, tanto na Europa como na América do Norte, seguindo sempre o mesmo padrão doutrinário calvinista, conforme expresso em suas confissões mais importantes: 1644, 1689, 1742.

No auge do uso da Confissão de Fé da Filadélfia, em 1833, surgiu um novo documento de fé entre os Batistas americanos: a Confissão de Fé de New Hampshire. Essa nova confissão de fé tinha como base a confissão da Filadélfia, e a ideia inicial não era criar uma nova confissão Batista, mas preparar um tipo de resumo da confissão da Filadélfia. A razão para isso era simples: a Confissão de Fé da Filadélfia, tratando-se de uma cópia da Confissão Londrina de 1689, era muito longa e constava de uma variedade de termos teológicos de difícil entendimento para os leigos em teologia. Conforme destaca (NETTLES, 2006, pp. xxvii-xxix), a confissão também se fez necessária para rebater a doutrina do livre-arbítrio, defendida por um grupo intitulado Batistas do Livre Arbítrio, [24] que havia se instalado em New Hampshire. A Confissão de Fé de New Hampshire foi redigida pelo Rev. John Newton Brown (1803 – 1868), no Estado de New Hampshire e publicada mais tarde por uma comissão da Convenção Batista daquele Estado.

A medida que a Confissão de Fé da Filadélfia foi sendo propagada em solo americano, tornando-se o documento confessional da maior parte das igrejas Batistas do país – embora o esforço para explicar a confissão com as cartas circulares e também apêndices que foram inseridos na própria confissão em edições posteriores tenha acontecido – ela passou a ser vista como um documento muito extenso e de linguagem difícil. A confissão de Fé de New Hampishire foi inicialmente publicada pela Northern Baptist Publication Society. Em menos de 40 anos se tornaria a confissão de fé mais adotada nas igrejas Batistas da América do Norte (McBETH, 1987).

Mesmo com a publicação do novo documento, a Confissão de Fé da Filadélfia continuou a ser adotada em muitas igrejas, permanecendo durante algum tempo como a maior confissão de fé dos Batistas americanos. A Confissão de New Hampshire era pouco conhecida e ela permaneceu praticamente no anonimato nos seus anos iniciais. O teor desta nova confissão de fé permaneceu de caráter calvinista, seguindo a tradição dos Batistas Particulares, porém o processo de “resumo” e “nova linguagem” tornou alguns pontos da confissão “obscuros” quanto à doutrina, passando ela a ser rotulada por alguns como “moderadamente” calvinista.

O historiador Batista Tom Nettles, ao tratar sobre a Confissão de New Hampshire, desmente a falácio que muitos tem usado na tentativa de retirar ou de antecipar a decadência doutrinária e a raiz histórica calvinista dos batistas. Nettles assegura que essa confissão era tão calvinista em sua doutrina quanto as confissões de fé mais extensas do passado (1644, 1689 e 1744). O processo de resumo foi o grande vilão, segundo ele, da confusão provocada modernamente em meio a essa confissão de fé. Para Nettles, os batistas que produziram a Confissão de Fé de New Hampshire preservavam e confessavam um calvinismo sempre presente entre os Batistas Particulares. Nas palavras dele

Muitos tem interpretado o conteúdo da Confissão de Fé de New Hampshire como uma tentativa de modificar o forte calvinismo dos primeiros dias, alguma coisa mais palatável para o gosto das igrejas do século XVIII. É verdade que ela não é tão detalhada ou tão clara quanto a Confissão da Filadélfia, mas é também verdade que a substancia de sua doutrina permanece inalterada (NETTLES, 2006, p. xii).

Mesmo mais breve e “moderada”, a Confissão ainda era substancialmente calvinista, mas inegavelmente, esta confissão já representava uma mudança de mentalidade em alguns Batistas Particulares. Em meados de 1850, os Batistas Particulares já estavam sofrendo muita influência dos Batistas Gerais, que experimentavam um ressurgimento e começavam a se fortalecer na América. Neste momento a forte teologia calvinista dos Batistas Particulares começa a enfraquecer. Embora a Confissão de New Hampshire tenha mantido o teor calvinista, as igrejas que a adotavam começavam a reinterpretar alguns pontos de suas afirmações, principalmente os pontos mais “obscuros”, onde as antigas confissões de fé do passado não deixavam dúvidas. Dentro das associações surgiram vários teólogos que começaram a atacar o calvinismo histórico dos Batistas, porém, apesar de fortes ataques e da mudança de mentalidade, ainda havia aqueles que sustentavam a doutrina dos Batistas Particulares com fervor. Em 1880 podemos constatar que a confissão de New Hampshire já ganhara notoriedade e aceitação nas igrejas Batistas dos EUA (McBETH, 1987).

Em 1891 os Batistas Gerais e os Batistas Particulares se unem através da União Batista.[25] A União Batista revelou, dentre outras coisas, o declínio que sofrera o grupo dos Batistas Particulares, e a ascensão dos Batistas Gerais, que presidiam grandes igrejas e boa parte do conjunto de associações e convenções naquele período (MURRAY, 2006). A segunda metade do século XIX, portanto, apresentou o declínio doutrinário-confessional dos Batistas Particulares, que teve início algumas décadas depois da elaboração da Confissão de Fé de New Hampshire. Alguns ministros Batistas, na Europa e na América, passaram a discordar da ideia de união entre os Batistas, dentre eles, o iminente pregador inglês Charles Spurgeon. Em 1887 Spurgeon abandonou a Associação Batista da qual era filiado e seguiu praticamente sozinho, adotando a Segunda Confissão de Fé de Londres de 1689. A confissão foi reimpressa por ele nesse período. Dois anos antes da formalização da União Batista, conforme destaca (MURRAY, 2006, pp. 119-120), um eminente teólogo Batista Particular se pronunciou da seguinte maneira: “Na presente data, grande número de igrejas e ministros Batistas Particulares tem pouca familiaridade prática com a Confissão de 1689…”.[26] Essa abertura à doutrinas que antes eram negadas pelos Batistas Particulares e o declínio do grupo, quando parte dele, com o propósito de rejeitar firmemente a doutrina dos Batistas Gerais, caíra no erro do hipercalvinismo,[27] provocou forte enfraquecimento tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos (DALLIMORE, 1985, p. 264).

Somente alguns anos mais tarde outras igrejas na Inglaterra e nos Estados Unidos passaram a seguir novamente os padrões de 1689, momento em que os Batistas Particulares começam lentamente a ressurgir, sendo designados em meados do século XX de Batistas Reformados.

Os Batistas Particulares no Brasil

Atualmente os Batistas tem experimentado um grande ressurgimento e as antigas confissões de fé, especialmente a Confissão Londrina de 1689 tem reaparecido em muitas igrejas. Hoje, os Batistas Particulares são designados comumente de Batistas Reformados. No Brasil, a fé calvinista, especialmente os cinco pontos do calvinismo tem vencido barreiras e todo tipo de resistência. Igrejas que nasceram em um ambiente convencional, bom número delas inclusive, tem reconhecido os cinco pontos do calvinismo como afirmações da doutrina bíblica.

O Brasil prova das doutrinas da graça, do doce e forte calvinismo dos primeiros dias, de um vigor teológico que tem começado a alavancar novamente os Batistas brasileiros. Hoje existe um grupo de igrejas espalhadas no Brasil, explicitamente autodenominadas de Batistas Reformados, que pregam a doutrina dos primeiros batistas calvinistas por todos os estados da federação. Também há um forte crescimento do calvinismo por parte de igrejas pertencentes à Convenção Batista Brasileira, especialmente por parte de pastores e membros das igrejas que tem sido influenciado pelo estudo das doutrinas, dos documentos confessionais, e da forte literatura evangélica reformada.

A Convenção Batista Brasileira, que em sua origem fundacional adotara uma confissão de fé calvinista (Confissão de Fé de New Hampshire), após a primeira metade do século XX, começou a apresentar uma postura mais fechado para o calvinismo histórico de sua origem. Isso provocou uma crise crescente no meio Batista brasileiro, muitas vezes silenciosa, outras vezes escandalosa e dolorosa em algumas igrejas locais filiadas à CBB e até em convenções estaduais. Ministros eram impedidos de ser ordenados se confessassem ser calvinistas, havendo, por algum tempo, em alguns pontos do Brasil, um tipo de “caça às bruxas” aos Batistas calvinistas. Hoje a CBB parece ter adotado uma postura mais conciliatória com relação ao assunto. Estados como Pernembuco, São Paulo, Piauí, o Distrito Federal, Pará, Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, já contam com uma presença mais forte das doutrinas reformadas entre os Batistas.

Vale ressaltar também que a Convenção Batista Brasileira adota atualmente uma confissão de fé de teor moderadamente calvinista. O documento foi produzido em 1986 e tem como base a Confissão de Fé de New Hampshire. O atual documento é designado Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, traz em suas linhas os artigos da antiga confissão de New Hampshire, mas com leves alterações em seu teor, além do acréscimo de alguns artigos de fé.

Esse mover do Espírito de Cristo que tem impulsionado os Batistas do Brasil parece estar apenas começando. Os Batistas Reformados tem crescido rapidamente e entre os Batistas da CBB parece haver um retorno às doutrinas dos primeiros dias. Quanto mais a fé calvinista tem sido anunciada (as doutrinas peculiares do Pacto de Deus para a redenção do homem e a poderosa doutrina da Soberania de Deus, que novamente está sendo anunciada pelos que tem retrocedido ao antigo padrão de fé dos Batistas Particulares), mais pessoas tem sido conduzidas ao louvor e à gloria de Deus.

O estudo da História dos Batistas também tem revelado que a origem doutrinária dos Batistas Brasileiros está indubitavelmente ligada aos Batistas Particulares, e isso tem fortalecido a convicção para muitos regressarem ao calvinismo. Entendem, a luz da história, que não estão apresentando uma nova proposta, apenas retornando ao princípio doutrinário original. O estudo das primeiras missões evangelizadoras dos Batistas no Brasil, os primeiros missionários e suas teologias (seus professores e os seminários em que estudaram), as confissões por eles subscritas, as Convenções e Juntas Missionárias que os enviaram ao campo brasileiro, tudo isso se apresenta como prova inconteste de que, no Brasil, nos primeiros dias, os Batistas eram calvinistas. Atualmente alguns pastores e igrejas tem entendido que, na verdade, estão regressando a um velho padrão doutrinário que havia sido abandonado.

As confissões e os catecismos voltaram a circular e já não são algo estranho no meio Batista brasileiro. E o que é mais interessante: há nitidamente um retorno ao estudo e até a adoção das confissões de fé que os Batistas produziram nos primeiros tempos. A Confissão de Fé de 1689 ganha espaço em muitas igrejas, que estão ensinando suas doutrinas e compreendendo a fé que seus pais confessaram no passado. O Catecismo que o piedoso pregador Charles Spurgeon  preparou para catequisar os membros de sua igreja reapareceu em muitas igrejas do nosso tempo. A força que os Batistas têm recebido é tão poderosa que sua influência tem penetrada, inclusive, em outras denominações. A poderosa doutrina da Reforma tem percorrido até mesmo igrejas pentecostais como a Assembleia de Deus. Não são poucas as igrejas pentecostais que já estudam e ouvem frequentemente a doutrina calvinista e se regozijam em Deus. Que a obra de Deus avance no poder do Espírito Santo, destrua todas as amarras, desvende os olhos de uma multidão e volte a ser a fé dominante em nossa pátria.


[1] Alguns estudiosos não consideram os Batistas como protestantes. Geralmente os defensores das duas primeiras teorias defendem essa opinião. Por não ter saído da Igreja Católica Romana, também por não terem deixado a igreja Anglicana, não “protestaram” contra nenhuma igreja. Já os defensores das duas últimas teorias vêem os Batistas como um grupo verdadeiramente Protestante.

[2] Quanto à influência dos Anabatistas, ressaltamos que os Batistas Gerais sofreram uma forte influência daquele grupo (Anabatistas Menonitas) enquanto estavam na Holanda. Por outro lado, os Batistas Particulares foram pouco influenciados pelos Anabatistas (Colegiants). Assim, uma combinação dos pontos 3 e 4 parece estar mais coerente com os fatos históricos que conhecemos até o presente momento.

[3] Puritano foi um termo cunhado especialmente para designar os cristãos que primavam por uma vida mais espiritual e pura diante de Deus. Originalmente o termo tinha conotações pejorativas.

[4] Os Separatistas eram aqueles que haviam deixado a Igreja da Inglaterra (Anglicana), por não aceitarem as formas litúrgicas (culto) e por não aceitarem algumas doutrinas. Por não serem atendidos quando exigiram mudanças na igreja, resolveram se separar, surgindo daí a designação “Separatistas”.

[5] Anabatistas formavam um grupo religioso que foi considerado uma seita herética pelos grupos evangélicos da Europa oriundos da reforma.

[6] Imersão é o modo de batismo onde o fiel é mergulhado completamente na água. O termo deriva do vocábulo grego Baptizo (mergulho).

[7]Afusão é o modo de batizar derramando água sobre a cabeça do fiel. Essa era a prática comum de católicos e protestantes naquele período.

[8] Aspersão consiste em batizar com o ato de respingar ou aspergir água sobre o fiel. Essa prática foi mais utilizada pela Igreja Católica Romana.

[9] Termo aplicado a igrejas ou pessoas que batizam bebês e crianças.

[10] Embora houvesse uma ligação mais forte entre os Batistas Gerais e os Anabatistas, é necessário ressaltar suas diferenças. Os Gerais, em correspondência aos Anabatistas, demonstravam discordância com a posição pacifista deste grupo; repudiavam também a visão do grupo quanto aos magistrados. Cf. McBETH, 1987, s/p.

[11] A influência que os Anabatistas exerceram sobre os Batistas Particulares foi sobre a prática do batismo por imersão, visto que os Colegiants já utilizavam a imersão para batizar os fiéis. Em contraste com os Batistas Gerais, que foram fortemente influenciados pelos Anabatistas, os Particulares foram pouco influenciados.

[12] O UNITARISMO trata-se de uma posição doutrinária que nega a doutrina da Trindade e defende uma única pessoa no ser divino, que se manifesta de variadas formas.

[13] Moderadamente calvinista e com fortes influencias arminianas.

[14] James RENIHAN, Confessing The Faith in 1644 and 1689, s/n. Cf. .

[15] Na cidade de Musnter – Alemanha, os Anabatistas foram acusados de ter provocado um incêndio de grandes proporções, arruinando boa parte da cidade. O episódio repercutiu por toda a Europa. Na Inglaterra os Batistas Particulares foram confundidos com os Anabatistas, principalmente porque rebatizavam as pessoas que ingressavam em seu grupo. As suspeitas contra os Particulares aumentaram, quando, em 1642, circulou em Londres um texto insinuando claramente que o grupo Particular era Anabatista. (Ibid., s/p).

[16] Ibid., s/p.

[17] Nesta nota inicial da confissão Batista de 1644 lemos uma declaração que desqualifica qualquer pessoa a insinuar uma ligação dos batistas com os Anabatistas. Era exatamente assim que os ingleses, em sua maioria, entendiam. Eles fizeram questão de esclarecer com esta nota sua total desarmonia com este grupo. A ideia de que a origem dos Batistas remonta aos Anabatistas ainda é defendida por um grupo reduzido de historiadores.

[18] Confissão de Fé de Londres, 1644, s/p.

[19] COMUNHÃO REFORMADA Batista do Brasil. As Confissões de Fé dos Batistas de 1644 e 1689, s/n.

[20]Em 1660 foi estabelecido o Código de Claredon, cuja finalidade era esmagar àqueles que eram contrários à Igreja Anglicana, o que elevou a perseguição contra os Batistas e outros grupos. Somente em 1689, com a proclamação do Ato de Tolerância, a perseguição chegou ao fim. Neste ano a Confissão Batista, que foi escrita em 1677, foi publicada. Hoje essa confissão é amplamente chamada de Confissão de Fé Batistas de 1689.

[21] COMUNHÃO REFORMADA Batista do Brasil, op. cit., s/n.

[22]Obadiah Holmes e John Clark foram açoitados publicamente e presos por vários meses por não se submeterem ao padrão religioso que eliminava a liberdade de consciência e a liberdade de religião.

[23] O primeiro artigo acrescentado traz uma exposição doutrinária sobre o Espírito Santo; o segundo artigo acrescenta uma defesa da autoridade da igreja na imposição de mãos. Este último artigo nunca foi muito bem recebido pelo maior parte das igrejas Batistas Particulares. Cf. Gilson SANTOS. A Confissão de Fé da Filadélfia, pp. 7-9.

[24] Os Batistas do Livre Arbítrio eram ligados doutrinariamente aos Batistas Gerais.

[25] Cf. o gráfico apresentado in MURRAY, Iain. Spurgeon Versus Hipercalvinismo. Editora PES, São Paulo, 2006, p. 181. A União Batista foi criada com a finalidade de unir todos os Batistas, formando, dessa forma, um único grupo.

[26] Ibid.

[27] O Hipercalvinismo é uma distorção do calvinismo. Os Batistas ingleses, principalmente, caíram nesse erro. Injustamente, por causa da ignorância, os Batistas calvinistas tem sido comparados aos hipercalvinistas.

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