“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.” (Provérbios 3:5)
Quando uma alma despertada é trazida a Deus, para crer em Jesus, ela frui pela primeira vez daquele estado calmo e abençoado de espírito que a Bíblia chama de paz em crença [Romanos 15:13]. Os sofrimentos da morte estavam alcançando-o, e as dores do inferno esperavam sobrepuja-lo; mas agora ele pode dizer: “Volta, minha alma, para o teu repouso” [Salmos 116:7]. Não é de se admirar que, quando este céu na Terra é efetivado inicialmente no seio uma vez ansioso, o jovem crente pode frequentemente imaginar que o céu já esteja ganho, e que ele deve se despedir do pecado e tristeza para todo o sempre. Mas, ai! Ele pode precisar apenas da passagem de um pequeno dia para convencê-lo de que o céu ainda não está adquirido, que, embora o Mar Vermelho tenha sido atravessado, ainda há um grande vociferante deserto a passar, e muitos inimigos a serem superados, antes que a alma entre na terra sobre a qual se diz que “todas as pessoas são justas”.
O primeiro sopro da tentação do exterior, ou a primeira ascensão da corrupção do interior, desperta ansiedades novas e estranhas no seio crente. Ele havia acabado de colocar a couraça da justiça do Redentor, mas esses vapores nocivos mancham e ofuscam o seu aço polido. Ai! Ele clama, que bem me fará estar livre de todas as acusações de pecados passados, se eu não estou seguro pelo levantar de novos acusadores nos dias por vir? Que bem o perdão dos pecados passados faz-me, se, a cada passo de minha vida estou caindo em novo pecado?
O jovem crente nesse estado de espírito é como um viajante no meio de uma floresta perigosa. Ele foi trazido para um local de perfeita segurança para o presente. Ele pode ouvir o uivo dos lobos atrás dele, sem o mínimo de alarme, pois ele é levado a uma fortaleza, uma torre forte, onde é seguro; mas quando ele pensa em sua viagem além, quando ele se lembra de que ainda está no meio da floresta, e ainda longe de casa, ai! Ele não sabe como se mover; ele não sabe qual o caminho que o leva para a direita, e que o conduzirá ao erro. Quando a ovelha perdida foi encontrada pelo bom pastor, ela estava segura naquele momento, tão segura como se já estivesse no aprisco; e ainda assim estava, sem dúvida, em grande perplexidade, como voltar novamente, ela havia caminhado até agora sobre as montanhas, e nos vales, e através dos riachos, e através das matas espinhosas, de forma que era impossível que a ovelha desnorteada encontrasse o seu caminho de volta; e, portanto, é dito que o bom pastor colocou-a sobre o seu ombro, regozijando-se.
E exatamente assim é com a alma que é encontrada por Cristo. Lavada em Seu sangue, ela pode se sentir tão segura e tão em paz como se já estivesse no Céu; mas quando ela olha para os mil enredamentos no meio dos quais ela vagueou, os maus hábitos, os maus companheiros que colocavam armadilhas para ela em cada mão, ai! Ela é forçada a clamar: Como hei de andar em um mundo como este? Eu pensei que estava salvo; mas, ai de mim! Eu apenas estou salvo para ser perdido novamente. Tão real e tão doloroso é esse estado de espírito, que alguns jovens crentes realmente queriam morrer para que pudessem se livrar dessas ansiedades atormentadoras. Mas há um longo caminho mais excelente apontado nas palavras diante de nós:
“Confia no Senhor de todo o teu coração,
E não te estribes no teu próprio entendimento
Reconhece-O em todos os teus caminhos,
E Ele endireitará às tuas veredas.”
Esta é uma boa palavra para o crente aturdido; e “quão boa é a palavra dita a seu tempo” [Provérbios 15:23].
Em primeiro lugar, considerem o que é esta graça aqui recomendada: “Confia no Senhor de todo o teu coração”.
Quando o carcereiro de Filipos clamou: “que é necessário que eu faça para me salvar”, a resposta foi simples: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo” [Atos 16:30-31]. Sua grande ansiedade era escapar de debaixo da ira de Deus no terremoto; e, portanto, eles simplesmente apontaram para o sangrante Cordeiro de Deus. Ele olha para Jesus fazendo tudo o que deveríamos ter feito, e sofrendo tudo o que deveríamos ter sofrido; e enquanto ele olha, sua ansiedade é curada, e uma doce paz celestial brota interiormente, a paz em crença. Mas o inquiridor a quem se fala no texto é aquele que já tem a paz de um homem justificado, mas quer saber como ele pode desfrutar da paz de um homem santificado. Uma nova ansiedade surgiu dentro de seu seio, como a de que forma ele deve ordenar os seus passos no mundo; e, a menos que essa ansiedade também seja curada, deve-se temer que a sua alegria em crer será tristemente interrompida. Quão oportuna então, é a palavra que aponta de uma vez para o remédio! E quão maravilhosa é a simplicidade do método de salvação Evangélico, quando a alma é dirigida apenas para olhar novamente para Jesus: “Confia no Senhor de todo o teu coração”. Quando vocês vieram até nós, cansados e oprimidos pela culpa, nós apontamos Jesus para vocês; pois Ele é o Senhor justiça nossa. Quando vocês veem até nós, novamente, gemendo sob o poder do pecado interior, apontamos mais uma vez a Jesus; porque Ele é o Senhor, a nossa força. É a real marca de um falso e ignorante médico de corpos, quando a cada doente, qualquer que seja a doença, ele aplica o mesmo remédio. Mas é a real marca de um bom e fiel médico das almas, quando, a cada alma doente e que perece, em todas as fases da doença, ele traz um, o único remédio, o único bálsamo em Gileade.
Cristo foi ungido não apenas para curar os quebrantados de coração, mas também para proclamar a libertação aos cativos; de modo que se isso é bom e sábio para dirigir o pobre pecador de coração partido, que não tem nenhuma forma de justificar a si mesmo, a Jesus, como a sua justiça, isso deve ser tão bom e sábio para dirigir o pobre crente, gemendo sob o laço de corrupção, não tendo nenhuma forma de santificar-se, a olhar para Jesus como sua sabedoria, sua santificação, a sua redenção. Tu uma vez olhaste para Jesus como a tua Cabeça da aliança, levando toda a ira, cumprindo toda a justiça em teu lugar, e isso te deu a paz; bem, olhe novamente para o mesmo Jesus, a tua Cabeça da aliança, obtendo por Seus méritos dons para os homens, até mesmo a promessa do Pai, de derramar-Se sobre todos os Seus membros; e deixe que isso também te dê a paz. “Confia no Senhor de todo o teu coração”. Tu olhaste para Jesus na cruz, e isso te deu a paz de consciência; olhe para Ele agora no trono, e isso te dará pureza de coração. Eu conheço apenas uma maneira pela qual um ramo pode ser tornar-se um ramo frondoso, saudável, frutífero; e esta é: estar enxertado na videira, e permanecer ali. E exatamente assim, eu conheço apenas uma maneira pela qual um crente pode ser feito um filho de Deus feliz, santo, frutífero; e esta é: crendo em Jesus, permanecendo nEle, andando nEle, sendo arraigado e edificado nEle.
E observem, é dito: “Confia no Senhor de todo o teu coração”. Quando vocês creem em Jesus para a justiça, vocês devem lançar fora todos os seus próprios clamores por perdão; sua justiça própria deve ser trapos imundos aos seus olhos; vocês devem vir vazios, para que vocês possam ir embora cheios de Jesus. E exatamente assim, quando vocês confiam em Jesus como a sua força, vocês devem abandonar todas as suas noções naturais de sua própria força; vocês devem sentir que as suas próprias resoluções, e votos e promessas, são tão inúteis para deter a corrente de suas paixões, como muita palha seria em deter a cachoeira mais poderosa. Vocês devem sentir que sua própria firmeza e varonilidade de disposição, que têm sido por tanto tempo o louvor de seus amigos, e o gabar-se de sua própria mente, são tão impotentes diante do sopro da tentação, como uma cana quebrada diante do furacão. Vocês devem sentir que não lutam contra a carne e o sangue, mas contra espíritos de poder gigantesco, em cujo alcance poderoso vocês são frágeis como uma criança; então, e só então, vocês irão, de todo o coração, confiar no Senhor, a sua força. Quando o crente está mais fraco, então é que ele está mais forte. A criança que mais conhece a sua absoluta fraqueza, confia mais completamente nos braços da mãe. A jovem águia que conhece, por meio de muitas quedas, a sua própria incapacidade de voar, consente em ser carregada na poderosa asa da mãe. Quando ele é fraco, então é forte; e somente assim o crente, quando ele descobriu, por meio de repetidas quedas, sua própria absoluta fraqueza, se agarra com simples fé no braço do Salvador, se apoia em seu Amado, através do deserto, e ouve com alegria a palavra: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” [2 Coríntios 12:9].
Mas em segundo lugar, considerem como esta graça de confiar impede o crente de estribar-se em seu próprio entendimento.
“Confia no Senhor de todo o teu coração,
E não te estribes no teu próprio entendimento”.
Deve ser dito por qualquer homem que tem uma consideração pela verdade, que o crente em Jesus põe de lado o uso de seu entendimento, e procura por miraculosa orientação do alto. A verdade é esta: ele confia em um poder Divino, iluminando o entendimento, e ele, portanto, segue os ditames da compreensão mais religiosamente do que qualquer outro homem.
Quando um homem vem a estar em Cristo Jesus, ele se torna uma nova criatura, não somente no coração, mas também no entendimento. A história do mundo, a história das missões, e a experiência individual, provam isso cabalmente; e pode não ser difícil apontar o que pode ser chamado de razões naturais para a mudança.
1. Quando um homem se torna um crente, um novo e não experimentado campo é aberto para que a compreensão penetre. É verdade que os homens não-convertidos fizeram mergulhos no caráter de Deus, Seu governo, Sua redenção. Mas o homem não-convertido nunca pode olhar para essas coisas com o amor de alguém interessado nelas; e, portanto, ele não pode conhecê-las em absoluto; pois Deus deve ser amado, a fim de ser conhecido. Mas, reconcilie um homem com Deus, e a inteligência brota com um poder não sentido anteriormente, e sente que esta é a vida eterna, conhecer a Deus e a Jesus Cristo a quem Ele enviou. E,
2. Quando um homem se torna um crente, ele adentra em cada busca impelido por afeições celestiais. Antes, não havia nada, senão motivos terrenos para impeli-lo a reunir o conhecimento; mas agora uma santa curiosidade é instilada em sua mente, e uma retentividade que ele nunca teve antes. Ele olha com novos olhos sobre os campos, as florestas, as montanhas, os largos rios resplandecentes, e diz: “Meu Pai fez todos esses”.
Mas, se estas são razões naturais para a mudança, há uma razão sobrenatural que é maior do que todas. A compreensão do crente é nova; pois o Espírito de Deus é agora um morador em seu seio. Ele se inclina sobre este convidado todo-poderoso. Confia no Senhor, o Espírito, com todo o seu coração e não se estribe em seu próprio entendimento. No profeta Oséias, o dom do Espírito é comparado com o orvalho: “Eu serei para Israel como o orvalho” [Oséias 14:5]. Agora, isso é particularmente verdadeiro, pois o orvalho umedece tudo onde cai; não deixa uma folha não visitada; não há uma pequena folha de grama em que suas gotas de diamante não desçam; cada folha e caule do arbusto é sobrecarregado com o acúmulo precioso; exatamente assim, isso é peculiarmente verdadeiro sobre o Espírito, de modo que não há uma faculdade, não há um afeto, um poder, ou paixão da alma, em que o Espírito não desça; operando por todos, refrescando, revigorando, renovando, recriando tudo. E se estamos realmente em Cristo Jesus, permanecendo nEle pela fé, somos compelidos a esperar esse poder sobrenatural para operar através de nossa compreensão; pois se esta não for conduzida pelo Espírito, nós não somos dEle. Porém, mais implicitamente, nos estribamos neste Espírito de amor, não é claro como o dia que todos nós mais implicitamente seguimos a orientação do nosso entendimento? Nós não nos estribamos sobre o nosso próprio entendimento; pois nós nos estribamos no Espírito de graça e de sabedoria, que é prometido para nos guiar em toda a verdade, e guiar nossos passos no caminho da paz. Mas nós não lançamos fora o nosso próprio entendimento; porque é através desse entendimento somente que nós buscamos a orientação do Espírito.
Em um moinho onde o maquinário é todo movido por água, o funcionamento de todo o maquinário depende do suprimento de água. Cortem este suprimento, e os moinhos se tornam inúteis. Coloquem a água, e a vida e atividade é dada a todos. A dependência inteira é colocada sobre o fornecimento exterior de água; ainda assim, é óbvio que nós não jogamos fora o mecanismo através do qual o poder da água é exercido para empreender o trabalho. Exatamente assim, no crente, o homem inteiro é conduzido pelo Espírito de Cristo, senão ele não é dEle. A obra de cada dia depende do fornecimento diário do fluxo de vida do alto. Retirem este suprimento, e o entendimento torna-se uma massa informe de maquinário sombrio e inútil; pois a Bíblia diz que os homens não-convertidos têm o entendimento obscurecido. Restaurem o Espírito divino, e a vida e vivificação é dada a todos; o entendimento é feito uma nova criatura. Agora, porém toda a inclinação ou dependência aqui está sobre o fornecimento do Espírito, ainda é óbvio que não rejeitamos o maquinário da mente humana, mas sim o honramos muito mais do que o mundo.
Agora, por mais difícil que seja explicar tudo isso para o mundo, é belíssimo ver como realmente isso é efetuado pelo mais simples filho de Deus.
Se vocês pudessem ouvir algum simples crente caseiro em suas devoções matinais, quão simplesmente ele traz a si mesmo perdido e condenado, e em seguida, apega-se a Jesus, o Divino Salvador! Quão simplesmente ele traz a si mesmo em escuridão, ignorância, incapacidade, a conhecer o seu caminho, incapaz de guiar seus pés, suas mãos, sua língua, ao longo de todo o dia, e, por isso, solicitando ao Espírito prometido que habite nele, que ande nele, que seja como o orvalho sobre a sua alma; e tudo isso com a seriedade de um homem que não vai embora sem a bênção; vocês veriam que santo desprezo um filho de Deus pode colocar em seu próprio entendimento, como um refúgio em que se apoiar. Mas, novamente, se vocês pudessem vê-lo em sua caminhada diária, no campo e no mercado, entre o mundo ímpio, e ver quão completamente ele segue a orientação de uma mente perspicaz e inteligente, vocês veriam com que santa confiança um filho de Deus pode fazer uso das faculdades que Deus lhe concedeu; vocês veriam a união da mais profunda piedade e mais severo cuidado; vocês conheceriam o significado dessas palavras: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento”.
Presbitério de Dundee, 1836.