“Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.” (Hebreus 2:16-18)
Doutrina. Cristo é um Misericordioso Sumo Sacerdote.
I. A misericórdia soberana de Cristo em tornar-se homem. “Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão” [Hebreus 2:16]”. Lemos sobre duas grandes rebeliões na história do universo: a rebelião dos anjos, e a rebelião do homem. Para fins infinitamente sábios e graciosos Deus planejou e permitiu ambas, para que do mal Ele pudesse trazer o bem. A primeira ocorreu no próprio Céu. O orgulho foi o pecado pelo qual os anjos caíram, e, por isso, é chamado de “a condenação do diabo” [1 Timóteo 3:6]. “E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação” [Judas 1:6]. “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo’ [2 Pedro 2:4]. A próxima queda ocorreu na Terra. Satanás tentou o homem e ele caiu; acreditou no Diabo, ao invés de acreditar em Deus, e assim ficou sob a maldição. “Certamente morrerás”. Ambas as famílias vieram sob a mesma carranca, sob a mesma condenação, ambos foram condenados ao mesmo “fogo eterno”. Mas o glorioso Filho de Deus resolveu, desde toda a eternidade, morrer pelos pecadores. Agora, por qual dos dois Ele morrerá? Talvez os anjos do céu desejassem muito que Ele morresse pelos anjos irmãos. A natureza angélica era mais elevada do que a do homem. Os homens tinham caído mais fundo no pecado do que os anjos rebeldes. Ele não morrerá por anjos? Ora, aqui está a resposta: “Na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão”. Aqui está a misericórdia soberana passando por uma família e tomando a outra. Desejemos conhecer e adorar a soberana misericórdia de Jesus.
1. Não se surpreenda que Jesus passa por muitos. O Senhor Jesus tem cavalgado através de nosso país de uma forma notável, sentado em Seu cavalo branco, e usando muitas coroas. Ele enviou muitas flechas e traspassou muitos corações neste lugar, e trouxe muitos aos Seus pés; mas Ele não passou por muitos? Não existem muitos que cederam às concupiscências de seus próprios corações, e estão andando em seu próprio conselho? Não se surpreenda. Esta é a maneira em que Ele agiu quando veio a esta terra; Ele passou o portão do inferno. Apesar de que Seu peito estivesse cheio de amor e graça, apesar de que “Deus é amor”, Ele sentiu que não era incompatível passar por anjos caídos e vir, e morrer por homens. E contudo, Jesus é amor ainda. Todavia, Ele pode salvar alguns, e deixar os outros para serem endurecidos. “Muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva”. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro [Lucas 4:25-27].
2. Se Cristo visitou a sua alma, dê-Lhe toda a glória. “Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória” [Salmos 115:1]. A única razão pela qual vocês estão salvos é a misericórdia soberana de Jesus. Não é por que vocês são melhores do que outros, ou foram menos maus, tiveram melhores disposições, ou foram mais atentos às vossas Bíblias. Muitos dos que foram deixados foram muito mais irrepreensíveis em suas vidas. Não é por que vocês estavam sob um ministério peculiar. Deus fez do mesmo ministério um meio para o endurecimento de multidões. É a livre graça de Deus. Amém a Deus para todo o sempre, porque Ele vos escolheu de livre e espontânea vontade. Adorem a Jesus, que passou por milhões de pessoas, e morreu por vocês. Adorem o Espírito Santo, que veio a vocês em livre misericórdia soberana e despertou-lhes. Esse será o tema de louvor por toda a eternidade.
3. Se Cristo está agora visitando a sua alma, não brinque com Ele. Quando Cristo começa a bater à porta do coração de algumas pessoas, elas O rejeitam de vez em quando. Elas brincam com suas convicções. Elas dizem: “eu sou muito jovem ainda, deixe-me experimentar um pouco mais os prazeres do mundo, a juventude é tempo para a alegria; da outra vez abrirei a porta”. Alguns dizem: “estou muito ocupado, tenho que sustentar minha família, quando eu tiver uma ocasião mais conveniente eu te chamarei”. Alguns dizem: “eu sou forte e saudável, espero ter muitos anos de vida, quando a doença vier, então eu abrirei a porta”. Considere que Cristo pode não voltar novamente. Ele está batendo agora; adie a Sua entrada para outro dia e Ele pode passar pela sua porta. Você não pode ordenar que as convicções de pecado venham quando você quiser. Cristo é totalmente soberano na salvação das almas. Sem dúvida, muitos de vocês já tiveram a Sua última batida de Cristo. Muitos de vocês que já estiveram uma vez preocupados, agora não estão mais; e vocês não podem trazê-lO de volta. Não há dúvida nem por um momento na vida de todo homem que se ele abre a porta, ele será salvo, mas se não o fizer, ele perecerá. Provavelmente, este pode ser o tempo para muitos de vocês. Cristo pode dar as últimas batidas em vossa porta hoje.
II. Cristo se fez semelhante a nós em todas as coisas. Cristo não apenas se tornou homem, mas convinha que Ele fosse feito semelhante a nós em tudo. Ele sofreu, tendo sido tentado.
Em minha última preleção, eu mostrei os dois únicos pontos em que Ele era diferente de nós. 1. Sendo Deus, assim como o homem. Na manjedoura em Belém, lá estava um bebê perfeito, mas estava também o Senhor. Esse Ser misterioso, que montou em filho de jumenta, e chorou sobre Jerusalém, era tanto um homem como você é, e tanto Deus como o Pai é. As lágrimas que derramou eram lágrimas humanas, mas o amor de Jeová dilatava-se debaixo de Seu manto. Aquele ser pálido que pendia tremendo na cruz era de fato homem, era sangue humano o que fluía de Suas feridas, contudo Ele era também verdadeiramente Deus. 2. Sendo sem pecado. Ele era o único em forma humana dos quais pode-se dizer: Ele era santo, inocente, imaculado e separado dos pecadores; o único a quem Deus poderia olhar para baixo do céu e dizer: Este é o meu Filho amado, em quem Me comprazo. Todos os membros do nosso corpo e faculdades de nossa mente temos usado como servos do pecado. Todos os membros do Seu corpo e as faculdades de Sua mente eram usados ??apenas como servos da santidade. Sua boca era a única boca humana da qual nada senão palavras de graça saíram. Seu olho foi o único olho humano que nunca lançou chamas do orgulho, ou inveja, ou luxúria. Sua mão foi a única mão humana que nunca se moveu senão para fazer o bem. Seu coração era o único coração humano que não era enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente corrupto. Quando Satanás veio a Ele, não encontrou nada nEle. Agora, nestas duas coisas Lhe convinha ser diferente de Seus irmãos, ou de modo algum Ele poderia ter sido um Salvador. Em todas as outras coisas convinha que fosse feito semelhante a nós. Não havia nenhuma parte de nossa condição que Ele não assumiu, humilhando a Si mesmo.
1. Ele passou por todos as etapas de nossa vida, desde a infância até a idade adulta. Primeiro, Ele era uma criança recém-nascida, exposto a todas as dores e perigos da infância. “Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura” [Lucas 2:12]. Segundo, Ele suportou as provações e dores da infância. Muitos, sem dúvida, poderiam perguntar pelo menino santo na oficina do carpinteiro de Nazaré. Ele cresceu em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e do homem. Terceiro, Ele levou as aflições e angústias da humanidade, quando começou a ser de quase trinta anos de idade.
2. Ele provou as dificuldades de muitas situações na vida. Nos primeiros trinta anos, é provável, que Ele compartilhou a ocupação humilde de José, o carpinteiro; Ele provou as aflições de trabalhar pelo seu pão de cada dia. Depois, Ele passou a viver da caridade dos outros, certas mulheres, que O seguiram, O serviam com os seus bens. Ele não tinha onde reclinar a cabeça. Muitas noites Ele passou no Monte das Oliveiras, ou nas montanhas da Galiléia. Em seguida, Ele passou pelas aflições de um ministro do Evangelho. Ele pregava desde a manhã até a noite, e ainda com pequeno sucesso; para que Ele pudesse dizer: “Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças” [Isaías 49:4]. Quantas vezes Ele se indignou por sua incredulidade; Ele ficou espantado com a incredulidade deles! “Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei eu convosco, e até quando vos sofrerei?” [Mateus 17:17]. Quantas vezes Ele ofendeu muitos por Sua pregação, “muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” [João 6:60]. “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele” (João 6:66). Quantas vezes foi odiado por Seu amor! “Em recompensa do meu amor são meus adversários; mas eu faço oração” [Salmos 109:4]. Como Seus discípulos lhe foram pesados por causa de sua falta de fé! “Oh, homens de pouca fé, estou há tanto tempo convosco!” [Mateus 8:26, João 14:9]. A incredulidade de Tomé; o sono de Seus discípulos no jardim, em seguida O abandonando e fugindo; Pedro nega-Lhe; Judas O trai!
3. Que provações Ele tinha provindas de Sua própria família! Até mesmo Seus próprios irmãos não acreditavam nEle, antes zombavam. O povo de Sua cidade tentou precipitá-lO de um despenhadeiro, sobre as rochas. Que dor Ele sofreu por Sua mãe, quando Ele viu a espada perfurando seu coração amorável! Então, Ele disse a João: “Eis aí tua mãe”, e à sua mãe: “Eis o teu filho”, mesmo em meio às Suas agonias de morte.
4. Que provações de Satanás! Os crentes se queixam de Satanás, mas nunca sentiram o seu poder, como Cristo sentiu. Que conflito terrível foi aquele durante 40 dias no deserto! Quão temerosamente Satanás incitava os Fariseus, Herodes e Judas para atormentá-lO! Que hora terrível foi quando Ele disse: “Esta é a vossa hora e o poder das trevas!” [Lucas 22:53]. Que brado terrível foi aquele: “Salva-me da boca do leão” (Salmo 22:22), quando sentiu Sua alma nas próprias garras de Satanás!
5. Que provações de Deus! Os crentes muitas vezes sofrem quando, por vezes, Deus oculta deles a Sua face, mas ah! eles raramente provam sequer uma gota do que Cristo bebeu. Que agonia terrível foi aquela no Getsêmani, quando o sangue jorrou através dos poros! Quão terrível era a carranca de Deus na Cruz, quando Ele bradou: “Deus meu, Deus meu!” Em ??todas estas coisas e mil outras, foi feito semelhante aos Seus irmãos. Ele ficou em nosso lugar. Através da eternidade estudaremos esses sofrimentos.
Em primeiro lugar, aprendamos o maravilhoso amor de Cristo, que O levou a deixar a glória e submeter-Se a tal condição.
Em segundo lugar, aprendamos a suportar os sofrimentos com alegria. Você ainda não sofreu como Ele.
III. O propósito: que Ele pudesse ser um Sumo Sacerdote Misericordioso e Fiel. A obra de Cristo como Sumo Sacerdote está aqui estabelecida como dupla. 1. Fazer expiação pelos nossos pecados. 2. Socorrer Seu povo nas tentações.
1. Fazer expiação. Esta é a grande obra de Cristo como nosso Sumo Sacerdote. Para isso, era necessário que Ele se tornasse homem e morresse. Se Ele permanecesse somente como Deus, no seio do Pai, Ele poderia compadecer-Se de nós, mas não poderia ter morrido por nós, nem tomado nossos pecados. Teríamos perecido. Cada sacerdote no Antigo Testamento era um tipo de Jesus na medida em que a cada cordeiro que foi morto tipificava Jesus oferecendo Seu próprio corpo em sacrifício pelos nossos pecados.
Deixe o seu olho descansar ali, se você deseja ser feliz. Aquelas poucas horas escuras no Calvário, quando o Grande Sumo Sacerdote oferecia o maravilhoso sacrifício, concede luz pela eternidade para a alma crente. Somente isto te animará na hora da morte. Nem suas graças, nem seu amor a Cristo, não, nada em você, mas somente isso: Cristo morreu. Ele me amou, e Se entregou por mim. Cristo se manifestou para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo.
2. Socorrer os que são tentados. Todos os crentes são pessoas tentadas. Todos os dias eles têm suas provações; cada dia é para eles um momento de necessidade. Os não-convertidos são pouco tentados; eles não estão com problemas como os outros, nem são afligidos como outros homens. Eles não sentem tentações surgindo em seus corações; nem eles conhecem o poder de Satanás. Antes da conversão um homem acredita tão pouco no demônio quanto ele acredita em Cristo. Mas quando um homem vem a Cristo, então ele se torna uma alma tentada, “aflitos e necessitados buscam águas, e não há” [Isaías 41:17].
Ele é provado por Deus. Deus provou a Abraão; não para pecar, pois Deus não pode ser tentado pelo mal, nem tenta a qualquer homem. Ainda assim, Deus sempre prova Seus filhos. Ele nunca dá fé, sem antes trazer Seu filho para uma situação em que ele possa ser tentado. Às vezes, ele o exalta, para tentar se ele se ensoberbecerá e se esquecerá de Deus; às vezes ele o rebaixo, para ver se ele murmurará contra Deus. Bem-aventurado o homem que suporta a tentação. Às vezes, Ele os traz a um lugar estreito para ser provado, se eles crerão nEle somente ou confiarão na carne e no sangue.
O mundo tenta um filho de Deus; Eles buscam sua hesitação. Eles não amam nada mais do que ver um filho de Deus cair em pecado; acalma-lhes a consciência pensar que todos são igualmente ruins. Eles franzem a testa, eles sorriem.
Seu próprio coração é uma fonte de tentação. Às vezes ele diz: “Que mal há nisso? é um pequeno pecado”; ou, “eu só vou pecar uma vez, e nunca mais”; ou, “vou me arrepender depois e serei salvo”.
Satanás lança seus dardos inflamados. Ele os aterroriza longe de Cristo, os perturba em oração, enche suas mentes com blasfêmias, os persegue pelo mundo.
Ah! crentes, vocês são um povo tentado. Vocês são sempre pobres e necessitados. E Deus quer que seja assim, para dar-lhe recados constantes para que vão ter com Jesus. Alguns podem dizer, não é bom ser um crente; mas ah! Veja a Quem nós podemos recorrer.
Nós temos um Sumo Sacerdote Misericordioso e Fiel. Ele sofreu, tendo sido tentado, justamente para poder socorrer aos que são tentados. O antigo sumo sacerdote oferecia sacrifício não somente no altar, o seu trabalho não terminava quando o cordeiro era consumido. Ele deveria ser um pai para Israel. Ele levava todos os seus nomes, gravados sobre o seu coração; ele entrava e orava por eles dentro do véu. Ele saia e abençoava o povo, dizendo: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti…”, veja Números 6:24-25.
Assim é com o Senhor Jesus. Seu trabalho não terminou no Calvário. Aquele que morreu por nossos pecados vive para interceder por nós, para nos ajudar em todos os momentos de necessidade. Ele ainda é o homem à mão direita de Deus. Ele ainda é Deus, e, portanto, em razão de Sua Divindade, está presente aqui neste dia, tanto quanto qualquer um de nós. Ele conhece todos os seus sofrimentos, tentações e dificuldades; Ele ouve cada pequeno suspiro; e traz notícia ao Seu coração humano, à direita da mão de Deus. Seu coração humano é o mesmo ontem, hoje e para sempre; Ele suplica por você, pensa em você, planeja livramentos para você.
Queridos irmãos tentados! Vão com confiança ao trono da graça, para alcançar misericórdia e achar graça para socorro na hora de sua necessidade.
Você está em luto por alguém amado? Vá e diga a Jesus, espalhe suas tristezas aos Seus pés. Ele sabe de todos elas; Se compadece de você por todas elas. Ele é um Sumo Sacerdote Misericordioso. Ele é fiel, também, nunca ausente na hora da necessidade. Ele é capaz de socorrê-lo com a Sua palavra, pelo Seu Espírito, por Sua providência. Ele deu-lhe todo o conforto que tinha por meio de seus amigos. Ele pode dar-lhe sem eles. Ele lhe privou do fluxo, para que você possa ir para a fonte.
Você está sofrendo no corpo? Vá para este Sumo Sacerdote. Ele está intimamente familiarizado com todas as suas doenças; Ele sentiu muita dor. Lembre-se de como, quando trouxeram-lhe um que era surdo e tinha a língua presa, Ele olhou para o céu e suspirou e disse. Efatá! Ele suspirou pela sua miséria. Assim, Ele suspira por você. Ele é capaz de dar-lhe livramento, ou paciência para suportar o sofrimento, ou lhe aperfeiçoar por meio dele.
Você está dolorosamente tentado na alma, em meio a circunstâncias difíceis, de modo que você não sabe o que fazer? Olhe para cima; Ele é capaz de socorrê-lo. Se Ele estivesse na terra você não iria a Ele? você não se ajoelharia e diria: Senhor, ajuda-me? Faz alguma diferença que Ele esteja à mão direita de Deus? Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre.