“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira.” (Isaías 26:20)
ESTA passagem é uma palavra em tempo oportuno ao povo de Deus em toda época de calamidade iminente. A forma de expressão é evidentemente tomada a partir daquela noite terrível quando Deus passou pela terra do Egito para ferir todos os primogênitos dos egípcios, desde o primogênito de Faraó que estava assentado sobre o trono, até o primogênito do cativo que estava na masmorra. E Faraó levantou-se de noite, ele e todos os seus servos, e todos os Egípcios, e houve um grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um morto. Mas Deus tinha ordenado o Seu próprio Israel a matar o cordeiro pascal, o tipo do Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, e a tomar um molho de hissopo, e mergulhá-lo no sangue, e pô-lo na verga da porta e em ambas as ombreiras, com sangue: “porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã” [Êxodo 12:22]. “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.
Pode ser difícil determinar a que tempo de indignação o profeta aqui se refere. A profecia foi dada no início do reinado de Ezequias, quando muita destruição ainda estava por vir sobre a terra de Israel. A invasão por Senaqueribe, o assírio, estava prestes a acontecer, e pode ser primariamente referido a isto. A invasão por Nabucodonosor, e cativeiro de setenta anos também estavam vindo; e também podia referir-se a isso. E a invasão pelos Romanos, na qual Jerusalém foi destruída, e os Judeus finalmente dispersos pelo mundo inteiro, também podia remeter-se a isso. E em todas essas iminentes indignações, a Palavra de Deus ao seu povo foi, para que se escondessem em seus aposentos, no refúgio em que Ele lhes tinha designado, até que a ira passasse.
Porém, acima de tudo, esta profecia refere-se à grande tempestade de ira que Deus ainda trará sobre o mundo, antes que venha o fim. Quando o Senhor Jesus virá uma segunda vez, sem pecado para salvar; quando Ele virá novamente, não mais um pobre homem, vestido com uma túnica sem costura, mas glorioso em Seu traje, marchando na plenitude da Sua força: “quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)” [2 Tessalonicenses 1:7, 8, 10]. Naquele dia de terrível tribulação, que a não ser que fosse encurtado, nenhuma carne se salvaria, Deus reunirá os Seus como se fosse em câmaras, e os guardará escondidos até que a tempestade passe.
Como no dilúvio Ele conduziu Seu pequeno rebanho para o interior da Arca, e está escrito: “o Senhor o fechou dentro” [Gênesis 7:16], Ele fechou as portas sobre eles, até que o dilúvio de Sua ira passou; como na destruição de Jericó, a família de Raabe foi toda reunida dentro das portas, e salvos da ira que veio sobre todos; como na destruição dos primogênitos do Egito, Deus guardou o Seu próprio Israel escondido em segurança nas suas habitações; assim, na última tempestade que cairá sobre este miserável mundo que perece, Deus reunirá os seus eleitos em segurança sob a palma da mão, dizendo: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.
A doutrina a ser aprendida a partir desta passagem é muito simples, a saber, que em todos os tempos de calamidade Deus nos ordena e a nossas famílias a encontrarmos refúgio em Cristo. Não há segurança em qualquer outro lugar.
Cristo é um refúgio completo em cada tempestade.
Em outras partes da Bíblia, Cristo é comparado a “um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” [Isaías 32:2]; Ele é comparado a uma “torre forte” [Provérbios 18:2] ou “alto refúgio” [Salmos 18:2], para o qual nós podemos fugir e estar a salvos. Ele é comparado a uma “macieira entre as árvores do bosque”, sob a sombra da qual, podemos sentar, e seu fruto é doce ao nosso paladar [Cânticos 2:3], mas a comparação aqui é bem diferente, ele é aqui comparado ao nosso próprio quarto com a porta fechada: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.
Agora Cristo é como o nosso próprio quarto com a porta fechada, em muitos aspectos:
(1) Porque há segurança nEle. Não há lugar em todo o mundo para o qual olhamos com mais frequência em uma hora de perigo, como um refúgio e lugar de segurança, mais do que a nossa própria casa, o quarto interior, com a porta fechada. Irmãos, precisamente assim é Cristo. Há segurança nEle: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” [Romanos 8:1].
(2) Porque há sossego e descanso nEle. No mundo nós olhamos para a agitação e preocupação dos negócios, mas quando entramos em nosso quarto e fechamos a porta para o mundo inquieto, tudo é tranquilidade e paz. Irmãos, exatamente assim é Cristo. NEle o “cansado está em repouso”. Nós estamos “sem inquietações” temos “repouso e segurança para sempre”.
(3) Porque a nossa casa é um refúgio de prontidão, de acesso próximo e fácil. Quando buscamos a nossa casa, não temos que subir com a águia até o topo das rochas escarpadas, nem como a pomba que se aninha nos lados da boca da caverna, nem temos que cavar a terra, para que possamos esconder nossa cabeça ali. Nossa casa está próxima de nós. Irmãos, precisamente assim é Cristo. Ele é um Salvador de prontidão que está próximo e não distante. Nós não temos que subir, para trazer Cristo do alto, nem temos que descer para a profundeza, para trazer Cristo, novamente, dentre os mortos. Mas a palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração. Oh! Ele é um Salvador próximo; Ele não está longe de cada um de nós. Agora, este é o refúgio para o qual Deus ordena ao Seu povo fugir, em cada tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. E oh! Ele é um refúgio todo-suficiente em cada tempestade.
I. Cristo é um refúgio completo durante as tempestades da consciência. A grande maioria dos homens não-convertidos estão vivendo mui seguros em seus pecados; indo de um dia para o outro sem a menor ansiedade, embora a ira de Deus permaneça sobre eles. A razão é que os cálices da ira estão suspensos sobre suas cabeças, mas ainda não foram derramados; as chamas do inferno estão queimando debaixo de seus pés, mas eles ainda não sofreram por tocá-las. Deus é longânimo, não querendo que ninguém pereça. Mas quando Deus desperta a alma para conhecer a sua verdadeira condição, então surge, no interior, uma tempestade da consciência. Ó irmãos! então, não há mais segurança para aquela alma. Ela não sente a repugnância do pecado como um filho de Deus, mas sente o terror da ira. O Espírito a convenceu do pecado. Cada pecado de sua vida passada se levanta atrás dela, e parecem clamar vingança. Todos os pecados de suas mãos roubando as coisas que não eram suas, manipulando as coisas ilegalmente, e escrevendo coisas abomináveis e tolas; os pecados de seus pés, velozes para derramar sangue, rápidos para levá-lo para os antros do pecado; os pecados de seus olhos, cheios de adultério, e que não poderiam deixar de pecar; os pecados da língua amando e praticando a mentira, expressando palavras de murmúrio, maledicência, calúnia e amargura, falando palavras vergonhosas na escuridão, coisas as quais até mesmo o citar é uma vergonha; os pecados do seu coração, pois este deve ter sido sempre como uma fonte jorrando desejos abomináveis e afeições repugnantes em direção à criatura, ao passo que o Criador era desprezado, embora seja o mais amorável de todos.
Ó irmãos! quando um homem realmente sente que a ira de Deus está posta sobre ele por toda uma vida de pecado, quem pode suportar a tempestade? e, o pior de tudo: quando o Espírito convence do pecado, “porque ele não crê em Jesus”. Quando o pecador sente que Jesus estendeu a Sua mão o dia todo, e ele não considerou; que o gentil Salvador o chamou, e ele recusou; que ele desprezou as ofertas de misericórdia pisoteando-as, e desprezou o Espírito da graça, em seguida, a tempestade de consciência sobe em um turbilhão. Os temores da ira caem duramente sobre a alma; eles são como ondas e vagas passando por cima dele. Agora, sua esposa e filhos não podem animá-lo nem seus companheiros de pecado podem fazê-lo rir de seus medos. Ó irmãos, se alguma vez vocês já viram o semblante triste e abatido de um pecador convencido por Deus, vocês não esquecerão disto tão cedo. Ele não tem certeza, se seu próximo passo não pode ser o inferno. Quando ele adormece, ele não sabe, se ele não pode acordar no inferno.
Oh! se há uma alma aqui, assim despertada, aflita, na tempestade e desconsolada, ouça esta palavra: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. É verdade, esta é uma palavra, principalmente para o povo de Deus, que já está escondido em Cristo, mas Cristo é tão livre para você como para eles. NEle há uma segurança perfeita. NEle há tranquilidade e descanso. Ele é um Salvador próximo. Seus braços são tão abertos para recebê-lo como é a sua própria casa. Vinde, pobres pecadores, entrem neste quarto. Todo aquele que está agora em Cristo, já esteve na tempestade, como você está. Quando um homem é surpreendido ao cair da noite em um pântano sombrio, quando o vento gelado sopra amargamente sobre ele, e a neve abundante retarda cada passo seu, onde é que ele deseja estar? Que lugar em todo o mundo está frequentemente em sua desejosa imaginação? É sua casa, em seu quarto com a porta fechada. Se ele apenas estivesse ali, estaria seguro. Ó pobre alma, exatamente assim é você, e precisamente assim, como uma casa, é Cristo, que não distante, mas próximo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo. Esconda-se nEle, pois Ele é um esconderijo contra o vento.
II. Cristo é um refúgio completo em uma tempestade de providência.
Quando as providências são todas favoráveis, é assombroso como quão descuidados os homens não-convertidos são em relação a Deus e às coisas da eternidade.
Quando o esplendor da saúde estampa o seu rosto, eles começam a viver como se fossem viver para sempre, como se não houvesse morte e nem inferno. Quando o seu negócio continua próspero de semana a semana, eles começam sentir-se como senhores do universo, como se esse mundo fosse seu, como se as suas casas, terras e dinheiro fossem todos seus próprios, e eles nunca poderiam abrir mão. E é ainda mais surpreendente ver quão mais descuidados até mesmo os filhos de Deus são nestes tempos de prolongada e contínua prosperidade; como a morte e a eternidade, e o estar com Cristo e o crescer em semelhança com Ele se tornaram coisas menos desejáveis do que uma vez foram. Quão parecidos eles se tornam com o mundo, ao supor que o ganho é piedade. Como os pobres e miseráveis bens deste mundo parecem, por um tempo, estar no meio e interceptar a visão da herança que é incorruptível, incontaminável, imperecível. Como o deslumbre e o brilho deste presente mundo vil ofuscam os seus os olhos, e escurecem a sua visão da contemplação do Rei em Sua formosura, e da terra que está mui distante.
Agora, é profundamente interessante e instrutivo observar o pânico que vem sobre a face da sociedade, quando Deus faz uma súbita mudança de providências; quando, de repente, o céu está nublado, o trovão distintamente começa a retinir, e a tempestade da providência progride. Quando aqueles acidentes súbitos ocorrem no mundo comercial, quando a avalanche das montanhas nevadas desce sobre alguma aldeia infeliz e sufoca famílias inteiras em meio à sua alegria irracional. Quando essas catástrofes esmagadoras descem, envolvendo famílias inteiras em ruína e miséria, é estranho ver como o mundo fica espantado, a sua sabedoria é totalmente frustrada e confundida. Ou quando Deus envia um tempo de doença generalizada e morte; quando Ele parece envenenar a própria atmosfera; quando somos visitados pela peste que anda na escuridão e pela mortandade que assola ao meio-dia; quando caem mil nosso lado, e dez mil à nossa direita. Oh! é estranho ver o pânico que vem sobre os homens, e a palidez sobre todos os rostos.
É como quando um conjunto de barcos de pesca saiu em uma excursão quando o vento era bom, e o sol brilhava alegremente, e as ondas azuis ondulavam suavemente por todos os lados, e tudo é alegria e despreocupação em cada barco, quando de repente o céu fica nublado, o vento ruidoso sobe, uma terrível tempestade se aproxima, e a morte olha os homens no rosto. Ah! então, que pânico se apodera da tripulação em cada barco? Que rizadura das velas! que avidez no leme! como alguém procura correr para o litoral, outro para o interior! Assim é o pânico que vem sobre os homens não-convertidos em um momento de calamidade generalizada. E oh! quão religiosos eles agora se tornam! como olham para a sepultura, e abandonam seus gracejos e conversas licenciosas, e pensam que isto é religião! Eles são como Israel no passado: “Quando os matava, então o procuravam; e voltavam, e de madrugada buscavam a Deus. E se lembravam de que Deus era a sua rocha, e o Deus Altíssimo o seu Redentor. Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis na sua aliança” [Salmos 78:34-37].
Agora, irmãos, em tal tempestade da providência Divina, Cristo é um refúgio completo; e embora os filhos de Deus, em tais momentos, mesmo eles, parecem estar em dúvida e sob perigo, porque não sabem o que pensar e nem para onde fugir, ainda assim eles podem ouvir a Palavra de Deus acima da tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira” [Isaías 26:20]. Assim como o nosso próprio quarto, com as portas fechadas sobre nós, é o lugar onde temos sossego e descanso, e a tempestade pode se enfurecer lá fora, mas não a sentiremos; e o mundo pode estar chorando em voz alta, contudo, nós não o ouviremos, assim o Senhor Jesus é um refúgio perfeito para o crente, em todas as tempestades da providência.
Os homens tendem a pensar que o único bem em esconder-se em Cristo é salvar as nossas almas, de forma que quando um pecador despertado se esconde no Senhor Jesus, ele encontra o perdão de todos os pecados e paz com Deus, porém nada mais. Mas toda a Bíblia mostra que há muito mais em Cristo, de modo que, quando nós nos escondemos nEle, nós somos salvos de todas as nossas angústias, de nossos problemas de saúde, do dinheiro, do mundo. No Salmo 34, é mencionado quatro vezes, que quando nos aproximamos de Cristo, somos salvos, e não de um problema, mas de todos os nossos problemas: “Busquei ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores” (v. 4). “Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias” (v. 6). “Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias” (v. 17). “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas” (v. 19). E a razão é simples: quando nos escondemos em Jesus, o Deus de provisão torna-se o nosso Deus e Pai, e nós sabemos que todas as coisas cooperam para o nosso bem. O Senhor é nosso pastor e nada nos faltará. Qualquer temporal pode ser afastado, nós sabemos que nosso bem eterno está seguro: “porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” [2 Timóteo 1:12].
Ó meus amigos crentes, por que vocês deveriam estar desencorajados neste tempo de peste grandemente disseminada e calamidade? por que vocês estariam abatidos, como se Deus estivesse lhes cobrindo com uma nuvem em Sua ira? Estas nuvens podem ser algumas gotas da ira vindoura de Deus sobre o mundo, elas podem ser como o primeiro trovejar da chuva; mas para vocês, elas falam na linguagem do amor. Deus quer que vocês se escondam mais profundamente em Cristo, Ele quer vocês mais separados do mundo: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti”.
Nós nunca conheceríamos a bênção de uma casa, se não houvesse as neves e os ventos invernais para nos fazer em multidão ficar em volta da lareira feliz! Exatamente assim, crente, você não conhece a bênção de tal quarto como é Cristo, se não houvesse enfermidades e providências escuras eminentes para fazê-los viver mais nEle. Venha então, crente, que cada gota de ira que cai em torno de você fale com o novo poder à sua alma, dê nova luz à fé pela qual você se apegará a Jesus. Deixe que cada suspiro que você ouve, seja como se fosse uma voz de Deus, dizendo: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”.
E vocês, pobres almas sem Cristo, ah! para onde vocês correrão, pobres ovelhas que não têm pastor, indefesas e perdidas no deserto deste mundo? Vocês não têm casa. Entrem em vossos quartos mais seguros e fechem a porta, mas, ainda assim, a vingança pode chegar ali. Deus está contra você, Sua ira está habitando sobre você. O dia do Senhor é trevas e não luz para você. Onde quer que você vá você é uma alma perdida. “É como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se entrando numa casa, a sua mão encostasse à parede, e fosse mordido por uma cobra” [Amós 5:19]. Ó irmãos! Vocês são homens, vocês têm tendes entendimento, não fugireis da ira vindoura? Será que essas enfermidades assoladoras não vos convencem de que Deus é mais forte do que vocês, que vocês serão como nada nas mãos de um Deus irado? Até mesmo para vocês, Cristo, a porta da salvação, ainda está aberta, escancarada. Vinde, pobres pecadores, entrem neste quarto e fechem as tuas portas sobre vocês. “Esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.
III. Há apenas duas observações que gostaria de fazer, em conclusão:
1. Esta passagem ordena que nos escondamos em Cristo, e não isoladamente, mas em famílias. Na libertação que Deus operou por Israel no Egito, Ele ensinou isso mui notavelmente, pois Ele não reuniu Israel em alguma grande torre onde eles poderiam estar seguros, mas ordenou que cada família permanecesse dentro de sua própria casa, apenas aspergindo suas portas com o sangue. E assim, ao salvar Noé, Deus não salvou a alma de um indivíduo, mas a família inteira. E assim, na salvação de Ló, Deus salvou a Ló, e a todos os que estavam com ele. E assim, na salvação de Raabe, ela e toda a sua parentela foram reunidos e salvos. Meus amigos, Deus ainda é o Deus das famílias, e Ele ainda quer que famílias inteiras sejam salvas; e Ele diz assim nas palavras diante de mim: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”. Ai! meus amigos, nós vivemos em dias quando a religião de família está prostrada no chão. Os homens são muito orgulhosos para ser como Abraão, e ordenar os seus filhos e seus servos depois deles. Os homens atuais tomam as palavras de Caim, e dizem: “Sou eu o guardião de meu irmão?”. Ah! Onde estão os nossos Andrés agora? André primeiro achou seu próprio irmão, Pedro, e disse a ele: “Achamos o Cristo; e levou-o a Jesus”.
O quê!? há um de vocês que pensa de si mesmo ser um filho de Deus, e ainda se envergonha de ajoelhar-se no meio de sua família e orar? Ai! meu amigo, você pode sonhar que é um filho de Abraão, mas lembre-se que você não faz as obras de Abraão. Ah irmãos, famílias inteiras precisam ser salvas, pois famílias inteiras estão em perigo do inferno.
Então, você que conhece o Senhor, as suas entranhas não suspiram pela sua parentela perecendo? Você não pode empenhar-se em algo, penso eu, para ganhá-los para Cristo? Você não fortalecerá nossas mãos, no mínimo, pelas suas palavras e orações, e pela abertura do caminho para que o ministro de Cristo entre no seio de suas famílias não-convertidas? Ah! neste tempo de angústia, você não insistirá com eles, como os anjos fizeram com Ló? Ouça! o Senhor vos chama: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.
2. Eu observo que os perigos a que estão expostos o crente são apenas passageiros. Deus diz: “Esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. Foi assim naquela noite quando Deus feriu os primogênitos do Egito. Era apenas por uma noite que eles tiveram que esconder-se em suas casas: “nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã”. Foi assim na destruição de Jericó, Raabe e sua parentela esconderam-se por sete dias, até que o perigo passasse. E justamente assim, os problemas dos crentes agora são por um curto período: “nossa leve e momentânea tribulação” [2 Coríntios 4:17]. E também a ira que há de vir sobre o mundo será, apenas por um momento, que em breve passará.
(1) As tribulações temporais são apenas por um momento. Estas tristes doenças e calamidades não durarão para sempre, um pouco de tempo e este corpo será livre do poder da dor e de suas misérias. Eu sei que se algum de vocês tivesse provado a doçura de estar em Cristo, estaria contente em esconder-se nEle por toda a eternidade. Seja bem-vinda uma eternidade de problemas exteriores, se apenas eu estiver escondido em Cristo. Mas você não é solicitado a fazer isso: “Esconde-te só por um momento”. Viva apenas mais alguns anos na fé, e tu viverás o restante em glória: “Se sofrermos, também com ele reinaremos” [2 Timóteo 2:12].
(2) A ira do último dia será apenas por um momento. Dias de ira estão chegando, meus amigos, tal como o mundo nunca conheceu antes; é vão esconder-se. E se esses dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão abreviados, para que aconteçam por pouco tempo. Se estes dias de tribulação se darão em nossos dias, eu não sei, pois não sabemos o dia nem a hora em que o Filho do Homem virá. Mas isso eu sei, que não há segurança nem por outra noite para qualquer alma que não esteja escondida no Salvador. Eu repito isto, meus amigos, se vocês deitarem em sua cama nesta noite sem de Cristo, o Filho do Homem pode vir antes da manhã, e vocês serão arruinados, e terão o seu quinhão com os hipócritas, onde há choro e ranger de dentes.
Mas, ó crente escondidos na Rocha, permanecei nEle. Enquanto o céu escurece ao vosso redor, escondam-se mais profundamente nEle. Isto é apenas por um curto período como uma nuvem sombria e escura, mas virá luz do sol eterno acima de uma grande onda de vingança, e um oceano infinito de glória.
Filhinhos, permanecei nEle, para que quando Ele se manifestar tenhais confiança, e não fiqueis confundidos diante dEle na Sua vinda: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.
Dundee, 15 de janeiro de 1837.
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Apêndice – Comentário de Isaías 26:20, por John Gill
“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”. Estas palavras são tanto para ser conectadas com o versículo anterior (Isaías 26:19), e consideradas como uma parte da canção, e, então, a forma delas é para que o povo de Deus saiba que haveria tempos de grande dificuldade e angústia, anterior àquele glorioso antes mencionado; quanto deve ser entendido como uma ressurreição espiritual, a conversão de Judeus e Gentios nos últimos dias, que antecederão os julgamentos do anticristo (Apocalipse 19:2, 7) ou da primeira ressurreição, após a vinda de Cristo, (Daniel 12:1-2) e, portanto, deveriam esperar um tempo de angústia, e preocuparem-se por abrigo e segurança, ou então, a canção estaria acabada, como geralmente se pensa; no último versículo (Isaías 26:19), estas palavras começam um novo assunto, e um novo capítulo, no qual se previu a punição que seria infligida a um mundo ímpio, e, portanto, para consolar o povo do Senhor, que habita entre eles, e para que eles soubessem que provisão foi realizada para seu refúgio e segurança, e onde eles podem estar seguros durante a tempestade, estas palavras são pregadas, em que o Senhor Se dirige ao Seu povo de uma forma muito gentil e terna, reivindicando um interesse neles, e expressando muita afeição por eles, e a preocupação com seu bem-estar: “povo meu”, a quem tenho amado com um amor eterno, escolhido para ser um povo especial dentre todos os povos, fiz uma aliança com eles em meu Filho, que os redimiu com o seu sangue, e os chamei pelo meu Espírito e graça; “vai”, longe dos ímpios, estejam separado deles, não tenham comunhão com eles; Diz o mesmo sobre isso em Apocalipse 18:4, referindo-se ao mesmo tempo, “sai dela, povo meu” ou “vai” a mim, que tenho sido a morada do meu povo em todas as gerações, uma habitação forte, à qual possa recorrer continuamente, (Salmos 90:1; 71:3) ou “vai” comigo, eu vou levá-lo para um lugar onde você possa estar seguro, como fez Noé e sua família na arca, a que pode haver uma alusão (Gênesis 7:1;16).
“Entra nos teus quartos”. Aludindo às pessoas no exterior nos campos, as quais, quando percebem uma tempestade que se aproxima, apressam-se para casa, e entram em suas casas, e para o interior das partes mais afastadas e seguras delas, até que esta passe; mais, ou aos israelitas, que mantiveram-se fechados em portas, enquanto o anjo destruidor passou pela terra do Egito; ou à Raabe e sua família estando dentro de sua casa, quando Jericó foi destruída:
estes “quartos” podem ser considerados literalmente como os locais de oração e devoção; a oração sendo muito adequada como recurso em momentos de dificuldade, e, uma vez que deve ser realizada por pessoas sozinhas em particular, (Mateus 6:6), o qual o texto é um comentário sobre isso, e talvez considera como pode ser a forma de desempenho da mesma pelas sociedades, em tempos de grande perseguição, assim, isto é a segurança do povo de Deus, e não há nada melhor para eles, em tempos de dificuldades, do que encomendarem a si mesmos a Deus em oração, e à sua proteção Divina, e pode ser que o próprio Deus, e as perfeições de sua natureza, que são aqui compreendidas por “quartos”, Seu Nome é uma torre forte, para onde os justos correm e estão seguros, (Provérbios 18:10) e toda a perfeição nEle é como um quarto neste torre, onde os santos recorrem para poder apresentar-se a si mesmos seguros, até que o problema é passado; como o amor eterno de Deus, que não muda e, portanto, os filhos de Jacó não são consumidos; a fidelidade de Deus, em sua Aliança e promessas, que nunca falham, e o seu poder, nos quais eles são mantidos, como em uma guarnição (1 Pedro 1:5) e estes quartos podem não ser inadequadamente aplicados ainda a Cristo e ao seu sangue e justiça, que é um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, uma fortaleza para prisioneiros da esperança, em cuja Pessoa estão o descanso, paz e segurança no meio da angústia, cuja justiça protege da condenação e ira; e não as boas obras, como o Targum, o qual diz que protegerá em um momento de angústia, mas a justiça de Cristo protegerá, como também o seu precioso sangue, que foi tipificado pelo sangue do cordeiro pascal, aspergido nos umbrais das portas dos israelitas, segundo o qual eles foram preservados pela destruição anjo, e foi representado pelo fio escarlate na janela de Raabe, o sinal pelo qual a casa foi conhecida, e por isso inteiramente salva.
A concepção geral das palavras é para exortar o povo de Deus a um estado sereno e tranquilo da mente, à calmaria, tranquilidade e descanso, enquanto os juízos de Deus estiverem sobre a terra; para estarem calmos e serenos, qualquer que seja a forte agitação que houver no mundo; a encomendar-se a Deus, e contemplar a si mesmos seguros e protegidos, sob sua providência e proteção. Alguns dos antigos, por “quartos”, entenderam as sepulturas, e não erroneamente, especialmente se as palavras devem ser consideradas em relação à anterior, com isso, uma vez que os santos mortos ressuscitarão tão seguramente como Cristo ressuscitou, e da mesma maneira ele, e aqueles que dormem no pó da terra ressuscitarão e cantarão, então não tenham medo da morte e da sepultura; entrem aqui, como em seus aposentos, onde, sendo retirados do mal vindouro, vocês entrarão em paz, deitarão e descansarão em suas camas, no máximo sigilo e segurança, até a manhã da ressurreição, enquanto tempestades de ira divina caem sobre um mundo perverso e ímpio; veja (Isaías 57:1-2; Jó 14:13):
“E fecha as tuas portas sobre ti”. Uma frase expressiva de segurança e sigilo, e pode ser aplicada às várias coisas acima mencionadas:
“Esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. Não a indignação de Satanás, ou de perseguidores ímpios contra os santos, mas a ira de Deus, e esta não sobre seu próprio povo, ou sobre a nação Judaica, mas sobre um mundo perverso; não no inferno, pois esta será eterna, e nunca acaba, e muito menos será apenas por um momento, mas como será no tempo, e cairá sobre todas as nações do mundo e, especialmente, sobre o anticristo Romano, e os estados anticristãos, e refere-se principalmente às sete taças da ira de Deus, que serão derramadas sobre eles, o que, quando começar, será logo, veja (Isaías 34:2; Apocalipse 16:1), e assim será o ardor do mundo, a última instância da ira de Deus na terra, que em breve será o fim e, enquanto isso, os santos estarão com Cristo nos ares, e essas tribulações, em que as pessoas estarão envolvidas antes de virem tempos felizes, será muito curto; como, aliás, todas as suas aflições são apenas por um momento, um pequeno momento, a tentação que virá sobre toda a terra, para tentar os seus moradores, mas será por uma hora, e o assassinato das testemunhas, e sua deitado morto, serão apenas de três dias e meio, o tempo de angústia será abreviado por causa dos eleitos, (Mateus 24:21 Mateus 24:22) (Apocalipse 3:10) (11:7-11) compare com este (Salmos 57:1).