Declaração de Fé e Prática da Igreja de Jesus Cristo, Uma Confissão por John Gill

Declaração de Fé e Prática da Igreja de Cristo em Carter-Lane, Southwark, sob os cuidados Pastorais do Dr. John Gill, para ser lida e consentida, na ocasião da admissão de membros.

 

Depois de ter sido habilitado, pela graça Divina, a dar-nos a nós mesmos ao Senhor, e também uns aos outros, pela vontade de Deus, este dever recai sobre nós, a saber, fazer uma declaração de nossa fé e prática, para a honra de Cristo, e a glória de Seu nome; sabendo que, com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação (Romanos 10:10). Nossa declaração possui o seguinte teor:

 

I. Cremos, que as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento (2 Timóteo 3 15-17; 2 Pedro 1:21), são a Palavra de Deus, e a única (João 5:39; Atos 17:11; 2 Pedro 1:19-20) regra de fé e prática.

 

II. Cremos, que há apenas um (Deuteronômio 6:4; 1 Coríntios 8:6; 1 Timóteo 2:5; Jeremias 10:10) único Deus vivo e verdadeiro: que há (1 João 5:7; Mateus 28:19) três pessoas na Divindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que são iguais em natureza, poder e glória; e que o Filho (João 10:30; Filipenses 2:6; Romanos 9:5; 1 João 5:20) e o Espírito Santo (Atos 5:3-4; 1 Coríntios 3:16-17; 2 Coríntios 3:17-18) são tão verdadeira e propriamente Deus como o Pai. Estas três pessoas Divinas são distinguidas uma da outra por propriedades relativas e peculiares: o caráter distintivo e propriedade relativa da primeira pessoa é gerar, Ela gerou um Filho de Sua mesma natureza, o qual é a imagem expressa de Sua pessoa (Salmos 2:7; Hebreus 1:3); e, portanto, é com grande propriedade chamada de Pai. O caráter distintivo e propriedade relativa da segunda pessoa é que Ele é gerado, e é chamado de o unigênito do Pai, e adequadamente Seu próprio Filho (João 1:14; Romanos 8:3, 32); não um filho por criação, como os anjos e os homens o são, nem por adoção, como santos o são, nem por ofício, como os magistrados civis, mas por natureza, por meio da geração eterna do Pai (Salmos 2:7) de Sua natureza Divina, e, portanto, Ele é verdadeiramente chamado o Filho. O caráter distintivo e propriedade relativa da terceira pessoa se dá por Ele ser soprado pelo Pai e pelo Filho, e proceder de ambos (Jó 33:4; Salmos 33:6; João 15:26, 20:26, 20:22; Gálatas 4:6), e é muito adequadamente chamada de Espírito, ou sopro de ambos. Estas três pessoas Divinas distintas, nós professamos reverenciar, servir e adorar como o único Deus verdadeiro (1 João 5:7; Mateus 4:10).

III. Cremos que, antes da fundação do mundo Deus elegeu (Efésios 1:4; 1 Tessalonicenses 1:4, 5:9; 2 Tessalonicenses 2:13; Romanos 8:30; Efésios 1:5; 1 João 3:1; Gálatas 4:4-5; João 1:12) um certo número de homens para a salvação eterna, aos quais predestinou para filhos de adoção por meio de Jesus Cristo, a partir de Sua própria livre graça, e de acordo com o beneplácito da Sua vontade; e que nos termos do presente desígnio gracioso, Ele planejou e fez um pacto (2 Samuel 23:5; Salmos 89:2, 28, 34; Isaías 42:6) de graça e paz com Seu filho Jesus Cristo, como representante de outras pessoas; para as quais um Salvador (Salmo 89:19; Isaías 49:6) foi nomeado, e todas as bênçãos (2 Samuel 23:5; Isaías 55:3; Efésios 1:3) espirituais lhes foram dadas; como também suas (Deuteronômio 33:3; João 6:37, 39 e 10:28-29; Judas 1) pessoas, com toda sua graça (2 Tim 1:9; Efésios 1:3; Colossenses 3:3-4) e glória, foram colocados nas mãos de Cristo, e Lhe foram dadas para Seu cuidado e custódia.

 

IV. Cremos, que Deus criou o primeiro homem, Adão, à Sua imagem, e à Sua semelhança, uma criatura justa, santa e inocente, capaz de servir e glorificá-lO (Gênesis 1:26-27; Eclesiastes 7:29; Salmos 8:5), mas ele pecou, e toda a sua posteridade pecou nele, e, desde então, todos os homens nascem destituídos da glória de Deus (Romanos 5:12, 3:23), a culpa do pecado de Adão é imputada; (Romanos 5:12, 14, 18, 19; 1 Coríntios 15:22; Efésios 2:3) e uma natureza corrupta é herdada por todos os seus descendentes que procedem dele por geração ordinária e natural (Jó 14:4; Salmos 51:5; João 3:6; Ezequiel 16:4-6); de modo que eles são, em virtude de seu primeiro, carnal e impuro nascimento; adversos a tudo o que é bom, incapazes de fazer qualquer bem, e propensos a todo (Romanos 8:7-8, 3:10-12; Gênesis 6:5) pecado; e também são por natureza filhos da ira, estando debaixo de uma sentença de condenação (Efésios 2:3; Romanos 5:12, 18) e por isso estão sujeitos, não só à morte corporal (Gênesis 2:7; Romanos 5:12, 14; Hebreus 9:27), e envolvidos em uma morte moral, comumente chamada espiritual (Mateus 8:21; Lucas 15:24, 32; João 5:25; Efésios 3:1), mas também são susceptíveis a uma morte eterna (Romanos 5:18, 6:23; Efésios 2:3) como considerados estando no primeiro Adão, caídos e pecadores; de todas estas coisas não há como se livrar, senão por Cristo, o segundo Adão (Romanos 6:23, 7:24-25, 8:2; 2 Timóteo 1:10; 1 Coríntios 15:45, 47).

 

V. Cremos que o Senhor Jesus Cristo, foi nomeado desde a eternidade (Provérbios 8:22-23; 12:24 Hebreus) como o Mediador do pacto, e que Ele se comprometeu a ser o (Salmos 49:6-8; Hebreus 7:22) Fiador de Seu povo, e se fez em tudo (Hebreus 2:14, 16, 17) de natureza humana, e não menos que isso no todo ou em parte; Sua alma humana sendo uma criatura, não existia desde a eternidade, mas foi criada e formada em Seu corpo por Aquele que forma o espírito do homem dentro dele, quando este foi concebido no ventre da virgem; e assim, pois, Sua natureza humana consiste em um verdadeiro corpo e uma alma racional, tanto que, juntos e ao mesmo tempo o Filho de Deus assumiu a união com Sua pessoa Divina, quando nasceu de uma mulher, e não antes; em cuja natureza Ele realmente sofreu e morreu (Romanos 4:25; 1 Coríntios 15:3; Efésios 5:2; 1 Pedro 3:18) como o substituto de Seu povo, em seu lugar, para seu benefício; pelo que Ele fez completa satisfação (Romanos 8:3-4, 10:4; Isaías 42:21; Romanos 8:1, 33, 34) pelos pecados de Seu povo, segundo a lei e a justiça de Deus exigiam; bem como abriu caminho para todas aquelas bênçãos (1 Coríntios 1:30; Efésios 1:7) que são necessárias para eles, tanto para o tempo como para a eternidade.

 

VI. Cremos, que a redenção eterna que Cristo obteve pelo derramamento do Seu sangue (Mateus 20:28; João 10:11, 15; Apocalipse 5:9; Romanos 8:30) é especial e particular, isto é, que só foi projetada intencionalmente para os eleitos de Deus, e as ovelhas de Cristo, pois somente estes compartilham as bênçãos especiais e peculiares da mesma.

 

VII. Cremos, que a justificação dos eleitos de Deus, se dá somente pela justiça (Romanos 3:28, 4:6, 5:16-19) de Cristo imputada a eles, sem a consideração de quaisquer obras de justiça feitas por eles; e que o perdão total e gratuito de todos os seus pecados e transgressões passadas, presentes e futuras, acontece somente através do sangue de Cristo (Romanos 3:25; Efésios 1:7; Colossenses 2:13; 1 João 1:7, 9), segundo as riquezas da Sua graça.

 

VIII. Cremos, que a obra de regeneração, conversão, santificação e fé, não é um ato do (João 1:13; Romanos 9:16 e 8:7) livre-arbítrio e poder do homem, mas da onipotente, eficaz e irresistível graça (Filipenses 2:13; 2 Timóteo 1:9; Tiago 1:18; 1 Pedro 1:3; Efésios 1:19; Isaías 43:13) de Deus.

 

IX. Cremos que todos aqueles que são escolhidos pelo Pai, redimidos pelo Filho, e santificados pelo Espírito, irão, certa e finalmente, (Mateus 24:24; João 6:39-40, 10:28-29; Mateus 16:18; Salmos 125:1-2; 1 Pedro 1:5; Judas 24; Hebreus 2:13; Romanos 8:30) perseverar; de modo que nenhum deles jamais perecerá, mas terá a vida eterna.

 

X. Cremos, que haverá uma ressurreição dos mortos (Atos 24:15; João 5:28-29; Daniel 12:2), tanto de justos quanto de injustos; e que Cristo virá uma segunda vez para julgar (Hebreus 9:28; Atos 17:31; 2 Timóteo 4:1; 2 Tessalonicenses 1:7-10; 1 Tessalonicenses 4:15-17), ambos vivos e mortos; quando, então, Ele tomará vingança contra os ímpios, e introduzirá o Seu próprio povo, em Seu reino e glória, onde estarão para sempre com Ele.

 

XI. Cremos, que o batismo (Mateus 28:19-20; 1 Coríntios 11:23-26) e a Ceia do Senhor são ordenanças de Cristo, que devem ser continuadas até Sua segunda vinda; e que o primeiro é absolutamente necessário para participar deste último; isto é, alguém só (Atos 2:41 e 9:18, 26) deve ser admitido na comunhão da Igreja, e na participação de todas as ordenanças na mesma, (Marcos 16:16; Atos 8:12, 36, 37, 16:31-34, 8:8) sobre sua profissão de sua fé, tendo sido batizados (Mateus 3:6, 16; João 3:23; Atos 8:38-39; Romanos 6:4; Colossenses 2:12) por imersão, em nome do Pai, (Mateus 28:19), e do Filho, e do Espírito Santo.

 

XII. Cremos também, que o cantar de salmos, hinos e cânticos espirituais vocalmente (Mateus 26:30; Atos 16:25; 1 Coríntios 14:15, 26; Efésios 5:19; Colossenses 3:16) é uma ordenança do Evangelho, a ser realizada pelos crentes; mas que, quanto ao tempo, lugar e maneira, cada um deve ser deixado à (Tiago 5:13) sua liberdade para praticá-la.

 

 

Agora em relação a todas e cada uma dessas doutrinas e preceitos, olhamos para nós mesmos sob a maior obrigação de abraçar, manter e defender; acreditando ser nosso dever (Filipenses 1:27; Judas 3) manter-nos firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé do Evangelho.

 

E quanto ao que estamos muito sensíveis, que a nossa conversa, tanto no mundo e na Igreja, deveria ser como convém ao Evangelho de Cristo (Filipenses 1:27); julgamos ser nosso dever incumbente, (Colossenses 4:5) andar em sabedoria para com os que estão de fora, exercitar uma consciência (Atos 24:16) sem ofensa para com Deus e os homens, ao vivermos (Tito 2:12) sóbria, justa e piedosamente neste mundo.

 

E, em nossa relação de uns para com os outros, na comunhão de nossa igreja; estimamos que nosso dever (Efésios 4:1-3; Romanos 12:9, 10, 16; Filipenses 2:2-3) é andar uns com os outros com toda a humildade e amor fraternal; cuidar (Levítico 19:17; Filipenses 2:4) das conversas de uns para com os outros; incentivar um ao outro ao amor e às boas obras (Hebreus 10:24-25); não deixando de nos congregar, enquanto temos oportunidade, adorar a Deus segundo a Sua vontade revelada; e, quando o caso requerer, advertir (1 Tessalonicenses 5:14; Romanos 15:14; Levítico 19:17; Mateus 18:15-17), repreender e admoestar uns aos outros, de acordo com as regras do Evangelho.

 

Além disso, pensamos nos comprometer (Romanos 12:15; 1 Coríntios 12:26) a nos simpatizarmos uns com os outros, em todas as condições, tanto interiores e exteriores, as quais Deus, em Sua providência, possa nos conduzir; como (Romanos 15:1; Efésios 4:12; Colossenses 3:13) suportar as fraquezas, quedas e debilidades uns dos outros, (Efésios 6:18-19; 2 Tessalonicenses 3:1), e que o Evangelho, e as suas ordenanças, possam ser abençoados para a edificação e o consolo de cada uma das outras almas, e para o ajuntamento de outras pessoas a Cristo, além daqueles que já estão reunidos.

 

Nós desejamos ser encontrados no desempenho de todos estes deveres, por meio da ajuda da graça do Espírito Santo, enquanto nós tanto admiramos quanto adoramos a graça, que nos deu um lugar e um nome na casa de Deus, melhor do que o de filhos e de filhas (Isaías 56:5).
 

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