Descrição
Quando escrevo sobre a justificação perante Deus a partir da terrível maldição da lei, não devo falar de outra coisa senão de graça, Cristo, a promessa e a fé. Mas quando falo da nossa justificação perante os homens, então devo falar sobre as boas obras. Porque a graça, Cristo e a fé são coisas invisíveis e, assim, não podem ser vistos por outras pessoas exceto através de uma vida que se torna como o Evangelho bendito que nos declarou a remissão dos nossos pecados pelo amor de Jesus Cristo. Aquele que deseja ser perdoado de seus pecados e, então, ser liberto da maldição de Deus, deve crer na justiça e no sangue de Cristo; mas aquele que quer mostrar ao seu próximo que recebeu verdadeiramente essa misericórdia de Deus, deve fazê-lo através da prática de boas obras; no mais, tudo não passará de palavras vazias. Assim como, por exemplo, uma árvore é conhecida por seus frutos; assim também uma árvore que não produz frutos serve apenas para nos deixar em dúvida, enquanto ela permanecer assim, sobre que espécie de árvore ela é.
Uma pessoa que professa ser cristã é apenas uma pessoa que professa ser cristã, caso ela não tenha boas obras; contudo, seria algo insensato de nossa parte concluir que, se ela permanecer assim, tal pessoa é verdadeiramente piedosa (Mateus 7:17-18; Tiago 2:18). Não que as obras tornem uma pessoa boa, pois o fruto não faz uma árvore boa, mas é o princípio, a saber, a fé, que torna a pessoa boa e as obras dela deixam manifesto que ela é assim (Mateus 7:16; Lucas 6:44).
E o que isso significa? Ora, significa que todos os crentes professos que não possuem boas obras que fluem da sua fé, não passam de arbustos, que estão “perto da maldição e o fim deles é serem queimados” (Hebreus 6:8). Pois tais pessoas que declaram ser cristãs, pela sua falta de frutos, declaram que não são o trigo plantado por Deus, “mas são o joio e os filhos do maligno” (Mateus 13:37-38).
Não que a fé precise de boas obras como um complemento para justificar você diante de Deus. Pois, no que diz respeito a isso, a fé não tem nada a ver com as boas obras, exceto as obras feitas pela pessoa de Cristo. Com relação a isso, então, o homem bom, “não pratica, mas crê” (Romanos 4:5). A justificação não consiste em oferecer nada a Deus, mas em receber das mãos dele a justiça que vem pela fé e a causa dessa nossa justificação perante Deus é encontrada nas obras de outro homem, a saber, Jesus Cristo.
Entretanto, será que não há qualquer necessidade de boas obras, já que o homem é justificado perante Deus sem elas? Será que uma fé que não frutifica em boas obras pode ser chamada de uma fé que justifica? Verdadeiramente as boas obras são necessárias, embora Deus não precise delas (Jó 22:3; Tiago 2:2, 26) e nem elas sejam necessárias para a fé, no que diz respeito à justificação para com Deus.