Cristo É Desejável Em Suas Relações
Primeiramente, Ele é um desejável Redentor (Isaías 61:1). Ele veio para abrir as portas da prisão daqueles que estão oprimidos. Necessariamente deve ser este um desejável Redentor, se nós considerarmos a profundidade da miséria da qual Ele nos redimiu, até “da ira vindoura” (1 Tessalonicenses 1:10). Considerem o número dos redimidos, e os meios de sua redenção. Apocalipse 5:9: “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação”. Ele não nos redimiu com prata e ouro, mas com o Seu próprio precioso sangue, como forma de pagamento (1 Pedro 1:18-19). Com Seu braço estendido e glorioso, por meio de poder, Colossenses 1:13. Ele nos redimiu livremente (Efésios 1:7), completamente (Romanos 8:1), em tempo oportuno (Gálatas 4:4), e devido amor especial e particular (João 17:9). Em uma palavra, Ele nos redimiu para sempre, para nunca mais entrarmos em escravidão (1 Pedro 1:5; João 10:28). Oh, quão desejável é Jesus na relação de Redentor dos eleitos de Deus!
Em segundo lugar, Ele é um desejável Noivo para todos os quais Ele desposou para Si. Como a igreja glorifica-O, nestas palavras que seguem o meu texto: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém!”. Céus e terra não podem mostrar ninguém como Ele, que não necessita de nenhuma prova mais completa do que estas particulares que seguem:
- Ele desposa para Si mesmo, em misericórdia e em amável bondade, almas tão deformadas, imundas e totalmente sem valor como são as nossas. Não temos nenhuma beleza, nenhuma bondade que nos faça desejáveis aos Seus olhos; todas as origens de Seu amor por nós estão em Seu próprio seio (Deuteronômio 7:7). Ele nos escolheu, não pelo o que nós éramos, mas para que Ele pudesse nos tornar amáveis, Efésios 5:27. Ele veio a nós quando nós estávamos em nosso sangue, e nos disse: “Vive”, e este foi o tempo do amor (Ezequiel 16:5).
- Ele não espera nenhuma retribuição de nós, e ainda assim dá a Si mesmo, e tudo o que Lhe pertence, para nós. Nossa pobreza não pode enriquecê-lO, mas Ele fez a si mesmo pobre para nos enriquecer (2 Coríntios 8:9; 1 Coríntios 3:22).
- Nenhum marido ama a esposa de seu seio, como Cristo amou o Seu povo (Efésios 5:25). Ele amou a igreja e deu a Si mesmo por ela.
- Ninguém suporta a fraqueza e provocações como Cristo; a igreja é chamada de “a esposa do Cordeiro” (Apocalipse 19:9).
- Nenhum marido é assim um marido imortal e eterno como Cristo é; a morte separa todas as demais relações, mas a união da alma com Cristo não é dissolvida na sepultura. Certamente, o dia da morte de um crente é o dia de seu casamento, o dia de seu mais pleno deleite em Cristo. Nenhum marido pode dizer para a sua esposa, o que Cristo diz para o crente: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hebreus 13:5).
- Nenhum noivo enriquece a sua noiva com tais honras pelo casamento, como Cristo faz; Ele os torna aparentados a Deus, como seu Pai, e a partir daquele dia os poderosos e gloriosos anjos pensam não ser uma desonra serem seus servos (Hebreus 1:14). Os anjos admirarão a beleza e glória da esposa de Cristo (Apocalipse 21:9).
- Nenhum casamento jamais foi consumado com tais procedimentos triunfais como será o casamento de Cristo e os crentes no céu, Salmo 45:14-15: “Levá-la-ão ao rei com vestidos bordados; as virgens que a acompanham a trarão a ti. Com alegria e regozijo as trarão; elas entrarão no palácio do rei”. Entre os judeus, a casa de casamento era chamada de casa de louvor; havia alegria sobre todas as mãos, mas nada como o júbilo que haverá no Céu quando os crentes, a esposa de Cristo, for trazida ali. Deus o Pai regozijar-Se-á em contemplar o bendito cumprimento e confirmação daqueles gloriosos planos de Seu amor. Jesus Cristo, o Noivo, Se alegrará em ver o trabalho de Sua alma, o bendito nascimento e resultado de todas as Suas amargas dores e agonias (Isaías 53:11).
O Espírito Santo se alegrará em ver a conclusão e aperfeiçoamento do padrão de santificação o qual estava confiado em Suas mãos, 2 Coríntios 5:5, ver que aquelas almas, as quais Ele uma vez encontrou como duras rochas, agora brilham como as resplandecentes pedras lavradas do templo espiritual. Os anjos se regozijarão: grande foi o júbilo quando o fundamento deste plano foi estabelecido, na encarnação de Cristo, Lucas 2:13. Grande, portanto, deve ser o seu júbilo, quando a pedra de cima estiver assentada com brados, clamando: “Graça, graça”. Os próprios santos se alegrarão inefavelmente, quando eles entrarem no palácio do Rei, e estiverem para sempre com o Senhor, 1 Tessalonicenses 4:17. De fato, haverá júbilo em todas as mãos, exceto entre os demônios e condenados, que rangerão seus dentes com inveja da eterna promoção e glória dos crentes. Assim, Cristo é totalmente desejável, na relação de Noivo.
Em terceiro lugar, Cristo é totalmente desejável, na relação de um Advogado. 1 João 2:1-2: “e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo, E ele é a propiciação”. É Ele quem intercede pela causa dos crentes no Céu. Ele se apresenta por eles na presença de Deus, para evitar qualquer nova alienação, e para preservar o estado de amizade e paz entre Deus e nós. Nesta relação Cristo é totalmente desejável. Pois,
- Ele faz de nossa causa a Sua própria, e age por nós no céu, como se fosse por Ele mesmo, Hebreus 4:15. Ele é compadecido com um mais terno entendimento de nossos problemas e perigos, e não é apenas um por nós em forma de representação, mas também conosco no que diz respeito à simpatia e afeição.
- Cristo nosso Advogado conduz nossa causa e negócios no Céu, como o Seu grande e primário desígnio e negócio. Por esta razão, em Hebreus 7:25, é dito dEle que “vive para sempre para interceder por nós”. É como se nossas inquietações fossem tão assistidas por Ele ali, que toda a glória e honra que é devotada a Ele no Céu não pudesse distraí-lO um momento de nossas causas.
- Ele pleiteia a causa dos crentes por Seu sangue. Diferente de outros advogados, não é o suficiente para Ele mostrar apenas palavras, o que é uma forma menos custosa de súplica; mas Ele intercede por nós pela voz de Seu próprio sangue, como em Hebreus 12:24, onde nos é dito que vem a ser “ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel”. Cada súplica que Ele recebe de nós na terra é uma boca aberta para pleitear com Deus em nosso favor no céu. E, assim é que em Apocalipse 5:6 Ele é representado posicionado diante de Deus, como um cordeiro que havia sido morto; como se fora exibindo e revelando no Céu aquelas feridas mortais recebidas na terra para a justiça de Deus, em nosso lugar. Outros advogados gastam seus fôlegos, Cristo despende o Seu sangue.
- Ele pleiteia a causa dos crentes livremente. Outros advogados pleiteiam por recompensa, e esvaziam os bolsos, enquanto pleiteiam as causas de seus clientes.
- Em uma palavra, Ele obtém para nós todas as misericórdias pelas quais Ele intercede. Nenhuma causa fracassa em Sua mão, a qual Ele se encarrega (Romanos 8:33-34). Oh, que desejável Advogado Cristo é para os crentes!
Em quarto lugar, Cristo é totalmente desejável na relação de Amigo, pois nesta relação Ele é gratificado em conhecer o Seu povo (Lucas 12:4-5). Há certas coisas nas quais um amigo manifesta a sua afeição e amizade ao outro, mas não há ninguém como Cristo. Pois,
- Nenhum amigo é tão sincero ao seu amigo, como Cristo é ao Seu povo: Ele revela cada conselho e segredo de Seu coração a eles. João 15:15: “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”.
- Nenhum amigo no mundo é tão generoso e abundante a seu amigo, como Cristo é aos crentes; Ele compartilha de Seu próprio sangue com eles: “Ninguém tem maior amor (Ele diz) do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (João 15:13). Ele esgotou o precioso tesouro de Seu inestimável sangue para pagar nossas dívidas. Oh, que desejável amigo Jesus Cristo é para os crentes!
- Nenhum amigo simpatiza tão ternamente com o seu amigo na aflição, como Jesus Cristo o faz com Seus amigos: “Em toda a angústia deles ele foi angustiado” (Isaías 63:9). Ele sente todas as nossas aflições, e necessidades como Suas próprias. Esta é a causa de ser dito que os sofrimentos dos crentes são chamados de sofrimentos de Cristo (Colossenses 1:24)
- Nem um amigo no mundo tem tal contentamento em seus amigos, como Jesus o tem em Seus crentes. Cântico dos cânticos 4:9: “Enlevaste-me o coração, (Ele diz à esposa), enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um colar do teu pescoço”. O hebraico, aqui traduzido como “enlevaste”, significa ufanar, ou fazer alguém orgulhoso: como o Senhor Jesus é satisfeito em glorificar o Seu povo! Como Ele é tomado e deleitado com aqueles graciosos ornamentos que Ele mesmo concedeu a eles! Não há nenhum amigo tão desejável como Cristo.
- Nenhum amigo no mundo ama os seus amigos com tão apaixonada e forte afeição como Jesus Cristo ama os crentes. Jacó amou Raquel, e suportou por ela o calor abrasador do verão e o frio do inverno; mas Cristo suportou as tempestades da ira de Deus, o furor de Sua indignação, por nossa causa. Davi manifestou o seu amor por Absalão, em desejar: “Quem me dera que eu morrera por ti”. Cristo manifestou o Seu amor por nós, não em desejos que morresse, mas na própria morte, em nosso lugar, e por nossa causa.
- Nenhum amigo no mundo é tão constante e imutável na amizade como Cristo é. João 13:1: “como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Ele lidou com milhões de provocações e erros, e ainda assim não rompeu a amizade com o Seu povo. Pedro O negou, ainda assim Ele não quis repudiá-lo; mas após a Sua ressurreição, Ele diz: “Mas ide, dizei aos discípulos, e a Pedro”. Não deixem-no pensar que foi perdido, por aquele seu pecado, o seu interesse por Mim. Embora ele tenha Me negado, eu não o repudiarei, Marcos 16:7. Oh, quão desejável é Cristo em relação de um amigo!
Trecho da Obra do Puritano John Flavel, “Cristo Totalmente Desejável“.