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Nossa total depravação e urgente necessidade do Salvador!

Quem de todos os filhos de Adão precisa ser ensinado na arte de coser folhas de figueira, para cobrir sua nudez (Gênesis 3:7)? Quando nós nos arruinamos, e nos tornamos nus para nossa vergonha, nós naturalmente procuramos ajudar a nós mesmos: mui fracos artifícios são empregados, tão tolos e insignificantes quanto as folhas de figueira de Adão. Que dores os homens não experimentaram para cobrir seu pecado de sua própria consciência, e desenhar sobre ela todas as cores justas que podem! E quando uma vez as convicções são estabelecidas sobre eles, para que eles não consigam deixar de ver a sua nudez, é muito natural para eles que tentem encobri-la pelo auto-engano, tão naturalmente quanto os peixes nadam na água ou pássaros voam no ar. Portanto, a primeira questão da pessoa convencida dessa realidade é: “Que faremos?” (Atos 2:37). Como vamos nos qualificar? O que devemos realizar? Não considerando que a nova criatura é a própria obra de Deus (Efésios 2:10). Mais do que Adão, ponderamos e desejamos ser vestidos com peles de sacrifícios (Gênesis 3:21).

Os filhos de Adão não seguem naturalmente os seus passos em esconder-se da presença do Senhor? (Gênesis 3:8). Somos tão cegos nesta matéria quanto ele foi quando pensou em esconder-se da presença de Deus, entre as árvores frondosas do jardim. Estamos muito provavelmente nos prometendo mais segurança em um pecado secreto, do que em um que esteja abertamente exposto. “Assim como o olho do adúltero aguarda o crepúsculo, dizendo: Não me verá olho nenhum” (Jó 24:15). Os homens vão livremente fazer em segredo aquilo que teriam vergonha de fazer na presença de uma criança; como se a escuridão pudesse escondê-los do Deus que tudo vê. Não somos naturalmente descuidados da comunhão com Deus; sim, e até mesmo avessos a ela? Nunca houve qualquer comunhão entre Deus e os filhos de Adão, onde o próprio Senhor não teve a primeira palavra. Se Ele os deixasse estes nunca O buscariam; “escondi-me” (Isaías 57:17). Será que ele buscaria a Deus escondendo-se? Muito longe disso: “seguiu o caminho do seu coração”.

Quão relutantes os homens são para confessar o pecado e para tomar a culpa e a vergonha sobre si mesmos? Não foi assim no caso diante nós? (Gênesis 3:10). Adão confessa a sua nudez, pois não poderia ser negada; mas não diz uma palavra a respeito de seu pecado; a razão disso era que ele de bom grado teria escondido, se pudesse. É tão natural para nós escondermos o pecado quanto o cometermos. Muitos exemplos tristes disto temos neste mundo, mas uma prova muito mais clara disto será no dia do Julgamento, o dia em que “Deus há de julgar os segredos dos homens” (Romanos 2:16). Muitas bocas sujas, serão então vistas, embora agora estes “limpem a sua boca e digam: Não fizemos nada de mal!” (Provérbios 30:20).

Não é natural para nós atenuarmos o nosso pecado e transferirmos a nossa culpa para outros? Quando Deus examinou nossos primeiros pais culpados, Adão não colocou a culpa na mulher? E a mulher não colocou a culpa sobre a serpente? (Gênesis 3:12-13). Agora os filhos de Adão não precisam ser ensinados nesse modo de agir infernal; pois antes que possam falar bem, se eles não podem negar o fato, eles engenhosamente dirão alguma coisa para diminuir a culpa deles, e colocar a culpa sobre outro. Não, tão natural isto é para os homens, que nos maiores pecados, eles colocarão a culpa sobre o próprio Deus; eles blasfemarão de Sua santa providência sob o nome equivocado de infortúnio ou duro golpe, e, assim, colocarão a culpa de seu pecado à porta do céu. E não foi este um dos truques de Adão depois de sua queda? “Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi” (Gênesis 3:12). Observe a ordem do discurso. Ele faz o seu pedido de desculpas, em primeiro lugar, e em seguida, vem a confissão: o seu pedido de desculpas é longo, mas a sua confissão muito curta; tudo é compreendido em uma palavra: “e comi”. Quão enfático e distinto é seu pedido de desculpas, como se ele estivesse temeroso de dizer que ele havia sido enganado! “A mulher”, diz ele, ou “aquela mulher”, como se ele tivesse apontado para o Juiz de suas próprias obras, das quais lemos (Gênesis 2:22). Havia, então, apenas uma mulher no mundo, de modo que se poderia pensar que ele não precisava ter sido tão refinado e exato em apontar para ela; mas “ela” é tão cuidadosamente acentuada em sua defesa, como se houvesse dez mil: “A mulher que me deste”. Aqui ele fala, como se ele tivesse sido arruinado pelo dom de Deus. E, para fazer o dom mais sombrio, ele é adicionou: “me deste por companheira”, como minha companheira constante, para ficar ao meu lado como uma auxiliadora. Isso parece como se Adão tivesse insinuado um mau desígnio sobre Senhor, dando-lhe esta dádiva. E, afinal, há uma nova demonstração aqui, antes que a sentença seja completada; ele não diz: “A mulher me deu”, mas “a mulher, ela me deu”, enfaticamente; como se ele se referisse diretamente a ela, ela mesma, me deu da árvore. Isto é muito para seu pedido de desculpas. Mas sua confissão é rapidamente feita em uma palavra, quando ele falou isso: “e comi”. Não há nada aqui a apontar para si mesmo e tão pouco para mostrar que ele tinha comido. Quão natural é esta arte sombria para a posteridade de Adão! Aquele que corre pode lê-lo.

Então, universalmente a observação de Salomão se mantém verdadeiras: “A estultícia do homem perverterá o seu caminho, e o seu coração se irará contra o Senhor” (Provérbios 19:3). Vamos, então, chamar o caído Adão de nosso pai; não neguemos a nossa relação, posto que trazemos conosco a sua imagem.

Para encerrar esse ponto, suficientemente confirmado por concordância da evidência da Palavra do Senhor, e da nossa própria experiência e observação; sejamos convencidos a acreditar na doutrina da corrupção de nossa natureza; e olhemos para o segundo Adão, o bendito Jesus, para a aplicação de Seu precioso sangue, para remover a culpa do nosso pecado; e para a eficácia do Seu Espírito Santo, para nos fazer novas criaturas; sabendo que “aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” [João 3:3].

Trecho da obra “A Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural“, por Thomas Boston.