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O Direito à Árvore da Vida, por R. M. M’Cheyne

[Extraído de Auxílios à Devoção]

“Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar pelas portas na cidade.” (Apocalipse 22:14)

 

1. Vamos meditar sobre o caráter do salvo. “Os que guardam os seus mandamentos”. Todos os que estão no caminho para o céu, não são apenas as pessoas justificadas, mas pessoas santificadas. Este foi o propósito de Deus em nos escolher. “Os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” [Romanos 8:29]. Se alguém é escolhido para a salvação, é através da santificação do Espírito. Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos. Isso foi a grandiosa finalidade de Cristo ao morrer por nós, para que Ele pudesse nos tornar um povo santo. “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água pela Palavra” [Efésios 5:25-26]. Ele estabeleceu o preço indizível para que isto acontecesse. Ele tornou-se um homem, Ele tornou-se uma maldição por isto. Ele gemeu, suou sangue, foi moído e inclinando a cabeça, entregou o espírito para isto, para que Ele pudesse obter liberdade de fazer-nos livres, humildes, abnegados, amorosos, puros como Ele é puro.

 

Este é o objetivo do Espírito Santo ao lidar conosco. Não seria justo para Ele habitar em uma alma não-justificada, pois esta não é descanso para a pomba do céu. Ele, portanto, desperta a alma, revela ao homem a sua culpa, depravação e repugnância. Ele glorifica a Cristo na alma do homem, destrói o véu que está sobre o coração carnal. Ele amolece o coração de pedra, inclina e dispõe a vontade para abrir caminho para o Senhor Jesus Cristo somente, para a justiça.

 

Então, o Espírito não vê maldade neste homem. Ele diz de tal alma: Esta é o meu repouso; aqui habitarei, pois a tenho desejado. Ele escreve toda a Lei neste coração (Jeremias 31:33). Ele não omite nenhum dos mandamentos. O homem clama: “tenho prazer na lei de Deus segundo o homem interior” (Romanos 7:22). E O espírito Santo não somente lhe dá a vontade, mas também a capacidade para servir a Deus: “É Deus que opera em vós tanto o querer como o realizar a sua boa vontade” (Filipenses 2:13).

Oh! minha alma, tu és uma das que guardam os Seus mandamentos? Eu entrei nos vínculos da Nova Aliança, e tenho a Lei guardada em meu interior, e escrita em meu coração? Será que Cristo estendeu a mão para mim, dizendo: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois aquele que fizer a vontade de meu Pai, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12:50)? Disto depende minha eternidade. Se eu receber um evangelho profano eu perecerei. Eles são homens ímpios, que “convertem em dissolução a graça de Deus” [Judas 4]. Ele corta os ramos que não dão fruto. Os salvos são aqueles que guardam os Seus mandamentos.

 

2. Vamos meditar sobre a bem-aventurança dos salvos. “Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas”. A santidade é a sua própria recompensa. Ser santo é ser feliz. Deus é feliz porque Ele é infinitamente Santo. O Diabo nunca pode ser feliz, porque ele perdeu toda centelha de santidade. O primeiro descanso da alma crente aconteceu quando ele veio a Cristo e encontrou perdão. Mas há um outro e mais doce descanso quando ele aprende de Cristo, que é manso e humilde de coração (Mateus 11:28-29). A santidade é o rio do deleite de Deus e, portanto, enche a alma que dela bebe com alegria Divina. Mas há uma outra recompensa.

 

(i) Eles têm direito à árvore da vida. Adão [e nós juntamente com ele] perdeu esse direito quando ele caiu. “Deus expulsou o homem, e o pôs ao oriente do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida”. Em vão Adão se esforçou para encontrar uma entrada secreta. Talvez ele tentou rastejar através das moitas encurvadas ou através de alguma passagem arborizada. Talvez ele tentou entrar sob a nuvem da meia-noite, ou pelo alvorecer da manhã, antes que os pássaros começassem seu louvor matinal. Mas tudo em vão, pois a espada flamejante “se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida”. Os filhos de Adão, até o dia de hoje, têm gastado sua força e engenho na mesma tentativa, contudo, em vão. Eles têm procurado estabelecer a sua própria justiça. Mas todos têm encontrado — alguns poucos deste lado da eternidade, e alguns, pela terrível experiência, do outro lado — que a espada flamejante da justiça Divina ainda gira ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida. Não, nem todo caminho. Há “um caminho novo e vivo, que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne”. Um segundo Adão veio, o Senhor do céu. Ele deu a Si mesmo para a espada flamejante da justiça. Uma voz se ouviu: “Desperta, ó espada, contra o meu pastor, e contra o varão que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos” [Zacarias 13:7].

 

E agora o Cordeiro de Deus, que foi morto, diz: “Eu sou o caminho, ninguém vem ao Pai senão por mim”. O mais culpado pode entrar por Jesus. E ouvir quão docemente Ele diz: “Ao que vencer darei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus” (Apocalipse 2:7). Oh minha alma, como Éfeso tu deixaste o teu primeiro amor, mas esta promessa é para ti. Em Jesus tens direito à árvore da vida. “Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça” [1 João 1:9]. Eu que em mim mesmo tenho direito a um lugar no inferno, em Cristo, tenho direito a um lugar sob a sombra da árvore da vida no meio do paraíso de Deus.

 

(ii) Eles podem entrar na cidade pelas portas. Aqui estamos em nosso caminho para a cidade celestial. Nós estamos vindo do deserto. Às vezes, temos nuvens entre nós e Cristo, dúvidas quanto à nossa conversão, quanto à nossa união com Cristo e quanto à nossa nova natureza. Lá todas as nuvens e dúvidas de desfarão. Aqui temos diversas tentações do pecado que habita em nós, do mundo e do nosso adversário, o Diabo; lá, tentações não podem entrar. Aqui nós não temos nenhuma cidade onde a maioria dos habitantes são justos. Dificilmente podemos falar o nome de Jesus nas ruas, antes nós fazemos refeições ao som do beberrão. Lá, os habitantes são todos justos: “Não entrará nela coisa alguma que contamine” [Apocalipse 21:27]. Ninguém senão os santos anjos, e os irmãos e irmãs de Cristo entrarão ali. A canção da eternidade será: “Digno é o Cordeiro”.

 

Aqui nós amamos Cristo, mas não podemos vê-lO. Muitas vezes Ele se retira e se vai. Nós O buscamos e não O encontramos. Lá estaremos para sempre com o Senhor. O veremos como Ele é. Estaremos com Ele, e eis que veremos a Sua glória, que Seu Pai Lhe deu. Diremos, sem outra dúvida por toda a eternidade: “Eu sou do meu amado, e Ele me tem afeição”. Esta é a recompensa do santificado.

 

Oh minha alma, esta é a sua recompensai? Bem-vindas aflições leves, que são apenas por um momento. Bem-vinda doce cruz, que eu devo carregar por Jesus. Passem, anos velozes, apressem o dia do Seu casamento, o dia do júbilo do Seu coração e do meu, para que eu possa entrar com todos os Seus redimidos pelos portões que são todos louvores.