— The Founders Journal • Outono de 2014 | Nº 98 —
O Espírito Santo na Vida e no Ministério de Cristo
“O Senhor Jesus em Sua natureza humana assim unida à Divina na Pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira; tendo em Si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, em Quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse…” (CFB1689 8:3, grifo nosso).[1]
INTRODUÇÃO:
No Evangelho de João 3:22-36, são reveladas várias características sobre Cristo a que devemos prestar mais atenção para a edificação do corpo de Cristo:
1. Cristo é quem proporciona a iluminação salvífica (vv. 27-29)
2. Cristo é o Preeminente — Ele deve crescer constantemente e Seus ministros devem diminuir constantemente (v. 30)
3. Cristo é acima de tudo (vv. 31-32)
4. Cristo fala a Palavra de Deus como Profeta designado por Deus (v. 34a)
5. Cristo possui o Espírito sem medida (v. 34b)
6. Cristo é o principal deleite do Pai (v. 35a)
7. Cristo tem todas as coisas colocadas em Sua mão (singular) (v. 35b)
8. Cristo é o centro de toda crença salvífica (v. 36a)
9. Cristo é o teste decisivo da vida e da morte (v. 36b)
De particular interesse é o versículo 34b (“…pois não lhe dá Deus o Espírito por medida”), o que leva à declaração da Confissão acima. Todos os crentes têm o Espírito Santo em um grau que pode ser medido; ninguém possui todas as graças e dons do Espírito. Cristo, no entanto, possuía o Espírito Santo plenamente, sem medida.
A relação entre Cristo e o Espírito Santo é necessariamente definida pela união hipostática das duas naturezas de Cristo. Leão I (c. 449) de Roma escreveu um magnífico tratado, equilibrando as verdades exegéticas dos Concílios de Niceia, Constantinopla e Éfeso. É conhecido historicamente como Tomo de Leão e tornou-se o ensino bíblico e fundacional sobre a pessoa de Cristo no Concílio de Calcedônia (451) e nas igrejas Católicas e Protestantes ocidentais de hoje. Notável é sua precisão incomum no belo equilíbrio da verdade:
Aquele que se fez homem na forma de servo é Aquele que na forma de Deus criou o homem… Assim, na natureza completa e perfeita da verdadeira humanidade, nasceu o verdadeiro Deus — completo nas suas propriedades e completo nas nossas propriedades… um e o mesmo mediador entre Deus e o homem, o homem Jesus Cristo, deve ser capaz tanto de morrer em relação a um quanto de não morrer em relação ao outro… Cada forma realiza em conjunto com o outro o que é apropriado para isso, a Palavra realizando o que pertence à Palavra, e a carne realizando o que pertence à carne. O um resplandece com milagre, o outro sucumbe aos ferimentos… por causa desta unidade de pessoa para ser compreendida em ambas as naturezas, diz-se que o Filho do Homem desceu do céu quando o Filho de Deus se tornou carne da Virgem de quem nasceu; e novamente o Filho de Deus é dito ter sido crucificado e sepultado, embora Ele sofreu aquelas coisas não na própria Divindade, em que o Unigênito é coeterno e consubstancial ao Pai, mas na fraqueza da natureza humana.
A definição de Calcedônia (d.C. 451) contém a conclusão de credal:
Nós, então, seguindo os santos Pais, e todos com o mesmo espírito, ensinamos os homens a confessarem um único e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em Divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de uma alma racional e corpo; consubstancial com o Pai segundo a Divindade, e consubstancial conosco segundo a Humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, sem pecado; gerado antes de todas as eras pelo Pai segundo a Divindade, e nestes últimos dias, por nós e para nossa salvação, nasceu da Virgem Maria, a mãe de Deus, de acordo com a Humanidade; um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, a ser reconhecido em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção das naturezas sendo de modo algum anulada pela união, mas antes, a propriedade de cada natureza sendo preservada, e concordante em uma Pessoa e uma Subsistência, não separada ou dividida em duas pessoas, mas um e mesmo Filho, e unigênito, a Palavra de Deus, o Senhor Jesus Cristo; como os profetas, desde o início declararam sobre Ele, e o Senhor Jesus Cristo nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos anunciou.
NOTA: O Concílio de Calcedônia procurou delinear biblicamente a relação entre a humanidade de Cristo e a Sua divindade. Deve-se notar cuidadosamente que a conexão do Espírito Santo sendo dado a Cristo “sem medida” pertence a Sua plena humanidade!
A ideia fundamental relacionada com o Messias, era que Ele DEVERIA SER UNGIDO COM O ESPÍRITO… O título CRISTO ou MESSIAS foi dado ao Redentor a partir da unção peculiar do Espírito conferida a Ele, que era única em natureza e em grau. Os diferentes servos de Deus, que estavam cheios do Espírito, mas de outra maneira, ilustram esta observação em contraste… Mas com Cristo era completamente diferente. A plenitude infinita do Espírito que Lhe foi dada foi constante e ininterrupta, e o resultado da união hipostática — ou seja, foi o efeito da humanidade assumida em união pessoal pelo Filho unigênito. (George Smeaton, The Doctrine of the Holy Spirit [A Doutrina do Espírito Santo], p. 45)
I. O que é a Conexão Trinitária Entre Cristo e o Espírito Santo?
NOTA: Há dez eventos em que o Espírito Santo está conectado com a Pessoa e a Obra de Cristo:
A. Seu nascimento (Mateus 1:18-20)
“A encarnação é o mais profundo de todos os mistérios e o milagre no que todos os outros milagres estão ocultos…” (J. Stuart Holden, The Price of Power [O Preço do Poder], p. 49)
1. Foi pela concepção do Espírito Santo que o eterno Filho de Deus se tornou o Filho do Homem; e
2. é claro que o nascimento virginal possibilitado pelo Espírito Santo era necessário para preservar o Messias de toda impureza do pecado;
3. O nascimento virginal não criou uma pessoa, mas um corpo e uma natureza humana;
4. esta natureza humana era da substância de Maria, única e sobrenatural, constituída por todos os elementos de nossa própria natureza humana;
5. A natureza humana de Cristo sofreu o processo de desenvolvimento exato de crescimento físico, crescimento racional e crescimento moral como qualquer outro ser humano;
6. Deus encarnado foi formado pelo Espírito Santo.
B. Seu Batismo (Mateus 3:13-17)
1. O batismo de Cristo foi um evento único na história da redenção;
2. nele Cristo estava se identificando com o ministério de João;
3. Ele estava se identificando com Israel e com a necessidade da nação de se arrepender;
4. Ele estava se identificando conosco, à medida que precisávamos nos arrepender;
5. Além disso, no Antigo Testamento, os profetas, sacerdotes e reis foram ungidos;
6. Com a descida do Espírito Santo sobre Cristo (sob a forma de uma pomba), é significada a unção para o Seu tríplice ofício de Profeta, Sacerdote e Rei;
7. Esta unção também foi Sua ordenação em Sua tríplice obra de Profeta, Sacerdote e Rei.
C. Sua tentação (Mateus 4:1: “conduziu”, Marcos 1:12: “impeliu”, Lucas 4:1: “encheu e levou”)
1. Imediatamente após Seu Batismo, Jesus é levado e conduzido ao deserto para ser tentado por Satanás por quarenta dias;
2. Ele entrou na tentação como o segundo Adão;
3. o primeiro Adão tinha um cenário ideal: um jardim; e o segundo Adão tinha um cenário hostil: um deserto;
4. de todas as maneiras o primeiro Adão falhou, o segundo Adão triunfou;
5. Sua vitória sobre a tentação, que foi real e intensa, não estava no poder de Sua divindade essencial, mas na unção e no poder do Espírito Santo sobre Sua humanidade.
D. Seu início do ministério evangélico (Lucas 4:14-21, “Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia…”)
1. Após os quarenta dias de tentação no deserto, Lucas nos informa de forma pungente que Jesus voltou, não pela Sua própria, mas “pela virtude do Espírito”;
2. Jesus então vai adorar na sinagoga de Sua cidade natal em Nazaré;
3. Quando Ele se levanta para ler as Escrituras Sagradas (sendo Ele um rabino), Jesus interrompe o calendário normal de leitura do dia de Sabbath voltando-se deliberadamente para Isaías 61:1-3, a passagem profética que informa que o Messias seria ungido com o Espírito de Deus.
4. Ao concluir a leitura, Jesus entrega o pergaminho de volta ao atendente e anuncia: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.
5. O Messias começa Seu ministério sob a unção do Espírito Santo, o que é confirmado por Lucas em Atos 10:38: “…Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele”.
E. Sua expulsão de demônios (Mateus 12:22-28)
1. Uma marca do Messias era que Ele iria libertar os cativos e os escravos;
2. Quando expulsou demônios, os fariseus cegos, ignorantes de suas próprias Escrituras, acusaram Jesus de expulsar demônios pelo príncipe dos demônios;
3. Cristo raciocinou com os líderes religiosos sobre sua irracionalidade;
4. Ele então declarou que Ele expulsou demônios “pelo Espírito de Deus”;
5. Ele poderia, na essência de Sua divindade, não expulsar demônios com Seu próprio poder divino? Sim, sem dúvida.
6. Por que então Ele não utilizou Sua divindade nativa e essencial em vez do Espírito de Deus?
7. A resposta curta é que Jesus queria afirmar que o reino de Deus havia começado e estava entre eles.
F. Sua alegria (Lucas 10:21: “Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo…”)
1. Muitas vezes pensamos em Jesus como “o homem das dores”, o qual Ele era com toda a certeza;
2. No entanto, há outra face de Jesus que é vital para Sua obediência messiânica. Ele era um homem alegre.
3. Quando os setenta retornaram de sua missão bem-sucedida, Jesus declarou que viu Satanás cair como um relâmpago;
4. É então que Lucas (somente) registra que Jesus “se alegrou no Espírito”;
5. também, à medida que Jesus se prepara para o Seu “êxodo”, com os Seus apóstolos no cenáculo, Ele fala do “[Meu] gozo que permanece neles” (João 15:11);
6. Além disso, o escritor de Hebreus nos lembra que o Filho foi “ungido com óleo de alegria” (1:9), e havia uma “alegria posta diante dele” (12:2) enquanto Ele trilhava Seu caminho até a cruz;
7. Assim, o “homem de dores” era também um homem de alegria e Ele era tal no Espírito Santo!
G. Sua expiação (Hebreus 9:13-14: “que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”)
1. A expiação só pode ser compreendida por três palavras do NT: redenção, reconciliação, propiciação;
2. É na terceira (propiciação) que o impacto total do pecado se realiza quando a ira de Deus é derramada;
3. Como poderia o corpo de Jesus Cristo suportar a fúria e o thermos sem medida do cálice da ira do Deus Todo-Poderoso?
4. Seu corpo, que foi preparado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, era um corpo real como o nosso:
5. Ele foi auxiliado em Sua agonia e sustentado em Seu corpo pelo Espírito Santo para não ser consumido pela ira de Deus;
6. Assim, foi através da habilitação divina do Espírito que Jesus Se ofereceu imaculado a Deus.
Ora, todas essas coisas sendo operadas na natureza humana de Cristo pelo Espírito Santo, Ele é dito oferecer-Se a Deus através do Espírito eterno (John Owen, Obras, Vol. 4, pp. 391ff).
H. Sua ressurreição (Romanos 8:11: “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós…”)
1. Quem ressuscitou Jesus dentre os mortos?
2. Deus o Pai é dito ter ressuscitado Jesus (Atos 17:30-31);
3. Jesus afirmou que Ele ressuscitaria dos mortos pela autoridade dada pelo Pai (João 10:17-18);
4. E aqui somos ensinados que o Espírito Santo ressuscitou Jesus dentre os mortos;
5. há um envolvimento trinitário;
6. De particular importância é que Paulo enfaticamente afirma que foi o Espírito de Deus, que supervisionou o sepultamento de Cristo e o tirou da sepultura.
I. Suas ordens finais e comissão aos Apóstolos (Atos 1:1-2: “…depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera…”)
1. Reunidos com Seus apóstolos em Betânia, o Cristo ressuscitado deu Suas ordens finais para serem realizadas em Sua ausência (Lucas 24:50);
2. Na Grande Comissão, Jesus os ordena a ir a todas as nações, a Jerusalém, a Judeia, a Samaria e aos confins da terra (Mateus 24:18-20; Lucas 24:46-49; Atos 1:8);
3. A grande promessa de Jesus precedendo a comissão é que lhe é dado “todo o poder no céu e na terra” e essa é a autoridade pela qual eles deveriam completar sua tarefa;
4. o que Lucas salienta é que Cristo deu essa comissão final não apenas através de Sua divindade nativa e essencial, mas através da autoridade e do poder do Espírito Santo.
J. Sua doação/envio do Espírito Santo (Atos 1:4-5)
1. O primeiro ato oficial de Cristo Jesus, ao ser entronizado, foi enviar a “Promessa do Pai”, o Espírito Santo (em toda a Sua plenitude) no Dia de Pentecostes;
2. parte dessa atividade foi a distribuição soberana de dons espirituais entre os homens (para a igreja de Cristo) pelo Espírito Santo;
3. Assim, através da doação do dom desde o trono do Céu à Sua igreja, Cristo batizará uma pessoa com o Espírito Santo (ou seja, a regenerará) ou com fogo (ou seja, a destruirá eternamente no Lago de Fogo);
4. Jesus subiu ao Céu e, juntamente com o Pai, enviou o Espírito Santo de volta à Terra para aplicar eficazmente Sua obra consumada como Mediador (veja CFB1689 10:1-2). 5). A conexão entre Cristo e o Espírito Santo, desde o nascimento até a ascensão, está agora completa.
O Messias, de acordo com o Batista, devia batizar com o Espírito e com o fogo (Mateus 3:11), o que O coloca em uma categoria diferente dos juízes e dos profetas do Antigo Testamento. A autoridade para dar o Espírito foi o ponto culminante da exaltação de Cristo… que Ele deveria derramar o Espírito de graça e de súplica (Zacarias 12:10) (Smeaton, p. 46).
II. Por que o Espírito Santo era Necessário na Pessoa e na Obra de Cristo?
PERGUNTA: Posto que Jesus era Deus encarnado, Deus manifestado em carne, por que era necessário que Ele fosse “santificado e ungido”, cheio e revestido do Espírito Santo e do Seu poder?
A. Para ensinar a conexão interna e a igualdade essencial da Trindade ontológica.
B. Para mostrar a obra trinitária do Pacto da Redenção.
NOTA: O Pai foi o Planejador, o Filho foi o Consumador, mas o Espírito Santo foi o Administrador divino do Pacto da Redenção através do Pacto da Graça!
C. Para demonstrar que Ele era um dos e alguém que sucedia os profetas do AT.
D. Para cumprir as Escrituras (Isaías 61:1ss.; Lucas 4:14-21).
E. Para mostrar os sinais necessários e requisitados que acompanhariam o Messias (Mateus 11:2-6).
F. Para mostrar que Cristo (o ungido) foi um de nós, um entre nós, e mais importante, um por nós.
G. Para permitir a Cristo, em Sua humanidade, “pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um Mediador e Fiador” (CFB1689 8:3).
Nosso Senhor precisava do Espírito como um verdadeiro equipamento de Sua natureza humana para a execução de Sua tarefa messiânica (Geerhardus Vos, Biblical Theology [Teologia Bíblica], p. 321).
H. Para nos manter dependentes deste soberano Espírito Santo em nossas vidas e labores.
Esta foi a unção para Sua obra futura: a unção do Profeta, do Sacerdote e do Rei, da qual toda a unção cerimonial da ordenança levítica era apenas um tipo. Assim, Ele entrou em Seu tríplice ministério, e se isso foi necessário para Ele estar revestido antes de começar a obra que Lhe foi confiada, quanto mais isso é necessário para Seus discípulos? (Holden, p. 51).
CONCLUSÃO
Nossos antepassados batistas, seguindo os ensinamentos das Sagradas Escrituras, legaram um compêndio de teologia aos seus filhos. No capítulo 8: “Sobre Cristo, o Mediador”, eles modelam um cristocentrismo que é desesperadamente necessário nos dias de hoje. E este é um ponto muito negligenciado: se Deus encarnado, em Sua humanidade, precisava do Espírito Santo em Sua vida e em Seu ministério, quanto mais precisamos nós?
***
A Confissão de Fé Batista de 1689, Capítulo VIII: Sobre Cristo, o Mediador
1. Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito, e de acordo com o Pacto estabelecido entre ambos, escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho unigênito, para ser o Mediador entre Deus e os homens,1 o Profeta,2 Sacerdote3 e Rei;4 a Cabeça e Salvador da Igreja,5 o herdeiro de todas as coisas,6 e Juiz do mundo;7 a quem, desde toda a eternidade, deu um povo para ser Sua posteridade e para ser por Ele, no tempo, remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.8
1 Isaías 42:1; 1Pedro 1:19-20
2 Atos 3:22
3 Hebreus 5:5-6
4 Salmos 2:6; Lucas 1:33
5 Efésios 1:22-23
6 Hebreus 1:2
7 Atos 17:31
8 Isaías 53:10; João 17:6; Romanos 8:30
2. O Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, o resplendor da glória do Pai, da mesma substância e igual a Ele; Quem criou o mundo, Quem sustenta e governa todas as coisas que Ele fez, quando chegou a plenitude dos tempos, tomou sobre Si a natureza humana, com todas as propriedades essenciais e fraquezas comuns,9 embora sem pecado;10 foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu; e assim foi feito de uma mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e Davi, segundo as Escrituras;11 para que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, fossem inseparavelmente unidas em uma só Pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Esta Pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.12
9 João 1:14; Gálatas 4:4
10 Romanos 8:3; Hebreus 2:14,16,17, 4:15
11 Mateus 1:22-23
12 Lucas 1:27,31,35; Romanos 9:5; 1Timóteo 2:5
3. O Senhor Jesus em Sua natureza humana assim unida à Divina na Pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira;13 tendo em Si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento,14 em Quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse,15 a fim de que sendo santo, inocente, imaculado,16 e cheio de graça e de verdade,17 Ele pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um Mediador e Fiador.18 Este ofício Ele não tomou para Si por conta própria, mas para este foi nomeado por Seu Pai;19 que colocou todo o poder e juízo em Sua mão, e Lhe ordenou que os exercesse.20
13 Salmos 45:7; Atos 10:38; João 3:34
14 Colossenses 2:3
15 Colossenses 1:19
16 Hebreus 7:26
17 João 1:14
18 Hebreus 7:22
19 Hebreus 5:5
20 João 5:22,27; Mateus 28:18; Atos 2:36
4. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente,21 para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à Lei,22 que Ele cumpriu perfeitamente e suportou o castigo que nos era devido, que nós deveríamos ter recebido e sofrido.23 E foi feito pecado e maldição por nossa causa,24 suportando as mais cruéis aflições em Sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em Seu corpo;25 foi crucificado e morreu; e ficou em estado de morte, mas não viu a corrupção.26 No terceiro dia Ele ressuscitou dentre os mortos,27 com o mesmo corpo no qual Ele sofreu;28 com o qual também Ele subiu ao Céu,29 e lá está assentado à destra do Pai, fazendo intercessão;30 e voltará para julgar homens e anjos, no fim do mundo.31
21 Salmos 40:7-8; Hebreus 10:5-10; João 10:18
22 Gálatas 4:4; Mateus 3:15
23 Gálatas 3:13; Isaías 53:6; 1Pedro 3:18
24 2Coríntios 5:21
25 Mateus 26:37-38; Lucas 22:44; Mateus 27:46
26 Atos 13:37
27 1Coríntios 15:3-4
28 João 20:25,27
29 Marcos 16:19; Atos 1:9-11
30 Romanos 8:34; Hebreus 9:24
31 Atos 10:42; Romanos 14:9-10; Atos 1:11; 2Pedro 2:4
5. O Senhor Jesus, pela Sua perfeita obediência e sacrifício de Si mesmo, que Ele, pelo Espírito eterno, uma vez ofereceu a Deus, satisfez plenamente a justiça de Deus;32 obteve a reconciliação e adquiriu uma herança eterna no reino dos Céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai.33
32 Hebreus 9:14, 10:14; Romanos 3:25-26
33 João 7:2; Hebreus 9:15
6. Embora o preço da redenção não tenha sido realmente pago por Cristo senão depois da Sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas sucessivamente desde o princípio do mundo, nas, e através das, promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi revelado, e que O apontavam como a semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente,34 e como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo,35 sendo o mesmo ontem, hoje e para sempre.36
34 1Coríntios 4:10; Hebreus 4:2; 1Pedro 1:10-11
35 Apocalipse 13:8
36 Hebreus 13:8
7. Cristo, na obra da mediação, age de acordo com ambas as naturezas; cada uma delas atuando como lhe é próprio. Mesmo assim, em razão da unidade da Pessoa, aquilo que é próprio de uma natureza, às vezes, na Escritura, é atribuído à Pessoa de Cristo denominada pela outra natureza.37
37 João 3:13; Atos 20:28
8. Cristo certamente aplica e comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos Ele a obteve, fazendo intercessão por eles;38 unindo-os a Si mesmo por Seu Espírito; revelando-lhes, na e pela Sua Palavra, o mistério da salvação, persuadindo-os a crer e a obedecer,39 governando seus corações pelo Seu Espírito40 e por Sua Palavra, e vencendo todos os inimigos deles, por Sua onipotência e sabedoria,41 da maneira e pelos meios mais conformes com a Sua admirável e inescrutável dispensação; e tudo isso por livre e absoluta graça, sem qualquer precondição de neles ter sido vista de antemão uma busca pela redenção.42
38 João 6:37, 10:15-16, 17:9; Romanos 5:10
39 João 17:6; Efésios 1:9; 1João 5:20
40 Romanos 8:9, 14
41 Salmos 110:1; 1Coríntios 15:25-26
42 João 3:8; Efésios 1:8
9. Este ofício de Mediador entre Deus e os homens cabe exclusivamente a Cristo, que é o Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus; e isto não pode ser no todo, ou em qualquer parte, transferido de Cristo para qualquer outro.43
43 1Timóteo 2:5
10. Este número e ordem de ofícios são necessários. Precisamos de Seu ofício profético,44 por causa de nossa ignorância. Por causa de nossa alienação de Deus, e da imperfeição de nossos melhores serviços, nós necessitamos de Seu ofício sacerdotal para nos reconciliar e apresentar aceitáveis a Deus.45 E no que diz respeito à nossa aversão e incapacidade absoluta de converter-nos a Deus, e para o nosso resgate e segurança contra nossos adversários espirituais, precisamos de Seu ofício real para nos convencer, subjugar, atrair, sustentar, libertar e preservar para o Seu reino celestial.46
44 João 1:18
45 Colossenses 1:21; Gálatas 5:17
46 João 16:8; Salmos 110:3; Lucas 1:74-75
[1] Para fins de pregação, simplesmente encaminho o ouvinte ao excelente trabalho de Samuel E. Waldron, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith [Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689] (Evangelical Press: Darlington, Inglaterra, 2005). Junto com a exposição, Waldron dá um esboço conciso e sumário do capítulo 8: “Sobre Cristo, o Mediador” (pp. 123-137).
Sobre o autor
Earl Balckburn
Após a conclusão de sua educação teológica, ele foi enviado para Utah, onde trabalhou como missionário de plantação de igrejas por sete anos, levando o Evangelho aos mórmons. Ele foi então chamado para a Trinity Reformed Baptist Church in La Mirada, CA, igreja que pastoreou por vinte e dois anos. Também serviu como Presidente do Conselho Administrativo da Associação de Igrejas Batistas Reformadas da América (ARBCA) por oito anos. Viajou extensivamente pregando em Conferências de Pastores nos Estados Unidos, Europa, África e Ásia.
Earl é autor das obras Covenant Theology: A Baptist Distinctive (SGCB – 2012), Jesus Loves the Church and So Should You (SGCB – 2010) e John Chrysostom (Evangelical Press – 2012), contributed to the book Denominations or Associations (Calvary Press – 2001), e numerosos periódicos incluindo o Founder’s Journal, Reformation Today e Banner of Truth, e é autor de vários livretos publicados pela Reformed Baptist Publications incluindo Covenant Theology: A Reformed Baptist Overview, Unconditional Election, Why You Should Join A Church e Which Church Should You Join. Ele é pastor da Heritage Baptist Church (SBC e ARBCA) em Shreveport, LA, desde 2006.