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O Explendor do Reino de Cristo Não É Exterior, por Abraham Booth

 [Excerto de Um Ensaio sobre o Reino de Cristo, por Abraham Booth]

 

A grandiosidade de um reino temporal consiste principalmente do número e da afluência de sua nobreza, os títulos e aparência pomposa de seus vários magistrados, o estado florescente de seus negócios e comércio, a riqueza de seus proprietários de terras, e a elegância de seus edifícios públicos. Magníficos palácios e vestes reais são bastante compatíveis para príncipes seculares. Insígnias de honra, aparatos esplêndidos e mansões imponentes são adequados aos nobres; enquanto um tipo mais solene de pompa exterior é muito próprio aos ministros da justiça pública. Estas, e semelhantes coisas, dão um ar de dignidade e de importância às soberanias políticas, mas elas são todas estranhas ao reino de Cristo, a glória deste é inteiramente espiritual.

A Igreja Cristã é digna e adornada, por ser o depositário da verdade Divina em sua forma não adulterada, e por executar os apontamentos Divinos em sua pureza primitiva; por possuir as belezas da santidade, e por desfrutar da presença de Deus. Essa é a verdadeira glória do reino de nosso Senhor, o que a torna incomparavelmente superior a qualquer monarquia temporal.

Deve, portanto, ser um grande absurdo pensar em prestar honra ao Cristianismo, erigindo lugares pomposos de culto, por consagrar esses lugares e decorá-los com ornamentos vistosos, no exercício de culto público. Deixe os palácios de príncipes, e as mansões dos poderosos, serem magnífica e ricamente ornamentados; deixe que os nobres e juízes da terra, quando agindo agradavelmente com seus diferentes papéis, apareçam nas vestes apropriados aos oficiais do Estado e em vestes de magistratura, já que essas coisas pertencem aos reinos deste mundo, nem pretendem qualquer coisa mais, não há nada de errado, nenhuma coisa inconsistente com sua posição ou profissão. Mas limite-os ali, e de maneira nenhuma pensem em decorar o reino, ou em promover a causa de Cristo, por qualquer coisa similar. Se algum homem envernizasse o ouro, e pintasse o diamante, para aumentar seu brilho, ele certamente seria considerado como louco. No entanto, o comportamento das pessoas que pedem emprestada a pompa de reinos seculares para enfeitarem o reino espiritual de Jesus Cristo, é ainda mais absurdo.

Quanto aos locais de culto, conveniência é tudo o que se quer, e tudo o que for adequado à simplicidade do Cristianismo. Lançar a primeira pedra de um edifício com tais formalidades solenes, é Judaísmo¹; dedicá-lo, quando concluído, a qualquer santo particular, é manifestamente supersticioso; consagrá-lo por qualquer forma solene, parece como o que ocorreu em honra ao templo de Salomão; como se fosse esperado que a Divindade residisse nele, em vez de admitir a Sua presença na congregação adorando ali; e como se o edifício possuísse uma santidade relativa, como a do antigo santuário. Posso arriscar-me a acrescentar, que qualquer desfile religioso na primeira abertura de um tal lugar, é aparentemente incompatível com a ideia de toda a distinção de lugares, no que diz respeito ao culto, que foi abolida, e muito se assemelha ao Judaísmo, ou a uma consagração Papista.²

No que diz respeito aos ministros, ao comparecer a qualquer ramo de sua santa função, não permita que eles pensem de modo a aumentarem a sua própria importância, ou promoverem a causa de Cristo, imitando sacerdotes judeus ou pagãos, adornados com hábitos peculiares no desempenho de seus diferentes ritos. Se os ministros Cristãos estiverem decentemente vestidos, quando em suas próprias famílias, ao visitarem seus amigos, ou quando andarem pelas ruas; por que não deveriam ser considerados como devidamente vestidos para o desempenho de seu ofício santo?

Que razão pode ser atribuída à existência de qualquer veste particular, quando engajados no serviço público, que não se oporia à espiritualidade do reino de nosso Senhor e à simplicidade de Seu culto?

Talvez possa ser dito: “Hábitos clericais são coisas indiferentes e inofensivas, exceto quando são impostas”. Mas se é assim, a ideia de imposição sendo excluída, a veste canônica de um sacerdote papista, o chapéu vermelho do cardeal e a tríplice coroa de um pontífice, tudo isto pode ser justificado; pois, em si mesmos, eles são igualmente inofensivos como a toga, a sobrepeliz ou a faixa. Inocente, no entanto, como todas essas peculiaridades são, à parte do caráter ministerial e da adoração santa, a razão ou motivo de usá-las no culto sagrado, pode ser carnal, medíocre e pecaminoso. Em alguns, há muito fundamento de suspeita, um desejo de ser estimado pelo símplices, quer como pessoas de erudição ou como episcopalmente ordenados, quando eles não o são assim; e, em outros, um desejo de aumentar sua importância erudita e sacerdotal é a razão latente de usar esses emblemas ociosos de distinção clerical. Mas, quando os homens iletrados assumem o manto da erudição, sua vaidade é desprezível: quando pretendem, ao fazê-lo, obter o respeito dos ignorantes, do qual eles mesmos sabem serem indignos, sua falsidade radical é detestável; e quando qualquer ministro pensa magnificar seu ofício por pomposidade no púlpito, ele trai sua ignorância sobre a natureza desse reino do qual ele professa ser um oficial. As leis deste santo império proíbem os súditos de roupas resplandecentes, chamativas e caras, como coisas não apropriadas àqueles que professam piedade³; e o princípio desta proibição não se aplica com força crescente para o caso diante de nós? Isso, a saber, deslumbrar-se por causa de vestes vistosas no curso da vida comum é inconsistente com aquela mentalidade espiritual, da qual todo discípulo confesso de Cristo faz uma profissão implícita. Pode ser adequado à simplicidade do culto Cristão, ao caráter de seu Senhor ou ao exemplo dos Apóstolos que os ministros façam uma mui grandiosa aparição, e obtenham mais posição devido a elas, ao realizarem o seu serviço solene do que em qualquer outro momento? Deixe que aqueles que compreendem o sistema Cristão, e são de disposição celeste, formem a determinação.

Com efeito, deve ser reconhecido, que o antigo povo de Deus tinha um santuário esplêndido, e um suntuoso templo; que os sacerdotes judeus, ao executarem o serviço sagrado, apareciam em vestes sagradas; e que o sumo sacerdote, em certas ocasiões, era ricamente adornado, de um modo peculiar ao seu ofício. Mas, naquela ocasião, é claro, que essas coisas foram expressamente designadas por Jeová; que a Dispensação a que pertenciam era de uma natureza típica; que eles eram adequados para a igreja, enquanto em um estado de infância; que toda a nação judaica era, então, a igreja visível; que Jeová não era apenas o Deus, mas também o Rei daquela nação; que o antigo santuário era um palácio, onde a realeza política residia4, bem como um templo, onde era adorada a Divindade; e que os sacerdotes eram oficiais do estado, bem como os ministros da religião. Para um reino assim, político-eclesiástico, o esplendor do santuário e do vestido dos sacerdotes eram manifestamente adaptados. Daí a tenda ser chamada de um santuário terreno, e os ritos realizados ali de rudimentos do mundo5. A estes, o santuário celestial, no qual nosso grande Sumo Sacerdote entrou, e o culto espiritual da igreja Cristã, se opõem. Não deve ser esquecido que embora o Filho de Deus, ao demonstrar a Sua glória como Rei do Estado judeu, assumiu a Sua habitação no santuário, como em um palácio real; ainda assim, quando Ele entrou em Seu próprio país6, como o Rei da Igreja Evangélica, Ele não tinha onde reclinar a cabeça.

Que relação, então, têm o esplendor, as leis ou os ritos do judaísmo com a nova economia; a não ser que queiramos converter a igreja Cristã no templo judeu? Que grandiosidade e espetáculo sejam pertencentes aos locais de culto ou aos ministros da Palavra, são abomináveis ??na Dispensação Evangelho; nem, sob a atual economia, têm qualquer outra tendência, a não ser satisfazer o orgulho daqueles em quem se originam, e dar ao reino de Cristo uma aparência secular. A nova economia sendo destinada a todas as nações e todos os séculos subsequentes é igualmente adaptada aos ricos e aos pobres, não faz qualquer distinção no que diz respeito aos lugares onde seu culto deve ser realizado. Que Deus seja adorado em espírito e em verdade, de acordo com a Sua própria regra, é tudo o que é requerido de uma congregação ou de outra. Ele desdenha, portanto, solicitar qualquer porção de Sua glória, à grandeza de um edifício ou ao traje de um ministro. Embora, longe de supor que a rusticidade, a ignorância e a mesquinhez sejam características de uma igreja do Evangélica; ainda assim posso arriscar afirmar que uma assembleia de príncipes em uma esplêndida catedral, com um arqui-prelado aparecendo em pompa canônica, pode insultar a majestade Divina e ser totalmente indigna do nome de uma igreja; enquanto uma congregação de trabalhadores diaristas, com um ministro iletrado, em veste mui simples, reunida em um celeiro, pode ser um templo espiritual, desfrutar da presença Divina e realizar o culto Cristão em toda a sua glória. Tem sido bem observado, por um determinado autor, que “a presença de Deus confere dignidade e importância”, mas que “Ele não pode receber nada a partir da criatura, muito menos da pompa e magnificência artificial”. A isso, acrescentarei, as palavras do Dr. Owen: “Se toda a estrutura do templo e todos os seus belos serviços estivessem agora na terra, nenhuma glória redundaria a Deus por meio deles. Ele não receberia nada por eles. Esperar a glória de Deus, neles, seria uma alta desonra a Ele”.7

Se grandeza secular, no entanto, deve estar na religião dAquele que nasceu em um estábulo, e viveu em pobreza, o Qual recebeu as aclamações da realeza, quando montado sobre um jumento, e logo depois expirou em uma cruz; se, eu digo, isso deve aparecer no culto de qualquer um que pretende seguir os Pescadores da Galiléia — aqueles primeiros-ministros do reino do Messias —, que isso seja confinado àqueles que confessam a si mesmos como membros de um estabelecimento Nacional. Pois, no que diz respeito àqueles que afirmam que as igrejas particulares são congregacionais, consistindo de tais que fazem uma profissão credível de arrependimento e fé; pompa e espetáculo na adoração a Deus são bastante impróprios ao seu princípio. Sim, que aqueles que monopolizam o esplendor em questão, consideram a Igreja e o Estado como possuindo dimensões iguais; que reconhecem a cabeça visível da realeza política; e que examinem, não o Novo Testamento, mas um código de Cânones e Constituições maiores do que toda a Bíblia8, se eles quiserem saber sobre que fundamentos estabelecerem a sua estrutura eclesiástica, e por que leis isso é regido. A forma Nacional da igreja judaica sendo o seu modelo, e um monarca temporal sendo a sua cabeça, por que não deveriam ter magníficas catedrais e consagrá-las como templos judaicos? Por que o antigo judaísmo não é imitado nestas particularidades, bem como nas outras coisas? Como o chefe da Igreja Inglesa é adornado com vestes reais; como os principais oficiais nela são nomeados por ele, e são lordes na legislatura; e como ela é estabelecida por leis do estado, quem proibirá as várias ordens de seus ministros sendo adornados com títulos e com paramentos pomposos? Não há nenhuma razão para se maravilhar que, em tal constituição e tal governo, quase todas as coisas devem utilizar uma aparência secular. Pois, a autoridade política que permeia toda a estrutura eclesiástica, seria inconsistente consigo mesma se suas várias partes não tivessem um ar de grandeza exterior. Como um reino deste mundo é respeitável, contudo, mas não deve fingir ser qualquer coisa mais.

Mas, embora, isso possa ocorrer com um estabelecimento, que os Protestantes Dissidentes não se comportam como se invejassem, ou a sua magnificência, ou os seus emolumentos. Não; não permitam que aqueles que consideram a Igreja e o mundo como ideias opostas, os quais sustentam que somente Cristo é a Cabeça das comunidades Cristãs, e que o Novo Testamento contém a totalidade de sua política eclesiástica, sejam desejosos de grandeza exterior em qualquer coisa pertencente ao culto público, para que eles não neguem praticamente os seus próprios princípios, e implicitamente afrontem o Cristianismo primitivo por ser muito simples e também espiritual. É frequentemente muito mais fácil para as pessoas e muito mais desejado por elas, reunirem-se em um edifício elegante e que o seu ministro apareça em forma canônica; do que realizarem um culto espiritual, e resplandecerem nas belezas da santidade. O esplendor de um lugar para a assembleia e a pompa da veste clerical, são adquiridos por dinheiro; mas as graças de real santidade e a devoção interior são de origem celeste; nem o exercício deles deve ser esperado, a não ser por aqueles que estão habitualmente anelando por eles. Eu acrescentarei, qualquer tipo de sucessão aos apóstolos pode ser pleiteado pelos bispos diocesanos9, ainda assim, não permitam que os ministros Protestantes Dissidentes implicitamente arroguem uma missão, poderes e autoridade apostólicos, chamando a si mesmos de embaixadores de Cristo. Pois, esta característica, é claro, pertencia aos mensageiros de primeira linha de nosso Divino Soberano. Ou, se alguém que anuncia o Evangelho da paz considerar um título desta alta importância como bastante adequado à dignidade de sua posição eclesiástica, as suas credenciais devem ser produzidas.

Por esta característica do reino de nosso Senhor, e pela natureza geral do mesmo, somos ainda ensinados que a simplicidade e espiritualidade devem ser a principal glória daquela adoração que Ele requer. Isto constitui outra disparidade gritante entre o governo do Messias e a antiga Teocracia. Foi observado, pelo Dr. Erskine, que “o respeito prestado a Deus, sob a Dispensação do Antigo Testamento, correspondia à Sua característica como um monarca temporal, e em grande medida consistia em pompa exterior, festas, dança, música instrumental e outras expressões de alegria habitual em coroações ou triunfos. Mas a hora agora é chegada, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; não com espetáculo exterior e ostentação”10. Sim, vários ritos, e cerimônias pomposas, foram designados por Jeová no primeiro estabelecimento da igreja judaica; a que várias adições foram feitas, por ordem Divina, no tempo de Davi11. Essas coisas eram, sem dúvida, adequadas à natureza daquela Dispensação, e para a igreja de Deus, enquanto em um estado de infância12. No culto, tão variado em seus ramos, e tão esplêndido em sua aparência, multidões compareciam, e encontravam contentamento naquilo, embora os mesmos estivessem, em seus corações, descontentes com Deus. Ao ouvirem, no templo, a música, o vocal e o instrumental não há dúvida que grande a quantidade de pessoas ímpias eram encantadas. Tal concerto, por pessoas treinadas para o ofício e sob a direção de mestres hábeis deve produzir emoções muito agradáveis ??na multidão que ouve: a grande maioria da qual, é altamente provável, considerava o sistema de adoração deles como o melhor que poderia ser nomeado, pelo fato de ser tão grandioso e tão deleitoso.

Mas, apesar do sistema ter sido adequado a ambos, ao povo e aos tempos; embora tenha sido de grande utilidade, e correspondido ao propósito de Jeová, sob uma Dispensação de sombras; ainda assim, o Novo Testamento nos informa que os seus inúmeros ritos eram meros rudimentos de conhecimento espiritual, e de santo culto; não, em comparação com as nomeações e serviços da igreja Cristã, eles eram rudimentos desprezíveis e ordenanças carnais13. Por que, então, os professos do Cristianismo devem ser tão apaixonados pela pompa cerimoniosa na adoração a Deus? Por que deveriam ser tão ligados à linguagem e formas do judaísmo, ou praticar um ritual semelhante e próximo das rubricas de Moisés? Por que chamar a Santa Ceia de um sacrifício, a mesa do Senhor de um altar e o administrador de sacerdote? Por que recorrer à adoração no templo por instrumentos musicais, e por um conjunto de cantores distintos da congregação em geral? Por que canções responsivas e músicas mais próprias para um teatro do que para o culto a Deus devem ser ouvidas nas assembleias religiosas? Por que, sem um comando para o cantar alternado, uma parte de uma congregação suspende um ato de culto coletivo, enquanto a outra prossegue? Para estas e outras questões, a resposta deve ser: Porque as coisas desta natureza divertem e agradam a mente carnal. Porque a simplicidade e a espiritualidade da adoração do Novo Testamento não têm encantos para a multidão, e porque a maioria gosta de realizar algo chamado de culto religioso, segundo uma forma que se origina em sua própria concepção. Quanto às aparências, no entanto, como muitas coisas no ritual judaico eram muito bem adaptadas para agradar a inclinação da carne, eles se contentarão em ter o Culto cristão reformado em várias particularidades, de acordo com o modelo antigo, segundo visto no tempo de Davi. Quem, que entra em um edifício esplêndido, onde ele vê um ministro em seus paramentos e encontra-se com tal adoração voltada para o entretenimento pode esquecer de pensar no serviço que era realizado no Templo do Antigo Testamento? Tal, através de um curso de eras, tem sido a predileção de multidões ao antigo Judaísmo, que uma série de suas peculiaridades — as quais eram ou honrosa e rentável para o sacerdote, ou divertidas e agradável para as pessoas — foram incorporadas ao Cristianismo, não obstante os males produzidos por conduta semelhante nas igrejas apostólicas.

Eu disse, honrosa e rentável para os sacerdotes, ou divertida e agradável para o povo. Mas, aqui eles param; pois, aqueles ramos do judaísmo que eram de um tipo diferente, são tratados como totalmente obsoletos. Assim, por exemplo, apesar de muitos ministros Cristãos gostarem bastante de vestes sacerdotais, e dos dízimos, jure divino; ainda assim, eles não estão dispostos a alguma vez lavarem os pés antes de executarem o serviço sagrado14; muito menos fazer isto com os pés descalços15. Quanto às pessoas, embora multidões delas estejam muito satisfeitas com aparências pomposas e sons musicais, elas estão longe de estarem em êxtase com a circuncisão. Pois, não obstante o rito Abraâmico teve a sua obrigação e utilidade, como teve qualquer cerimônia judaica; e embora, nos tempos apostólicos, Cristãos judaizantes tiveram a mais elevada opinião sobre a sua importância; ainda assim, semelhantemente à antiga imersão batismal, é agora considerada como muito dolorosa e muito indelicada para a consideração de pessoas polidas. Assim, o culto da nova economia torna-se misto, desconhecido para a Bíblia, tanto no que diz respeito ao Judaísmo quanto ao Cristianismo. E o culto é tratado por muitos ministros como um comércio, não um serviço Divino; por muitas pessoas, como uma questão de diversão decente adequado para o Dia do Senhor, não como dever para com Deus e como um meio de preparar-se para o Céu. “Os homens correm para a igreja”, diz Erasmo, “como para um teatro, para fazerem cócegas nos ouvidos”16. “Os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; mas que fareis ao fim disto?”.17

Mas, embora a magnificência de lugares destinados ao culto público, a consagração desses lugares, hábitos canônicos, e várias cerimônias festivas sejam agora defendidas (se defendidas em absoluto pelas Escrituras) no fundamento dos costumes do Antigo Testamento; ainda assim, somos ensinados pelos historiadores eclesiásticos mais respeitáveis, que elas se originaram na imitação perversa do paganismo. Cristãos sendo cercados com pagãos, de cuja conversão eles eram desejosos; e tendo este último sido acostumado, na realização de seu culto idólatra, à pompa externa de templos e de cerimônias; Constantino não logo aboliu as superstições de seus antepassados, do que os magníficos lugares de culto foram erguidos, e consagrados com grande procissão; sendo isso considerado como ilícito, exceto em casos extraordinários, cumprir qualquer parte do culto público neles, antes de sua consagração. Pagãos tendo muitas vezes censurado o Cristianismo, pela pobreza e simplicidade de sua aparência, os Cristãos do século IV adotaram muitos dos ritos pagãos. Ministros da palavra, por exemplo, ao realizarem seu ofício, apareciam em hábitos canônicos, e com pompa sacerdotal. Seus templos recém-criados eram consagrados, cantando tais que eram pensados adequados para a ocasião, por orações, e por ações de graças. Em seguida, nas igrejas Orientais, o canto responsivo dos Salmos de Davi foi introduzido; precentores eram nomeados, e as leis eram moldadas por diferentes Conselhos para dirigir os cantores no desempenho do seu serviço. Tal foi a origem dessas aparições vistosas que, para entreter a mente carnal, por tanto tempo corrompeu o culto a Deus, e secularizou o reino de Cristo! Homem vão pretende ser sábio, e, em sua grande sabedoria, pensa que necessita acrescentar alguns ornamentos e auxílios a este império celestial, do que era inteiramente destituído quando os Apóstolos deixaram a terra. Isso foi pensado oportuno, a fim de tornar a religião de Jesus um pouco mais agradável, respeitável, e edificante, do que era em seu estado primitivo.

Entretanto, bem pode Ele questionar, com aspecto de majestade indignada, quem requereu isto de vossas mãos?

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Notas:

[1] Esdras 3:10-11

[2] Eu irei, aqui, reunir poucas particularidades mencionadas pelo Sr. James Owen, sobre Consagrações. Ele mostra que os israelitas dedicavam não somente o tabernáculo e o templo, mas também as suas casas particulares e as suas cidades (Deuteronômio 20:5; Salmo 30; Neemias 12:27). — Que as sinagogas judaicas não eram consagradas, nem consideradas santas, como o templo era. — Que a consagração de lugares para culto Cristão foi inventada na época de Constantino. — Que os Cristãos não estiveram por muito tempo na posse de templos consagrados, antes que eles pensassem ser oportuno supri-los com altares; e sendo supridos com altares, eles depois inventaram o sacrifício da missa. — Que os papistas, como os antigos Pagãos romanos, primeiro consagram o chão, e, em seguida, o edifício erguido sobre ele. — Que Durandus, argumenta a favor da consagração de igrejas, a partir do exemplo de Nabucodonosor, dedicando sua imagem de ouro. — Que os católicos romanos consagram, com várias formalidades e solenidades, a primeira pedra de um edifício que destina-se à adoração pública. — Que eles consagram sinos, vestes sacerdotais e quase tudo o que pertence ao seu culto corrompido. — Que, embora na Inglaterra, desde a Reforma, não parece que qualquer forma de consagração de igrejas e de chãos de cemitério, recebeu a sanção da autoridade pública; ainda assim, várias formalidades para essas finalidades têm sido publicadas e usadas. — Que o bispo consagrado abençoa a igreja ou capela, e reza “para que bendito Espírito desça no lugar, em Seu poder e graça santificadora”. — Que ele consagra a pia batismal, o púlpito, a mesa de leitura, a mesa de comunhão, a patena, o cálice, e assim por diante. (História da Consagração de Altares, Templos e Igrejas, passim).

[3] 1 Timóteo 2: 9, 10; 1 Pedro 3:3-4

[4] Mateus 5:35

[5] Hebreus 9; Colossenses 2:8, 20

[6] João 1:2. Veja Doddridge in loc.

[7] Sobre a Pessoa de Cristo, p. 354, 355

[8] Referindo-se ao Codex de Gibson. “Quando”, diz Sr. Michael Forster, “o Cristianismo foi estabelecido a religião do império, e a Igreja e o Estado se tornaram um corpo, apenas considerados em diferentes pontos de vista e sob relações diferentes; as leis eclesiásticas e civis do império fluíam de uma única e mesma fonte, editos imperiais”. Examinação do Codex do Bispo Gibson, p. 122. 3ª ed.

[9] Veja a Natureza de uma Igreja Evangélica e Seu Governo, por Dr. Owen. p. 33.

[10] Dissertações Teológicas. P. 69.

[11] 1 Crônicas 16:4-6; 2 Crônicas 29:25.

[12] Gálatas 4:1-7

[13] Gálatas 4:9; Hebreus 9:10

[14] Êxodo 30:17-21.

[15] Serviço do Templo, do Dr. Lightfoot, Capítulo 1 e 10. E o [comentário do] Dr. Gill em Êxodo 3:5.

[16] Em 1 Coríntios 14:19.

[17] Jeremias 5:31.