[Extraído de Um Tratado sobre Oração • Editado]
A oração é derramar o coração e a alma de modo sincero, consciente e afetuoso através de Cristo. Faz-se necessário acrescentar que é através de Cristo. Caso contrário, cabe duvidar se é oração, mesmo que se empregue muita pompa e eloquência.
Cristo é o caminho pelo qual a alma tem acesso a Deus, e sem o qual é impossível que um único desejo chegue aos ouvidos do Senhor dos Exércitos: “Se pedirdes alguma coisa em Meu Nome, tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome, será feito”. Esta foi a maneira que Daniel orou pelo povo de Deus, em nome de Cristo: “Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração do teu servo, e as suas súplicas, e sobre o teu santuário assolado faze resplandecer o teu rosto, por amor do Senhor” (Daniel 9:17). E o mesmo Davi: “Por amor do teu nome (ou seja, por amor do Teu Cristo), Senhor, perdoa a minha iniquidade, pois é grande” (Salmo 25:11).
Agora, isso não quer dizer que todos os que proferem o Nome de Cristo em suas orações estão realmente orando em Seu nome. O achegar-se a Deus através de Cristo é a parte mais difícil da oração. O homem pode mais facilmente experimentar Suas obras, e até mesmo desejar sinceramente Sua misericórdia, do que pode ir a Deus através de Cristo. Aquele que vem a Deus através de Cristo deve conhecê-lO primeiramente: pois aquele que se achega a Deus deve crer que Ele existe. E também o que se aproxima de Deus deve conhecer a Cristo “rogo-te que me faças saber o teu caminho”, diz Moisés, “e conhecer-Te-ei” (Êxodo 33:13).
Somente o Pai pode revelar a este Cristo. E vir por meio de Cristo é um poder de Deus que é dado à alma para abrigar-se na sombra do Senhor Jesus, como aquele que se abriga em um refúgio. Por isso, Davi chama Cristo, muitas vezes de seu escudo, torre, fortaleza, rocha de confiança, etc. E dá-Lhe esses nomes, não só porque Ele venceu seus inimigos, mas porque achou favor junto a Deus Pai. Para Abraão foi dito: “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo”, etc. (Gênesis 15:1). Então, quem se aproxima de Deus por meio de Cristo deve de ter fé, por meio da qual é revestido por Ele, e Ele aparece diante de Deus. Pois bem, aquele que tem fé é nascido de Deus, nascido de novo, e, portanto, torna-se um de Seus filhos, em virtude disto está unido a Cristo e feito um membro seu. Por conseguinte, uma vez que foi feito um membro de Cristo, tem acesso a Deus. Digo membro de Cristo, pela maneira como Deus o considera como parte de Seu Filho, como parte de Seu corpo, de Sua carne e de Seus ossos, unidos a Ele pela eleição, pela conversão, pela iluminação. Deus coloca o Espírito no coração deste pobre homem, de modo que agora se achega a Deus em virtude dos méritos de Cristo, em virtude de Seu sangue, Sua justiça, Sua vitória, Sua intercessão. E este está perante Ele, sendo aceito em Seu Filho amado. Sendo assim, esta pobre criatura torna-se membro do Senhor Jesus, e, portanto, tem acesso ao trono de Deus, em virtude desta união, uma vez que o Espírito Santo também está nele, habilitando-o a derramar sua alma diante de Deus e a ser ouvido.
Orar é derramar o coração e alma de modo sincero, consciente e afetuoso diante Deus por meio de Cristo, no poder e ajuda do Espírito. Essas coisas dependem de tal modo umas das outras, que é impossível que haja oração sem que todas elas cooperem.
Por mais excelente que seja o nosso discurso, Deus rejeita toda súplica que não possua estas características. Se não se derrama o coração sincera, consciente e afetuosamente diante dEle, e isso por meio de Cristo, não se faz outra coisa senão um mero esforço de lábios, o que está longe de ser agradável aos ouvidos de Deus. Assim também, se não é no poder e ajuda do Espírito, é como o fogo estranho que ofereceram os filhos de Arão (Levítico 10:1).