Entre ou cadastre-se

O Reino de Deus: o que Ele É e o que Ele Não É | Por James M. Renihan

Meu procedimento será o seguinte: depois de lermos duas passagens da Escritura, quero tentar examinar algumas das informações na Palavra de Deus que dizem respeito ao reino. Há muito que se abordar em tudo menos na forma de pesquisa. Então, eu quero falar mais extensamente sobre uma questão que pode nos incomodar. A brochura para a conferência diz que o nosso tema é: “Hope for the future: A Biblical Perspective” [Esperança para o futuro: uma Perspectiva Bíblica]. Eu peguei esse tema literalmente ao destacar um aspecto crucial do ensino da Bíblia sobre o Reino, acreditando que ele é muito pertinente para nossas vidas hoje.

Por favor, leiamos Habacuque 3:1-19:

1 Oração do profeta Habacuque sobre Sigionote.
2 Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia.
3 Deus veio de Temã, e do monte de Parã o Santo (Selá). A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor.
4 E o resplendor se fez como a luz, raios brilhantes saíam da sua mão, e ali estava o esconderijo da sua força.
5 Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos.
6 Parou, e mediu a terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados; os outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem.
7 Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã.
8 Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado? É contra os ribeiros a tua ira, ou contra o mar o teu furor, visto que andas montado sobre os teus cavalos, e nos teus carros de salvação?
9 Descoberto se movimentou o teu arco; os juramentos feitos às tribos foram uma palavra segura. (Selá.) Tu fendeste a terra com rios.
10 Os montes te viram, e tremeram; a inundação das águas passou; o abismo deu a sua voz, levantou ao alto as suas mãos.
11 O sol e a lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da tua lança.
12 Com indignação marchaste pela terra, com ira trilhaste os gentios.
13 Tu saíste para salvação do teu povo, para salvação do teu ungido; tu feriste a cabeça da casa do ímpio, descobrindo o alicerce até ao pescoço. (Selá.)
14 Tu traspassaste com as suas próprias lanças a cabeça das suas vilas; eles me acometeram tempestuosos para me espalharem; alegravam-se, como se estivessem para devorar o pobre em segredo.
15 Tu com os teus cavalos marchaste pelo mar, pela massa de grandes águas.
16 Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim; no dia da angústia descansarei, quando subir contra o povo que invadirá com suas tropas.
17 Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado;
18 Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.
19 O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. (Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda).

E agora, por favor, vamos até Hebreus 2:5-9:

5 Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos.
6 Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites?
7 Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos;
8 Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas.
9 Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.

Por favor, mantenha um marcador em ambos os lugares em suas Bíblias.

1. Um Estudo do Ensinamento da Escritura sobre o Reino de Deus

“Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” [Mateus 3:2]. Com estas palavras, João Batista pregou à nação de Israel para preparar o caminho para o Messias. Mateus nos diz, no próximo capítulo de seu Evangelho, que Jesus prosseguiu proclamando a mensagem idêntica: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (4:17). E no capítulo 10(:7), quando Jesus envia os doze, ele lhes diz que a mensagem que eles devem pregar é a mesma: “É chegado o reino dos céus”. Os Evangelhos sinóticos são permeados com ensinamentos sobre o reino de Deus. Este foi um tema central no ministério terreno de Jesus. Mas, não somente nele. No intervalo entre Sua ressurreição e ascensão, Lucas nos diz que nosso Salvador estava com seus discípulos por um período de quarenta dias “falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1:3). As palavras no início da Grande Comissão: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” [Mateus 28:18] apontam para esta verdade. A pregação de Pedro no dia de Pentecostes segue este mesmo tema: Jesus, tendo sido ressuscitado, foi “exaltado à destra de Deus”. Ele disse: “Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (2:36). Esta é a linguagem do reino de Deus. Quando uma perseguição se levantou em Jerusalém, dispersando os discípulos, Lucas nos diz que Filipe desceu à Samaria e “pregava acerca do reino de Deus” [Atos 8:12]. Quando Paulo retornou a várias igrejas recém-plantadas para fortalecê-las e incentivá-las, Lucas nos dá uma frase que resume a mensagem do Apóstolo a essas jovens assembleias: “por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (14:22). Quando Paulo chegou a Éfeso, nos foi dito que “entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus” (19:8). E quando ele faz Sua última despedida aos anciãos de Éfeso, ele lhes lembra que sua pregação tem sido sobre “o reino de Deus” (20:25). Na conclusão de sua história, Lucas retrata Paulo em Roma, expondo e testificando aos judeus, e a qualquer outro que o ouvisse, sobre o reino de Deus (28:23, 31). Mesmo João, o apóstolo, na ilha de Patmos, podia falar da fraternidade do reino de Cristo que ele compartilhava com seus leitores. A ideia do reino de Deus está profundamente entrelaçada com o próprio Evangelho. Foi a mensagem proclamada por João, por Jesus e por Seus discípulos, e continuou a ser o tema dos apóstolos ao longo da era do Novo Testamento.

Devemos afirmar que o reino de Deus é central para a mensagem das Escrituras. Sua linguagem é trançada no tecido do Antigo e do Novo Testamento. Toda vez que lemos sobre Deus como o Grande Rei, sobre o Senhorio de Cristo, sobre a soberania, autoridade e domínio de Deus, sobre comando e obediência, sobre adoração e honra, estamos lendo sobre a linguagem do Reino. Não podemos reduzir a noção da realeza de Deus simplesmente às ocorrências da palavra grega basilea e seus cognatos ou ao termo hebraico malak e seus derivados. Este tópico é um dos temas cruciais de toda a Bíblia.

A. Definindo o Reino de Deus: O que o Reino de Deus é

O que é o Reino de Deus? A ideia é tão difundida nas Escrituras que é muito difícil ser abrangente. Há muito que pode ser dito na tentativa de dar uma definição. Deve-se afirmar que o reino de Deus não é um lugar — embora normalmente pensemos em reinos em termos geográficos. É melhor compreendida em termos do dinâmico reinado de Deus. Geerhardus Vos identificou três aspectos que ele nomeou como sua essência: (1) a supremacia de Deus na esfera do poder salvador; (2) a esfera da justiça; e (3) o estado de bem-aventurança. Paulo diz: “O reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder ” (1 Coríntios 4:20). O sermão do monte é, em muitos aspectos, uma explicação da natureza da justiça do reino, evidente até mesmo nas bênçãos prometidas nas bem-aventuranças. O reino de Deus é a esfera em que ele reina, isto é, o lugar onde sua soberania e domínio se expressam. Quando os fariseus vieram a Ele e perguntaram quando o reino deveria vir, Jesus poderia dizer a Seus ouvintes que o reino de Deus estava no meio deles. Imaginem quão confusos devem ter ficado quando Ele disse: “O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós” [Lucas 17:20, 21]. O reino de Deus estava presente no ministério de Jesus: em Seu ensinamento, em Seus atos de compaixão, em Seus milagres. Não é isso que Jesus estava pretendendo quando, depois de Suas tentações no deserto, se sentou na sinagoga de Nazaré e leu no dia de Sabbath o profeta Isaías: “ O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do SENHOR” (Lucas 4:18 19)? Estes são os atos do reino de Deus — a prova de que Ele tinha vindo em uma missão divina e que Ele era o único Filho, que cumpre as palavras da Escritura. Os fariseus estavam confusos, porque não esperavam esse tipo de reino.

Dissemos que a mensagem pregada por João Batista e Jesus era a mesma. Mas devemos afirmar uma importante diferença de perspectiva entre elas. João pregou como o precursor, em certo sentido, ele pregou como o último sentinela da noite, proclamando o alvorecer de um dia novo. Jesus era, Ele mesmo, a luz; Ele trouxe o dia à existência. O reino estava presente no ministério de João? Certamente. Mas não da mesma forma no que diz respeito a Jesus. João estava feliz em apontar para o Alguém maior: o grande filho de Davi, que era em si mesmo a personificação do reino de Deus.

É interessante notar que quando o reino é pregado, ele é frequentemente associado a verbos de movimento. Apenas no Evangelho de Mateus lemos verbos como entrar, buscar, expulsar, sofrer violência, aparecer, reunir e vir (traduzindo três diferentes verbos gregos). A linguagem metafórica de um reino físico nos ajuda a conceituar a relação que os humanos têm com o reino de Deus.

B. Definindo o Reino de Deus: O que Ele Não É

Uma das formas mais úteis de definir algo é a negação — demonstrar o que não é. A Palavra de Deus faz isto em vários lugares: Somos informados de que o reino de Deus não é deste mundo (João 18:36). Jesus claramente nos ensina que Seu reinado não tem sua origem ou definição primária em termos deste mundo. Seu próprio ensinamento sobre o reino foi terrivelmente mal-entendido por Seus oponentes religiosos precisamente porque eles o interpretaram em termos terrestres. Seu reino é celestial. Tem origem e existência divinas.

O reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder (1 Coríntios 4:20). Paulo não se limitou a ter algumas palavras religiosas suaves de ouvir — palavras lisonjas para os que ouvem. Quando chegou aos coríntios, pôde demonstrar-lhes o verdadeiro poder espiritual do reino.

O reino de Deus não é comida nem bebida (Romanos 14:17), mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo. Paulo quer que isso seja compreendido — as coisas passageiras desta vida, como o alimento (que, a propósito, é para ser consumido para a glória de Deus como diz 1 Coríntios 10:31), não compõem a substância do reino. Quando os cristãos se dividem sobre tais assuntos, quando eles fazem com que outros tropecem, eles têm entendido mal a própria natureza da qual reino é constituído. Eles devem perseguir a justiça: conformidade com o padrão da aliança, a Lei de Deus; a paz, a integridade e o bem-estar estando na presença de Deus; e alegria no Espírito Santo, a única atitude apropriada para aqueles que foram purificados e adotados na família de Deus. Essas coisas andam juntas, e são da própria essência do reino. Ouça Hebreus 1:8 e 9: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais do que a teus companheiros”. O Filho de Deus se assenta em um trono eterno, com a justiça na mão. Porque Ele mesmo amou a justiça, porque fez dela o objeto de Seu afeto, Ele conheceu a alegria mais que Seus companheiros. Verdadeiramente, a santidade é a felicidade.

Seis vezes, o reino é chamado de uma herança, mas curiosamente, apenas num desses momentos é a herança expressa em termos positivos, em Mateus 25:34. Nessa passagem, Jesus descreve o grande dia do juízo, e acolhe o Seu povo na Sua herança. Mas nas outras 5 ocorrências (1 Coríntios 6:9-10, 15:50; Gálatas 5:21 e Efésios 5:5) somos informados que a carne e o sangue não herdarão o reino, e que aqueles que cometerem variedade de pecados não herdarão o reino. Da mesma forma, somos informados de que há outro grupo que não entrará no reino: certos tipos de homens religiosos. Ouça as palavras de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram… o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos… ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque fechastes o reino dos céus contra os homens, Vós mesmos, nem deixais entrar os que estão entrando” (Mateus 21:31, 43; 23:13). Estes são parte de um conjunto interessante de versículos no relato de Mateus sobre a Semana Santa, no qual Jesus enfatiza a exclusão dos formalistas religiosos do reino.

C. Definição do Reino de Deus: Seus Cidadãos

Mas se alguns são excluídos ou não recebem herança, então quem são os cidadãos e herdeiros apropriados? Em resposta à pergunta dos discípulos sobre a grandeza no reino, Jesus declara que devemos nos tornar como crianças para entrar nele. Um dos valores chave do reino é a humildade: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” [Mateus 5:3]. Os discípulos perderam isso com seu interesse pela grandeza. Em Mateus 19, Jesus repreende Seus discípulos por manter as crianças afastadas e imediatamente usa um incidente com um jovem para ensinar a seus discípulos que é muito difícil para um homem rico entrar no reino. A famosa conversa entre Jesus e Nicodemos nos dá alguma percepção: somente aqueles que nasceram de alto ou nasceram de novo podem ver e entrar no reino. Os filhos do reino não nascem naturalmente, mas nascem sobrenaturalmente. Este é o grande ponto do ministério de Paulo, conforme registrado no livro de Atos. Quando Lucas destaca sua pregação sobre o reino, é na maioria das vezes para persuadir os judeus (e os gentios) a acreditar em sua mensagem. Atos 19:8: “E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus”. 28:23: “E, havendo-lhe eles [isto é, os judeus de Roma] assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde”. Novamente, Atos 28:30-31: “E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo; pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum”. Crentes entram no reino. Como observamos antes, no dia do juízo Jesus acolhe as ovelhas à Sua direita, aqueles que fizeram a vontade do Pai, em Seu reino. Tiago coloca isso assim: “Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tiago 2:5). Essa é a base: os cidadãos do reino são aqueles que foram escolhidos por Deus, regenerados pelo poder do Espírito Santo, aqueles que são ricos em fé e cujas vidas demonstram que a obra de Deus neles é real. A idade, o status social e a raça são irrelevantes. Nem todo aquele que diz a Jesus: “Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de seu Pai que está no Céu” (Cf. Mateus 7:21). A diferença entre os coletores de impostos e as meretrizes que entraram no reino e os formalistas religiosos que foram excluídos é muito simples: Os primeiros creram, os segundos não.

D. Definindo o Reino: Declarando um Mistério

É importante notar que embora a mensagem do reino seja pregada, ela ainda é uma mensagem encoberta. O próprio Jesus falava frequentemente do reino em parábolas — afirmando explicitamente que o fazia porque os “mistérios do reino dos céus” foram dados a conhecer aos Seus discípulos, mas não aos de fora. É, em certo sentido, um reino secreto, não como o reino escondido de Gondolin, criado por Tolkien, com rumores de que existe, mas selado aos visitantes; mas sim presente em um sentido muito real, embora invisível aos olhos daqueles que estão sem conhecimento. Muitos entendem suas verdades, porque seus olhos foram abertos para compreendê-las. Mas, muitos outros ouvirão as mesmas palavras e vão embora balançando a cabeça, perguntando-se por que alguns parecem tão interessados ​​e dispostos a levar essas palavras a sério. No fundo, no que diz respeito a isto, somos levados de volta à soberania de Deus. Ele escolheu revelar a natureza de Seu reinado a alguns, e permitir que eles participem, enquanto outros estão do lado de fora. O próprio Senhor Jesus poderia Se regozijar com o fato de Seu Pai soberano, Senhor do Céu e da Terra, ter escondido a verdade dos sábios e prudentes, e a revelado aos pequeninos [Cf. Mateus 11:25:26]. Cobradores de impostos e pecadores se aglomeram, enquanto os hipócritas são deixados de lado.

O Evangelho do reino é algo que deve ser pregado durante esta era. Quando os discípulos de Jesus procuravam informações sobre o futuro, nosso Salvador incluía em Sua resposta alguns ensinamentos sobre o presente — o Evangelho do reino deve ser pregado em toda esta era — em todo o mundo como um testemunho para todas as nações — antes de vir o fim. Homens e mulheres vivem suas vidas como se não houvesse reino, como se — nas palavras de Pedro — nada mudasse “desde que os pais dormiram” [2 Pedro 3:4]”. Eles se casam e são dados em casamento, eles trabalham e se divertem, comem e bebem como se não houvesse nada além do tédio de sua existência. Mas eles devem ser chamados a ver que são criaturas caídas em um mundo caído, rebeldes contra seu Senhor legítimo, em cada momento aprofundando sua condenação por não dobrar os joelhos diante dEle. As nações se enfurecem, o povo imagina coisas vãs. E todo o tempo o Rei no Céu ri, porque Seus propósitos não podem ser resistidos e a Sua obra trinfará. É isso que devemos pregar. Deus reina. Ele é soberano sobre todos. Seu reino é um reino eterno. A menos que homens e mulheres, meninos e meninas se arrependam, eles perecerão. O reino de Deus existe. É real. Embora não seja visível para o olho humano, ele pode ser discernido com o olho da fé. E essa visão por fé deve nos cativar ao serviço de Deus. Nós somos seus filhos, nós somos seus representantes, nós somos seus servos. Tudo o que fazemos, e tudo o que dizemos, deve ser governado por esta perspectiva. Temos que estar ocupados até que Ele venha. Devemos pressionar e confrontar os homens com esta mensagem: Deus reina. Ele é gracioso, é longânimo, é bondoso, e Ele ordena que você deixe seu egoísmo e se torne Seu servo. Você está cansado e sobrecarregado? Ele lhe dará descanso. Esta é a verdadeira esperança para o futuro.

2. O Reino de Deus está sempre em ação, mesmo quando não o percebemos

Tendo dito todas essas coisas, ainda há mais um fato que devemos lembrar. Encontra-se nas palavras de Hebreus 2 que lemos anteriormente. Embora saibamos todas essas verdades sobre o reino de Deus, ainda não o vemos em sua forma final e consumada. É ainda, “o mundo por vir”. De fato, enquanto olhamos em volta, dificilmente podemos dizer que vemos evidências persuasivas da presença e poder do reino de Deus em sua glória. Nem o escritor de Hebreus, ele disse: “Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas” [Hebreus 2:8, ARA]. Vivemos em um dia de crescente maldade, de tolerância aberta e até mesmo de promoção dos mais vis tipos de pecado. Nossa sociedade está saturada de vícios por prazer, por lucro e por poder. As notícias que escutamos à noite e o jornal diário repetem constantemente a terrível realidade do pecado no mundo.

Mas não é apenas lá fora. A igreja professa está se afastando ou, em muitos casos, já se afastou de qualquer aparência de religião sóbria, baseada nas Escrituras. O pós-modernismo está invadindo até a igreja evangélica. A verdade não é verdade, o pecado não é pecado, Deus não é Deus. A religião é baseada na emoção, a verdade é determinada por pesquisas de opinião, o pecado é perdoado como uma espécie de pecadilho psicológico, enquanto Deus está se tornando uma coisa qualquer. Encaramos tudo, desde o “toma lá, dá cá” dos televangelistas passando pelo Evangelicals and Catholics Together [Evangélicos e Católicos Juntos] até ao Jesus Seminar [Seminário de Jesus]. Quando os veículos de notícia tratam da religião, o fazem frequentemente com zombaria. E, há falsa religião, especialmente o emergente Islã. Alguém disse que a maior ameaça mundial à igreja é o Islã. Em uma coluna publicada no início desta semana, George Will afirmou que, em qualquer semana, há mais pessoas na Inglaterra que frequentam mesquitas do que participam de cultos da Igreja da Inglaterra. Aqui na América há uma crescente aceitação do Islã e de outras religiões não-ocidentais no panteão sagrado. O mormonismo também está no auge. O fascículo mais recente do Trinity Journal inclui um artigo importante sobre a falta de interação entre evangélicos e um número crescente de apologistas mórmons bem treinados e altamente equipados. Eles estão ganhando a batalha. Estas coisas não lhe perturbam? Eles são uma completa contradição de tudo o que dissemos. Parece que estamos regredindo. “Onde está o reino de Deus?”, nós perguntamos.

Isso não é incomum. Em cada época, desde a ascensão de Jesus à destra de Deus, a igreja viveu no meio de uma geração desviada e perversa na Terra. Para os olhos do observador casual e talvez até mesmo para o Cristão, a realidade do reino de Deus pode parecer um sonho — um monte de slogans religiosos agradáveis, sem qualquer substância no mundo do espaço e do tempo. Se lidarmos com isso, não devemos nos surpreender. Não estamos sozinhos, nem somos os primeiros a lutar com as contradições presentes. Asafe lutou profundamente com isso no Salmo 73, assim como o pregador em Eclesiastes, Jeremias em Lamentações e o Salmista que se sentou junto aos rios da Babilônia e descreveu o seu lamento em Salmo 137. Talvez a experiência mais instrutiva seja a de Habacuque.

A. O problema de Habacuque resumiu: Onde está o reino de Deus?

Seu nome significa “abraçador” ou “lutador” e isso é o que ele fez. Ele viveu em um dia de religião exterior, mas sabia que a maior parte dela era apenas um espetáculo e uma farsa. No início de seu livro, ele vem diante de Deus com uma queixa cheia de forte emoção. Ele está perplexo, porque vê a cidade santa habitada por idólatras, enganadores, adúlteros, ladrões e assassinos — homens traiçoeiros e violentos. Sua perplexidade poderia ser reduzida a esta pergunta: “Onde está o reino de Deus?”. E assim ele clama ao Senhor, perguntando-lhe quanto tempo ele permitirá que isso dure.

Deus responde, mas não da maneira que Habacuque esperava. O SENHOR lhe diz que tem planos de julgar os ímpios na cidade — e Ele o fará enviando um exército invasor de babilônios para saqueá-la. O recebimento dessa informação faz com que Habacuque fique ainda mais perplexo. Uma vez que Deus é um Deus santo, como Ele poderia usar um instrumento tão ímpio para alcançar Seus propósitos? Depois de fazer a segunda pergunta, ele aguarda, sabendo que o Senhor o corrigirá.

A resposta, registrada no capítulo 2, tem três tópicos: (1) Deus julgará a Israel e castigará Babilônia, enquanto salvará um remanescente de Seu povo (“mas o justo pela sua fé viverá”, 2:4); (2) o reino de Deus finalmente triunfará: “a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (2:14); E (3) mais basicamente, o Senhor é livre para fazer o que bem entender: “o SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (2:20).

Ao longo destes conflitos, Habacuque está lutando com a natureza do Reino de Deus. Ele sabe que este é uma coisa, mas o que ele vê é algo completamente diferente, e ele não pode juntar essas coisas. No capítulo 3, vemos como ele coloca sua perplexidade em perspectiva. Por favor, vamos olhar brevemente para essa passagem.

B. A adoração de Habacuque: O Reino de Deus é Real

O subtítulo do capítulo é de grande importância. Note que nossas traduções o descrevem como “a oração de Habacuque”. É um tipo especial de oração, uma tephillah. Esta é uma palavra que descreve um tipo especial de composição, em que o tema é proposto no início, e depois desenvolvido nos versículos seguintes. O versículo 2 fornece o duplo tema: reaviva a tua obra no meio dos anos, na ira, lembra-te da misericórdia. Os versículos 3-15 expõem a primeira dessas ideias: a obra de Deus na história; e os versículos 16-19 retomam a última noção: misericórdia em meio a ira. Habacuque humildemente se inclina diante do Senhor, ouvindo o Seu discurso. Agora ele ora. Sua luta está acabada.

Observe como isso funciona nas duas partes da oração. Na primeira seção, o profeta relembra a obra de Deus na história, destacando três grandes eventos: a criação nos versículos 3b-6, o êxodo nos versículos 7-9a e a conquista nos versículos 9b-15. Deus governa a Terra como seu criador, e Ele governou sobre o êxodo e sobre a conquista, tanto no julgamento como na redenção. Habacuque procura lembrar o povo de Deus (esta é uma oração litúrgica — aparentemente para o culto público) que Deus tem sido ativo em favor de Israel — e isso é o que ele pede que Deus “avive”. Levar a cabo essa obra, seja ela a redenção ou o julgamento, para mostrar Seu poder santo e Sua força.

Na segunda parte da oração, o “lutador” se inclina diante do Senhor, aceitando a realidade de Sua ira, sabendo que será misturada com misericórdia. Observe como ele expressa seu temor no versículo 16. Ele usa quatro expressões para descrever a profundidade de sua emoção: “meu ventre se comoveu”, “tremeram os meus lábios”, “entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim”. Nós diríamos: “Eu estava tremendo da cabeça aos pés”. Por fora e por dentro, por tudo o que ele era, havia um tremendo medo.

Observe as primeiras palavras de 16a, “ouvindo-o”. Ouviu o quê? NÃO as palavras dos versículos 3-15, mas sim de 16b, o julgamento, a terrível destruição de Jerusalém. Ele entendeu o que iria acontecer, e ficou impressionado com a perspectiva. Você pode culpá-lo? Como você se sentiria se soubesse que uma bomba nuclear em breve detonaria perto da casa de seus entes queridos? Ou se olhasse para cima e visse um tornado no horizonte? Nosso autor poderia antever os eventos do futuro. Talvez tenha se imaginado em pé fora da cidade, examinando sua destruição. Colunas de fumaça subindo ao céu; as paredes fendidas e quebradas; os portões da cidade esmagados ou arruinados e pendurados em suas dobradiças. Ele vê corpos mortos nas ruas, ouve o grito dos feridos e enlutados, e o pior de tudo, contempla pagãos invadindo e profanando o santuário de Deus. Quando ele traz essas coisas à sua mente, seu corpo se convulsiona em reação. O que senão o medo profundo seria apropriado para um judeu piedoso?

O profeta não é paralisado pelo seu medo. Nos versículos 17-19 ele diz algumas coisas incríveis sobre a obra de Deus. O versículo 17 é de grande importância. Não podemos perder o seu significado. À primeira vista, pode parecer apenas algumas palavras sobre o fracasso agrícola — mas é realmente muito mais — essas palavras têm um tremendo significado pactual. Ouça Deuteronômio 8:7-10: “Porque o SENHOR teu Deus te põe numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre. Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao SENHOR teu Deus pela boa terra que te deu”. Aqui, o mesmo tipo de terminologia é usado para descrever as boas bênçãos que pertencem à terra da promessa. Deus pretendia que seu povo desfrutasse todos os benefícios da terra quando eles entrassem. Quando Habacuque usou esses termos, todo judeu teria entendido imediatamente seu significado. Ele estava contemplando o fim de todas as boas bênçãos da terra que mana leite e mel. Observe o “ainda” no início do versículo 17 e o “todavia” do versículo 18. Habacuque é levado à uma mudança — embora toda a terra santa se torne um deserto, contudo, ele se regozijará no Senhor. Nada mais importa: Deus é sempre o mesmo Deus — ele é sempre o Deus de Habacuque. Ele tirou seus olhos dos outros e da confusão dos acontecimentos desta terra, e os colocou em Deus. Ele pode se alegrar no Senhor, porque ele é Deus. Ele fará o que quiser, Ele sempre será nosso Deus, mesmo quando não entendemos Seus propósitos.

O versículo 19 retorna novamente à linguagem pactual (Cf. 2 Samuel 22:1, 33-34). As colinas altas eram os lugares de triunfo na terra. Esta era uma figura no AT para a possessão vitoriosa da terra. Os lugares altos eram os últimos e mais difíceis de conquistar. Aqueles capazes de andar sobre lugares altos como cervos são aqueles que conquistaram e que governam a terra em paz. O profeta sabe o que Deus fará.

Mas, isso não contradiz o versículo 17? NÃO! Aqui Habacuque é capaz de olhar para além do julgamento de Judá pelos caldeus — ele vê o triunfo final de Deus e de Seu povo sobre toda a opressão dos poderes deste mundo. Ele enxerga que os julgamentos temporais são apenas parte do plano de Deus, mas eles apontam e asseguram Sua vitória. Embora tudo o mais pareça cair em pedaços, o Senhor Deus será a sua força, e fará dele um vencedor. Habacuque não é mais um lutador, agora é um adorador e um crente convicto na vitória final do reino de Deus.

Habacuque nos lembra que o reino de Deus funciona de duas maneiras. Enquanto tendemos a pensar nele em termos de expressões visíveis de sua glória, ele é muito evidente nos julgamentos judiciais que envia sobre os homens. Se os resgata de suas trevas ou se lhes permite avançar mais e mais fundo em seu pecado, Deus está agindo como quer. E a nossa resposta é inclinar-se diante dEle e adorar. Não devemos interpretar a grandeza do reino dos céus simplesmente em termos de nossa própria percepção de seu triunfo. É muito mais do que isso. O olho da fé vê um quadro muito diferente do olho da dúvida.

Esta é essencialmente a mesma coisa que o autor de Hebreus nos diz. Vamos novamente para o capítulo 2 desse livro. Não vemos agora o que gostaríamos: todas as coisas colocadas sob os pés de Jesus. Mas, com o olho da fé o vemos, e isso deve ser suficiente. E este autor imediatamente coloca a obra de Cristo em um contexto semelhante: o Filho do Homem se humilhou “sofrendo até à morte”. Ele tinha que ser aperfeiçoado através dos sofrimentos. O plano de Deus era muito diferente de qualquer coisa que pudéssemos inventar. Sua experiência define o padrão para a nossa. Na teologia, ou mais propriamente na cristologia, falamos dos dois estados de Cristo: o estado de sofrimento e o estado de glória. Ele aprendeu a obediência através do sofrimento, e então ressuscitou dos mortos em grande glória. Nossa experiência é a mesma. Agora, nós sofremos. Suportamos a oposição do mundo, da carne e do Diabo. Mas, ao mesmo tempo, focalizamos nossos olhos em Jesus, autor e consumador de nossa fé. Ele suportou a cruz que estava posta diante dEle, desprezando sua vergonha, e agora se assenta à direita de Deus. À medida que focalizamos nossa atenção nEle e à medida que nos tornamos cada vez mais centrados em Cristo, iremos vencer a confusão de que somos presas. Vemos tudo agora do jeito que pensamos que deveria ser? Não. Mas isso não significa que o reino de Deus esteja inativo ou impotente. Pelo contrário, sabemos que Ele está fazendo o que bem entender. A oposição dos homens da Terra é algo insignificante para Deus.

O reino de Deus é o reino de Cristo. Ele é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Embora não possamos ver tudo o que está acontecendo, não precisamos temer que Ele esteja dormindo, ou desinteressado, ou que tenha sido deposto. Deus está no trono, e Seu plano está prosseguindo como Ele deseja. Não precisamos temer, antes sejamos consolados. Tire seus olhos do mundo e os coloque em Jesus Cristo. Aleluia, pois o Senhor Deus Onipotente reina.

Então, vamos extrair conforto do fato de que servimos um grande Rei. Podemos não ver tudo o que ele está fazendo. O escritor da epístola aos Hebreus admite francamente que “ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas”. Mas vemos Jesus vencendo Seus inimigos, para um dia ser reconhecido e confessado por todos. Todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Nossa tarefa é trazer esta mensagem para as pessoas de nossa geração — os acadêmicos seculares, os formalistas religiosos, os “caras” da praia amantes de festas, todos os nossos vizinhos e colegas de trabalho e colegas de escola — assim como aos perdidos em outros lugares. Pregar o reino dos céus é pregar o Senhor Jesus. É desviar homens e mulheres, meninos e meninas para longe de si mesmos e de suas vidas egocêntricas. É chamá-los a renunciarem aos seus pecados, a receberem o perdão em Cristo, a se curvarem diante de Seu senhorio. Seu reino é real, é ativo, Seus inimigos estão sendo vencidos. Esta é a verdadeira esperança para o futuro. Vamos seguir adiante com esta mensagem para um mundo perdido e agonizante: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” [Mateus 3:2]. Amém.

James M. Renihan

Instituto de Estudos Batistas Reformados no Seminário de Westminster na Califórnia
Igreja Batista Reformada do Norte do condado de San Diego
Escondido, CA.