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O Silêncio de Cristo Sob o Sofrimento, por R. Murray M´Cheyne

“Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” (Isaías 53:7)

 

Quando os sacerdotes judeus costumavam levar o tenro e afável cordeiro para ser imolado no templo, ele não lutava, ele não opunha-se. Dessa forma, quando o tosquiador está cortando o alvo pelo das ovelhas, elas não lutam, não se opõem. Exatamente assim, quando Deus entregou o Seu Filho até a morte por todos nós, Ele não lutou, Ele não Se queixou. Quando o Cordeiro de Deus foi levado ao matadouro, Ele não murmurou. Quando os quatro soldados repartiram as Suas vestes entre eles, e por Sua vestimenta lançaram sortes; quando estes "tosquiadores" cruéis roubaram Sua alva pelagem, Ele esteve mudo, não abriu a boca.

 

Quando Ele foi oprimido e afligido pelo homem, Ele não respondeu uma palavra sequer. Por Deus igualmente foi oprimido e afligido, mas não murmurou. Agradou ao Senhor moê-lO. Ele O expôs à aflição. Ele esteve aflito, ferido por Deus, e oprimido. No entanto, Ele não falou. Ele não Se virou e exclamou: "Pai Justo, isto é injusto"; "Por que Eu deveria sofrer por pecados que Eu não cometi?"; "Senhor, Tu sabes que Eu sou imaculável e irrepreensível; Tu sabes que Eu não conheço o pecado, nem dolo algum se achou em Minha boca”. Ele foi oprimido e afligido, tanto por Deus quanto pelo homem, mas não abriu a Sua boca. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca" [Isaías 53:7].

 

Doutrina: Cristo ficou em silêncio sob Seus sofrimentos.

 

Em primeiro lugar, o fato de que Cristo esteve verdadeiramente em silêncio sob Seus sofrimentos;

Em segundo lugar, o motivo pelo qual Ele ficou em silêncio;

Em terceiro lugar, como isso é mostrado na Ceia do Senhor.

 

I. O fato de que Cristo esteve em silêncio sob Seus sofrimentos.

 

1. Ele ficou em silêncio diante do homem. Ele foi oprimido e afligido pelas mãos de homens ímpios; e ainda assim Ele não justificou-Se diante deles.

 

(1). Assim ocorreu quando Ele foi preso. Jesus estava no jardim do Getsêmani, e era noite, quando uma multidão veio até Ele com lanternas e tochas; espadas e paus. Ele fugiu, dali? Não. Ele fez oposição? Não. Seus discípulos disseram: “Lancemos mãos à espada?”, e Pedro na realidade usou a espada; mas Jesus proibiu-os. Ele poderia ter chamado até doze legiões de anjos. Ele poderia ter tirado o fôlego de vida daqueles, de modo que eles morreriam. Mas não; Ele disse, “Esta é a vossa hora e o poder das trevas”. “O cálice que o Pai me deu, não hei eu de beber?”. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

(2). E isto se cumpriu em Seu julgamento diante de Caifás. Eles amarraram Jesus no jardim, e levaram-nO para a casa de Caifás, o sumo sacerdote. Os principais dos sacerdotes, anciãos, e os escribas que estavam ali simularam um julgamento do Cordeiro de Deus. Muitas línguas mentirosas levantaram falso testemunho contra Ele. Porventura, Ele respondeu? Não. Ele não respondeu uma palavra sequer. O sumo sacerdote levantou-se no meio deles e disse: “Não respondes nada?”, mas Ele Se calou, e nada respondeu. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

(3). Isso ocorreu em Seu julgamento perante Pilatos. 1. De Caifás, eles O levaram para o governador romano, Pilatos: “E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti? E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado” (Mateus 27:12-14). Ah! o romano cego não sabia que Ele era o Cordeiro de Deus, que carregava os pecados de muitos. 2. Outra vez, Pilatos enviou-O a Herodes. Herodes interrogou-O; os judeus acusaram-nO veementemente; os soldados de Herodes escarneciam dEle, no entanto, está escrito: “Ele nada lhes respondeu”; Ele ainda era o Cordeiro mudo. 3. Quando, Herodes mandou-O de volta a Pilatos, Pilatos ali assentou-se em corte de julgamento, e declarou: “Eu não encontrei nenhuma culpa nele”. “Ele lavou as mãos e disse: Sou inocente do sangue deste homem, justo”. E ainda assim ele O sentenciou a ser crucificado. Clamou Jesus: '‘injusto!''? Será que Ele exclamou, “Eu fico perante o tribunal de César, Eu apelo para César”? Não. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

Novamente, sobre a cruz Ele foi oprimido e afligido pelo homem. Os que passavam maneavam a cabeça para Ele, e diziam: “Desce da cruz”. Os sacerdotes, igualmente, zombavam dEle, como um desamparado por Deus. Os próprios ladrões fizeram o mesmo diante dEle por três horas sombrias. Será que Ele Se queixou? Não. Ele reconheceu ser verdade que Ele estava desamparado do Seu Deus. Ele não respondeu uma palavra. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

2. Todavia, Cristo esteve em silêncio, diante de Deus, em Seus sofrimentos.

 

(1). Você se lembra dEle no jardim; lembre-se de como Ele esteve afligido naquele lugar, quando “o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” [Lucas 22:44]. Ali Deus depositou o cálice da Sua ira diante dEle, para mostrar a Ele o que tomaria. Ele poderia ter dito: “Este cálice não Me pertence; deixe-os beber os que estão cheios dos seus próprios pecados. Mas não; Ele apenas clama que se possível passe dEle aquilo: “Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice”. A oração é o clamor de quem sabe não ter o direito de exigir. Se Ele tivesse considerado ser injusto o dar-Lhe tal cálice, Ele diria: “Pai Justo, essa não é Minha porção. Não fará Justiça o Juiz de toda a terra?”. Mas, não; Ele reconheceu que aquilo era justo, se o Pai assim o queria. Na segunda vez, Ele ora, ele diz: “Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade”. Ele concorda com a justiça de Deus em dar-lhe tal cálice para beber. Ele é o Cordeiro de Deus. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

(2). Você se lembra dEle na cruz? Naquele lugar, Deus escondeu o rosto dEle. Durante três horas  o sol  se recusou a brilhar sobre a cruz; trevas pairaram sobre a terra. Todavia, mais profunda era a escuridão remoendo a alma do Redentor. O rosto de Deus se recusou a brilhar sobre Seu Filho. Todavia, disse Ele que aquilo era injusto? Não. Ele disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Ele disse: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. À hora nona clamou: “Eloi, Eloi, lama sabactâni”, palavras não de murmuração, mas de agonia. Uma vez mais, Ele clamou: “Tenho sede”. E depois exclamou: “Está consumado. Pai, nas tuas mãos entrego o Meu espírito”. Estas são todas as palavras que Jesus disse sobre a cruz. Ele não lamentou: “Por que estou aqui? Eu sou o Senhor da glória; por que Eu deveria estar pendurado entre o céu e a terra? Pai Justo, Eu jamais pequei, sempre fui santo, inocente sem imperfeição; por que Eu deveria sofrer assim?”. Mas, não; Ele esteve em silêncio sob Seus sofrimentos, tanto da parte de Deus e do homem. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

II. Indaguemos os motivos pelos quais Cristo esteve em silêncio sob Seus sofrimentos.

 

1. Porque Ele sabia que Seus sofrimentos eram todos infinitamente justos. Quando uma pessoa está passando por um julgamento; uma vez acusada, prestado testemunho, e condenada; se ela é realmente culpada dos crimes atribuídos, ela se silencia, e diz: eu mereço tudo isso. Se ela tem qualquer senso de justiça em sua alma, ela estará convencida e contristada; não responderá a uma palavra; ela sente que sua condenação é justa e honesta, e, portanto, ela está muda. Exatamente assim foi com Cristo. Ele tinha um senso infinito de justiça; e por esse motivo, tanto em suas acusações pelos homens quanto em suas pisaduras sob a ira de Deus, Ele não respondeu uma palavra. Ele era um Cordeiro mudo.

 

Pergunta. Como era justo Cristo que deveria padecer, quando Ele não tinha cometido as coisas que lhes foram atribuídas?

 

Resposta. De fato, Ele era santo. Ele era o Filho de Deus, infinitamente santo! Quando Ele Se tornou homem, ainda sim, Ele era algo santo. Durante toda a Sua vida Ele foi santo, inocente, sem imperfeição, e separado dos pecadores; e em Sua morte ele era O Cordeiro sem mancha e sem defeito. Entretanto, ainda assim Ele era o Substituto no lugar dos pecadores. “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; [para que nele fôssemos feitos justiça de Deus]”. Aquele que era o Filho do Deus Bendito tornou-Se maldição por nós. As injúrias que eram nossas, caíram sobre Ele. Ele estava no lugar de blasfemos, glutões, bebedores, enganadores, ladrões e assassinos, os desamparados de Deus; e, portanto, era muito justo que os sofrimentos devidos a estes pecadores caíssem sobre Ele; e assim, quando foi acusado e condenado, Ele não abriu a boca: “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”. Você está unido a Cristo? Então, há uma poderosa consolação para você. Se foi justo que Cristo sofresse, então não é justo que você sofra. Ele ficou em silêncio e não abriu a Sua boca quando a ira de Deu foi derramada sobre Ele. Mas, ah! Ele clamaria em voz altíssima se a ira fosse derramada sobre você. Você já foi condenado, esbofeteado, e cuspido, você já foi ferido. Você nunca terá que sofrer nada mais sob a ira de Deus. “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, [ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.]”.

 

2. Porque Ele quis manter a Sua parte na Aliança. Antes que o mundo o mundo existisse, Ele fez Aliança com o Pai de que Ele permaneceria como Substituto pelos pecadores; e, portanto, quando Ele veio a sofrer, a Sua própria retidão o susteve, e Ele pôs o Seu rosto como um seixo. Quando um homem fraco compromete-se com alguma parte difícil do serviço, muitas vezes, ele é altivo e arrogante antes de começar; mas, quando ele chega até a ocasião, sua coragem desfalece, e ele volta atrás em sua palavra.  Não foi assim com o Filho de Deus. Ele prometeu que Ele suportaria a maldição que pairava sobre os pecadores. Ele apertou a mão do Pai, Ele seria o Jonas deles, a deitar-Se sobre o mar da Sua ira: “Levantai-Me”, ele disse, “lançai-Me ao mar da ira”. E assim, Quando, as ondas e vagas vieram sobre Ele, ele não reclamou nem murmurou. Ele pôs o Seu rosto com firmeza. Ele tinha jurado uma vez, pela Sua santidade, e Ele não Se desviaria daquilo. Ele não mudaria o que tinha saído de Seus lábios. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

Uma palavra ao que está despertado. Confie em Cristo como Salvador. Ele é digno de toda a sua confiança. Se eu tivesse dito que o Filho de Deus Se comprometeu a sofrer no lugar dos pecadores, certamente isso deveria dar-lhe paz; pois se Ele Se comprometeu, Ele o cumpriria. Mas, somos enviados para dizer-lhe que Ele cumpriu aquilo com que Se comprometeu. Ele é fiel e cumpridor dos Seus pactos. Venha e olhe para aquele Cordeiro mudo. Veja-O conduzido desde o jardim a Caifás, de Caifás a Pilatos, e de Pilatos a Herodes, de Herodes a Pilatos novamente, e de Pilatos até o Calvário. Veja Ele carregando aquela cruz pesada sobre os ombros; veja-O levar a ira de Deus sobre a Sua cabeça; e ainda assim jamais murmurar. Ele não diz: “Pai, esses pecados não são Meus”. Não; Ele mantém a verdade para sempre. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”. E como você retribui a tudo isso? Você diz: “Eu não me atrevo a acreditar”. Ah! Ele merece isto da sua parte, que O chames de mentiroso? Aquele que não crê em Deus, faz dEle mentiroso.

 

3. Devido ao Seu amor. Foi o amor por pecadores que pereciam que fez o Filho de Deus entrar em aliança com o Seu Pai e suportar a ira em lugar deles. Foi o mesmo amor em Seu seio que fez Ele manter a aliança que Ele tinha feito. Ah! Foi o amor que O fez calar. As cordas com que os soldados prendiam-nO estavam apertadas e fortes; mas, oh! Seu amor estava amarrando-O mais firmemente do que tudo. Os pregos que perfuraram as Suas mãos e pés O prendiam firmemente na cruz sangrenta; mas, oh! Seu amor foi o prego mais forte; e era mais forte do que a morte. Quando os judeus O acusavam, e Ele não respondeu uma palavra, foi amor aos pecadores que O fez calar. Quando Herodes O questionou, e Pilatos O condenou, a Sua humanidade trêmula disse: Não sou culpado. Mas, oh! O Seu amor disse: “Sim; Eu sou culpado de tudo”. Quando o Seu pai O feriu com fardos de desconhecida agonia, no jardim e na cruz; quando a ira infinita do Deus infinito foi condensada num sofrimento de três horas; quando tudo isso curvou a Sua cabeça bendita, Sua encolhida humanidade disse, interiormente: “Eu nunca pequei, esta ira não é Minha; Eu não deveria suportá-la”. Mas, ah! O Seu amor disse: “Ou Eu, ou o Meu povo deve suportá-la; Eu vou suportar isso por eles”. Oh, crentes! eis como ele vos ama. Certamente este amor era mais forte do que a morte. Um dilúvio de ira não poderia apagar esse amor. Você pode contar as gotas do oceano? Então, você poderá sondar as profundezas de Seu amor por você. Você pode medir a distância entre o mais alto trono nos céus, e a mais profunda masmorra no Inferno? Essa é a medida de Seu amor por você.

 

Alguns de vocês ousam não crer em Jesus. Ah! É esta a maneira que você retribui o amor do mudo Cordeiro de Deus? Ele não respondeu quando foi acusado. Ele não murmurou, quando condenado. Quando Deus derramou ira sobre Ele […] Ele consentiu em suportar a ira, para que todo pecador que O olhasse [com fé] pudesse ser liberto; e ainda assim, você não olhará para o Cordeiro de Deus. Oh! você ofende-O e crucifica-O de novo.

 

4. Ele ficou em silêncio, porque Ele procurou a glória de Seu Pai. Eu frequentemente tentei mostrar-lhes que é mais glorioso para Deus quando o pecado é punido em Seu próprio filho, ao invés de em nós vermes desprezíveis que o cometeram. Se os pecadores carregam os seus próprios pecados, então eles devem sofrer eternamente, de modo que a justiça de Deus nunca ficará satisfeita. Eles sempre terão mais a sofrer, e Deus nunca terá plena glória a partir deles. Mas quando Cristo sofre no lugar de um pecador, então Deus é satisfeito de uma só vez. Ele é infinitamente glorificado. Agora, Cristo sabe disso muito bem disto. Ele veio buscar a glória de Seu Pai: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” [João 6:38]. Por isso, ele esteve mudo, para que Deus pudesse ter mais glória nos sofrimentos consumados de Seu próprio Filho, do que nos sofrimentos eternos dos pecadores. “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”. Por isso Ele disse: “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” [Salmos 40:8]. Por isso, Ele Se apressou a ir para Jerusalém.

 

Uma palavra ao que está despertado. Alguns de vocês se recusam a crer, com receio de manchar a glória de Deus. Você teme que não pode ser compatível com a glória do tão puro e santo Deus recebê-lo, perdoá-lo e dar-lhe paz. Tu és mais sábio do que Cristo? Cristo temia que Deus perderia uma porção de Sua glória se os pecadores pudessem pagar por seus próprios pecados, pois a justiça infinita nunca chegaria a um patamar suficiente. Por isso Ele esteve mudo sob a ira de Deus, para que a justiça pudesse ser plenamente satisfeita em Seus sofrimentos infinitos. Seja sábio, eu suplico a você; Deus é mais glorificado por seu sofrimento em Cristo, do que pelo seu próprio sofrimento no Inferno. Será muito mais honroso a Deus, se você se apegar Àquele ferido, mudo Cordeiro, do que se você tiver que suportar a ira de Deus para todo o sempre. “Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos” [Jeremias 13:16].

 

III. O pão partido representa os sofrimentos silenciosos de Cristo.

 

 Hoje, meus amigos, eu ponho diante de vós a mais simples e sincera figura dos sofrimentos silenciosos de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus. Naquela noite em que Ele foi traído, tomou o pão. Por que o pão? 1. Devido à Sua simplicidade e caráter comum. Ele não tomou a prata, nem ouro, nem joias, para representar o Seu corpo, mas pão, simples pão, para mostrar-lhes que, quando Ele veio ser um Fiador para os pecadores, Ele não veio em sua glória original, com os anjos do Pai. Ele não tomou sobre Si a natureza dos anjos, Ele Se tornou homem. 2. Ele escolheu o pão para mostrar-lhes que Ele era mudo, e não abriu a boca. Quando eu parto o pão não há resistência, ele não se queixa, ele cede à minha mão. Assim foi com Cristo; Ele não resistiu, não reclamou, Ele cedeu à mão da justiça infinita. “Como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”.

 

Alguns de vocês não creem. Vocês não consentem em tomar este Cordeiro mudo como uma oferta pelo pecado da vossa alma. Assim como não sentem a sua necessidade dEle, ou não têm fé para olhar para Ele. Todavia se vocês realmente não olharem para Ele, não sejam tão imprudentes, e tão ousados, tão inconsistentes em tomar o pão e o vinho.

 

Alguns de vocês creem no mudo Cordeiro de Deus. Vocês dizem: “Foi o meu pecado que tanto pesou em Seu coração. Meus pecados eram os espinhos que perfuraram a Sua fronte. Meus pecados foram os pregos que perfuraram as Suas mãos e pés. Meus pecados eram a lança que perfurou o Seu coração. Ele me amou, e Se entregou por mim”. Venham, então, para o pão partido e o vinho derramado, se alimentem deles, apropriem-se de Cristo neles; e enquanto vocês alimentam-se de Cristo [espiritualmente], façam isso em memória dEle.

 

Sermão de Ação, Dundee, 1837.