O Silêncio do Cristão Sob o Ardor da Vara, por Thomas Brooks

Sumário

Apresentação.

Quando Ele não demonstra ira!

Todo Inferno que você alguma vez terá!

Então a escória aparece!

Quando Munster estava doente.

O Pai sabe o que é melhor!

Tudo deste lado do Inferno é misericórdia.

Uma concupiscência não mortificada!

Você tem sido por muito tempo uma concentração de ferrugem.

Quando você tenta entronizar a criatura!

Tu és a pessoa que fez isso!

Todo mel nos faria mal

Quanto mais um Cristão é tentado.

Tentações desagradáveis.

Apenas um desconforto.

Nossos sofrimentos presentes.

E você vai murmurar?

Alguma Dalila.

Paulinus Nolanus.

Uma joia mais preciosa do que um mundo!

Um homem elevado no domínio das tentações!

Essas lições!

Nossas aflições estão sendo santificadas.

Se este basilisco não for esmagado no ovo!

Aquele que tem merecido uma morte cruel

Nunca falta a ele uma maçã para uma Eva.

Sua oficina produz constantemente o Inferno.

Pode um verme impedir o golpe do Todo-Poderoso?

Muitas são as aflições do justo.

Foi-me bom ter sido afligido!

O mel e o ferrão!

Tu tens um maior interesse em mim, do que eu tenho em mim mesmo.

Seja qual for o tempo que agrada a Deus, a mim me agrada!

Ponha a mão na boca e fique em silêncio.

A causa meritória de todas as nossas dores e sofrimentos.

Enfermidades, dores, doenças, agonias.

Cada ramo tem uma voz.

Viver pela fé.

Todas as suas angústias e aflições passadas

Um tolo como seu professor

Os mais agudos tratamentos de Deus com você.

O doce mel das ervas amargas.

Porque minha dor é interminável?

Ele ousou cuspir na face do próprio Deus!

Quando Satanás está mais ocupado.

 


 

Apresentação

 

O Silêncio do Cristão sob o Ardor da Vara surgiu pela primeira vez em 1659. Brooks declarou seu propósito no prefácio:
 

Para que todos os aflitos e os Cristãos em dificuldades possam ter um bálsamo adequado para cada ferida, um remédio adequado à mão contra todas as doenças. Aqui ele pode encontrar argumentos para silenciá-lo, e os meios para acalmá-lo quando estiver na pior situação consigo mesmo.

 

Thomas Brooks (1608-1680) foi um pregador não-conformista que nasceu numa família puritana. Estudou em Cambridge, tornou-se um congregacionalista e serviu como capelão na Guerra Civil Inglesa. Somente após tornar-se convicto de seus princípios congregacionais em 1648 é que se tornou reitor na paróquia de St. Margaret da Igreja da Inglaterra em Londres. Em várias ocasiões pregou perante o Parlamento. Mas foi expulso após o ato de uniformidade em 1662 e manteve-se em Londres como um pregador não-conformista. Ministrou em Londres durante a Grande Peste e o grande incêndio; e em 1672 foi-lhe concedida uma licença para pregar em Lime Street.

 

Brooks escreveu mais de uma dúzia de livros, que incluem Preciosos Remédios Contra as Ciladas de Satanás, O Silêncio do Cristão Sob o Ardor da Vara e Céu na Terra. Seus escritos são sempre centrados em Cristo, preenchidos com as Escrituras e, geralmente, de caráter devocional. Charles Spurgeon disse uma vez a seus alunos:

 

Thomas Brooks é um sinal de exemplo do uso sábio e rico de santas imaginações… Ele tem pó de ouro. Mesmo nas margens de seus livros há sentenças que excedem em preciosidade bem como indicações de histórias clássicas. Seu estilo é claro e completo; ele nunca excede na ilustração nem perde de vista a sua doutrina. Suas inundações de metáforas não afogam seu significado, mas flutuam sobre sua superfície. Se você nunca leu suas obras eu quase lhe invejo a alegria que terá ao iniciar pela primeira vez…

 

Brooks foi sepultado em Bunhill Fields, Londres.

 


 

O Silêncio do Cristão Sob o Ardor da Vara

 

 

“Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a todo filho a quem recebe.”

(Hebreus 12:6)

 

 

Quando Ele não demonstra ira!

 

Não pode haver uma maior evidência do ódio e da ira de Deus do que Sua recusa em corrigir os homens por seus caminhos pecaminosos e por suas vaidades!

 

Quando Deus recusa-se a corrigir, resolve destruir! Não há homem tão perto do machado de Deus, tão perto das chamas, tão perto do Inferno, quanto aquele a quem Deus deixa de colocar em grande medida sob sua vara! “Eu repreendo e castigo a todos quanto amo; sê, pois zeloso, e arrepende-te” (Apocalipse 3:19).

 

Deus mostra-se muito mais furioso quando Ele não demonstra ira!

 

Quem pode meditar seriamente sobre isso e não ficar em silêncio sob o ardor da vara de Deus?

 

Todo Inferno que você alguma vez terá!

 

Considere Cristão, que todas as provas e problemas, calamidades e misérias, cruzes e perdas que você encontrar neste mundo, será o único Inferno que você terá!

 

Aqui e agora, você tem o seu Inferno. Logo mais, você deverá ter o seu Céu! Sua pior condição é aqui e agora; o melhor ainda está por vir!

 

Lázaro teve primeiro o seu Inferno, e, por último, o seu Céu; mas o Dives[1] (homem rico) teve primeiro o seu Céu e, por último, o seu Inferno. Aqui você tem todas as suas dores e mais dores, e deverá ter sempre seus estertores! Mas seus anelos, descanso e prazer ainda estão por vir!

 

Aqui você tem todas as suas amarguras, mas as suas doçuras ainda estão por vir! Aqui você tem as suas tristezas, mas as suas alegrias ainda estão por vir! Aqui você tem todas as suas noites de inverno, mas os seus dias de verão ainda estão por vir! Aqui você tem todos os seus males, porém, suas benesses ainda estão por vir!

 

A morte porá fim a todos os seus pecados e a todos os seus sofrimentos! A morte será uma entrada para essas alegrias, prazeres e confortos que nunca terão fim!

 

Quem pode meditar seriamente sobre isso sem que fique em silêncio sob o ardor da vara de Deus?

 

Então a escória aparece!

 

Poucos Cristãos veem e compreendem a si mesmos corretamente. Nas provações, Deus revela grande parte da pecaminosidade de um homem a fim de levá-lo à piedade. Quando o fogo é colocado sob a panela, logo aparece a escória. Assim, quando Deus prova uma pobre alma, Oh! Como… a escória do orgulho, a escória da murmuração, a escória da desconfiança, a escória da impaciência, a escória do mundanismo, a escória da carnalidade, a escória da loucura, a escória da obstinação — que se revela no coração da pobre criatura?

 

Os julgamentos são o espelho de Deus em que Seu povo pode ver suas próprias falhas. Oh! Que frouxidão, que vileza, que miséria, que bacia de imundícia, que abismo de maldade que as provações revelam existir em seus corações! “Eis que te purifiquei, mas não como a prata; eu escolhi-te na fornalha da aflição” (Isaías 48:10).

 

Quando Munster[2] estava doente

 

“Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te” (Apocalipse 3:19). “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a todo filho a quem recebe” (Hebreus 12:6). Todas as aflições que vêm sobre os santos são os frutos do amor divino.

 

Quando Munster estava doente e seus amigos lhe perguntaram como se sentia, ele apontou para as suas muitas feridas e úlceras e disse: “Essas são pedras preciosas e joias de Deus com as quais Ele golpeia os seus melhores amigos, e para mim são mais preciosas do que todo o ouro e prata do mundo!”.

 

“Foi-me bom ter sido afligido…” (Salmos 119: 71). No amor, ó Cristão, Deus o aflige! Por isso Lutero clamava “Golpeia, Senhor, golpeia, Senhor! E não poupe!”.

 

O Pai sabe o que é melhor!

 

“Pois eles por alguns dias nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade” (Hebreus 12:10).

 

O que Deus, nosso Pai deseja é o melhor. Quando Ele quer a doença, esta é melhor do que a saúde. Quando Ele quer a fraqueza, esta é melhor do que a força. Quando quer a pobreza, esta é melhor do que a riqueza. Quando quer a repreensão, esta é melhor do que a honra. Quando quer a morte, esta é melhor do que a vida.

 

Posto que Deus é a própria sabedoria, assim sabe o que é melhor; sendo Ele a própria bondade, não fará nada daquilo que não seja o melhor; portanto, permaneça em silêncio diante do Senhor.

 

Tudo deste lado do Inferno é misericórdia

 

Oh! Trabalhe todos os dias para vir a ser mais humilde; mais diminuto e pequeno aos seus próprios olhos. “Quem sou eu”, diz a alma humilde, “senão aquele sobre quem Deus faz repousar Sua misericórdia e de mim a tira, passando sobre cada misericórdia uma sentença de morte? Eu não sou digno da menor misericórdia; eu não mereço uma migalha de misericórdia; eu tenho desprezado cada misericórdia”.

 

Da soberba vem apenas contenção. É o orgulho que move os homens a contenderem com Deus. Uma alma humilde repousará tranquila aos pés de Deus e se contentará com as necessidades básicas. O homem humilde aprecia bem um jantar de legumes, enquanto um boi cevado é apenas um prato grosseiro ao estômago do homem orgulhoso. Um coração humilde não considera alguém inferior ou pior do que a si mesmo. Um coração humilde olha para as pequenas misericórdias como grandes misericórdias, e para as grandes aflições como pequenas aflições, e para as pequenas aflições como se não fossem aflições, e, portanto, fica mudo e silencioso sob todas elas. Mantenha-se humilde e você ficará em silêncio diante do Senhor.

 

Lance fora o orgulho, a agitação e a inquietação; assim, um homem humilde manterá a mão sobre sua boca. Tudo deste lado do Inferno é misericórdia, muitas e ricas misericórdias para uma alma humilde; e, portanto, ela permanece muda debaixo da ardente vara.

 

Uma concupiscência não mortificada!

 

De nada valerá suas mais fortes resoluções ou propósitos se não tiverem a graça do Espírito o qual pode dominar a concupiscência. Uma alma agitada continuará seu curso, apesar de determinarmos e dizermos que não. Era o sangue do sacrifício e do azeite que, pela lei, purificava o leproso. E por isso entendemos a respeito do sangue de Cristo e da graça do Seu Espírito (Levítico 14:14-16). Foi o tocar das vestes de Cristo que curou a mulher do seu fluxo de sangue.

 

As suas mais fortes resoluções ou propósitos podem esconder um pecado, mas não podem apagá-lo. Elas podem cobrir um pecado, mas não podem removê-lo. O remendo preto[3] pode cobrir uma ferida, mas não curá-la! Também não são os purgatórios dos papistas, as vigílias, as chibatadas, nem o beijo da estátua de São Francisco ou a lambedura da ferida de leprosos que vão remover a lepra roedora do pecado!

 

Na força de Cristo e na força do Espírito, empenhe-se profundamente na mortificação de toda espécie de concupiscência! Oh, não abrace, não ceda, mas empenhe-se resolutamente na para destruir toda luxúria! Um vazamento num navio o fará afundar! Uma punhalada certeira é capaz de matar um Golias tanto quanto as vinte e três que mataram César! Uma Dalila pode fazer tão mal a Sansão quanto fizeram todos os filisteus! Uma engrenagem quebrada estraga todo o relógio! Um sangramento numa artéria fará perder todos os sinais vitais! Uma mosca vai estragar todo o pote de unguento! Uma erva amarga vai estragar todo o ensopado! Ao comer o fruto Adão perdeu o paraíso! Uma gota de mel colocou em perigo a vida de Jônatas! Um Acã foi um problema para todo o Israel! Um Jonas suscita uma tempestade e torna-se um fardo pesado demais para o navio inteiro!

 

Da mesma forma, uma concupiscência não mortificada atraíra fortes tempestades e muitas tormentas na alma! E, portanto, enquanto você tem uma abençoada calma e quietude em seu próprio espírito sob aguda provação, empenhem-se cuidadosamente na obra da mortificação.

 

Gideão teve setenta filhos e apenas um deles bastardo, apenas um, e ele destruiu todos os seus setenta filhos! Ah, Cristão! Você não sabe o que imensidão de danos uma concupiscência não mortificada pode fazer? Portanto, não deixe nada satisfazê-lo senão apenas a morte de todas as suas concupiscências.

 

Você tem sido por muito tempo uma concentração de ferrugem

 

“Oh! Mas minhas aflições são maiores do que as dos outros homens! Oh! Não há aflição como a minha! Como posso não murmurar?”. Pode ser que os seus pecados sejam maiores do que os de outros homens. Se você tiver pecado contra mais luz, mais amor, mais misericórdias e mais promessas, não é de admirar que suas aflições sejam maiores do que a dos outros! Se este for o seu caso, você tem mais motivos para estar em silêncio do que para murmurar!

 

Pode ser que o Senhor considere muito necessário fazer com que suas aflições sejam maiores do que as dos outros. Pode ser que seu coração seja mais endurecido, mais orgulhoso e mais inchado do que os corações de outros homens. Ou que seja mais impuro, mais carnal, mais egoísta e mais mundano do que os outros; ou então mais enganoso e mais hipócrita ou mais frio e descuidado ou mais formal e morno do que outros.

 

Agora, se esse for o seu caso, certamente Deus considera muito necessário que suas aflições sejam maiores que a dos outros a fim de quebrar a dureza de seu coração, humilhar o seu orgulho, limpar sua sujeira para então, espiritualizar a carnalidade de seu coração. Por isso, não murmure!

 

Quando a doença é forte, o remédio deve ser forte; caso contrário, a cura nunca acontecerá! Deus é um sábio médico, e Ele nunca daria remédio forte se um mais fraco pudesse realizar a cura! Quanto mais enferrujado for o prego mais necessário será deixá-lo no fogo para purificá-lo. E quanto mais torto for, maiores e mais fortes serão os golpes necessários para endireitá-lo.

 

Você tem sido por muito tempo uma concentração de ferrugem, e, portanto, se Deus está tratando assim com você, não há motivo algum para reclamar.

 

“Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe” (Hebreus 12:6)

 

Quando você tenta entronizar a criatura!

 

Oh Cristão! Deus removeu um de seus mais doces confortos, prazeres e benesses! Pode ser que você os tenha amado demais, estimado demais e se encantado demais com eles. Bem pode ser que eles, muitas vezes, possuíram seu coração quando deveriam possuir apenas a sua mão. Pode ser que seus cuidados, preocupações, confiança e contentamento tenham sido postos em tais confortos e prazeres ao invés de serem postos em objetos mais nobres!

 

Seu coração é o leito de especiarias de Cristo, e bem pode ser que você tenha alojado nele suas próprias benesses, enquanto Cristo foi colocado para fora! A elas você dedicou o melhor de si, enquanto o pior foi relegado a Cristo!

 

Diz-se de Rúben que ele subiu ao leito de seu pai (Gênesis 49:4). Ah! Quão frequentemente algum conforto da criatura coloca-se entre a alma e Cristo! Quantas vezes seus queridos prazeres vão para o leito que é exclusivamente de Cristo! Suas mais próximas e estimadas benesses têm ocupado o leito de amor de Cristo — o seu coração!

 

Agora, se você aceitar um marido, um filho, um amigo e introduzi-lo naquele quarto da sua alma, que só pertence a Deus, Ele os amargará, os removerá ou os trará à morte. Se acontecer que o amor de uma esposa se volte mais para um criado do que para o marido, este removerá o criado, ainda que o tal criado tenha tão grande valor como o do ouro. Agora, se Deus o privou de Sua misericórdia pelo fato de você ter muitas vezes cometido adultério espiritual e idolatria, tem você algum motivo para murmurar?

 

Há aqueles que amam suas benesses até o túmulo, que as abraçam até à morte e lhas beijam até que tais o matem! Em muito um homem tem arruinado suas benesses por ornamentá-las demais acima de qualquer valor! Em muito um homem tem afundado seu navio de benesses por sobrecarregá-lo. Um amor elevado pelas benesses raramente tem longa duração. A maneira de se perder suas benesses é satisfazê-las! O caminho para destruí-las é concentrar suas mentes e corações nelas. Você pode escrever amargura e morte sobre aquela primeira benesse que inicialmente tomou de Deus o seu coração.

 

Cristão! Seu coração é o trono real de Cristo, e neste trono Cristo será o chefe! Ele jamais suportará qualquer concorrente! Se você tentar entronizar a criatura, ela nunca lhe será próxima e querida, pois Cristo vai destroná-la! Ele vai destruí-la! Quem aspirar ao Seu trono real, Ele vai rapidamente colocá-lo no leito de pó!

 

“Dize à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu profanarei o meu santuário, a glória da vossa força, o desejo dos vossos olhos, e o anelo das vossas almas; e vossos filhos e vossas filhas, que deixastes, cairão à espada” (Ezequiel 24:21).

 

Tu és a pessoa que fez isso!

 

“Emudeci; não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste” (Salmo 39:11).

 

Nestas palavras, você pode observar três coisas:

 

1. A pessoa que fala é Davi, o rei Davi, o santo Davi, “um homem segundo o coração de Deus”, um Cristão. E aqui olhamos para Davi não como um rei, mas como um Cristão, como um homem cujo coração era reto para com Deus.

2. Davi age e se porta sob a mão de Deus com estas palavras: “Emudeci; não abro a minha boca”.

3. A razão da humildade e doçura de sua postura encontra-se nestas palavras: “fizeste isso”, ou, em outras palavras, “Tu és a Pessoa que fez isso!”.

 

A proposição é esta: Que é um grande dever e preocupação das almas graciosas emudecerem-se e silenciarem-se sob as maiores aflições, sob as mais tristes providências e sob as mais agudas provações que se encontrem neste mundo.

 

O silêncio de Davi é um reconhecimento de que Deus é o autor de todas as aflições que nos sobrevêm. Mesmo na mais pequenina dor há o dedo de Deus, ainda que seja uma dor do dedo mínimo.

 

Davi olha para todas as causas secundárias através da primeira causa e fica em silêncio. Ele vê a mão de Deus em tudo, e assim fica mudo e quieto. A visão de Deus na aflição possui a eficácia irresistível de silenciar o coração e calar a boca de um homem piedoso.

 

Homens que não veem Deus em uma aflição são facilmente lançados delírios. Eles rapidamente baterão boca e quando suas paixões se elevarem e os seus corações inflamarem-se, começarão a ser insolentes e não mudarão seus pensamentos quanto a isso, falando contra a face de Deus, de que têm razões suficientes para estar furiosos.

 

Aqueles que não reconhecem a Deus como o autor de todas as suas aflições estão prestes a cair no louco princípio dos maniqueístas, os quais mantiveram o Diabo como o autor de todas as calamidades; como se pudesse haver qualquer mal ou aflição na cidade sem que haja a mão do Senhor nisso (Amós 3:6).

 

Se a mão de Deus não pode ser vista numa aflição, o coração nada pode fazer a não ser irritar-se e enfurecer-se sob a aflição. Aqueles que podem ver a mão de Deus ordenando todas as suas aflições colocarão, com Davi, suas mãos sobre a boca quando a vara de Deus estiver sobre suas costas!

 

Eles veem nisto que é o Pai quem colocou essa amarga taça em suas mãos; que o amor colocou essas cruzes pesadas sobre os seus ombros e que a graça é quem colocou os jugos em torno de seus pescoços; e isto traz muita quietude e tranquilidade para seus espíritos.

 

Quando o povo de Deus está sob a vara, Deus produz, por Seu Espírito e Palavra, uma doce música em suas almas, acalmando todos os impulsos tumultuosos, paixões e perturbações. “Emudeci; não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste” (Salmo 39:11).

 

Todo mel nos faria mal

 

“Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida; o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo 30:5).

 

Seu lamento poderá durar apenas até de manhã. Deus vai transformar… sua noite de inverno em um dia de verão; seu gemido em canto; sua dor em alegria; seu pranto em música, seu amargor em doçura, seu deserto em paraíso.

A vida de um Cristão é preenchida com intercâmbios de doença e saúde, fraqueza e força, necessidade e riqueza, vergonha e honra, cruzes e confortos, misérias e misericórdias, alegrias e tristezas, gozo e luto.

 

Todo mel nos faria mal e todo absinto poderia nos destruir. Uma composição de ambos é a melhor maneira de manter nossas almas em uma constituição saudável. É melhor e mais saudável à alma que ambos, o caloroso vento da misericórdia e o gélido vento da adversidade soprem nela. Não obstante, sempre que qualquer um dos ventos soprar será benéfico aos santos, já que certamente seus pecados serão mais mortificados e suas graças crescerão melhor quando estiverem sob o frígido, árido e cortante vento frio da calamidade, bem como sob o quente e nutritivo vento da misericórdia e da prosperidade.

 

Quanto mais um Cristão é tentado

 

Deus teve apenas um Filho sem corrupção, mas Ele não teve nenhum sem tentação! Através das tentações o Senhor conformará o Seu povo mais e mais à imagem de Seu Filho. Cristo foi muito tentado; Ele foi muitas vezes à escola da tentação. E quanto mais um Cristão é tentado mais à semelhança de Cristo será transformado. Os Cristãos mais tentados assemelham-se mais a Cristo em mansidão, humildade, santidade, etc. A imagem de Cristo, frequentemente, é muito mais estampada sobre as almas tentadas. Almas tentadas olham mais para Jesus, e cada olhar gracioso sobre Cristo transforma a alma mais e mais à Sua imagem. A cada gracioso olhar para Cristo a alma muda mais e mais à Sua imagem. Almas tentadas experimentam mais do auxílio de Cristo e quanto mais elas experimentam o Seu doce socorro, mais crescem à Sua semelhança.

 

As tentações são os instrumentos pelos quais o Pai cada vez mais esculpe, forma e amolda Seus preciosos santos à figura e semelhança do Seu precioso Filho. Através das tentações, Deus torna o pecado mais odioso, o mundo menos encantador e as relações menos dolorosas.

 

Tentações desagradáveis

 

O homem não é menos amado por Deus por ser tentado. Aqueles a quem Deus mais ama geralmente são mais tentados. Disso testemunham Davi, Jó, Josué, Pedro, Paulo, sim, o próprio Cristo, o Qual, tendo sido amado acima de todos os outros, assim foi tentado acima de todos os outros! Ele foi tentado na questão de Sua filiação; foi tentado à pior idolatria, isto é, adorar o diabo; à maior infidelidade, a desconfiar da providência de Seu Pai e de usar meios ilegais para suprimentos necessários; ao autoassassinato, “Lança-te daqui a baixo!”, etc. Deus teve apenas um Filho sem corrupção, mas nenhum sem tentação!

 

Aqueles que uma vez foram gloriosos na terra e agora estão triunfando no Céu foram severamente tentados e atacados por Satanás. Aos santos eleitos é natural e comum serem tentados assim como é natural e comum que o sol brilhe, o pássaro voe, o fogo queime. A águia não se queixa de suas asas, nem o pavão de sua fileira de plumas, e nem o rouxinol de sua voz, pois lhes são naturais. Assim, não devem os santos reclamar de suas tentações, pois estas lhes são naturais.

 

“Toda a nossa vida nada é senão uma tentação!”. Os melhores homens têm sido mais rigorosamente tentados! Tentações resistidas e rejeitadas não o ferirão, nem o prejudicarão.

 

Tentações desagradáveis dificilmente nos afetarão. Enquanto a alma permanece distante delas e sua vontade permanece firmemente avessa a elas, não poderão fazer nenhum dano. Enquanto a linguagem da alma for: “Para trás de mim, Satanás!”, ela estará segura. Não se trata de Satanás ser o tentador, mas o meu assentimento; não é a sua sedução, mas a minha rendição que me arruinará! Tentações podem ser perturbadoras para minha mente, mas não são pecados em minha alma enquanto eu as rejeitar. Se seu coração estremece e sua carne abala-se quando Satanás o tenta, sua condição está segura o bastante. Se as tentações de Satanás são as suas maiores aflições, elas nunca o subjugarão ou o prejudicarão!

 

Apenas um desconforto

 

Cristão! Suas aflições presentes não são grandes se comparadas com as aflições e tormentos de muitos dos condenados que, quando estavam neste mundo, nunca pecaram com tanta intensidade e em tanta medida quanto você! Há muitos agora no Inferno que nunca pecaram contra semelhante luz reluzente como você; nem contra semelhante amor especial como você; nem contra semelhantes preciosas mercês como você! Certamente, agora há muitos que, embora nunca tendo pecado como você, estão urrando em chamas perpétuas!

O que são as suas aflições, os seus tormentos presentes comparados aos tormentos dos condenados, os quais são sem número, insondáveis, irremediáveis e infinitos? Cujas dores são sem tréguas; cujo cardápio consiste de, no primeiro prato, serem servidos de lamentos; no segundo prato, de ranger de dentes; no terceiro prato, por vermes roedores; e, no quarto prato, de intolerável dor!

 

No entanto, a dor do corpo é a menor parte da dor. A verdadeira essência da tristeza e dor consiste na tristeza e dor da alma! A alienação eterna e a separação de Deus são servidas no quinto prato!

 

Ah, Cristão! Como você pode pensar seriamente sobre essas coisas e não colocar sua mão na boca, mesmo quando estiver sob os maiores sofrimentos temporais? Seus pecados têm sido muito maiores do que muitos dos que estão agora no Inferno, e as suas “grandes” aflições são apenas um desconforto comparadas às deles! Portanto, abafe seu murmúrio e fique em silêncio diante do Senhor!

 

Nossos sofrimentos presentes

 

Tal é o esplendor, o brilho, a glória, a felicidade e a bem-aventurança que estão reservados aos santos no Céu que, se tivesse todas as línguas dos homens na terra e todas as excelências dos anjos no Céu, não seria capaz de conceber nem expressar essa visão da glória que espera o Cristão! Essa glória é inconcebível e inexprimível! É melhor que venham logo tais coisas, as quais podemos sentir e desfrutar mesmo sem nunca podermos declarar!

 

Todos os problemas, aflições e tristezas desta vida devem ser considerados como nada em comparação com a felicidade e bem-aventurança eterna. Eles são apenas como a ponta de um alfinete em comparação com o Céu estrelado.

 

“Pois tenho para mim que os sofrimentos do tempo presente não são dignos de ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8:18).

 

E você vai murmurar?

 

Não é Cristo o seu tesouro? Não é o Céu sua herança? Como pode, então, murmurar?

 

Você não tem muito na mão e mais em esperança? Você não tem muito em posse, mas muito mais o que está reservado nos Céus? E você murmurará?

 

Deus não lhe deu… um coração transformado, uma natureza renovada e uma alma santificada? E você vai murmurar?

 

Ele não tem dado a você … Ele mesmo para satisfazê-lo, Seu Filho para salvá-lo, Seu Espírito para guiá-lo, Sua graça para adorná-lo, Sua aliança para garanti-lo, Sua misericórdia para perdoá-lo, Sua justiça para vesti-lo? E você vai murmurar?

 

Ele não tem feito de você… um amigo, um filho, um irmão, uma noiva, um herdeiro? E você vai murmurar?

 

Acaso Deus muitas vezes não transformou… A sua água em vinho, o seu bronze em prata e a sua prata em ouro? E você vai murmurar?

 

Quando você estava morto Ele não o vivificou? Quando estava perdido, Ele não o procurou? Quando estava ferido, Ele não o curou? Quando estava caindo, Ele não o apoiou? Quando estava ao chão, Ele não o levantou? Quando estava vacilante Ele não o estabeleceu? Quando estava no erro Ele não o corrigiu? Quando você foi tentado Ele não te sustentou? E quando você esteve em perigos Ele não te livrou? E você vai murmurar?

 

O quê? Vocês que são altamente avançados e exaltados acima de muitos milhares de pessoas no mundo? Não há quem fique tão mal em murmurar do que os santos.

 

Alguma Dalila

 

Deus curou Davi do adultério matando seu filho estimado. Há alguma Dalila, algum encanto, algum pecado amado, ou outros almejados pelos Cristãos; alguma condição, constituição ou tentações que os levam a brincar e abraçar em seu próprio peito tais pecados. É como uma grande variedade de ervas daninhas numa terra sem cultivo em que, geralmente, existe alguma erva daninha maior, mais abundante e mais repulsiva que todo o resto. Assim é nas almas dos homens, pois, mesmo que haja uma mistura e variedades de males e corrupções, ainda há algum pecado que geralmente é supremo, mais poderoso e predominante, que influencia e se manifesta de forma mais eminente e evidente do que qualquer um dos outros.

 

Assim, embora a raiz e amargura do pecado se espalhem sobre tudo, todavia, cada homem tem a sua inclinação para algum tipo de pecado em vez de outro. E isso pode ser chamado de “pecado que assedia os homens”, o pecado do peito, o pecado querido.

 

Não obstante, uma das obras mais árduas do mundo é subjugar e controlar tal pecado do peito! Oh! As orações, as lágrimas, os suspiros, os soluços, os gemidos, a angústia que custarão a um Cristão até que subjugue o pecado querido!

 

Um homem pode facilmente subjugar e mortificar este ou aquele pecado, mas quando se trata do pecado principal, do pecado do peito, Oh! Mesmo arrancando e puxando ele continua lá! Quantas batalhas e lutas haverá para arrancar e derrubar tal pecado!

 

Agora, se o Senhor o está ferindo por algum próximo e querido prazer, disponha seu coração a lançar-se para destruir seu pecado principal; e então, santifique sua aflição para torná-la um meio de mortificar a corrupção do seu peito, e assim, maior motivo terá para honrar a Deus ao invés de sentar-se murmurando contra Ele! E, sem dúvida, por você ser querido por Deus, Ele, por sua surpreendente e preciosa misericórdia, o fará combater o pecado querido! Portanto, não murmure, mesmo quando Deus tocar na menina dos teus olhos; mesmo quando Ele arrebatar a mais bela e a mais doce flor do seu peito.

 

Paulinus Nolanus[4]

 

Quando a cidade foi tomada de Paulinus Nolanus, ele orou assim: “Senhor! Deixe-me não ser incomodado com a perda do meu ouro, da minha prata, da minha honra; porque vós sois muito mais do que tudo isso a mim!”.

 

Cristão! Na ausência de todos os seus prazeres mais doces, seja Cristo seu tudo em todos!

 

“Minhas joias são o meu marido”, disse um. “Meus ornamentos são os meus dois filhos”, disse outro. “Os meus tesouros são meus amigos”, disse ainda outro.

 

Assim pode um Cristão, sob suas maiores perdas dizer: “Cristo é minha joia mais rica, meu principal tesouro, meu melhor ornamento, meu mais doce deleite”! O que todas essas coisas significam a um coração carnal e a um coração mundano, Cristo é isso e muito mais para mim!” “Cristo é tudo!” (Colossenses 3:11).

 

Uma joia mais preciosa do que um mundo!

 

“Remindo o tempo porque os dias são maus” (Efésios 5:16).

 

O tempo é uma joia mais preciosa do que um mundo! O tempo não é seu para dispor como quiser; é um dom glorioso que os homens devem ser responsáveis assim como por qualquer outra dádiva. De todos os dons, o tempo é o mais difícil de ser aperfeiçoado.

 

Ah, amado, é necessário aperfeiçoar seu tempo, pois há muito trabalho a fazer em curto espaço de tempo: sua alma para salvar, um Deus para honrar, Cristo para exaltar, um Inferno para escapar, uma corrida para correr, uma coroa para ganhar, tentações a suportar, corrupções a dominar, aflições a suportar, mercês a melhorar e sua geração para servir.

 

Um homem elevado no domínio das tentações!

 

A comunhão com Deus é… a vida de suas graças, a doçura de todas as ordenanças, providências e mercês; o fortalecedor de seu coração e de suas mãos; a alma de seus confortos e a coroa da sua alma.

 

A comunhão com Deus torna as coisas amargas em doce; e coisas obscuras em luz. Nada como a comunhão com Deus para protegê-lo contra as tentações, adoçar todas as aflições e fazê-lo apegar-se a Deus diante de todos os problemas e oposições.

 

Um homem elevado em comunhão com Deus é um homem elevado no domínio das tentações ou na superação dos problemas. Almas com pouca ou nenhuma comunhão com Deus são geralmente dominadas tão logo quando tentadas; e conquistadas tão logo quando assaltadas.

 

Essas lições!

 

“Bem-aventurado o homem a quem tu castigas, ó SENHOR, e a quem ensinas a tua lei”. (Salmo 94:12)

 

Sem o ensinamento divino, toda humilhação do mundo jamais fará um homem abençoado. O homem que recebe a correção e as lições de açoites será um homem feliz.

 

Se por sua aflição, Deus lhe ensinar como odiar mais o pecado; como pisar mais o mundo; e como andar mais com Deus, suas aflições são em amor.

 

Se pelas aflições, Deus lhe ensinar a morrer mais para o pecado; a morrer mais para suas relações; e a morrer mais para seu próprio interesse, suas aflições são em amor.

 

Se pelas aflições, Deus lhe ensinar a viver mais para Cristo, a elevar-se mais a Cristo, e a permanecer mais em Cristo, suas aflições são em amor.

 

Se pelas aflições, Deus lhe ensinar a se importar mais pelo Céu, a viver mais para o Céu, e estar mais apto para o Céu, suas aflições são em amor.

 

Se pelas aflições Deus ensinar seu orgulhoso coração a se rebaixar mais; o seu endurecido coração a tornar-se mais terno, o seu severo coração a tornar-se mais caridoso, o seu carnal coração a tornar-se mais espiritual; o seu obstinado coração a crescer mais tranquilo, suas aflições são em amor.

 

Quando Deus ensina qualquer uma dessas lições aos seus pensamentos bem como à sua mente; ao seu coração bem como à sua cabeça, suas aflições estarão no amor. Quando Deus ama, Ele aflige em amor; e se Deus aflige em amor, Ele irá, mais cedo ou mais tarde, ensinar a tais almas essas lições e as tornará aptas para toda a eternidade.

 

Nossas aflições estão sendo santificadas

 

Se nossas aflições estão sendo santificadas de forma a atrair nossa alma… a amar mais ao Senhor, a temer mais ao Senhor, a agradar mais ao Senhor, a apegar-se mais ao Senhor, a esperar mais no Senhor, e a caminhar mais com o Senhor, então, elas estão sendo enviadas em amor. Oh, então elas são as feridas de um verdadeiro amigo!

 

Se as aflições que sobre nós estão, fazem aumentar nossa coragem, fortalecer nossa paciência, elevar nossa fé, inflamar nosso amor e animar nossas esperanças, certamente elas são enviadas em amor e todas as nossas feridas são as feridas de um amigo.

 

Se este basilisco não for esmagado no ovo!

 

Há infinitamente maior mal no mínimo pecado do que em grandes misérias e aflições que possivelmente venham sobre você! Sim, há maior mal no mínimo pecado do que em todos os problemas que já vieram sobre o mundo; sim, mais do que há em todas as misérias e tormentos do Inferno!

 

O mínimo pecado… é uma ofensa ao grande Deus; é um mal à alma imortal; é uma violação da justiça de Deus; não pode ser purificado senão pelo sangue de Jesus; fechará o Céu à alma e fechará a alma como uma prisioneira no Inferno para sempre e sempre!

 

Ao invés de se evitar maiores sofrimentos, o que deve ser evitado e prevenido é o menor dos pecados. Se este basilisco não for esmagado no ovo, em breve se tornará uma serpente!

 

Uma vez concebido em pensamento, o pecado rompe-se em ação e gera o hábito. Assim, ambos, corpo e alma, estarão irremediavelmente perdidos por toda a eternidade!

 

O menor dos pecados é muito perigoso! César foi esfaqueado até a morte com um pequeno punhal; Herodes foi devorado por pequenos vermes; o papa Adrian foi sufocado por um mosquito; um rato é pequeno, porém, pode matar um elefante se ele entrar em sua tromba; o escorpião é pequeno, porém é capaz de picar um leão até a morte; embora o leopardo seja grande, contudo, pode ser envenenado com uma cabeça de alho; a menor faísca pode consumir a maior casa; um pequeno vazamento irá afundar o maior navio; um braço inteiro foi gangrenado por uma martelada no dedo mínimo; uma pequena abertura na porta pode prejudicar a maior cidade; uma pitada de veneno difunde-se em todas as partes, até que estrangule a vida do espírito e retire a alma do corpo.

 

Se a serpente pode remexer a sua cauda por um mau pensamento, em breve tal pensamento surpreenderá a alma, como se pode ver no triste exemplo de Adão e Eva.

 

Aquele que tem merecido uma morte cruel

 

“De que se queixa, pois o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados?” (Lamentações 3:39).

 

Aquele que tem merecido uma morte cruel, não tem razão para acusar o juiz de crueldade se escapar recebendo apenas um açoite!

 

E nós, que temos merecido a condenação, não temos razão de acusar a Deus por Sua severidade se escapamos mediante uma chicotada paternal!

 

Nunca falta a ele uma maçã[5] para uma Eva

 

A um espírito irritado, obstinado e murmurador, a aflição consequente do julgamento é sentida como muito pior do que sua condição de ter caído em julgamento. Tal é a situação do diabo, seu pecado e punição. Deus continua se opondo, afligindo-o e confundindo-o; e ele continua agindo como um irritado, descontente e confuso; e revoltando-se contra Deus. Não há pecado como o pecado do diabo e nenhuma punição como a do diabo.

 

Seria até melhor alguém ter todas as aflições de todos os aflitos em todo o mundo de uma vez sobre si do que se deixar levar por um espírito obstinado e resmungão; e um coração murmurador sob a mínima aflição. Quando você vê uma alma irritada, confusa e abatida sob a poderosa mão de Deus, você vê um dos primogênitos de Satanás assemelhando-se a ele em vida. Nenhum filho pode ser tão parecido com o pai como essa alma perversa é com o pai da mentira.

 

Embora esteja em cadeias por cerca de seis mil anos, contudo ele jamais repousou sequer um dia, nem por uma noite. Não, nem por uma hora em todo esse tempo, mas continua cheio de cólera, caótico, arremessando e tombando com suas cadeias, tal como um príncipe enlouquecido.

 

Ele é um leão e não um cordeiro; um leão que ruge e não um leão sonolento que está em repouso, mas um leão que sobe e desce.

 

Ele não está satisfeito com a presa que já obteve, mas está inquieto em seus desígnios a fim de encher o Inferno com almas.

 

Nunca falta a ele… uma maçã a uma Eva, nem uma uva a um Noé, nem uma muda de roupa a um Geazi, nem uma cunha de ouro a um Acã, nem uma coroa a um Absalão, nem um saco de pratas a um Judas, nem um mundo a um Demas!

 

Se você olhar para um hóspede, encontrará Satanás servindo sua refeição a todo tipo de paladar. Se olhar para outro hóspede, deverá encontrá-lo ajustando um laço para cada sapato. Se olhar para um terceiro hóspede, deverá encontrá-lo adequando uma peça de roupa a cada corpo. Ele está sob maldição e não descansará.

 

Aqui com Jael, ele seduz pobres almas no leite e assassina-as com uma estaca! Lá, com Joabe, ele abraça com uma mão e esfaqueia com a outra!

 

Aqui com Judas, ele beija e trai! E ali com a prostituta da Babilônia, ele apresenta um cálice de ouro com seu veneno!

 

Ele não sossega e suas cadeias estão sempre aprisionando!

 

E quanto mais inquieto alguém esteja sob a repreensão de Deus, mais se assemelha a Satanás, cuja vida inteira é cheia de desordens e inquietação contra o Senhor. Disse Lutero: ninguém pense que o diabo está agora morto ou adormecido; enquanto Deus é Aquele que guarda a Israel, o diabo, que odeia a Israel, não descansa nem dorme!

 

Sua oficina produz constantemente o Inferno

 

Os Cristãos devem emudecer e silenciar em suas aflições, pois assim frustrarão grandes projetos e expectativas de Satanás. Em todas as aflições que trouxe a Jó, o projeto de Satanás não era de fazer dele um mendigo, mas fazê-lo blasfemar. Não era fazer dele um miserável exteriormente, senão um miserável em seu interior para que Jó resmungasse e murmurasse contra a mão de Deus, e assim pudesse ter algo com que acusá-lo contra o Senhor.

 

Satanás é o incansável acusador dos irmãos: “…o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite” (Apocalipse 12:10).

 

Satanás é o grande tentador e acusador entre Deus e Seus filhos. Sua oficina produz constantemente o Inferno, tal como uma oficina primacial que nunca cessa sua produção, ele continua vindo e martelando em acusações contra os santos! Primeiro, ele tenta e seduz almas ao pecado, e, em seguida, as acusa desses mesmos pecados que as tentou no intuito de desonrá-las perante Deus e afastá-las, se fosse possível, para longe do favor de Deus. E, embora ele saiba de antemão que Deus e Seu povo são, pelo vínculo da aliança e pelo sangue do Redentor, tão estreitamente unidos que nunca poderão ser separados, ainda assim, em sua ira e cólera, inveja e malícia, esforça naquilo que sabe que nunca conseguirá!

 

Ele poderia ter feito de Jó um obstinado e um irritadiço sob a vara, e ter levado rapidamente em seguida, a notícia ao Céu, sendo até mesmo tão ousado a ponto de questionar a Deus se aquela foi uma postura condizente de uma pessoa a quem o próprio Deus atribuíra tão glorioso caráter! Satanás sabe que há mais mal num pequeno pecado do que em todas as aflições que possam ser infligidas a uma pessoa; e se pudesse ter causado uma brecha na paciência de Jó, ah, como teria insultado o próprio Deus! Mas Jó, permanecendo mudo e silencioso sob todas as suas provações, envergonhou a Satanás ao mesmo tempo em que frustrou de uma vez, todos os seus projetos. A melhor maneira de frustrar o diabo é silenciar-se sob a mão de Deus. Aquele que murmura é frustrado por Satanás, mas o que silencia supera-o; e é muito melhor vencer um demônio do que conquistar um mundo!

 

Pode um verme impedir o golpe do Todo-Poderoso?

 

É inútil e fútil batalhar para competir ou contender com Deus. Nenhum homem jamais conseguiu alguma coisa resmungando ou murmurando sob a mão de Deus, senão tão somente mais carrancas, golpes e feridas. Aos que não se encontrarem tranquilos e calmos quando a misericórdia os atar com cordas de seda, a justiça os atará com correntes de ferro! Se os grilhões dourados não os prenderem, os grilhões de ferro o farão!

 

Se Jonas causar irritação, aflição e agitação, a justiça o arremessará ao mar a fim de subjugá-lo e acalmá-lo; e o manterá preso no ventre da baleia até que seja vomitado e seu espírito tranquilize-se diante do Senhor.

 

O que você obtém lutando e resmungando lhe será revertido em lágrimas. “Acaso é a mim que eles provocam à ira? diz o Senhor: e não a si mesmos, para confusão dos seus rostos? Portanto, assim diz o Senhor DEUS: Eis que a minha ira e o meu furor se derramarão sobre este lugar, sobre os homens e sobre os animais, sobre as árvores do campo e sobre os frutos da terra; e deve queimar, e não se apagará” (Jeremias 7:19-20). “Ou irritaremos o Senhor? Somos nós mais fortes do que ele?” (1 Coríntios 10:22).

 

Zanchius[6] observa duas coisas destas palavras:

 

1. É tolice provocar a ira de Deus porque Ele é mais forte do que nós.

2. Embora Deus seja mais forte do que nós, ainda há aqueles que o provocam à ira. E, certamente, ninguém há que o provoque mais do que os que se enfurecem e se inquietam quando Sua mão está sobre eles!

 

Mesmo que o cálice seja amargo, contudo é colocado em sua mão por seu Pai! Embora a cruz seja pesada, Quem a pôs em seus ombros suportará, Ele próprio, o peso final! Por que, então, você murmurará? Os ursos e leões podem levar golpes e pancadas de seus tratadores; e não vai levará alguns golpes e pancadas do Guardião de Israel? Por que o barro contenderá com o Oleiro, ou a criatura com o seu Criador, ou o servo com seu mestre, ou a fraqueza com a força, ou uma pobre e nula criatura com um Deus onipotente? Pode o restolho estar diante do fogo? Pode o joio habitar no furacão? Pode um verme impedir o golpe do Todo-Poderoso?

 

Um espírito obstinado e impaciente sob a mão de Deus só acrescentará cadeia a cadeia, cruz a cruz, jugo ao jugo e fardo ao fardo. Quanto mais os homens caem e se atiram em seus acessos febris, mais adoecidos ficam; e mais tempo levará para realizar a cura. A maneira mais fácil e segura de obter a cura é aquietar-se e silenciar-se até que o veneno da doença derrame-se para fora. Quando a paciência realiza um perfeito trabalho, a cura é certa e fácil.

 

Quando alguém quebra a perna e porta-se imóvel e tranquilo, mais fácil e rapidamente se operará sua cura. Mas quando a perna de um cavalo endurece e ele se irrita, se arremessa, saracoteia-se e lança-se para longe, deslocando-se novamente, acaba tornando sua cura mais difícil e tediosa. Aqueles Cristãos que, sob a mão de Deus, são como o cavalo ou a mula, irritando-se e arremessando-se, adicionarão às suas próprias tristezas e sofrimentos mais demora ao dia de sua libertação.

 

Muitas são as aflições do justo

 

Os santos são eleitos “…nascidos para a tribulação como as faíscas voam para cima” (Jó 5:7). “Muitas são as aflições do justo” (Salmos 34:19). Deus, que é infinito em sabedoria e incomparável em bondade, ordenou problemas. Sim, muitos problemas a virem agrupados sobre nós por todos os lados. Raramente nossas cruzes são poucas. Geralmente elas vêm trilhando umas sobre os saltos das outras; são como chuvas de abril, tão logo uma termina, outra já vem. E, no entanto, Cristãos, isso é misericórdia, é rica misericórdia, pois cada aflição não significa uma execução, e cada correção não significa uma condenação.

 

Foi-me bom ter sido afligido!

 

“Foi-me bom ter sido afligido…” (Salmo 119:71)

 

Enquanto permanece no forno, uma alma graciosa conclui secretamente, como estrelas brilhantes na noite, o quanto Deus fará minha alma brilhar e cintilar como o ouro, até o momento de sair da fornalha da aflição. “Mas ele sabe o meu caminho: quando ele me provar, sairei como o ouro” (Jó 23:10).

 

Como o sabor do mel abriu os olhos de Jônatas é certo também que esta cruz e aflição abrirão meus olhos. Por meio deste golpe terei uma clara visão dos meus pecados e de mim mesmo, e uma visão mais completa do meu Deus (Jó 33: 27-28, 40:4-5, 13:1-7)!

 

Certamente esta aflição purgará minha escória lançando-a para bem longe (Isaías 1:25)!

 

Certamente, como a aração da terra mata as ervas daninhas, e o rastelar dela quebra duros torrões, assim também essas aflições matarão meus pecados e amolecerão meu coração (Oséias 5:15, 6:1-3)!

 

Certamente, como o emplastro empurra para fora a raiz infecciosa, assim, minhas aflições empurrarão para fora a raiz do orgulho, a raiz do amor-próprio, a raiz da inveja, a raiz do mundanismo, a raiz da formalidade, a raiz da hipocrisia (Salmos 119:67,71)!

 

Certamente, através dessas aflições, o Senhor crucificará meu coração cada vez mais para o mundo e o mundo para meu coração (Gálatas 6:14; Salmos 131:1-3)!

 

Certamente, através destas aflições, o Senhor guardará minha alma do orgulho (Jó 33:14-21)!

 

Certamente, essas aflições são apenas foices do Senhor, pelas quais Ele sangrará meus pecados e podará meu coração, tornando-o mais fértil e frutífero! Elas são, porém, a poção do Senhor, pela qual Ele me limpará, e me livrará dessas enfermidades e doenças espirituais que são tão mortais e perigosas à minha alma! Aflições são como poção de cura que levam para longe todas as enfermidades da alma, que no caso é melhor do que todos os outros remédios (Zacarias 13: 8-9)!

 

Certamente, essas aflições aumentarão minha comunhão espiritual com Deus (Romanos 5:3-4)!

 

Certamente, através destas aflições, serei feito mais participante da santidade de Deus (Hebreus 12:10)! Como o sabão preto torna as roupas brancas, assim, agudas aflições tornam santos os corações!

 

Certamente, através destas aflições, o Senhor moverá meu coração a buscá-lO cada vez mais! “Em suas aflições eles me buscarão” (Oséias 5:15)! Em tempos de aflição, os Cristãos, diligente e rapidamente, buscarão mais cedo ao seu Senhor!

 

Certamente, através destas provações e dificuldades, o Senhor fixará minha alma mais do que nunca no interesse pelo mundo eterno (João 14:1-3; Romanos 8:17, 18; 2 Coríntios 4:16-18)!

 

Certamente, através destas aflições, o Senhor operará em mim mais ternura e compaixão para com aqueles que estão aflitos (Hebreus 10:34, 13:3)!

 

Certamente, essas aflições são a prova do amor de Deus! “Eu repreendo e castigo àqueles a quem amo” (Apocalipse 3:19)! É o que diz o santo Cristão, “ó minha alma! Aquieta-te, fique calma. Tudo é enviado em amor, tudo é fruto do favor divino. Vejo mel sobre o topo de cada ramo; Vejo a vara, porém, como um ramo de alecrim;[7] tenho açúcar com meu fel, e vinho com meu absinto; portanto, fique em silêncio, ó minha alma!”.

 

Aflições diminuem as atrações carnais e sedutoras do mundo, colocando-as para fora de nós! Aflições rebaixam a robustez da carne dentro de nós, a qual pode nos ludibriar!

 

Aflições humilham-nos e mantêm-nos baixos! Corações santificados serão humildes sob a aflição da mão de Deus. Enquanto a vara de Deus estiver sobre suas costas, suas bocas estarão no pó! Um coração piedoso prostra-se ao chão quando a mão de Deus levanta-se ao alto.

 

Tudo isso é prova que a aflição para nós é uma poderosa vantagem! “Foi-me bom ter sido afligido…” (Salmos 119:71).

 

O mel e o ferrão!

 

“Por que ele não aflige de boa vontade [ou como no hebraico “de seu coração”] nem entristece os filhos dos homens” (Lamentações 3:33).

 

Os Cristãos podem concluir que, embora a mão de Deus esteja em suas aflições, o Seu coração, no entanto, não está. Ele não tem prazer em afligir Seus filhos; isto é contrário ao Seu coração.

 

É triste a Ele usar de severidade. É uma dor ter que puni-los. É triste ter que golpeá-los. Ele não tem vontade, interesse, inclinação e nem disposição na obra de afligir Seu povo. E, portanto, Ele chama isso de “Seu trabalho estranho” (Isaías 28:21).

 

Misericórdia e punição fluem de Deus assim como o mel e o ferrão flui da abelha. É da natureza da abelha produzir o mel, porém, ela não aferroa senão tão somente quando provocada.

 

Deus tem prazer em mostrar misericórdia (Miquéias 7:18). Ele não tem prazer em entregar Seu povo à adversidade (Oséias 11:8). Misericórdia e bondade fluem dEle livre e naturalmente. Ele nunca é severo e nem rude. Ele nunca nos aferroa nem nos aterroriza senão quando tristemente é provocado por nós.

 

A mão de Deus, por vezes, pode estar muito pesada sobre Seu povo ao passo que Seu coração e Suas afeições dirigem-se em anelos a eles (Jeremias 31:18-20).

 

Ninguém alcança o coração de Deus por meio de Sua mão. A mão da misericórdia de Deus pode estar aberta àqueles contra os quais Seu coração está fechado, como você vê no pobre rico tolo no Evangelho. E Sua mão da severidade pode estar endurecida sobre aqueles a quem Ele repousou Seu coração, como você pode ver no caso de Jó e Lázaro.

 

Tu tens um maior interesse em mim, do que eu tenho em mim mesmo

 

O homem piedoso entrega-se a Deus. A linguagem secreta da alma é esta: “Senhor, eis-me aqui; faça comigo o que quiser, entrego-me à Sua disposição”.

Certa vez uma bondosa mulher esteve doente e, sendo questionada se estava disposta a viver ou morrer, respondeu: “O que Deus desejar”.

 

Mas, disse alguém que ali estava: “Se Deus encaminhasse isso a você, o que escolheria?” “Realmente”, disse ela, “se Deus encaminhasse isto a mim, eu mesma encaminharia a Ele de volta”. Esta era uma alma que valia ouro.

“Bem”, diz uma nobre alma, “O homem ambicioso entrega-se a suas honras, mas eu me entrego a Deus. O homem voluptuoso entrega-se aos seus prazeres, mas eu me entrego a Deus. O avarento entrega-se a suas bolsas de dinheiro, mas eu me entrego a Deus. O homem devasso entrega-se a sua luxúria, mas eu me entrego a Deus. O bêbado se entrega aos seus copos, mas eu me entrego a Deus. O papista entrega-se a seus ídolos, mas eu me entrego a Deus. O mulçumano entrega-se a seu Maomé, mas eu me entrego a Deus. O herege entrega-se às suas opiniões heréticas, mas eu me entrego a Deus. Senhor! Coloque o fardo de Tua vontade sobre mim, deixe somente Seus braços eternos sobre mim!”.

 

Golpeia, Senhor, golpeia, e não poupe; pois eu submeto-me à Tua vontade. Tu tens um maior interesse em mim, do que eu tenho em mim mesmo; e, portanto, entrego-me a Ti, e inclino-me à Tua disposição; e estou pronto a receber qualquer marca que o Senhor estampar sobre mim. Ó abençoado Senhor! Tu não disseste a mim certa vez como disse o rei de Israel ao rei da Síria: “Eu sou teu, e tudo o que eu tenho é seu” (1 Reis 20:4)?

 

Deus diz: “Eu sou teu, ó alma, para salvá-la! — Minha misericórdia é sua para perdoá-la! Meu sangue é seu para purificá-la! Meus méritos são seus para justificá-la! Minha justiça é sua para vesti-la! Meu Espírito é seu para guiá-la! Minha graça é sua para enriquecê-la! Minha glória é sua para recompensá-la”!

 

“E, portanto”, diz uma nobre alma, “não posso deixar de renunciar-me a Ti, Senhor! Eis-me aqui, faça comigo como parece bom aos seus próprios olhos. Entrego-me à Tua vontade”.

 

Seja qual for o tempo que agrada a Deus, a mim me agrada!

 

Li de um cavalheiro que, em reunião com um pastor numa manhã nublada, foi-lhe perguntado quanto tempo duraria. “Ele será”, disse o pastor, “aquele tempo que me agrada”. E sendo custosamente solicitado a expressar o seu significado, replicou, “Senhor, será o tempo que agrada a Deus; e seja qual for o tempo que agrada a Deus, a mim me agrada!”

 

Ponha a mão na boca e fique em silêncio

 

“Descansa no SENHOR [Fique em silêncio diante do Senhor]; e espere pacientemente por ele…” (Salmo 37:7).

Conjuro-te, ó minha alma, a não resmungar, nem a murmurar. Eu te ordeno, ó minha alma, a ficar em silêncio sob a aflição da mão de Deus. Paz, ó minha alma! Esteja quieta, deixe seu resmungo, deixe seu murmúrio, deixe sua queixa, deixe sua irritação e preocupação, e ponha a mão na boca, e fique em silêncio.

 

Ó minha alma! Fique quieta, fique em silêncio, senão um dia será demandada por todos esses murmúrios, tumultos e paixões interiores existentes em você sem quaisquer motivos suficientes para murmurar, contender e disputar sob a justa mão de Deus.

 

A causa meritória de todas as nossas dores e sofrimentos

 

“De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados. Esquadrinhemos os nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para o Senhor” (Lamentações 3: 39-40).

 

“Eu sofrerei a indignação do Senhor, porque pequei contra ele” (Miquéias 7:9).

 

Os pecados são a causa meritória de todas as nossas dores e sofrimentos. Devemos ler nossos pecados em todas as nossas tristezas! Enquanto a mão de Deus estiver sobre nossas costas, as nossas mãos deverão estar sobre nossos pecados.

 

Quando um Cristão está sob a aflição da mão de Deus, pode muito bem dizer: “Posso agradecer a… este meu coração orgulhoso; a meu coração mundano; a meu coração obstinado; a meu coração formalista; a meu coração fraco; a meu coração apóstata; a meu coração egoísta; a … Este cálice tão amargo; esta dor tão dolorosa; esta perda tão grande; esta enfermidade tão desesperadora; esta ferida tão incurável! É meu próprio eu, meu próprio pecado, que causou estas inundações de tristezas que deságuam sobre mim!”

Enfermidades, dores, doenças, agonias

Enfermidades, dores, doenças, agonias são todas filhas do pecado, e quem não se aperceber disto, acrescentarão ao pecado, mais pecados e provocarão ao Senhor para que acrescente mais sofrimentos aos seus sofrimentos (Isaías 26:9-11). Jamais alguém será cobrado por Deus por sentir esse fardo se houver sobre ele aflição e fraqueza. A graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa. A graça provém de uma nobre descendência; não transforma homens em estoques, nem em estoicos.[8] Quanto mais graça, mais sábios [serão] os sinais, carrancas, golpes, e açoites de um Pai descontente.

 

Jamais se ouviu de Calvino resmungos e murmúrios, ainda que estivesse sob grandes dores, embora muitas vezes tenha ouvido dele o seguinte: “Até quando, Senhor, até quando?”

 

Um piedoso comandante quando atingido em batalha, no momento em que se procurava a ferida e o furo da bala, e estando alguns, condoídos por sua agonia, ele respondeu: “Mesmo que eu venha a gemer, ainda assim bendirei a Deus e não reclamarei”. Deus permite que Seu povo venha a gemer, embora não a resmungar. Permanecer estúpido e indiferente sob a aflição da mão de Deus é um pecado que Lhe provoca. Tal pessoa não percebe que está na fornalha da aflição até que Deus a aqueça sete vezes mais.

 

Cada ramo tem uma voz

 

“A voz do Senhor clama à cidade, e o que é sábio verá o teu nome. Ouvi a vara, e quem a ordenou” (Miquéias 6:9).

 

Os Cristãos devem ouvir a voz da vara de Deus, beijá-la e sob ela, sentarem-se mudos e silenciosos.

 

Os Cristãos devem permanecer mudos e silenciosos sob as maiores aflições, sob as providências mais tristes e sob as provações mais agudas que se encontrarem neste mundo, a fim de que ouçam e compreendam melhor a voz da vara de Deus.

 

Tal como a palavra tem uma voz, o Espírito uma voz, e a consciência uma voz, assim a vara de Deus tem uma voz. Aflições são a vara da ira de Deus, a vara do Seu desagrado, e a vara da Sua vingança. As varas de Deus não são mudas. São todas vocais, todas falam e ferem. Cada ramo tem uma voz! “Ah! Alma”, diz um ramo, “você diz que é doloroso. Bem! Diga-me, é bom provocar um Deus ciumento?” (Jeremias 4:18).

 

“Ah! Alma”, diz outro ramo, “você diz que é amargo e fere seu coração; mas suas próprias ações não têm buscado essas coisas?” (Romanos 6:20-21).

 

“Ah! Alma”, diz outro ramo, “onde está o lucro, o prazer, a doçura que você encontrou vagando distante de Deus?” (Oséias 2:7).

“Ah! Alma”, diz outro ramo, “não era melhor quando você crescia na comunhão com Deus e era humilde e caminhava próximo de dEle?” (Miquéias 6:8).

 

“Ah! Cristão”, diz outro ramo, “sondará você seu coração, e provará teus caminhos, e voltará ao Senhor teu Deus?” (Lamentações 3:40).

 

“Ah! Alma”, diz outro ramo, “você morrerá para o pecado mais do que nunca, e para o mundo mais do que nunca, e para as relações mais do que nunca, e para si mesmo mais do que nunca?” (Romanos 14:6-8; Gálatas 6:18).

“Ah! Alma”, diz outro ramo, “você viverá para Cristo mais do que nunca, se apegará a Cristo mais do que nunca, e prezará a Cristo mais do que nunca, e sujeitará à Cristo mais do que nunca?”

 

“Ah! Alma”, diz outro ramo, “você adorará a Cristo com um amor mais fervoroso, e esperará em Cristo com maior esperança, e dependerá de Cristo com maior confiança, e esperará em Cristo com uma paciência mais invencível?”.

 

No entanto, como será possível que a alma ouça a voz da vara de Deus ou a voz de cada ramo dela se, sob ela, não estiver muda e silenciosa?

 

A vara nas mãos de pais terrenos tem uma voz, mas as crianças não a ouvem, não a compreendem até que estejam silenciosas e quietas, e se achegam para beijá-la, e sob ela sentam-se silenciosamente. Não devemos ouvir ou compreender mais a voz da vara que está nas mãos de nosso Pai celestial, até que cheguemos a beijá-la, e sob ela, sentemo-nos silenciosamente?

 

Viver pela fé

 

“Nós andamos pela fé, não pela vista” (2 Coríntios 5:7).

 

Viver pela fé faz a alma sentar-se satisfeita nos desnudos deleites de Deus.

 

Viver pela fé faz secar as fontes do orgulho, do amor-próprio, da impaciência, dos murmúrios, da incredulidade e das delícias carnais deste mundo.

 

Viver pela fé presenteia à alma as maiores, as mais doces e as melhores coisas de Cristo do que qualquer coisa valiosa neste mundo.

 

Viver pela fé diminui a estima por vaidades externas da alma.

 

Todas as suas angústias e aflições passadas

 

“No dia da adversidade, considera…” (Eclesiastes 7:14).

Quando você colocar-se quieto e silencioso sob suas angústias e provações presentes, você viverá o benefício, o lucro e a vantagem que todas as suas angústias e aflições passadas fizeram transbordar em sua alma.

 

Oh! Considere como, pelas aflições passadas, o Senhor revelou, impediu e mortificou o pecado! Considere como o Senhor, pelas aflições passadas, revelou-lhe a impotência, a mutabilidade, a insuficiência e a vaidade do mundo e todas as preocupações mundanas!

 

Considere como o Senhor, pelas aflições passadas, derreteu seu coração, e o quebrou, e o humilhou, e o preparou para os mais nítidos, os mais completos e os mais doces prazeres de Deus!

 

Considere que pena, que compaixão, que afeições, que ternura e doçura as aflições passadas lhe causaram em relação a outros que estavam em miséria!

 

Considere o espaço que as aflições passadas abriram em sua alma para Deus, para Sua palavra, para um bom conselho e para o conforto divino!

 

Considere como, pelas aflições passadas, o Senhor tem lhe feito mais [um] participante do Seu Cristo, do Seu Espírito, de Sua santidade, de Sua bondade, etc.

 

Considere como, pelas aflições passadas, o Senhor tem lhe feito olhar mais para o Céu, importar-se mais pelo Céu, prezar mais pelo Céu, e a ansiar mais pelo Céu, etc.

 

Agora, quem pode considerar seriamente todo o bem que alguém tem alcançado pelas aflições passadas e não se calar sob as aflições presentes? Quem pode lembrar aqueles variados, grandes e preciosos lucros que sua alma obteve pelas aflições passadas, e não arrazoar num santo silêncio sob as aflições presentes desta forma: “Ó minha alma! Deus não tem lhe feito muitos benefícios, grandes benefícios, especiais benefícios através das aflições passadas? Sim! Ó minha alma! Deus não tem lhe feito isso através das aflições passadas, as quais você não trocaria nem por dez mil mundos? Sim! E não é Deus, ó minha alma, tão poderoso como sempre, tão fiel como sempre, tão gracioso como sempre, e tão pronto e disposto como sempre a lhe fazer o bem através das aflições presentes como Ele lhe fez o bem pelas aflições passadas?

 

Sim! Sim! Por que, por que, então você não se coloca silente e muda diante dEle, sob seus problemas, ó minha alma?”.

 

Um tolo como seu professor

 

Aquele que vai à escola de sua própria razão carnal tem um tolo como seu professor; e aquele que permite que sua fé seja dominada por sua razão, nunca lhe faltará desgosto.

 

Nenhum homem vive uma vida tão livre, santa, divina e feliz como aquele que vive uma vida de fé. Assim, a alma é entregue aos maiores e mais puros atos de fé, quais sejam, apegar-se a Deus e prender-se a Ele, sendo carregada com doçura e obediência para junto de Deus, mesmo que Ele venha a franzir a testa, a repreender, e a golpear, sim, mesmo que Ele mate! “Porque nós andamos por fé, não pela vista” (2 Coríntios 5:7).

 

Os mais agudos tratamentos de Deus com você

 

“Por que se queixa, pois o homem vivente… por causa do castigo dos seus pecados?” (Lamentações 3:39).

 

Para movê-lo ao silêncio sob suas mais dolorosas e agudas provações, considere que você tem merecido maiores e mais pesadas aflições do que estas que estão sobre você.

 

Deus lhe tem privado de alguma misericórdia? Você merecia ser despojado de tudo.

 

Será que Ele tirou o deleite de seus olhos? Ele poderia ter tirado o deleite de sua alma.

 

Você está sob uma necessidade externa? Você merecia estar sob uma necessidade tanto externa quanto interna.

 

Você foi lançado sobre um leito de enfermidade? Você merecia uma cama no Inferno.

 

Você está sob essa dor e angústia? Você merecia estar sob todas as dores e angústias de uma vez.

 

Será que Deus o castigou com açoites? Você merecia ser castigado com escorpiões (1 Reis 12:14).

Você caiu desde o mais alto pináculo da honra para vir a ser escárnio e desprezo dos homens? Você merecia ser desprezado e condenado por Deus e pelos anjos.

 

Você está sob um severo açoitamento? Você merecia uma absoluta condenação.

 

Ah Cristão! Permita, antes, que seus olhos sejam fixados sobre seus deméritos, e logo suas mãos estarão rapidamente sobre a boca! Qualquer coisa é pouca do que uma separação definitiva de Deus, qualquer coisa é misericórdia e pequena se comparada ao próprio Inferno! Portanto, você tem motivo para ficar em silêncio sob os mais agudos tratamentos de Deus com você.

 

O doce mel das ervas amargas

 

“E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28).

 

Considere que todas as suas aflições, angústias e provações trabalharão para seu bem. Por que então se afligir, se inquietar e se irritar considerando que Deus em tudo pretende o seu bem?

 

A abelha suga o doce mel das ervas amargas; assim, através das aflições, Deus ensina a Seus filhos a sugarem o doce conhecimento, a doce obediência, as doces experiências, e a doce humildade de todas as amargas aflições e provações que Ele lhes tem dado.

 

Essa esfregadura e esse atrito que inquietam os outros, o farão brilhar com mais intensidade; e este peso que mantém os outros esmagados, o farão como a palmeira em crescer melhor e mais alta; e este martelo que faz os outros em pedaços o baterá para mais perto de Cristo, a Pedra Angular.

 

As estrelas brilham mais reluzentes na mais escura noite; tochas dão melhor luz quando batidas; uvas produzem mais vinho quando mais pressionadas; especiarias exalam perfumes mais doces quando esmagadas; as melhores videiras são aquelas provenientes da sangria; o ouro parece mais brilhante quando esfregado; o zimbro cheira mais doce quando no fogo; quanto mais você pisar a camomila mais ela exalará; a salamandra vive melhor quando no fogo; quanto mais afligidos mais os judeus eram aperfeiçoados.

 

Aflições são os melhores benfeitores dos santos por produzirem afeições celestiais. Onde as aflições fixarem-se mais pesadas, as corrupções fixarão mais frouxas. Como a água doce escondida nas folhas de rosa, assim a graça escondida na natureza destilará mais fragrância quando no fogo da aflição.

 

A graça brilha mais reluzente quando esfregada, e é mais gloriosa quando sob as nuvens escuras.

 

Porque minha dor é interminável?

 

“Por que é perpétua a minha dor, e incurável a minha ferida?” (Jeremias 15:18).

 

Embora Deus tenha sempre razão no que faz, contudo Ele não é obrigado a mostrar-nos as razões de suas ações. É mal e perigoso cavilar[9] ou questionar os procedimentos de Deus, pois Ele pode fazer o que Lhe é próprio e da maneira como Lhe agrada. Ele é inexplicável e incontrolável; e, portanto, ninguém tem o direito de questioná-lO.

 

Do mesmo modo como ninguém pode questionar o direito de Deus em afligi-lo, nem Sua justiça na aflição, também não pode questionar as razões pelas quais Ele aflige.

 

Do mesmo modo como ninguém pode obrigar a Deus a dar uma razão para Seus feitos, não poderá também a se atrever em pedir-Lhe as razões específicas das Suas ações.

 

Reis não são obrigados a dar aos seus súditos uma razão de suas ações; e devemos obrigar a Deus a dar-nos uma razão de Seus feitos? Ele, que É o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e cuja vontade é a verdadeira e única regra de justiça?

 

Os fundamentos e as razões gerais que Deus tem estabelecido em Sua Palavra pelas quais [como] e por que Ele aflige o Seu povo [são os seguintes:] para seu lucro, com o fim de purgar para longe seus pecados; para a purificação de suas vidas; e para a salvação de suas almas. Motivos estes que devem trabalhar com o fim de silenciá-los e satisfazê-los em todas as suas aflições, mesmo que Deus nunca venha a satisfazer sua curiosidade e dar-lhe conta de algumas causas escondidas nos secretos abismos de Seu eterno conhecimento e de Sua infalível vontade.

 

Ah, Cristão! É sua sabedoria e dever sentar-se em silêncio e mudo sob a aflição da mão de Deus ao invés de pedi-lhe revelações das Suas razões e fazer qualquer pergunta curiosa aos motivos mais secretos que estão trancados no compartimento de ouro do próprio seio de Deus! “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus” (Deuteronômio 29:29).

 

Ele ousou cuspir na face do próprio Deus!

 

Muitos, quando sentem o ardor da vara, ah, como se inquietam e se enfurecem! “E passarão [pela terra] duramente oprimidos e famintos; e será que, tendo fome, e enfurecendo-se, então amaldiçoarão ao seu rei e ao seu Deus” (Isaías 8:21). “A estultícia do homem perverterá o seu caminho, e seu coração se irará contra o Senhor” (Provérbios 19:3). O coração pode estar irritável e obstinado quando a língua não blasfemar. A loucura traz o homem à miséria, e a miséria torna o homem inquieto. Na miséria o homem torna-se mais apto para se inquietar e se irritar contra o Senhor do que se inquietar e se irritar contra seu próprio pecado, que é a razão de seus sofrimentos (2 Reis 6:33; Salmos 37:1, 7-8).

 

Uma alma irritadiça ousa dirigir-se ao próprio Deus! Quando Faraó foi atormentado com aflições, ele ousou cuspir na face do próprio Deus, “Quem é o Senhor para que eu obedeça a sua voz?” (Êxodo 5:2). E quando Jonas estava sob um humor inquietante, atreveu-se em dizer na face de Deus, “eu faço bem em estar zangado!” (Jonas 4:9). Bom seria para Jonas irar-se contra seu pecado, porém fez muito mal em irar-se contra seu Deus! Deus importunará cada veia do coração do homem por aquilo que ele tem feito enfurecendo-se e inquietando-se deixando de romper em pedaços as cordas que o prendem (Ezequiel 16:43). Às vezes, homens bons ficam doentes de inquietação e neste caso, torna-lhes muito custoso, tal como mostra a experiência de Jó e Jonas. Ninguém jamais obteve qualquer coisa pela inquietação e impulsividade, senão apenas duros açoites ou pesadas correntes. Portanto, não se inquiete quando Deus golpeia!

 

Quando Satanás está mais ocupado

 

Enquanto Satanás o tenta, Cristo intercede por você no tribunal da glória: “E disse o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás tem vos pedido a fim de vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça” (Lucas 22:31, 32). Satanás alegremente o teria sacudido para cima e para baixo, como o trigo no ventilador. Mas a intercessão de Cristo frustrou os desígnios de suas tentações. Sempre que Satanás estiver nos apertando em tentações, Cristo estará intercedendo por nós a Seu Pai: “…ele vive sempre para interceder por eles” (Hebreus 7:25).

 

Cristo é uma Pessoa da mais alta honra. Ele é o grande favorito na corte celestial. Ele sempre se coloca entre nós e o perigo… Quando Satanás nos coloca em seus pleitos e começa uma ação atrás da outra contra nós, Cristo continua empreendendo em nossa causa. Ele responde a todos os seus pleitos, e frustra Satanás a cada momento; e, a despeito do Inferno, Ele nos mantém no favor divino.

 

Quando Satanás implora: “Senhor! Aqui estão tais e tais pecados que Teus filhos têm cometido! E aqui estão tais e tais deveres que eles têm omitido! E aqui estão tais e tais mercês que eles não melhoraram! E aqui estão tais e tais ordenanças que eles têm desprezado! E aqui estão tais e tais moções do Espírito que eles têm extinguido!”. A Justiça Divina responde: “Tudo isso é verdade. Mas Cristo já veio em favor de seus interesses; Ele julgou a causa deles; Ele tem plena e justamente respondido o que quer que tenha sido o objeto da causa; e Ele deu completa satisfação do derradeiro centavo, de modo que não há nenhuma acusação nem condenação que vigore contra eles que não tenha sido posto na conta do Apóstolo do triunfo: “Quem é aquele que condena? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, que ressuscitou, e está à mão direita de Deus, e também intercede por nós” (Romanos 8:34).

 

A intercessão de Cristo será a âncora firme da alma na hora da provação. No dia da sua tentação, não precisa se perturbar nem se inquietar. Mas em paz e paciência esteja a sua alma, considerando que você tem um Amigo no tribunal de glória o qual lhe será mais propício quando Satanás estiver mais ocupado em lhe tentar.

 

 


[1] Dives: uma palavra latina para “rico” ocorrendo na Vulgata, Lucas 16; comumente tomado como o nome próprio do homem rico na parábola e que é usado genericamente para “homem rico”.

[2] Possivelmente Sebastian Munster (1488-1522) — um estudioso do hebraico e um parceiro do reformador Martinho Lutero. Munster morreu de peste em 1552 e a referência de Brooks possivelmente se relaciona com as feridas e úlceras resultantes da doença de que morreu.

[3] Remendo preto — um pequeno pedaço de seda preta, muitas vezes de forma extravagante, usado no rosto, quer para esconder uma falha ou, mais geralmente, para mostrar a tez por contraste. Na moda, especialmente entre as mulheres nos séculos 17 e 18.

[4] Um dos poetas latinos mais importantes de sua época.

[5] A Palavra de Deus não nos diz que Eva deu uma mordida em uma maçã; mas diz que “tomou do seu fruto, e comeu…” (Gênesis 3:6).

[6] Jerome Zanchius também conhecido como Girolamo Zanchi (1516–1590): protestante e reformador italiano, autor de Predestinação Absoluta.

[7] Ramo de alecrim: alecrim é um arbusto perene da família das mentas, que cresce no sul da Europa e da Ásia Menor e produz uma essência de óleo perfumado. Na literatura e folclore, é um símbolo de recordação e fidelidade. A vara de Deus é, então, um perfumado lembrete de Sua fidelidade a nós.

[8] Estoicismo: pessoas que aparentemente não são afetadas pela alegria, tristeza, prazer ou dor.

[9] Cavilar: encontrar falhas sem uma boa razão.
 

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