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Os Distintivos da Teologia Batista Pactual │ Por Pascal Denault

 

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Os Batistas de fala francesa, pelo menos aqueles vindos da Europa (como eu), frequentemente ignoram a origem Reformada da qual emergiu a fé Batista — a continuidade genealógica é certa. O trabalho excelente deste pastor franco-canadense sobre a teologia do pacto, ou dos pactos, que foi elaborada pelos antigos doutores Batistas no debate com outros teólogos Reformados, apresenta vividamente esta herança. Também se destacam as brilhantes habilidades com as quais aqueles doutores debateram; quando os Batistas ainda não haviam se retirado do campo de uma teologia sadia como fizeram, infelizmente, no século XIX.

 

Pascal Denault não é indigno desses notáveis predecessores. Por meio de um estudo cuidadoso, ele está seguindo os passos e trazendo à tona autores que infelizmente foram esquecidos, com os quais tenho aprendido muito. Com um olhar aguçado, refina ainda mais suas ideias. Eu, particularmente, o tenho admirado pela precisão das articulações sistemáticas e proposições apresentadas. Desse modo, a distinção pedobatista entre substância e administração do Pacto de Graça é substituída pela visão credobatista de sua revelação a partir de Gênesis 3 através do Antigo Testamento e seu estabelecimento por Jesus Cristo.

 

Pascal Denault também sabe como manter suspense, talvez para alguns estudos posteriores. Ele nos incita, por assim dizer, com um enigma não resolvido: como poderia o famoso John Owen desembarcar tão próximo aos Batistas no que diz respeito ao Pacto sem se unir a eles?

 

O debate continua irênico como foi no século XVII. Não vejo outro livro, hoje, tão adequado para esclarecê-lo. Obrigado!

 

Henri Blocher, D.D.
Deão honorário
Faculté Libre de Théologie Évangélique de Vaux-sur-Seine
Vaux-sur-Seine, França

 

 

Lembro-me de meu primeiro contato com Pascal Denault em 2002. Ele estava em minha turma de Apologética na Faculté de Théologie Évangélique em Montreal. Pareceu-me ser um jovem muito capaz, mas eu tinha dúvidas acerca de seu interesse em Teologia. Então, em 2004, ele se matriculou em minha turma de Homilética. Fiquei maravilhado com a transformação que houve nele em tão pouco tempo. Ele me interrompia com frequência, fazendo todo tipo de pergunta; ficou claro que seu coração estava por inteiro nas coisas do Reino. De fato, através de suas intervenções constantes, ele contribuiu para transformar minha turma de Homilética em uma turma de Teologia Pastoral.

 

Foi durante esse período que, certa noite, ele me abordou pedindo-me para ser seu tutor. De fato, aquilo me pegou de surpresa, mas aceitei com alegria. Foi o começo da mais abençoada amizade, tanto é que passei a considerá-lo como um filho.

 

Então veio esse projeto de mestrado de teologia no qual atuei como supervisor de estudo. Quando Pascal veio até mim com seu tópico de dissertação, eu não estava certo sobre para onde ele estava indo. Mas, ao passar dos meses, fiquei cada vez mais entusiasmado com as especificidades do assunto, bem como com o tratamento que lhe foi dado.

 

Não é necessário dizer que o assunto não poderia vir em melhor hora, pois a teologia do pacto está ganhando espaço no Protestantismo Evangélico. Quando entendi a teologia do pacto, cerca de três décadas atrás, pareceu-me como o mais coerente e consistente arcabouço de interpretação da Escritura. Não é um conceito novo, pois podemos traçar a ideia de pacto desde a Igreja Primitiva, e é também uma abordagem que ocupou nossos pais no tempo da Reforma. Sua importância vem do fato de que nenhuma doutrina existe isolada das outras; todas as doutrinas estão de alguma forma relacionadas. Assim, mais especificamente, a teologia do pacto influencia nossas doutrinas da Igreja e do Batismo.

 

Historicamente, os Puritanos defendiam a teologia do pacto, embora houvesse algumas diferenças em seu entendimento das alianças bíblicas. E é precisamente nesse ponto que os credobatistas Reformados e pedobatistas discordam; daí suas divergências quanto às doutrinas da Igreja e do batismo.

 

Para compreender as sutilezas de uma doutrina, é muito importante olhar para seu desenvolvimento, como as informações das Escrituras têm sido processadas e onde algumas mudanças têm ocorrido. É essa análise que constituiu a dissertação de Pascal apresentada neste livro. Não há como não se impressionar com a clareza e força de seus argumentos, a sabedoria ao selecionar a bibliografia e o espírito irênico com o qual ele escreveu. Ao trazer-nos de volta alguns dos escritos do século XVII, devemos nos perguntar como essas preciosas e importantes obras caíram no esquecimento.

 

Concordando ou discordando com os argumentos e com a conclusão de Pascal, ninguém pode ler este livro sem admitir a seriedade e a solidez dos fatos reportados, e que este é um dos livros mais recomendados sobre o assunto.

 

Conforme as próprias palavras de Pascal, um de seus desejos ao escrever este livro era dar vida nova aos debates dos teólogos do século XVII. Depois de lê-lo, certamente podemos dizer: missão cumprida.

 

Raymond Perron, Ph.D
Église Réformée Baptiste de la Capitale

Quebec, Canadá

 

Este livro de Pascal Denault é um acréscimo bem-vindo à literatura sobre um assunto que tem contrariado a muitos e por muito tempo. Está claro que a formulação da teologia do pacto dos Batistas Particulares do século XVII na Confissão de Fé Batista de Londres 1677/89 (cf. CFB1689 7.3, por exemplo) foi uma versão modificada da Confissão de Fé de Westminster. Mas por que a formulação diferente? A obra de Denault vai ad fontes (às fontes) para encontrar a resposta. E é exatamente por isso que estou tão agradecido por ela. As fontes primárias, os Batistas Particulares, estão onde deveríamos começar a procurar o entendimento da teologia de nossos antepassados. Denault mostra a partir dessas fontes não apenas que a formulação Batista da teologia do pacto era diferente, mas o porquê disso. É muito fácil notar que ela era diferente e então impor nossas categorias de pensamento sobre a Confissão para responder por quê. Esse é o tipo de conhecimento pobre e um método histórico-teológico ruim. O método de Denault é sólido e muito preciso em nossos dias de redescobrimento de nossas raízes. Seus achados são iluminadores e desafiarão a muitos. Ele argumenta que a principal diferença não tem nada a ver com o Pacto de Obras. Os Batistas Particulares eram uníssonos com seus irmãos pedobatistas quanto a essa questão; nem era o foco nos sujeitos do batismo a principal diferença, embora esse fosse um assunto relacionado. A principal diferença, de acordo com Denault (e acho que ele está certo), tem a ver com a visão da teologia do pacto, principalmente a definição de Pacto da Graça e as diferenças entre a antiga e a nova aliança à luz daquela definição.

 

Denault chama Nehemiah Coxe de “o teólogo Batista mais significante no que diz respeito à teologia do pacto”. Ele está corretíssimo. Coxe escreveu um tratado sobre as alianças de Adão a Abraão e foi, provavelmente, um coeditor da CFB1689. Assim, qualquer tentativa de entender nossa Confissão deve começar com Coxe e o contexto no qual ele escreveu. É isso que Denault faz por nós.

 

É interessante notar que Coxe não escreveu sobre as diferenças entre a antiga e a nova aliança devido à publicação do comentário expositivo de John Owen de Hebreus 8:6-13. Os antigos Batistas concordavam com muito da obra de Owen (e da obra de outros pedobatistas sobre o assunto). Entretanto, eles discordavam de Owen e outros em diferentes pontos. O trabalho de Denault revela-nos quais eram esses outros pontos e como eles argumentavam a partir da teologia do pacto em favor do credobatismo.

 

Recomendo esta obra, com sinceridade, a todos os pastores Batistas Reformados (e a todos interessados na teologia do pacto). Irmãos, este é um livro obrigatório. Eu, como pastor Batista Reformado, lembro-me da primeira vez que li uma teologia do pacto do século XVII a partir da perspectiva Batista. Foi tanto desafiador como revigorante. Desafiou-me a repensar como a teologia do pacto deveria ser formulada e trouxe-me refrigério em dois níveis. Primeiro, deu-me um sistema sólido de doutrina que refletia os ensinos da Escritura, da criação à consumação. Segundo, ajudou-me a entender melhor nossa Confissão. Que esta obra faça o mesmo a muitos outros!

 

Richard C. Barcellos, Ph.D.
Grace Reformed Baptist Church
Palmdale, Califórnia, EUA

 

 

Pascal Denault merece muitos agradecimentos por seu trabalho ao pesquisar e descrever as nuances da teologia do pacto da Inglaterra no século XVII. Ele mostrou fatores significantes que contribuíram para as diferenças entre o pensamento e a prática dos Presbiterianos e Batistas Particulares, descrevendo categorias teológicas em termos fáceis e acessíveis. Ele mostra que, nas formulações da teologia do pacto, os dois grupos tinham tanto similaridades quanto divergências significantes. Por exemplo, que a ideia popular de que os Batistas hesitaram no conceito de Pacto de Obras em sua Confissão é totalmente falsa; de fato, eles concordam completamente com os pedobatistas nesse ponto, mas diferem quanto à natureza da revelação e administração do Pacto da Graça. Isso guiou sua eclesiologia e prática do credobatismo. Esta é uma obra importante e merece grande circulação.

 

James M. Renihan, Ph.D.
Deão e Professor de Teologia Histórica
Institute of Reformed Baptist Studies
Escondido, Califórnia, EUA

 

É com grande prazer que recomendo esta tese de mestrado do pastor Pascal Denault. O pastor Denault identificou a diferença primária entre a teologia do pacto Presbiteriana e a teologia do pacto Batista Reformada que leva às suas respectivas doutrinas da Igreja e dos sacramentos. Com muitas referências às fontes originais do século XVII, ele mostra que o conceito Presbiteriano de Pacto da Graça repousa sobre uma hermenêutica de substância/administração que conduz à estrutura “um pacto sob duas administrações (AT/NT)”. Essa estrutura permite aos Presbiterianos transferir o elemento orgânico de “crentes e sua semente” da administração do pacto Abraâmico/Sinaítica para a administração da Nova Aliança, tornando possível uma Igreja mista de crentes e não crentes, bem como o batismo infantil correspondente à circuncisão. Além do mais, ele mostra que o desenvolvimento Batista Reformado do Pacto da Graça foi estabelecido pela estrutura “revelado/concluído” (promessa/consumação), revelado progressivamente no AT pelas “alianças da promessa” e concluído no NT pela instituição da Nova Aliança como o cumprimento da promessa do Pacto da Graça. Essa é a diferença primária entre as teologias do pacto da Confissão de Westminster e da Segunda Confissão Batista Londrina de 1689.

 

            Com ricas citações de fontes originais, Presbiterianas e Batistas, do século XVII (que por si só já valem o preço do livro), o pastor Pascal Denault mostra que os Batistas concordavam em sua estrutura revelado/concluído com John Owen, embora ele tivesse permanecido pedobatista. Sua tese é que os Batistas levaram a mesma estrutura de Owen às últimas consequências ao estabelecer “o batismo apenas de discípulos” em um modelo de igreja confessional, ao contrário dos Presbiterianos. Sua conclusão final é que o compromisso Presbiteriano com o batismo infantil afetou sua relutância em adotar o modelo Batista “revelado/concluído” no lugar do modelo “um pacto sob duas administrações”, consciente ou inconscientemente.

 

            O valor desta obra é que ela esclarece a diferença entre os modelos Presbiteriano e Batista de Pacto da Graça, defendendo adequadamente o modelo Batista, bem como esclarecendo esse modelo como uma base para unificar as diferenças entre os batistas quanto à teologia do pacto hoje. Oro para que esta obra contribua para o surgimento de mais igrejas Batistas Reformadas aliancistas que evitem os erros do Dispensacionalismo, da Teonomia, da Visão Federal e os erros relativos à Lei/Evangelho. Este livro vale a pena ser lido por todos os interessados.

 

Fred A. Malone, Ph.D.
Author de The Baptism of Disciples Alone
First Baptist Church of Clinton
Clinton, Luisiana, EUA

 

 

A beleza da teologia do pacto é que ela fornece ao estudante da Bíblia um arcabouço compreensivo e coeso da história da redenção. Isso é importante porque tanto a compreensão como a coesão são vitais para qualquer sistema bíblico concebido: especialmente para um sistema doutrinário que procura explicar o relacionamento ente as várias alianças do Antigo e do Novo Testamento. Pascal Denault não apenas mostra os distintivos históricos entre a teologia do pacto Presbiteriana e Batista do século XVII, mas também explica que os primeiros autores do Federalismo Batista entenderam a inconsistência de colocar o Pacto Mosaico no Pacto da Graça. Essa inconsistência faz com que a Teologia do Pacto Pedobatista se desmorone sobre seu próprio peso. De acordo com Pascal, o Federalismo dos primeiros Batistas não era idêntico ao Federalismo Presbiteriano, com exceção do batismo infantil, mas era um sistema aliancista mais bíblico e puro, que também é compreensivo, coeso e autossustentável. Pascal prossegue para uma elucidação fiel do entendimento pactual dos primeiros Batistas ao tornar acessível uma vasta quantidade de pesquisa nas fontes primárias. Não acho apenas que este é um recurso excelente e valioso, mas também acredito que é um dos melhores sobre esse assunto. Este é um livro tão informativo e útil, que oro para que nosso Senhor providencialmente o coloque nas mãos de cada estudante de teologia do pacto.

 

Jeffrey D. Johnson, Th.D.
Autor de The Fatal Flaw of the Theology Behind Infant Baptism
Grace Bible Church
Conway, Arkansas, EUA

 

 

O trabalho cuidadoso de Pascal Denault sobre os textos teológicos tanto de Batistas como de Presbiterianos do século XVII tem produzido um excelente estudo da relação do batismo com o aliancismo comumente partilhado. Ao mesmo tempo, tem mostrado que uma interpretação Batista distinta da substância da Nova Aliança, ou seja, que todas as suas condições tendo sido cumpridas na obra de Cristo, seu Mediador, resultando, assim, em uma aplicação incondicional dela a seus beneficiários, formou a diferença mais básica entre esses dois grupos. Seu trabalho diligente com os documentos do século XVII produziu uma defesa forte, biblicamente centrada e pactual do batismo de crentes, e é digno de um lugar de destaque nas discussões atuais acerca do aliancismo e do batismo.

 

Thomas J. Nettles, Ph.D.
Professor de Teologia Histórica
Southern Baptist Theological Seminary
Louisville, Kentucky, EUA

 

 

A questão do relacionamento entre a Antiga e a Nova Aliança não é nova. É tão velha como o Cristianismo, mas tornou-se uma “batata quente” desde a era Puritana. Esse período da história Cristã viu o surgimento dos Batistas a partir da matriz Puritana, e, enquanto que os Batistas compartilhavam muito em comum com seus antepassados Puritanos, eles discordavam de seus pais e irmãos na Fé em como a Nova Aliança se relacionava com a Antiga. Este novo estudo de Pascal Denault é muito útil em fornecer um resumo preciso da discussão histórica entre Batistas e seus companheiros Puritanos e, assim, em mostrar o caminho pelo qual esse debate deve ser conduzido no tratamento atual dessa questão de importância vital.

 

Michael A.G. Haykin, Th.D.
Professor de História da Igreja e Espiritualidade Bíblica
The Southern Baptist Theological Seminary

Louisville, Kentucky, EUA


 

 

 

 

Os Distintivos da Teologia Pactual Batista

 

 

Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII

 

 

Edição Revisada

 

 

Pascal Denault

 

 


 

Resumo

 

Esta dissertação lida com a teologia pactual. Tal abordagem à Escritura nasceu da Reforma Protestante e foi desenvolvida extensivamente daí por diante, particularmente pelos Puritanos do século XVII. A teologia do Pacto é o fundamento do pensamento Reformado como delineado na Confissão de Fé de Westminster (1646).

 

Havia um consenso no coração do Puritanismo reformado acerca das doutrinas da revelação, da Trindade, da soberania divina, da Queda e do pecado do homem, da graça de Deus, da pessoa e da obra de Cristo e, em algum grau, da lei. No entanto, havia importantes discordâncias quanto à doutrina da Igreja, bem como quanto à do batismo. Essas duas doutrinas não poderiam ser consideradas isoladamente porque elas tinham as mesmas implicações teológicas. Essas implicações são o que chamamos de teologia do pacto. O fato de que os Puritanos tinham diferentes pontos de vista acerca da Igreja e do batismo é o resultado das diferentes maneiras de entender as alianças bíblicas.

 

Os Puritanos do século XVII podiam ser separados em três grupos: Presbiterianos, Congregacionais e Batistas. Os dois primeiros grupos eram pedobatistas, ao passo que o terceiro era credobatista. A divisão quanto à teologia do pacto foi causada pela questão do batismo. Os pedobatistas defendiam um entendimento da teologia do pacto e os Batistas defendiam outro. O objetivo deste estudo é apresentar e comparar essas duas abordagens distintas. Desejamos dar nova vida aos debates dos teólogos do século XVII ao usar seus próprios escritos. À medida do possível, tentaremos definir as características das teologias Pedobatista e Batista, para dar ao leitor uma ideia clara daquilo que distinguia esses dois grupos.

 

A introdução desenvolverá, posteriormente, a utilidade da hipótese que afirma que a teologia do pacto é a distinção fundamental sobre a qual todas as outras diferenças entre Presbiterianos e Batistas são construídas. Depois de uma breve visão geral do desenvolvimento da teologia do pacto, examinaremos as fontes usadas nesta obra.

 

O Capítulo 1 explica como os reformadores entenderam o Pacto de Obras. Esse capítulo é pequeno, visto que a divergência vital entre as duas teologias que são o tema desta tese não foi encontrada nesse nível. O segundo capítulo, sobre o Pacto da Graça, é o mais extenso, uma vez que apresenta o fundamento da fé Pedobatista e Batista. Descobriremos as duas formas, radicalmente diferentes, de pensamento que fundamentam as duas teologias distintas. Cada concepção do Pacto da Graça teve consequências teológicas e hermenêuticas que examinaremos.

 

Os dois últimos capítulos, sobre a Antiga e a Nova Alianças, baseiam-se no Capítulo 2. O Pacto da Graça determinou a maneira como as outras alianças bíblicas foram entendidas pelos Presbiterianos e Batistas. Uma vez que a maioria das considerações das questões acerca da Nova Aliança é abordada no segundo capítulo, o capítulo da Antiga Aliança é maior. Esse capítulo cobre o pacto Abraâmico em relação ao Pacto da Graça e ao pacto Mosaico. Veremos, na maior parte, como os Batistas rejeitaram o entendimento Presbiteriano desse pacto e como eles o substituíram. O capítulo também lida com o pacto Mosaico, sua natureza e como ele se relaciona com o Pacto de Obras e com a Nova Aliança. O capítulo sobre a Nova Aliança limita-se à questão de sua novidade. Isso é feito respectivamente aplicando os paradigmas Pedobatista e Batista ao Pacto da Graça. As consequências de um modelo teológico versus o outro se tornam aparentes quando eles são aplicados à Nova Aliança.

 

Ao final deste estudo, o leitor deve ter um claro entendimento dos distintivos fundamentais existentes entre as teologias Batista e Pedobatista e onde elas culminam respectivamente.

 


 

Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII.

Traduzido da versão em inglês, que por sua vez foi traduzida do francês por Mac e Elizabeth Wigfield:

The Distinctiveness of Baptist Covenant Theology: A Comparison between Seventeenth-Century Particular Baptist and Paedobaptist Federalism (Revised Edition)

Por Pascal Denault

Copyright © 2013 Pascal Denault. Todos os direitos reservados.

Publicado por Solid Ground Christian Books

Vestavia Hills AL 35266

Copyright © 2018 Editora O Estandarte de Cristo

São Paulo, SP, Brasil

1ª edição em português: 2018.

ISBN: 978-85-85200-01-5

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Tradução: Rafael Junio Abreu

Revisão ortográfica: Helen Bampi

Editor: William Teixeira

Capa: Guy Leroux

Adaptação da Capa: William Teixeira

 


 

Sumário

 

Prefácio e Agradecimentos.

Prefácio da  Edição Revisada.

INTRODUÇÃO

1. Hipótese

2. Metodologias e Fontes Originais

2.1. Confissões de Fé e Catecismos

2.2. Teólogos Pedobatistas e Batistas

2.3. John Owen, o Batista

3. Breve Resumo Histórico da Teologia Pactual

CAPÍTULO 1  O PACTO DE OBRAS

1. Descrição e Função do Pacto de Obras

2. A Relação Entre o Pacto de Obras e a Antiga Aliança

CAPÍTULO 2  O PACTO DA GRAÇA

1. O Pacto da Graça no Século XVII

1.1. O Socianismo e o Pacto da Graça

2. O Pacto da Graça como Visto pelos Pedobatistas: Um Pacto Sob Duas Administrações

2.1. Uma Distinção Fundamental entre a Substância e a Administração

2.2. Do Modelo “Um Pacto Sob Duas Administrações” para o Princípio de Sucessão

2.3. Um Pacto Sob Duas Administrações: Um Modelo Geral

3. O Pacto da Graça como Visto pelos Batistas: Um Pacto Revelado Progressivamente e Formalmente Concluído

3.1. Unidade Acima de Tudo

3.2. A Rejeição do Modelo Presbiteriano

3.3. A Afirmação do Modelo Batista

4. Resumo

5. Algumas Comparações entre esses Dois Modelos

5.1. As Comparações Hermenêuticas

5.2. Comparações Teológicas

6. Conclusão

CAPÍTULO 3  A Antiga Aliança

1. O que Significa a Expressão “Antiga Aliança”?

1.1. O Aspecto Cumulativo da Antiga Aliança

1.2. Uma Dificuldade para os Pedobatistas

2. O Pacto Abraâmico

2.1. A Dualidade do Pacto Abraâmico

3. O Pacto Mosaico

3.1. O Propósito da Antiga Aliança

3.2. A Natureza da Antiga Aliança

4. Conclusão e Resumo

CAPÍTULO 4  A Nova Aliança

1. A Novidade da Nova Aliança

1.1. A Natureza Incondicional da Nova Aliança

1.2. A Substância da Nova Aliança

CONCLUSÃO.

BIBLIOGRAFIA.

Fontes Primárias

Fontes Secundárias


 

Prefácio e Agradecimentos

 

Os Batistas, ao caminharem com os separatistas Puritanos dos séculos XVI e XVII na Inglaterra, rejeitaram o Presbiterianismo diretamente herdado da Reforma de Genebra segundo os ensinos de João Calvino. Entretanto, esses mesmos Batistas chamaram-se Calvinistas. O que distinguia um Presbiteriano Calvinista de um Batista Calvinista? Você verá que esta é uma questão crucial para alguém que deu os nomes Calvin e Baptiste a seus filhos. A resposta rápida para essa pergunta é o batismo. A resposta longa é a teologia que implica no batismo: a teologia do pacto. Nesta dissertação, estudaremos a resposta longa ao comparar duas formas diferentes de entender a teologia do pacto no século XVII: a corrente principal de entendimento dos Presbiterianos, que eram pedobatistas, e a corrente não convencional dos Batistas, que se recusaram a batizar suas crianças e praticaram o batismo de crentes.

 

Escrever esta dissertação não teria sido possível sem o apoio inestimável e ajuda de várias pessoas a quem quero agradecer. Primeiro, gostaria de agradecer meus amados irmãos e irmãs da Église Évangélique de St-Jérôme que pagaram um alto preço pela teologia que será apresentada nestas páginas ao tornarem-se uma igreja Batista Reformada. Eu estava para começar essa pesquisa em 2007 para obter o título de mestre em teologia. Planejei para que fosse um projeto rápido e fácil. No inverno de 2009, ainda não tinha feito nada, por estar muito ocupado com minhas outras obrigações. Foi aí que minha igreja decidiu me liberar de minhas obrigações pastorais por quatro meses, de maneira que eu pudesse me devotar completamente para esse projeto. Passei semanas em comunhão com teólogos do século XVII através de seus escritos; algumas vezes lendo-os com lentes de aumento quando a edição original existia. No final desses quatro meses, ainda não tinha começado a escrever; mas eu sabia o que iria dizer. Levei ainda um pouco mais de um ano para terminar. Durante todo esse tempo, a igreja me apoiou incondicionalmente através de orações e frequentemente ajudando em nossa casa me permitindo trabalhar com grande paz. Hoje, fico tocado e sinceramente agradecido quando penso sobre o amor que vocês demonstraram a mim. Estar unido a vocês na Nova Aliança é uma imensa alegria, e servi-los é uma honra.

 

Quero agradecer à Caroline, minha esposa, com quem estou descobrindo as promessas e obrigações de uma vida de aliança. Sua perseverança comigo nessa jornada tem sido um grande conforto para mim e uma manifestação real de seu amor para comigo, nosso lar e, acima de tudo, para com Ele, que nos amou primeiro.

 

Um agradecimento especial também é devido ao Dr. Raymond Perron, que tem sido não apenas um orientador de tese, mas um verdadeiro pastor. Obrigado por seu encorajamento constante, o qual foi uma fonte genuína de motivação para continuar. Obrigado por sua intercessão com os homens e com Deus.

 

Agradeço também ao Dr. James M. Renihan, que não apenas me ensinou sobre teologia e história dos Batistas, mas também me ajudou grandemente com sua bibliografia ao permitir-me encontrar as obras mais essenciais para esta dissertação. Obrigado pela prontidão de suas respostas aos meus inúmeros e-mails e dúvidas, particularmente enquanto estava escrevendo a introdução desta obra. Agradeço a Richard C. Barcellos, que abriu meu entendimento para os escritos de John Owen e que fez várias sugestões úteis para o aprimoramento desta obra. Também gostaria de agradecer outros professores que me ajudaram a entender melhor o Pacto e a teologia Batista: Dr. Fred A. Malone, Dr. Samuel E. Waldron, Dr. Thomas J. Nettles. Obrigado ao Dr. Meine Veldman e Dr. Michael A.G. Haykin por seus comentários que ajudaram a remodelar algumas áreas desta dissertação. Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer a Faculté de Théologie Évangélique de Montréal, onde fui treinado em teologia, especialmente ao deão Dr. Amar Djaballah, um dos homens de Deus que influenciaram grandemente meu pensamento.

 

Obrigado ao Irmão Guy Leroux pelo design da capa. Obrigado ao Irmão Steve Cyr, que prontamente concordou em me substituir como capelão na prisão. Obrigado a todos aqueles que pregaram durante minha ausência: Antoine Robillard, Réal Cyr e os pastores da Associação Batista de Igrejas Reformadas de Quebec. Obrigado a François Comeaulte, que permitiu me beneficiar do acesso de seu computador a obras essenciais do século XVII, sem isso tal acesso não seria possível. Agradeço à sua esposa Linda Cyr, que traduziu todas as citações em inglês para publicação desta obra em francês. Obrigado a Mac Wigfield e sua filha Elizabeth por prepararem a versão em inglês deste livro.

 

Acima de tudo, dou graças a Ele, que unicamente é digno de toda glória, honra e louvor; ao nosso Deus que deu Seu único Filho para ser eterno mediador de uma aliança tão certa e permanente com Sua própria vida, o qual é o fiador. Senhor, tenho sido inundado e transformado ao contemplar a glória revelada do Pacto de Sua graça. A Ti seja todo o louvor!

 

Gostaria de dedicar esta obra aos meus amados colegas que são ministros fiéis de Cristo e com quem carrego com orgulho o nome de Batista Reformado. Estava falando com vocês ao escrever estas linhas. Vejo vocês como campeões da graça e da verdade. Não gostaria de servir a nosso Mestre sob qualquer outra aliança senão aquela que nos une e que tanto prezamos.

 

Pascal Denault,
St-Jérôme, Quebec, Canadá.
www.unherautdansle.net

 


 

Prefácio da Edição Revisada

 

Esta edição revisada de Os Distintivos da Teologia Pactual Batista não trata apenas da correção dos erros ortográficos encontrados na edição de 2013. Este prefácio explicará resumidamente as mudanças que foram realizadas.

 

Alterações menores, mas não menos importantes, dizem respeito à atualização bibliográfica com novas obras sobre a teologia do pacto que se tornaram disponíveis desde a primeira publicação de Os Distintivos. Revisamos e aprimoramos as traduções para uma melhor leitura e compreensão. Além disso, graças às prestativas observações do pastor Samuel Renihan, corrigi algumas declarações exageradas que fiz quanto aos pontos de vista defendidos pelos Batistas Particulares como se houvesse apenas uma visão comum sobre o Pacto da Graça e sua relação com a Antiga e a Nova Aliança. Não revisei o livro a ponto de apresentar esses outros pontos de vista defendidos por alguns Batistas Particulares, mas fui mais cuidadoso com algumas afirmações a fim de, pelo menos, reconhecê-las. Quanto a esse assunto, os leitores certamente se beneficiarão do estudo de doutorado[1] do pastor Renihan que, esperamos, seja publicado em breve.

 

Beneficiei-me grandemente de frutíferas conversas com pastores Presbiterianos e irmãos que ajudaram fazendo críticas aos argumentos que apresentei. Isso me levou a um entendimento mais refinado da distinção entre igreja visível/invisível, o que me fez rescrever algumas seções do livro. Sem endossar por completo o paradigma pedobatista da igreja visível mista, cheguei a uma conclusão eclesiológica mais robusta e, penso eu, a um entendimento mais bíblico e Batista desta importante distinção. Também modifiquei alguns comentários a respeito do pedobatismo que foram percebidos como sendo um pouco severos ou desnecessariamente provocativos. Ainda desejava oferecer uma crítica da visão Presbiteriana, entretanto no espírito irênico de nossos antepassados. Os leitores encontrarão, ao fim desta edição revisada, um novo quadro comparativo das diferenças entre a visão Presbiteriana e a visão Batista Particular dos pactos.

 

Finalmente, fui estimulado por muitas discussões entre a comunidade Batista Reformada que me forçou a articular uma teologia pactual mais precisa e consistente em alguns pontos específicos. No processo, rejeitei a ideia de que o pacto Mosaico oferecia a vida eterna como uma republicação absoluta do Pacto de Obras. Cheguei à compreensão de que o pacto Mosaico estava estritamente limitado à vida em Canaã e ligado apenas tipologicamente às realidades celestiais trazidas pela Nova Aliança. Antes eu havia endossado a visão de Samuel Petto, que entende o pacto Mosaico como ambos: um pacto de obras terreno para Israel em Canaã, e um pacto de obras absoluto para Cristo, a fim de que Ele obtivesse vida eterna. Ainda creio na primeira afirmação, que diz respeito a Israel, mas, agora, acredito que a outra, que diz respeito a Cristo, só é verdadeira em um sentido tipológico. Em outras palavras, Cristo não cumpriu a Antiga Aliança, mas a Nova Aliança que foi estabelecida como uma aliança de obras entre Ele e o Pai (o Pacto de Redenção), cujos termos foram prefigurados, mas não propriamente estipulados na Antiga Aliança.

 

A questão principal, a meu ver, é que eu costumava misturar tipo e antítipo, ou a sombra com a realidade, no mesmo pacto ao atribuir a vida eterna como promessa intrínseca ao pacto Mosaico. Creio que essa abordagem mista da teologia da aliança é a essência do pedobatismo com sua distinção interna/externa que mistura reino terreno com reino celestial, Antiga Aliança com Nova Aliança etc. O Federalismo de 1689, entretanto, baseia-se nas distinções fundamentais entre antigo e novo, tipo e antítipo, sombra e realidade, e, portanto, distingue entre a republicação tipológica Mosaica e a Nova Aliança estabelecida por Cristo: tipologicamente relacionada, mas essencialmente distinta.

 

Esta edição revisada de Os Distintivos da Teologia Pactual Batista agora reflete essa visão, que, acredito eu, seja a visão de Coxe e Owen. Muitos irmãos se envolveram em importantes discussões que me levaram a esse esclarecimento. Eu quero agradecer, especialmente, ao irmão Brandon Adams, que contribuiu muitíssimo, e quero recomendá-lo por todo o seu labor pela causa do Evangelho em sua defesa ao Federalismo de 1689. Os leitores encontrarão muitos recursos úteis ao visitar seu website: 1689federalism.com.

 

Pascal Denault,

St-Jérôme, Qc

Novembro, 2016

 

 


 

Prefácio à Publicação em Português

 

Este livro sem dúvida é uma das mais importantes publicações que já fizemos e marca o início das atividades de O Estandarte de Cristo enquanto editora formal. O seu tema e exposição são do mais alto interesse de todos aqueles cristãos Reformados que também tomam para si o nome de “Batistas”. Como C.H. Spurgeon diz:

 

A doutrina do pacto de Deus está na raiz de toda teologia verdadeira. Tem sido dito que aquele que entende a diferença entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça é um mestre em teologia. Estou persuadido de que a maioria dos erros cometidos pelos homens acerca das doutrinas da Escritura está baseada em erros fundamentais com relação aos Pactos da Lei e da Graça.[1]

 

O entendimento de que o “pacto de Deus” e a estrutura pactual da revelação e o relacionamento de Deus com Seu povo “está na raiz de toda a verdadeira teologia” era consenso entre todos os Batistas Particulares e Confessionais até os dias de Spurgeon. A teologia pactual está para o corpo da teologia bíblica assim como a coluna vertebral está para o corpo humano. A perda desse entendimento acerca da importância e da centralidade da teologia pactual foi talvez o mais terrível e incalculável dano que Satanás impôs àqueles que deveriam ser os herdeiros da teologia dos Batistas Particulares Puritanos ingleses, e isso ele fez principalmente ao roubar-lhes a sua Confessionalidade.

 

É triste ver que tanto a herança bíblica, confessional e pactual dos primeiros Batistas Particulares se perdeu a ponto de que hoje em dia o termo Batista é quase sinônimo de Dispensacionalista e Antinomiano (e Arminiano). E, por outro lado, os termos teologia do pacto, pactual, aliancismo, federalismo são quase sinônimos de Pedobatismo Presbiteriano.

 

Mas, graças ao nosso Deus, as coisas estão começando a mudar no cenário nacional. Há uma geração de jovens e pastores Batistas que está se levantando com poder, coragem e zelo para aprender e proclamar as doutrinas confessados pelos antigos Batistas Particulares; são pessoas sérias e de bom testemunho, desejosos da verdade das Escrituras e dispostos a pagar altíssimo preço de viver para a glória do seu Deus em meio a uma geração perversa. Sinto que Deus está fazendo uma grande obra entre nós!

 

E diante desse contexto, este livro do pastor Batista Reformado canadense Pascal Denault vem para suprir uma grande necessidade. O livro consiste em uma magistral, clara e fiel apresentação e comparação entre os dois principais federalismos do século XVII, o federalismo Batista de 1689 e o federalismo Presbiteriano. Apesar de jovem, esse livro já se tornou um clássico e leitura obrigatória para todos os Batistas e para aqueles que desejam entender seu federalismo.

 

Considero esse livro como a principal introdução do Federalismo de 1689 para os Batistas brasileiros: Primeiro, por trazer definições bíblicas, claras e confiáveis sobre a teologia pactual dos Batistas; segundo, por apresentar alguns dos autores mais importantes que trataram do assunto, pelas abundantes citações e uma vasta bibliografia para pesquisa e aprofundamento; terceiro, por mostrar habilidosamente a distinção inequívoca entre o Federalismo de 1689 e o Federalismo Presbiteriano de Westminster, pois percebo que há uma grande confusão e ignorância entre as definições e distinções (e, consequentemente, acerca das implicações práticas e doutrinárias delas) entre os modelos pactuais Batista e Presbiteriano; e, quarto, porque ajudará grandemente os Batistas brasileiros que têm se interessado pelas doutrinas bíblicas expostas na Confissão de Fé de 1689 a entenderem — com diz Spurgeon — como a doutrina do pacto de Deus está na raiz de toda teologia verdadeira, a entenderem a diferença entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça e a evitarem a maioria dos erros cometidos pelos homens sobre as doutrinas da Escritura, que estão baseados em falhas fundamentais com relação aos Pactos da Lei e da Graça.

 

Para concluir, quero renovar minha intensa oração, anelo e apelo para que todos os Batistas do nosso tempo, que juntamente conosco “se alegram nas doutrinas gloriosas da livre graça”,[2] com zelo estudem e examinem esta obra, à luz das Escrituras Sagradas e em oração. Pois, acredito piamente que uma compreensão bíblica, doutrinária e piedosa da teologia pactual Batista confessional de 1689 (ou simplesmente Federalismo de 1689), é salutar e indispensável aos Batistas Reformados de nosso tempo que buscam voltar à uma confessionalidade bíblica, e à vida e doutrina que são segundo a piedade. E para esta finalidade, este livro será, segundo a bênção de nosso Deus, de grande auxílio, pois foi escrito de forma precisamente bíblica e extremamente primorosa, honesta e didática, por um dos mais legítimos representantes de nossa preciosa fé comum no que seja o puro ensino das Escrituras Sagradas, e para defesa da Santíssima Fé que uma vez foi dada aos santos para a glória do nosso Deus — Pai, Filho e Espírito.

 

Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível,

Ao único Deus sábio, Senhor e Salvador nosso,

Seja glória e majestade, louvor e honra, domínio e poder,

Agora, e para todo o sempre. Amém e Amém!

 

William Teixeira,
24 de julho de 2018.

 


[1] C. H. Spurgeon. O Maravilhoso Pacto. 1ª Ed. (EC, 2016), 3.

[2] Retirado da apresentação de  A Confissão de Fé Batista de 1689, 9ª edição revisada, EC, 2018. (A nossa tradução e edição da Confissão está em sua 9ª edição porque foram feitas muitas pequenas, porém importantes, revisões e melhoramentos em sua tradução desde a publicação de sua 1ª edição, em agosto de 2014).


 

              INTRODUÇÃO

 

Não há dúvida de que os Batistas e Pedobatistas Presbiterianos do século XVII tinham uma teologia parecida. A natureza quase idêntica da Confissão de Fé de Westminster e da Segunda Confissão de Fé Londrina é testemunha desse fato inegável. Nesta obra, entretanto, não investigaremos o que unia os Batistas e os Pedobatistas,[2] mas sim o que os distinguia.

 

1. Hipótese

 

A diferença mais óbvia entre Batistas e Presbiterianos é o batismo. Entretanto, o batismo não é o distintivo fundamental entre esses dois grupos. Propomos que a teologia pactual[3] é o que caracteriza os Batistas e Pedobatistas, e que todas as divergências existentes entre eles, tanto teológicas como práticas, incluindo o batismo, derivam-se de suas diferentes maneiras de entender os pactos bíblicos. O batismo não é, portanto, o ponto de origem, mas a consequência das diferenças entre pedobatistas e credobatistas. Ligon Duncan escreve: “O principal ponto de controvérsia entre a posição Batista e a posição Presbiteriana, ou pedobatista, não está em nossas doutrinas dos sacramentos. Está em nossas doutrinas acerca da Igreja”.[4]

 

Não é o batismo em si o ponto de divergência; mas sim o batismo abordado de acordo com a doutrina da Igreja (que não está em nenhum outro âmbito senão no da teologia do pacto). Antes de perguntar: “Quem pode ser batizado?”, há uma questão mais fundamental: “Quem está no pacto?”. Essa é a consideração mais imprescindível ao se definir a identidade dos Batistas. Esse é o porquê de, apesar da grande proximidade entre a eclesiologia Congregacional e Batista, essa matéria haver se constituído em ponto de divisão entre os dois grupos ao invés de uni-los. James Renihan escreve: “Isso não quer dizer que seus pontos de vista são mutuamente excludentes, mas simplesmente que a eclesiologia foi a força motriz por trás do movimento Batista e forneceu uma identidade distinta daquela dos Independentes”.[5]

 

Os Batistas não consideraram a questão do batismo como um assunto separado; para eles, essa matéria estava intrinsecamente ligada à sua teologia como um todo e ao seu entendimento geral das Escrituras. Eles rejeitaram o pedobatismo baseando-se em algo mais do que em uma análise da prática do batismo no Novo Testamento e no fato de que ali não se encontram exemplos de batismo infantil. Esse tipo de argumento — princípio regulador, definição de batismo no Novo Testamento, etc. — era de importância secundária na apologética Batista.[6] O debate em torno do batismo envolvia uma questão muito maior do que aquela da prática sacramental. Era um debate sobre a estrutura das Escrituras; o significado e a natureza das diferentes alianças que Deus fez com os homens; continuidade e descontinuidade na revelação e a realização do plano de Deus; a própria natureza do Evangelho e da Igreja estava no centro desse debate.[7] Os Batistas não apenas contestavam uma prática que parecia equivocada, mas também um sistema teológico global subjacente a essa prática, desafiando, assim, os fundamentos principais do federalismo Presbiteriano.[8]

 

Os Batistas, portanto, não procuravam definir a doutrina do batismo primeiro para depois a ajustar à doutrina da Igreja. Sua doutrina do batismo era a consequência de uma abordagem teológica, semelhante em diversos aspectos, mas ao mesmo tempo com claras diferenças daquela da maioria dos pedobatistas da época. A questão que os preocupava não era simplesmente quem poderia ser batizado nem qual a forma bíblica dessa prática. A questão que fez deles Batistas era saber quem compunha o povo de Deus. Essa indagação levantou uma série de outras questões que trouxeram à tona uma teologia do pacto diferente daquela herdada pela Reforma. Evidentemente, Batistas e pedobatistas não tinham a mesma opinião acerca de quem compõe a Igreja. Quando eles debateram essa questão e as consequências necessárias, o batismo se tornou a manifestação concreta de suas respectivas convicções. De acordo com David Benedict, o debate em torno do batismo, que começou em meados do século XVII, trouxe à tona uma abordagem inovadora para a teologia federal.[9] O pensamento teológico estava florescendo durante aquela época e teve a teologia federal como seu arcabouço. Os Batistas nasceram nesse contexto de progresso teológico. Seu aparecimento repentino é em si mesmo uma ramificação do pensamento Reformado. Em um curto período de poucas décadas, os Batistas articularam sua própria teologia. O objetivo de nosso trabalho será trazer à luz a natureza específica dessa teologia, particularmente, seu entendimento distinto das alianças bíblicas.

 

 

2. Metodologias e Fontes Originais

 

Uma das dificuldades de nosso trabalho vem do fato de não haver uma interpretação consensual da teologia do pacto entre Pedobatistas[10] nem entre os Batistas. Quando tentamos definir a abordagem Pedobatista, é impossível apresentar uma definição que contenha todos os aspectos. Igualmente, há muitos aspectos controversos no lado Batista.[11] Tentaremos, no mínimo, limitar os princípios teológicos gerais que caracterizam as duas partes que serão comparadas. Nosso método consistirá em definir a diferença fundamental entre os Presbiterianos e os Batistas do século XVII tendo como base os diálogos preservados através de seus escritos. Usaremos as fontes originais diretamente. Essas fontes são compostas por confissões de fé e vários tratados escritos por teólogos pedobatistas e Batistas.[12]

 

Embora este livro esteja relacionado à teologia histórica, a abordaremos a partir de uma perspectiva das teologias bíblica e sistemática. Portanto, não seguiremos o desenvolvimento do modo Batista de pensar linearmente, mas apresentaremos essa perspectiva ao seguirmos a ordem bíblica das alianças. Esse método nos permitirá sistematizar a teologia Batista a fim de compará-la com a teologia pedobatista.

 

 

2.1. Confissões de Fé e Catecismos

 

Dois documentos são particularmente importantes em nossa pesquisa: a Confissão de Fé de Westminster e a Segunda Confissão de Fé Londrina, mais conhecida como Confissão de Fé Batista de 1689 (CFB1689). Esses documentos são importantes, pois não representam a opinião de um só teólogo isolado, mas a posição oficial adotada respectivamente por Pedobatistas e Batistas. A Confissão de 1689 é, de fato, uma versão Batista da Confissão de Fé de Westminster. Ela é, portanto, essencial na análise de como os Batistas modificaram essa Confissão de Fé: o que mantiveram, o que omitiram, reformularam ou adicionaram.[13]

 

A Primeira Confissão de Fé Londrina (1644-46) se revela uma fonte de igual importância. Embora não apresente a teologia do pacto substancialmente, nos permite inferir que, desde suas origens, os Batistas aderiram à abordagem Reformada do entendimento das Escrituras e à salvação seguindo um arcabouço pactual.[14] Além do mais, como veremos, já em 1644 os Batistas tiveram uma compreensão ímpar do Pacto da Graça e da Nova Aliança.

 

Às confissões de fé, é necessário adicionar os catecismos: o Breve e o Catecismo Maior de Westminster, bem como os Catecismos Batistas.[15] Há um outro catecismo que é muito importante no estudo da teologia Batista do século XVII: o “Catecismo Ortodoxo” escrito por Hercules Collins, pastor da Igreja Batista Old Gravel Lane, e publicado em 1680. O pastor Collins seguiu o Catecismo de Heidelberg enquanto escrevia o seu; as particularidades do seu, portanto, são muito importantes. Sobre isso, James Renihan diz:

 

Um dos principais ministros entre os Batistas Particulares entendeu que a teologia articulada pelos teólogos de Heidelberg estava em harmonia com a sua própria e com a maior parte do movimento do qual fazia parte. A escolha de Collins do título “Um Catecismo Ortodoxo” é digna de nota, pois tem duplo significado: mostrava o verdadeiro caráter das doutrinas que promovia e também identificava a origem dessas doutrinas: os assim chamados teólogos Protestantes ortodoxos da Europa. Collins estava fazendo uma afirmação enfática: assim como eles eram ortodoxos, nós também somos.[16]

 

 

 

2.2. Teólogos Pedobatistas e Batistas

 

Aqui estão algumas fontes que não podem ser ignoradas ao entrarmos no debate do século XVII no tocante à teologia do pacto. Essa não é uma lista exaustiva, mas representativa; ela não contém todos os documentos que consultamos, e muito menos todos aqueles que existem, mas está limitada àqueles que foram mais úteis. Apresentaremos primeiro as fontes pedobatistas e em seguida as fontes Batistas, das mais antigas às mais recentes.

 

 

 

2.2.1. Os Pedobatistas

 

William Ames (1576-1633) se refugiou na Holanda em 1610 devido à hostilidade aos Puritanos na Inglaterra. Foi membro do Sínodo de Dordrecht que condenou o Arminianismo, e posteriormente se tornou reitor da Universidade de Franekeradeel. Sob sua tutela estavam dois estudantes que se tornariam teólogos importantes no desenvolvimento do federalismo Reformado: Johannes Cocceius e Gisbertus Voetius. O federalismo de Ames deu continuidade ao desenvolvimento da teologia pedobatista, da qual a principal ênfase pode ser encontrada em sua obra: Medulla Theologiae (The Marrow of Theology, 1629). Esse livro foi o vetor principal na difusão da influência de Ames, especialmente na Nova Inglaterra.[17] Seus escritos também circularam pela Europa, particularmente entre os Puritanos. Perto do fim de sua vida, Ames pastoreou uma igreja de refugiados cuja membresia era inteiramente composta por crentes regenerados. Como resultado, não é surpresa que os Congregacionais e os Batistas foram grandemente inspirados por sua teologia.[18]

 

John Ball (1585-1640) foi um Puritano Presbiteriano cuja teologia correspondeu grandemente àquela da Assembleia de Westminster. Ele morreu pouco antes da realização daquela grande assembleia, mas sua obra, A Treatise of the Covenant of Grace [Um Tratado sobre o Pacto da Graça], publicado em 1645, teve grande influência ali. A teologia do pacto apresentada por Ball representou o federalismo Presbiteriano típico. Ball foi citado algumas vezes como uma autoridade no federalismo Reformado por outros autores Presbiterianos. Disponível como fac-símile da edição original, essa fonte é considerada imprescindível, especialmente porque Ball criticou a eclesiologia separatista, com a qual os Batistas têm muito em comum.

 

Peter Bulkeley (1583-1659) foi um teólogo Puritano e reitor da paróquia Odell em Bedfordshire.[19] Ele se aliou aos não-conformistas antes da Primeira Guerra Civil Inglesa e exilou-se na Nova Inglaterra a fim de desfrutar de maior liberdade. Escreveu um tratado dedicado à teologia do pacto que foi publicado em Londres em 1646: The Gospel Covenant; or the Covenant of Grace Opened [A Aliança do Evangelho; ou o Pacto da Graça Explicado].

 

Thomas Blake (1597-1657) também foi um Puritano de convicções Presbiterianas. Os tratados de Blake acerca da teologia do pacto são importantes, pois iniciaram um diálogo com os oponentes do batismo infantil, particularmente, com John Tombes.[20] Não foi possível consultar todas as obras de Blake, mas esta foi de grande utilidade em nossa pesquisa: Vindiciae Foederis; or A Treatise of the Covenant of God Entered With Man-Kinde, In the Severa Kindes and Degrees of it [O Pacto Vindicado, ou Um Tratado sobre a Aliança de Deus Feita com a Raça Humana, em seus Diversos Tipos e Graus], publicada em Londres em 1653.

 

Herman Witsius (1636-1708), embora fosse um teólogo estrangeiro, exerceu uma influência determinante na teologia do pacto na Inglaterra. Seu federalismo é, em alguns aspectos, o ponto central entre o federalismo dos teólogos de outras partes do continente, incluindo Zuínglio, Bullinger, Calvino, Ursino, Oleviano e Cocceius, e os da teologia Reformada na Inglaterra.[21] Sua obra, publicada em quatro volumes, The Economy of the Covenants Between God and Man [A Economia dos Pactos Entre Deus e o Homem] (1677), é considerada por muitos a expressão definitiva da ortodoxia pedobatista Reformada.

 

Samuel Petto (1642-1711) é uma figura desconhecida da teologia Inglesa.[22] Ainda assim, Petto foi um dos maiores defensores do pedobatismo baseado na teologia do pacto e um importante questionador dos Batistas durante a segunda metade do século XVII.[23] Sua obra mais significante é The Great Mistery of the Covenant of Grace [O Grande Mistério do Pacto da Graça], que foi republicada em 2007. Esse escrito é particularmente importante para o assunto que estudaremos, visto que leva em conta a fragilidade da qual os Batistas acusavam a teologia do pacto dos Presbiterianos, além de tentar defendê-la. Outro de seus tratados é uma resposta direta a uma publicação Batista: Infant-Baptism Vindicated from Exceptions of Mr. Thomas Grantham [O Batismo Infantil Vindicado das Objeções do Sr. Thomas Grantham], publicada em 1691. Uma terceira obra de Petto, Infant-Baptism of Christ’s Appointment [Batismo Infantil, uma Designação de Cristo] aborda o pedobatismo do ponto de vista da teologia do pacto.[24]

 

François Turretini (1623-1687) não era, é claro, um teólogo inglês. Entretanto, é interessante notar as similaridades entre a Academia de Genebra e a teologia de Westminster durante o século XVII. Turretini influenciou os Puritanos. Sua Institutio Theologiae Elenticae [Compêndio de Teologia Apologética] representou, imediatamente, a teologia padrão do pensamento da escola Reformada. Nela, a teologia do pacto de Turretini é apresentada em doze capítulos intitulados: The Covenant of Grace and Its Twofold Economy in the Old and New Testaments [O Pacto da Graça e Sua Dupla Economia no Antigo e no Novo Testamentos].[25] O próprio título dessa seção de sua obra nos permite ver que o modelo Presbiteriano de entendimento do Pacto da Graça — um pacto, duas administrações — era difundido.

 

 

 

2.2.2. Os Batistas

 

John Spilsbury (1598-1668) pertence à primeira geração de Batistas Calvinistas e foi o primeiro pastor da primeira igreja Batista Calvinista, fundada em 1638.[26] Ele é um dos signatários da Primeira Confissão de Fé Londrina de 1644 e de sua versão revisada dois anos depois.[27] Um ano antes da emissão desse documento, Spilsbury publicou um tratado sobre o batismo intitulado A Treatise Concerning the Lawful Subject of Baptisme [Um Tratado Acerca da Legitimidade dos Sujeitos do Batismo]. Ele apresenta um entendimento da teologia do pacto que é radicalmente diferente daquele dos seus contemporâneos pedobatistas. É de suma importância que um dos mais antigos tratados dos Batistas Particulares[28] que defende o credobatismo o faça com base na teologia do pacto. Isso mostra que a identidade Batista manteve, desde o princípio, um federalismo distinto e que o batismo de crentes é resultado de um entendimento diferente das alianças bíblicas.

 

Henry Lawrence (1600-1664) foi um Puritano e estadista intimamente associado a Oliver Cromwell. De acordo com o sumário biográfico da Enciclopédia Britânica: Dictionary of National Biography, Lawrence foi designado para as funções políticas, e não eclesiásticas.[29] Não sabemos se Lawrence se juntou oficialmente aos Batistas, mas o tratado que publicou anonimamente, chamado On Baptism [Sobre o Batismo] (1646), não deixa dúvida sobre sua teologia. Lawrence criticou inflexivelmente a teologia pedobatista e defendeu um federalismo coerente com o credobatismo.

 

Thomas Patient (?-1666) foi o pastor assistente de William Kiffin em Londres. Esteve no centro do crescimento efervescente do movimento Batista durante as décadas de 40 e 50[30] e foi um dos signatários da Primeira Confissão de Fé Londrina. Foi enviado como missionário à Irlanda pelo governo de Cromwell, onde estabeleceu a primeira comunidade de convicção Batista, a Waterford Baptist Church [Igreja Batista de Waterford].[31] Durante seu tempo na Irlanda, escreveu o tratado: The Doctrine of Baptism, And the Distinction of the Covenants [A Doutrina do Batismo, e a Distinção das Alianças] (1654). Nele, Patient denuncia a teologia pedobatista como sendo um entendimento incorreto das alianças bíblicas, atacando principalmente o paradigma Presbiteriano: um pacto, duas administrações.

 

John Bunyan (1628-1688) é certamente um dos, senão o mais conhecido dos Puritanos. É frequentemente considerado como sendo parte da tradição Batista, embora a igreja que pastoreava não fosse uma igreja intrinsecamente Batista. Não obstante, é verdade que a teologia de Bunyan era bastante semelhante à dos Batistas e dos Congregacionais; e que fora batizado na Igreja de Bedford por imersão. As obras de Bunyan são numerosas e consistem principalmente de sermões. Bunyan também escreveu um tratado sobre a teologia do pacto que se encontra na coleção de suas obras publicada em três volumes pela The Banner of Truth, intitulada The Doctrine of the Law and Grace Unfolded [A Doutrina da Lei e da Graça Exposta].

 

Edward Hutchinson foi um Batista Calvinista que defendeu o credobatismo opondo-se ao federalismo Presbiteriano. Sabemos muito pouco acerca de sua vida. Sabemos apenas que era pastor de uma congregação Batista na Irlanda.[32] Publicou um importante tratado em 1676 no qual fala diretamente da relação entre o Pacto e o batismo: A Treatise Concerning the Covenant and Baptism[33] [Um Tratado Acerca do Pacto e do Batismo]. A esse mesmo tratado, acrescentou dois apêndices: Some Short Questions and Answers for the Younger Sort [Algumas Perguntas e Respostas Para os Jovens], bem como uma resposta a um tratado pedobatista: Animadversions Upon a Late Book, Intituled, Infant Baptism From Heaven and Not of Men, In Answer to Mr. Henry Danvers his Treatise of Baptism [Crítica a um Livro Recente, Intitulado, Batismo Infantil: do Céu, e Não dos Homens, Resposta ao Sr. Henry Danvers e seu Tratado Sobre o Batismo].

 

Nehemiah Coxe (?—1688), em nossa humilde opinião, é o teólogo Batista mais significante no que se refere à teologia do pacto. Ele era filho de Benjamin Coxe, um dos signatários da Primeira Confissão de Fé Londrina.[34] Seu tratado, A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law [Um Tratado sobre os Pactos que Deus fez com os homens antes da Lei] (1681)[35] traça as diferenças fundamentais entre Presbiterianos e Batistas baseado em seus respectivos entendimentos do pacto Abraâmico. Coxe resume o que distingue os Batistas da seguinte forma: “[…] a Antiga Aliança e a Nova diferem em substância, e não apenas na forma como são administradas”.[36] O restante de sua obra dedica-se a mostrar que a Antiga e a Nova Aliança não são duas administrações de um só e mesmo Pacto, mas duas Alianças diferentes.

 

O federalismo de Coxe é ainda mais importante, pois ele foi o principal artesão da Segunda Confissão de Fé Londrina, oficialmente adotada pelas igrejas Batista da Inglaterra em 1689.[37] À luz do tratado de Coxe sobre a teologia do pacto, a formulação distinta do capítulo 7 da Segunda Confissão de Fé Londrina torna-se particularmente significante. Devido à importância do tratado de Coxe quanto à interpretação da Confissão de Fé Batista, seu federalismo pode praticamente ser considerado como o padrão dos Batistas Calvinistas.

 

Thomas Grantham (?-1692) ­foi o mais ilustre teólogo dos Batistas Gerais. Entrou em debate com Samuel Petto e estabeleceu uma crítica muito coerente ao federalismo Presbiteriano. Obtivemos acesso somente ao tratado escrito por Grantham perto do fim de sua vida: Truth and Peace or the Last and most Friendly Debate Concerning Infant Baptism [Verdade e Paz, ou o Último e mais Amigável Debate Acerca do Batismo Infantil] (1689). Embora ele fosse Arminiano, seu federalismo está, em muitos aspectos, de acordo com aquele dos Batistas Calvinistas; de fato, Grantham utiliza o tratado de Coxe para sustentar seu argumento.[38]

 

Benjamin Keach (1640-1704) é, sem dúvida, o principal teólogo Batista da segunda metade do século XVII. Foi um autor prolífico, mas não trouxe novas contribuições à teologia do pacto. Nem mesmo os tratados de Keach que abordam esse assunto diretamente são focados na controvérsia do batismo: The Everlasting Covenant [O Pacto Eterno] (1693); The Display of Glorious Grace: Or, the Covenant of Peace Opened, in Fourteen Sermons [A Revelação da Graça Gloriosa: Ou, a Aliança de Paz Explicada em Quatorze Sermões] (1689). As diferenças fundamentais dos Batistas, no entanto, estão presentes neles.

 

 

 

2.3. John Owen, o Batista

 

O leitor atento notará que nossa lista de 15 teólogos que contribuíram para o debate sobre a teologia do pacto no século XVII está incompleta. Falta o nome do teólogo inglês mais influente de todos os tempos: John Owen (1616-1683). Owen merece menção especial, pois seu federalismo é parecido com o dos Batistas, muito embora tivesse permanecido pedobatista durante toda a vida.[39] Portanto, é necessário justificar o fato de que usaremos um teólogo pedobatista para defender uma teologia Batista.

 

Primeiro, note que a posição de Owen acerca da Antiga Aliança foi intermediária. Essa é a conclusão de Sinclair Ferguson.[40] Richard Barcellos explica o pensamento de Ferguson:

 

[…] O entendimento de Ferguson acerca do pensamento moderado de Owen tem a ver com a natureza e propósito da Antiga Aliança e sua relação com o Pacto de Obras Adâmico, o Pacto da Graça e a Nova Aliança. Diferente de outros, Owen não acreditava que a Antiga Aliança era um pacto de obras em si ou simplesmente uma administração do Pacto da Graça.[41]

 

Nos dias de Owen, havia uma tendência antinomiana — representada particularmente pelos Socinianos, que consideravam que a Antiga Aliança era um Pacto de Obras. Os Presbiterianos que consideravam que a Antiga Aliança era um Pacto de Graça se opuseram àquela tendência. Owen considerava que a Antiga Aliança não era o Pacto de Obras nem o da Graça; é por isso que Ferguson diz que a posição de Owen era intermediária. Podemos dizer que essa posição intermediária também foi endossada pelos Batistas, algo que veremos adiante. Owen rejeitou o modelo de um Pacto da Graça sob duas administrações. Enquanto alguns Pedobatistas viam a Antiga Aliança como sendo diferente quanto à circunstância,[42] mas idêntica em substância à Nova Aliança, Owen considerava que aquela diferia desta tanto em circunstância como em substância.

 

Outra razão que nos permite acreditar que os Batistas compartilhavam o federalismo de John Owen encontra-se em seus escritos. Edward Hutchinson, por exemplo, depois de ter apresentado seu entendimento do pacto Abraâmico e a conexão deste com o Pacto da Graça, usa os escritos de Owen extensivamente para provar que diz a mesma coisa acerca dos Pactos que ele. Em seguida, declara a seus interlocutores pedobatistas:

 

E se nossos oponentes pensam que o Dr. Owen foi ofendido pelo uso que fazemos de suas palavras a nosso favor, sendo ele um pedobatista; dizemos que estejam à vontade para reconciliar tais palavras com suas práticas, se é que podem fazê-lo […]. O Dr. Owen discorre sobre a natureza do Pacto e das promessas feitas a Abraão (e talvez esquecendo o batismo infantil), explicando-as com tamanha espiritualidade e ortodoxia, que não sobra lugar para o batismo infantil, antes exclui todas as possibilidades deste.[43]

 

Por causa disso, os Batistas pensavam que a teologia de Owen estava em perfeita harmonia com sua própria, e por isso consideravam como inconsequência o fato de o Príncipe dos Puritanos ser pedobatista.[44] Eles ainda acreditavam que Owen, mesmo sem se dar conta disso, estava destruindo o federalismo Presbiteriano em seus escritos, e colocaram o onus probandi sobre os pedobatistas, deixando que eles mesmos explicassem a teologia de Owen de acordo com suas práticas de batismo. Por exemplo, Owen escreve:

 

E nisto se encontra o erro dos judeus do passado, no que foram seguidos por sua posteridade até os dias de hoje. Eles não julgavam que nada mais era necessário para seu interesse[45] no pacto Abraâmico, uma vez que eram sua descendência segundo a carne; e, constantemente, pleiteavam este último privilégio como fundamento e razão do primeiro. De fato, eles eram filhos de Abraão segundo a carne; mas, quanto a isso, eles não podem ter nenhum outro privilégio senão o que o próprio Abraão teve em sua carne; e isso, como já demonstramos, é que ele deveria ser separado como um canal especial, através de cujos lombos Deus proveria a Descendência prometida ao mundo. Nesse sentido, os judeus foram separados como povo especial, a posteridade de Abraão, de quem Cristo viria.

Que esta separação e privilégio deveriam cessar quando se cumprisse o objetivo, e o Messias viesse, a própria natureza da coisa o declara; pois, com qual propósito essas coisas deveriam continuar, uma vez que o porquê de terem sido constituídas se cumpriu? Mas eles estendem esse privilégio e o misturam com o outro, alegando que, porque eram filhos de Abraão segundo a carne, toda a bênção do pacto Abraâmico pertencia também a eles. Mas, como nosso Salvador provou que naquele último sentido eles não eram os filhos de Abraão, porque não fizeram as obras de Abraão; assim nosso apóstolo demonstra plenamente em passagens como Romanos 4, 9, 10, 11 e Gálatas 3, 4 que aqueles que não tiveram a fé de Abraão também não tinham parte nas bênçãos e no pacto. Vendo, portanto, que o antigo privilégio chegara ao fim, bem como todas as ordenanças carnais que o acompanhava, pela realização da vinda do Messias; caso não obtivessem direito à bênção espiritual, pela fé na Descendência prometida, evidentemente eles não poderiam ser considerados verdadeiros participantes do pacto de Deus.[46]

 

Parece que, ao escrever estas linhas e pensar acerca da teologia do pacto, Owen não ponderou sobre o pedobatismo.

 

Outro indício de harmonia entre o federalismo de Owen e dos Batistas encontra-se na epístola introdutória de Nehemiah Coxe, em seu tratado sobre os Pactos. Coxe explica aos seus leitores por que ele terminou sua exposição das alianças bíblicas no pacto Abraâmico sem chegar ao pacto Sinaítico:

 

Portanto, pretendia me aprofundar nisso em um tratado sobre o pacto feito com Israel no deserto e o estado da igreja sob a lei. Mas, quando terminei este livro e encontrei outros materiais também sobre o assunto, concluí que meu trabalho para esclarecer tais questões felizmente foi impedido pelo lançamento do terceiro volume da obra do Dr. Owen sobre Hebreus. Ali se encontra uma longa discussão da matéria, e as objeções que parecem contradizer esse pensamento são respondidas por completo, especialmente na exposição do oitavo capítulo. Indico essa obra, na qual o leitor encontrará proporcional satisfação que se espera de alguém tão letrado e sábio.[47]

 

Não sabemos se Owen endossou o federalismo de Coxe. Entretanto, evidentemente, Coxe, um Batista, endossou o federalismo de Owen. Como veremos, o comentário de Owen sobre o capítulo 8 do livro de Hebreus não deixa dúvidas quanto à consistência de seu federalismo com relação ao dos credobatistas.

 

 

 

3. Breve Resumo Histórico da Teologia Pactual

 

Teologia pactual ou teologia do pacto[48] é um estudo dos diferentes pactos que Deus fez com o homem desde o começo do mundo. A conexão entre Deus e a criatura, que Ele mesmo fez segundo o que está revelado nas Sagradas Escrituras, sempre foi definida em termos pactuais possuindo diferentes objetivos e termos. Como a história bíblica ocorre inteiramente no âmbito desses pactos, é imperativo entender as naturezas e os papéis destes, a fim de interpretar corretamente as Escrituras. Consequentemente, a teologia pactual ou teologia do pacto fornece um contexto que permite o entendimento da estrutura global do plano de redenção ao estabelecer as diferenças entre as partes e o todo e ao explicar como essas partes se inserem no todo.

 

Essa abordagem à Escritura é uma característica fundamental da teologia Reformada.[49] Foi através do redescobrimento da justificação por imputação que Ulrico Zuínglio (1484-1531), graças ao paralelo entre Adão e Cristo em Romanos 5, também redescobriu o pacto Adâmico.[50] Então veio a controvérsia com os Anabatistas, a qual forçou Zuínglio a formular sua doutrina em termos que determinaram o federalismo pedobatista de forma definitiva. A insistência dos Anabatistas na exclusividade do Novo Testamento no estabelecimento da doutrina da igreja levou Zuínglio a defender a unidade dos dois Testamentos. Para Zuínglio, bem como para os teólogos Reformados que o seguiram, a substância desta unidade residia no Pacto da Graça. Assim, a leitura Reformada das Escrituras consiste, primeiro, em um pacto inicial em Adão, chamado de Pacto de Obras. Em seguida, imediatamente após a Queda, Deus fez um segundo pacto chamado de Pacto da Graça. O Pacto da Graça foi colocado sob uma primeira administração, a qual se encontra no Antigo Testamento. Essa administração foi elementar e temporária. Depois disso, veio a segunda administração do Pacto da Graça, a qual encontramos no Novo Testamento. Esta segunda administração é perfeita e definitiva.

 

A Igreja Reformada, portanto, via a Antiga Aliança como uma aliança de graça. Essa concepção impactou significativa e definitivamente a eclesiologia Reformada porque, ao considerar que a Igreja estava sob o mesmo pacto que os descendentes de Abraão, as Escrituras do Antigo Testamento tornaram-se normativas na definição da doutrina da Igreja e sua ligação com o Pacto da Graça. Encontramos a predominância dessa ênfase na unidade entre os Testamentos em quase todas as obras dos sucessores de Zuínglio.

 

Heinrich Bullinger (1504-1575), em seu tratado “De Testamento seu Foedere Dei Unico et Aeterno” [Sobre o Único e Eterno Testamento ou Pacto de Deus], embora tenha considerado que a Antiga Aliança reafirmava em sua lei o princípio do Pacto de Obras, endossou a ideia de que ela era essencialmente uma administração do Pacto da Graça.[51] Assim como outros teólogos pedobatistas posteriores, Bullinger fez uma distinção entre a substância e a circunstância de um pacto. A substância da Antiga Aliança era o Pacto da Graça; sua circunstância era a dispensação do Antigo Testamento.

 

Nenhum teólogo influenciou mais a maneira Reformada de pensar do que Calvino; portanto, seu federalismo é importante. É claro, a teologia do pacto constitui a base de todo o pensamento de Calvino. Os capítulos IX, X e XI do Livro II de suas Institutas da Religião Cristã tratam especificamente dessa questão.[52] Encontramos as principais características do federalismo pedobatista na obra de Calvino. Assim como seus predecessores e seus sucessores, ele viu a Antiga e a Nova Aliança como sendo duas administrações do Pacto da Graça. “O pacto feito com todos os pais em nada difere do nosso em realidade e substância, o qual, em última instância, é um e o mesmo, ainda que seja diferente em sua forma de dispensação”.[53] Ele acreditava que o Pacto da Graça é um pacto misto: “Entretanto, nesta igreja estão misturados muitos hipócritas, que nada têm de Cristo a não ser o nome e a aparência”.[54] E ele justifica o batismo dos filhos dos crentes com base em seu direito ao Pacto da Graça.[55]

 

Não obstante, Calvino não rejeita a aparente descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Em seu comentário sobre Hebreus, chega ao ponto de escrever: “De outro modo, o profeta teria simplesmente dito: ‘Renovarei o pacto que por vossa culpa fracassou’. Ora, ele diz expressamente que o pacto será diferente do primeiro”.[56] Com isso, Calvino afirma que a Nova Aliança não é simplesmente uma renovação da Antiga Aliança, mas, de fato, uma Nova Aliança, ou, em outras palavras, um pacto diferente. Apesar disso, seus outros escritos sugerem que ele viu as diferenças entre as duas Alianças como sendo circunstanciais em sua natureza, não em sua substância.

 

Ademais, a fim de evidenciar a descontinuidade entre as duas Alianças em seus escritos, Calvino mostrou outra distinção que a maioria dos seus sucessores deixou de lado. Ao comentar o terceiro capítulo da segunda epístola de Paulo aos Coríntios, Calvino indicou que o Pacto da Graça não era em si mesmo uma parte da substância da Antiga Aliança:

 

Ambos (Jeremias e Paulo), porém, já que estão a contrastar Antigo e Novo Testamentos, nada consideram na lei senão o que lhe é próprio. Por exemplo: a lei contém, aqui e ali, promessas de misericórdia. No entanto, uma vez que essas promessas são adventícias a ela, ou seja, vem de fora dela e, portanto, não podem ser consideradas como parte da lei, quando a consideramos somente em sua própria natureza.[57]

 

Resta saber se Calvino entendeu a palavra “lei” nesta passagem da Escritura como referência à Antiga Aliança. Se este é o caso, então Calvino faz uma distinção que será essencial à teologia Batista: que o Pacto da Graça não faz parte da substância da Antiga Aliança mesmo que aquele houvesse sido revelado durante sua administração. Infelizmente, Calvino não explicou melhor esse ponto. Isso teria requerido uma reconsideração da natureza da Antiga Aliança. Frequentemente encontramos esse tipo de tensão na teologia de Calvino, onde o que ele afirma parece estar em oposição ao que ele havia dito antes.[58] O Calvinismo é uma harmonização das doutrinas que completam mutuamente umas às outras. Os sucessores de Zuínglio, Bullinger e Calvino reafirmaram com grande clareza e precisão o que eles mesmos já haviam estabelecido.[59]

 

 


[1] O magistral estudo ao qual o autor se refere foi publicado neste ano, 2018, sob o título: From Shadow to Substance: The Federal Theology of the English Particular Baptists [Da Sombra à Substância: A Teologia Federal dos Batistas Particulares Ingleses].

[2] A não ser quando especificado de outra forma, usaremos o termo “pedobatista” para identificar os cristãos de convicção Presbiteriana na Inglaterra do século XVII, uma vez ter sido principalmente com eles que os Batistas debateram sobre as questões tratadas nesta dissertação. Igualmente, usaremos o termo “Batista” para designar, especificamente, os Batistas Calvinistas ingleses do século XVII associados à Confissão de Fé de 1689.

[3] “Teologia pactual” foi a nosso termo preferido para traduzir a expressão “covenant theology”. Contudo, ao longo desta obra usaremos intercambiavelmente os termos “teologia pactual”, “teologia do pacto”, “teologia aliancista” e “teologia da aliança”, todos estes são traduções de “covenant theology” – N.doE.

[4] Ligon Duncan, Covenant Theology; The Abrahamic covenant – Covenant Sign Implications [Teologia do Pacto; O Pacto Abraâmico – As Implicações do Pacto]. 12 palestras de duas horas de duração do curso de teologia pactual do Reformed Theological Seminary.

[5] James M. Renihan, Edification and Beauty: The Practical Ecclesiology of the English Particular Baptists, 1675-1705 [Edificação e Beleza: A Prática Eclesiológica dos Batistas Particulares Ingleses, 1675-1705]. Eugene, OR, Wipf & Stock, 2009, p. 37. Obviamente, eles tinham ainda mais diferenças com os Presbiterianos do que com os Independentes (i.e. Congregacionais).

[6] Isso serve para refutar uma crença aparentemente comum entre alguns Reformados brasileiros de que os Batistas Reformados e Confessionais rejeitam o batismo infantil apenas com base no princípio regulador do culto, e não também devido ao seu próprio entendimento da doutrina dos pactos de Deus – N.doE.

[7] Posteriormente, Charles Spurgeon escreve: “A doutrina do pacto é a raiz de toda teologia verdadeira. Tem sido dito que aquele que entende a diferença entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça é um mestre em teologia. Estou persuadido de que a maioria dos erros cometidos pelos homens acerca das doutrinas da Escritura está baseada em erros fundamentais com relação aos Pactos da lei e da graça”. C.H. Spurgeon. “Sermão XL, O Pacto”. The Sermons of Rev. C.H. Spurgeon of London, 9th Series [Os Sermões do Rev. C.H. Spurgeon de Londres, 9° série], New York, Robert Carter & Brothers, 1883, p. 172.

[8] Teologia federal (foedus = covenant = pacto/aliança) e teologia pactual/do pacto ou teologia aliancista/da aliança são expressões sinônimas.

[9] David Benedict, A General History of the Baptist Denomination in America and Other Parts of the World [História Geral da Denominação Batista na América e em Outras Partes do Mundo], New York, Lewis Colby and Company, 1850, p. 146. A teologia da aliança teve origem antes do século XVII, mas o diálogo entre Presbiterianos e Batistas trouxe grande progresso a essa doutrina. A teologia pactual pedobatista desenvolveu-se progressivamente desde o início da Reforma até sua expressão mais madura no contexto da Assembleia de Westminster (cf. Mark W. Karlberg, Covenant Theology in Reformed Perspective [Teologia Pactual na Perspectiva Reformada]), Eugene OR, Wipf and Stock Publishers, 2000, pp. 17-38. Mas o federalismo de Westminster foi rapidamente colocado à prova pelos Batistas. Os pedobatistas foram forçados a refinar sua linha de raciocínio, ou até mesmo criar novas posições dentro de seu grupo.

[10] Em Works in the Mosaic Covenant: A Reformed Taxonomy. In The Law Is Not Of Faith: Essays on Works and Grace in the Mosaic Covenant [As Obras no Pacto Mosaico: Uma Taxonomia Reformada. In A Lei Não Provém da Fé: Ensaios Sobre Obras e Graça no Pacto Mosaico], Phillipsburg, P&R, 2009, pp. 76-103, Brenton C. Ferry começa o capítulo com uma citação de Anthony Burgess, um teólogo pedobatista do século XVII, acerca da teologia pactual: “Não encontrei em nenhum ponto da teologia homens instruídos tão confusos e perplexos como aqui”. Sua apresentação rapidamente convence de que não havia uniformidade entre os aliancistas Reformados. Apesar das muitas nuances que encontramos entre os teólogos pedobatistas daquela época no que diz respeito à teologia do pacto, acreditamos que há um denominador comum que tentaremos assinalar na presente obra.

[11] Além disso, eles mesmos admitem isso no apêndice da Confissão de Fé de 1689.

[12] Como o campo de estudo deste trabalho é a teologia pactual na Inglaterra do século XVII, não seremos capazes de avaliar o corrente debate entre Batistas Reformados e pedobatistas de forma satisfatória. Entretanto, esperamos ser capazes de mostrar, tanto ali como aqui, a continuidade histórica entre o debate do século XVII e o que ocorre hoje, assinalando os grandes princípios teológicos que têm persistido através da história e, ocasionalmente, intercambiando a discussão entre autores antigos e modernos. Acerca da continuidade histórica da abordagem Reformada, recomendamos o trabalho de Richard C. Barcellos, The Family Tree of Reformed Biblical Theology: Geerhardus Vos and John Owen, Their Methods of and Contributions to the Articulation of Redemptive History [A Árvore Genealógica da Teologia Bíblica Reformada: Geerhardus Vos e John Owen, Seus Métodos e Contribuições para a Articulação da História da Redenção], Owensboro, Reformed Baptist Academic Press, 2010, 324 pp. Barcellos demonstra a continuidade entre a teologia pactual do século XVII e a teologia bíblica do século XIX.

[13] Antes de ser modificada pelos Batistas, a Confissão de Fé de Westminster foi alterada pelos Congregacionais na Declaração de Savoy (1658). A maioria das mudanças introduzidas pela Declaração de Savoy foi adotada pelos Batistas. Em poucos casos, entretanto, estes preferiram a formulação da Confissão de Fé de Westminster à da Declaração de Savoy. No que diz respeito à teologia pactual, surpreendentemente, a declaração de Savoy permaneceu bastante fiel à de Westminster. Ao que parece, pelo menos em sua declaração, os Congregacionais consideraram sua eclesiologia separadamente, pois mantiveram a mesma teologia pactual dos Presbiterianos enquanto rejeitaram a eclesiologia deles. É por isso que não estamos comparando a Confissão de Fé de 1689 com a Declaração de Savoy, mas com a de Westminster.

[14] A Confissão de Fé Batista de 1644 apresenta a redenção em termos que se referem diretamente à teologia do Pactum Salutis e Historia Salutis da escolástica Reformada. Veja, especificamente, os artigos XI e XII.

[15] Diversas fontes secundárias comentam e interpretam as confissões e catecismos mencionados acima. Dois comentários desses documentos, entretanto, podem ser considerados como fontes originais: o comentário de David Dickson da Confissão de Fé de Westminster, publicado em 1684: Truth’s Victory Over Error [A Vitória da Verdade Sobre o Erro], e o comentário de Benjamin Beddome do Catecismo Batista, publicado em 1776: A Scriptural Exposition of the Baptist Catechism [Uma Exposição Bíblica do Catecismo Batista].

[16] James M. Renihan, True Confessions: Baptist Documents in the Reformed Family [Confissões Verdadeiras: Documentos Batistas na Família Reformada], Owensboro, Reformed Baptist Academic Press, 2004, 235 pp. É óbvio que os Batistas estavam preocupados em identificarem a si mesmos com a herança da Reforma. Isso explica a relação próxima de seus documentos oficiais com aqueles de outros movimentos Reformados. Esse desejo por unidade não fazia com que se abstivessem de declarar suas convicções distintas nesses mesmos documentos. Todavia, eles sempre as declaravam com atitude irênica. No apêndice da Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, os Batistas afirmam tê-la publicado para demonstrar unidade com outros cristãos Protestantes: “E embora discordemos de nossos irmãos Pedobatistas no que diz respeito ao Batismo e administração do mesmo, e outras particularidades que dependem necessariamente de nosso entendimento desta Ordenança, e frequentemos nossas próprias assembleias para edificação mútua, e prática dos deveres e serviços que nos são devidos para com Deus, em temor uns para com os outros; ainda assim, não deveríamos ser mal interpretados, como se a liberdade de nossa consciência quanto a isso de alguma forma nos desobrigasse ou alienasse nossas afeições ou conversações de quaisquer pessoas que temem ao Senhor. Sempre que temos oportunidade participamos dos esforços daqueles a quem Deus dotou com habilidades superiores às nossas, e qualificou, e chamou para o Ministério da Palavra…”.

[17] Medulla Theologiae [A Medula/O Essencial da Teologia] foi o manual de instruções básico em Harvard durante o tempo das colônias e foi considerado o melhor sumário da teologia Calvinista por muito tempo. Cf. Joel Beeke & Randall Pederson, Meet the Puritans [Conheça os Puritanos], Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2006, p. 47ss. [Publicado no Brasil pela PES sob o título: Paixão pela Pureza – N.doE].

[18] Thomas Goodwin, um Congregacional, acreditava que “A Medula da Teologia” foi, depois das Escrituras Sagradas, o melhor livro do mundo; ibid., p. 45. Os Batistas usaram a mesma obra como recurso quando escreveram a Primeira Confissão de Fé Londrina em 1644, 46; cf. James M. Renihan, True Confessions: Baptist Documents in the Reformed Family, p. 3s.

[19] Alumni Cantabrigienses, Cambridge University Press. Disponível online em:

<http://venn.lib.cam.ac.uk/acad/search.html>.

[20] John Tombes, apesar de vacilar ligeiramente entre as doutrinas Presbiterianas e Batistas, se opôs, tanto em seus escritos como em debates públicos, à teologia por trás do pedobatismo. Cf. H. Leon McBeth, The Baptist Heritage, Four Centuries of Baptist Witness [A Herança Batista, Quatro Séculos de Testemunho Batista], Neshville, Broadman Press, 1987, p. 110s. Historiadores Batistas geralmente não consideram Tombes um Batista, mas sim um antipedobatismo.

[21] James I. Packer, na introdução da reedição da obra de Witsius, apresenta o livro como a síntese da teologia pactual Reformada daquele tempo. Como veremos, a proximidade entre a teologia de Witsius e a da Assembleia de Westminster é inegável.

[22] É assim que Mark Jones apresenta Petto em comparação com John Owen, a figura esquecida da teologia Inglesa. The Great Mistery of the Covenant of Grace [O Grande Mistério do Pacto da Graça], Stoke-on-Trent, Tentmaker Publications, 2007, p. 9. John Owen escreveu o prefácio desse tratado e calorosamente recomendou sua leitura.

[23] Ibid. p. 10. Em certos aspectos, a teologia de Petto está de acordo com a dos Batistas em oposição ao posicionamento Presbiteriano tradicional. Petto rejeitava, por exemplo, o modelo “um pacto, duas administrações” como explicação do Pacto da Graça e sua relação com a Antiga e a Nova Alianças. Assim como os Batistas, ele considerava que a Antiga e a Nova Alianças não eram duas administrações de um mesmo Pacto, mas duas Alianças distintas. Petto é um dos pedobatistas que reajustaram seu federalismo adotando uma posição intermediária. Acreditamos que a afirmação do ponto de vista Batista o influenciou.

[24] Para uma breve e eficiente análise da teologia de Petto e, especificamente, seu ponto de vista peculiar do pacto Mosaico, cf. Michael Brown, Christ and the Condition: The Covenant Theology of Samuel Petto (1623-1711) [Cristo e a Condição: A Teologia Pactual de Samuel Petto], Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2012, 139 pp.

[25] François Turretini, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, P&R, 1992, vol. 2, p. 169.

[26] Porém, o batismo de crentes por aspersão não foi substituído pela imersão até 1640.

[27] Os dois títulos exatos são respectivamente: The Confession of Faith, of those Churches which are commonly (though falsly) called Anabaptists, London, 1644 [A Confissão de Fé, das Igrejas que são comumente (embora falsamente) chamadas Anabatistas, Londres, 1644]. A Confession of Faith, of Severall Congregations or Churches of Christ in London, which are commonly (though unjustly) called Anabaptists, The second Impression corrected and enlarged, London, Printed by Matth. Simmons, 1646 [A Confissão de Fé, de Várias Congregações ou Igrejas de Cristo em Londres, que são comumente (embora injustamente) chamadas Anabatistas, a segunda Edição, corrigida e ampliada, Impresso por Matthew Simmons, Londres, 1646].

[28] Para nosso conhecimento, dois Batistas Particulares defenderam o credobatismo em seus escritos antes de Spilsbury: Robert Barrow (1642) e Andrew Ritor (1642). Spilsbury parece, no entanto, ter sido o primeiro a fazer isso usando extensivamente a teologia do pacto.

[29] Gordon Goodwin, “Lawrence, Henry”. Dictionary Of National Biography, Londres, Smith, Elder & Co., 1892, volume 32, pp. 256-58.

[30] Historiadores acreditam que o movimento Batista Particular começou oficialmente por volta de 1638 e que por volta da década de 50 havia aproximadamente 130 igrejas Batistas Calvinistas nas Ilhas Britânicas. O contexto peculiar da Primeira Revolução Inglesa explica esse crescimento surpreendente.

[31] Cf. Crawford Gribben, The early Irish Baptists [Os primeiros Batistas Irlandeses], Escondido, The Institute of Reformed Baptist Studies, March 17, 2008, disponível em: <http://www.reformedbaptistinstitute.org/?p=60>.

[32] Joseph Ivimey, A History of the English Baptists [Uma História dos Batistas Ingleses], Londres, impresso por Burdirt e Morris, 1811, p. 404.

[33] Thomas Delaune, genro de Hutchinson, escreveu um prefácio nesse livro; ibidem.

[34] Cf. James M. Reniham, An Excellent and Judicious Divine: Nehemiah Coxe [Um Teólogo Exelente e Judicioso: Nehemiah Coxe] e Covenant Theology: From Adam to Christ [Teologia Pactual: De Adão a Cristo], Palmdale, Reformed Baptist Academic Press, 2005, p. 7-11.

[35] A editora Reformed Baptist Academic Press lançou uma edição moderna desse livro em 2005 que também conta com a exposição da John Owen do capítulo 8:6-13 da epístola aos Hebreus.

[36] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law, Covenant Theology: From Adam to Christ, Palmdale, Reformed Baptist Academic Press, 2005, 1681.

[37] James M. Reniham, An Excellent and Judicious Divine: Nehemiah Coxe, pp .18-20. Cf. também: Michael Haykin, Kiffin Knollys & Keach: Rediscovering English Baptist Heritage [William Kiffin, Hanserd Knollys e Benjamin Keach: Redescobrindo Nossa Herança Batista Inglesa], Leeds, Reformation Today Trust, 1996, pp. 68-69.

[38] Thomas Grantham, Truth and Peace or the Last and most Friendly Debate Concerning Infant Baptism, Londres, Impresso pelo Autor, 1689, p. 6.

[39] A princípio, Owen foi de convicção Presbiteriana, mas, depois de ler The Keys of Kingdom of Heaven [As Chaves do Reino do Céu] de John Cotton, tornou-se Congregacional. Cf. John Owen, A Review of True Nature of Schism [Um Análise da Verdadeira Natureza do Cisma], The Works of John Owen, vol. 13, Carlisle, The Banner of Truth Trust, 1967 (1657), pp. 223-4.

[40] Sinclair Fergunson, John Owen on the Christian Life [John Owen sobre a Vida Cristã], Carlisle, The Banner of Truth Trust, 1987, p. 28.

[41] Richard Barcellos John Owen and New Covenant Theology [John Owen e a Teologia da Nova Aliança]. in Covenant Theology: From Adam to Christ, Palmdale, Reformed Baptist Academic Press, 2005, p. 321.

[42] A palavra “circunstância” é frequentemente usada como sinônimo de “administração”: a Antiga Aliança é uma circunstância (administração) do Pacto da Graça, a Nova Aliança é outra. Algumas vezes também encontramos a palavra “acidente” para designar alguma provisão externa do Pacto. Usaremos as palavras “administração” e “circunstância” como equivalentes.

[43] Edward Hutchinson, A Treatise Concerning the Covenant and Baptism, Londres, Impresso por Francis Smith, 1676, pp. 34-35. Em outro lugar, Hutchinson cita Owen outra vez: “Esta é, de fato, a grande teologia do pacto, pela qual se sustentou o batismo infantil nos últimos anos. Se pudermos demolir sua superestrutura, todo o resto ruirá, como agora engenhosamente se reconhece. Não precisamos empregar maiores esforços além do que o Dr. Owen utiliza […] ao refutar solidamente as alegações de privilégio no nascimento”. Cf. Animadiversions Upon a Late Book, Intituled, Infant Baptism From Heaven and not of Men, In Answer to Mr. Henry Danvers his Treatise of Baptism, p. 41.

[44] Durante nossa leitura dos escritos de Owen, notamos uma contradição. Em Of Infant Baptism and Dipping [Sobre o Batismo Infantil e a Imersão]. In The Works of John Owen, vol. 16, Owen declara que os filhos dos crentes estão no Pacto. Essa concepção contradiz o que ele próprio escreveu em seu comentário da Epístola aos Hebreus, no qual afirma que todos os que estão no Pacto da Graça são regenerados. Como podem todos os filhos dos crentes estarem no Pacto da Graça se nem todos eles são regenerados? Em nossa humilde opinião, essa contradição pode ser explicada por uma progressão do pensamento de Owen (ele escreveu aquele tratado enquanto ainda era Presbiteriano; sua teologia mudou depois de se tornar Congregacional). Acreditamos que seu comentário da Epístola aos Hebreus representa o pensamento de Owen em seu estado maduro e definitivo.

[45] A palavra “interesse” é de uso muito específico nos escritos do federalismo do século XVII; consequentemente, é usada com frequência. Esta é a definição do Oxford English Dictionary: “A relação de estar objetivamente preocupado com algo, por ter o título, o direito de receber ou ter parte naquilo […] b. Direito a privilégios espirituais”. Note o uso passivo da palavra por Owen: os judeus criam que sua linhagem Abraâmica dava-lhes direito (interesse) ao Pacto da Graça.

[46] John Owen, Hebrews, vol.1, Carlisle, The Banner of Truth Trust, 1991, p. 122-123.

[47] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law, p. 30.

[48] Conferir nota de rodapé 3.

[49] Mark W. Karlberg, Covenant Theology in Reformed Perspective, p. 17.

[50] Ibid., p. 20.

[51] Cf. Ibid., pp. 21-22.

[52] Os títulos desses capítulos são respectivamente: (IX) Christ, though known to the Jews under the law, yet only manifested under the Gospel; (X) The resemblance between the Old Testament and the New; (XI) The difference between the two Testaments [(IX) Embora Cristo fosse conhecido dos judeus sob a lei; contudo, Se manifestou plenamente no Evangelho; (X) A similaridade do Antigo e Novo Testamentos; (XI) A diferença que há entre os dois Testamentos].

[53] Institutas, 2.10.2. O conceito “um pacto, duas administrações” não é, entretanto, tão claro e frequente nos escritos de Calvino como o é nos teólogos Reformados posteriores. Parece que é particularmente com Zacarias Ursino que esta ideia se torna radical. Mark Karlberg escreve: “Ursino nos fornece aqui uma vital contribuição no desenvolvimento da interpretação bíblica do Pacto. Com relação à definição de aliança, Ursino insiste na importância de reconhecer a unidade substancial do Pacto da Graça, mas tenta, ao mesmo tempo, fazer justiça mais completa às várias administrações do Pacto de Deus”. Covenant Theology in Reformed Perspective, p. 26. Ursino desenvolveu estas ideias em continuidade com os pensamentos de seus predecessores trabalhando e desenvolvendo o pensamento deles mais claramente.

[54] Ibid., 4.1.7.

[55] Ibid., 4.16. 5-6.

[56] João Calvino, Hebreus – Série Comentários Bíblicos, Editora Fiel, 2012 (1549), p. 203.

[57] João Calvino, Institutas, 2.11.7.

[58] A respeito dessa tensão no pensamento de Calvino entre o Pacto da Graça e o Pacto de Obras no pacto Mosaico, cf. J.V. Fesko, “Calvin and Witsius on Mosaic Covenant” [Calvino e Witsius sobre o Pacto Mosaico], The Law Is Not Of Faith, pp. 28-33.

[59] Cf. Mark Karlberg, Covenant Theology in Reformed Perspective, pp. 25-30.