Os Respectivos Deveres dos Maridos e das Esposas

[Um Compêndio de Teologia Prática • Livro 4 • Capítulo 1 • Editado]

Estão sob o nome de “culto” ou “adoração”; tudo aquilo que por todos possa ser realizado em relação a Deus, sob a Sua autoridade, de acordo com a Sua vontade e ordenança, em obediência a Ele, e tendo em vista a Sua glória. Desta forma, todos os direitos relativos e mútuos devem ser executados; a sujeição das esposas aos seus maridos deve ser feita como “ao Senhor”, o cabeça do homem, e em obediência a Ele; e os maridos devem amar suas esposas, “como Cristo amou a igreja”, de acordo com o Seu padrão e exemplo, e como que influenciados por Seu amor (Efésios 5:21, 29). Os filhos devem obedecer aos seus pais “no Senhor”, como sendo o que Ele exige, e tem incentivado por Sua promessa; e os pais, como um ato de Religião, devem educar os seus filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:1, 4). Os servos devem ser obedientes aos seus senhores, “como ao Senhor”, como Seus servos, e “fazer a vontade de Deus de coração”; e “com boa vontade fazendo o serviço, como ao Senhor, e não aos homens, temendo a Deus”. E os patrões devem cumprir o seu dever para com seus servos “sabendo que eles também têm um Senhor no céu” a quem eles devem prestar contras (Efésios 6:5-9; Colossenses 3:22-24, 4:1); os indivíduos devem obedecer aos magistrados, como sendo “os poderes ordenados por Deus”, e a magistratura uma ordenança de Deus; e os magistrados devem proteger os seus súditos, e ser “o terror, não para as boas obras”, antes eles devem estimular e louvar estas, mas devem vingar e castigar aqueles que são maus (Romanos 13:1-4; 1 Pedro 2:13-14). Deus tem uma preocupação em todos estes, e os homens têm uma preocupação com Ele em relação eles.

Destes vou tratar de forma breve e por sua ordem; a começar com os respectivos deveres de marido e mulher, que se resumem nestas duas compreensões gerais: “Amor”, por um lado e “reverência” por outro (Efésios 5:33), e estes decorrem de uma união conjugal e da relação matrimonial entre as referidas partes; o casamento é uma união de homem e mulher, de um único homem e de uma única mulher em casamento legal, agradável para a criação original do homem (Gênesis 1:27; Malaquias 2:15), e agradável para o curso da providência, que tem sido sempre mantida em todas as épocas e nações; não sendo continuamente quase o mesmo número de homens e mulheres nascidos no mundo, geralmente na proporção de 13 para 12 ou 14 para 13; o excedente do lado dos machos, sendo isto uma provisão por parte do sábio Ordenador de todas as coisas para o fornecimento de guerreiros, marinheiros e etc.

Por esta união conjugal, homens e mulheres, tornam-se um, numa só carne (Gênesis 2:24; Mateus 19:6), esta união é, portanto, muitíssimo íntima e estrita, e de fato indissolúvel senão pela morte, com exceção de um caso, a infidelidade de um para com o outro, por adultério ou fornicação (Romanos 7:2; Mateus 5:32), e este estado deve ser celebrado com consentimento mútuo; de fato, com o consentimento de todas as partes que têm participação nele; com o consentimento dos pais e encarregados da educação, sob cujos cuidados as pessoas solteiras porventura estivessem; e, especialmente, com o seu próprio consentimento, pois ninguém pode ser forçado a casar-se contra a sua vontade; não, nem por seus superiores; isto deve ser o seu próprio ato voluntário e ação, e sendo assim celebrado, é um estado muito honroso: “Venerado seja entre todos o matrimônio” (Hebreus 13:4).

O matrimônio sendo uma instituição de Deus, e instituído por Deus no Paraíso; por quem nossos primeiros pais foram encaminhados a ele, em um estado de pureza e inocência; Deus fez a mulher para ser uma auxiliadora idônea e a trouxe a Adão, então lhe propôs, a quem ele aprovando e aceitando, ela tornou-se sua esposa (Gênesis 2:18, 22-24), isto foi um ato e ação do Senhor, e a ele Cristo atribui o ato do casamento (Mateus 19:6). Cristo o honrou com a Sua presença, e em tal solenidade operou Seu primeiro milagre, e manifestou a glória da Sua Divindade (João 2:1, 2, 11), o que faz com que este estado seja ainda mais honroso do que é.

O casamento de Adão e Eva era um tipo e emblema da união conjugal de Cristo e da Igreja (Efésios 5:32). Adão era uma figura ou tipo de Cristo, e, entre outras coisas, em seu casamento; e Eva, a mãe de todos os viventes, era um tipo da Igreja. Primeiro foi formado Adão, e depois Eva; Cristo era antes da Igreja, e, de fato, antes de todas as coisas; Eva foi formada a partir de Adão, a partir de uma costela tirada do seu lado; a Igreja tem sua origem a partir de Cristo, e sua subsistência por Ele; toda a sua graça, bênçãos e felicidade derivam-se dEle; sua justificação e santificação também provêm dEle, representadas pelo sangue e água que brotaram do seu lado traspassado. Eva foi levada pelo Senhor a Adão, e não contra a sua vontade, mas por seu próprio consentimento, e por Ele foi apresentada como um par apropriado para ele, sendo por Adão aprovada e aceita; assim a igreja foi levada a Cristo, e dada a Ele por Seu Pai, para ser Sua esposa e noiva, da qual Ele se agradou, aceitou e a prometeu a Si mesmo; e seu consentimento é obtido pelas atrações e influências da graça de Seu Pai, isto não é prova direta, mas tem um aspecto favorável e pode servir para ilustrar o esquema supralapsariano; isto é, que Cristo tinha interesse em Sua Igreja, e ela por Ele, e foi prometida a Ele antes que ela caísse em Adão; esta relação matrimonial entre Adão e Eva havendo começado antes da Queda.

Além disso, o casamento é honroso em relação às finalidades dele; que, mesmo antes da Queda, e supondo que Adão houvesse permanecido ele teria tido uma auxiliadora idônea; e a primeira lei da criação teria sido levada a execução, crescer e multiplicar; uma descendência piedosa, uma descendência legítima teria saído dali; famílias formadas e construídas, e o mundo povoado de habitantes; e desde a Queda as finalidades e usos do matrimônio são para preservar a castidade, prevenir a incontinência e por causa da prostituição; bem como para atender à outras finalidades, e particularmente este estado parece honroso: quando os deveres deste são observados por ambas as partes, deveres tais como:

Deveres dos Maridos

1. Primeiro, o amor por parte do marido. “Vós, maridos, amai vossas mulheres” (Efésios 5:25), casos dos quais estão em Isaque, Jacó, Elcana e outros (Gênesis 24:67, 29:18, 20; 1 Samuel 1:5). A natureza e a forma de demostrar este amor, bem como as razões do mesmo, podem ser observadas:

1a. Em primeiro lugar, a natureza deste amor.

1a1. Ele é superior a qualquer outro demonstrado a qualquer criatura que seja; quanto ao próximo apesar dele dever ser amado por um homem como ele próprio, contudo a esposa de um homem é ele mesmo, e amá-la é amar a si próprio, a outra parte de si mesmo, (Efésios 5:28). Os pais devem ser amados, mas a mulher antes deles; pois um homem deixará pai e mãe, e se unirá à sua mulher (Gênesis 2:24). Filhos devem ser amados, mas a esposa antes deles; bem como o marido pela mulher; “não te sou eu melhor do que dez filhos?” (1 Samuel 1:8) e Cristo deve ser amado antes de quaisquer outras relações (Mateus 10:37; Lucas 14:26).

1a2. Deve ser um amor de complacência e deleite, ter prazer e alegria em sua pessoa, companhia e conversa (Provérbios 5:18-19; Eclesiastes 9:9), como é o amor de Cristo pela a Igreja, que é Sua Hefzibá, em quem está todo o Seu deleite.

1a3. Deve ser casto e único, como o amor de Cristo é (Cantares 6:9). E, por essa razão, o homem não deve ter mais esposas do que uma única, pois se isso acontecesse o seu amor seria dividido ou alienado, e aborreceria a uma e amaria a outra, como é comumente o caso; e, portanto, a lei previa que o primogênito seria de qualquer que nascesse (Deuteronômio 21:15, 17; veja 1 Coríntios 7:2).

1a4. Deve ser mútuo. A esposa deve amar o marido assim como o marido a mulher (Tito 2:4) e, geralmente, o amor da esposa é o mais forte e afetuoso (2 Samuel 1:26), essa é a razão pela qual o marido é mais frequentemente exortado a amá-la, porque mais carece de demonstrá-lo.

1b. Em segundo lugar, a forma, ou como e de que maneira o amor deve ser expresso; não em palavras apenas, mas por obra e em verdade; por fatos reais, que falam mais alto que palavras.

1b1. Ao fazer toda provisão adequada para seu bem temporal, representado por “alimentar” e “sustentar” a ela (Efésios 5:29), que incluem comida, roupa e todas as necessidades da vida; ele deve “procurar as coisas honestas”, decentes, convenientes e adequadas à sua posição, estado, condição, circunstâncias e habilidades; e aquele que “não tem cuidado dos seus”, especialmente pela sua própria esposa, filhos e família, “é pior do que o infiel” (Romanos 12:17; 1 Timóteo 5:8).

1b2. Em protegê-la de todos os abusos e danos; posto que ela é o vaso mais frágil, ela deve ser tomada sob sua asa e abrigo; ele deve ser uma cobertura para ela, como Abraão foi para Sara; o qual pode ser representado pela cerimônia praticada no casamento, ou pelo ato em que este é expresso, de um homem estendendo sua capa sobre a mulher (Gênesis 20:16; Rute 3:9), ele deve expor-se ao perigo, e até mesmo arriscar sua vida em sua defesa, e para seu resgate (1 Samuel 30:5, 18).

1b3. Ao fazer tudo o que pode contribuir para o seu prazer, paz, conforto e felicidade. “O que é casado” cuida de “como há de agradar à sua mulher”; nem o apóstolo o culpa por isso, antes o elogia, ou o recomenda (1 Coríntios 7:33). “O ódio excita contendas”, porfias, brigas e a consequência disso é confusão, e toda a obra perversa; “mas o amor cobre todos os pecados”, esconde defeitos, falhas e fraquezas (Provérbios 10:12).

1b4. Na busca de seu bem-estar espiritual. Sua conversão, se não-convertida, e sua paz espiritual, conforto e edificação, sendo ela uma coerdeira com ele da graça da vida; juntando-se com ela em todos os exercícios religiosos; na adoração em família, na leitura, na oração, no louvor, na conferência e conversação Cristã; instruindo-a em tudo o que concerne à doutrina, dever e disciplina da igreja; respondendo às perguntas que ela pode e tem o direito de fazer-lhe em casa (1 Coríntios 14:35). O marido deve opor-se a todo ódio e amargura: “Vós, maridos, amai a vossas mulheres, e não vos irriteis contra elas” [Colossenses 3:19]; não deve usar linguagem amarga, palavras ameaçadoras, olhares maldosos e principalmente agressões físicas; pois isto é cruel, grosseiro, bárbaro e brutal, impróprio ao homem e ao Cristão.

1c. Em terceiro lugar, as razões ou argumentos para o cumprimento do dever do amor de um homem para com sua esposa, são como segue:

1c1. A proximidade entre eles. Ela é a sua própria carne; e “nunca ninguém odiou a sua própria carne”, o que seria monstruosamente antinatural; ela é como “a si mesmo”, a outra parte de si mesmo, e deve ser amada como o seu próprio corpo, pois amar é um princípio na natureza (Efésios 5:28, 29, 33).

1c2. A ajuda, vantagem, e o proveito que ele recebe por ela. Ela é provida como uma ajudadora para ele, e torna-se tal como ele nos negócios da família (Gênesis 2:18), ela é sua companheira, e isto é usado como uma razão pela qual ele não deveria agir traiçoeiramente contra a esposa de sua mocidade (Malaquias 2:14), ela é sua companheira na prosperidade e na adversidade; compartilhando com ele em seus cuidados e problemas, em suas alegrias e tristezas; ela simpatiza com ele em todas as condições, chora quando ele chora e se alegra quando ele se alegra; ela é uma parceira para ele nas bênçãos da graça agora, e será uma parceira para ele na glória eterna.

1c3. A glória e a honra que ela é para ele. “A mulher é a glória do homem”, em que são vistos seu poder e autoridade (1 Coríntios 11:7), alguém que o ama e é casta para ele, e tem o cuidado dos assuntos de sua família, que lhe honra, e é um crédito e uma coroa para ele, e faz com que ele seja respeitável entre os homens; seu coração está nela confiado, e através de sua conduta, ele é conhecido e respeitado “nas portas” (Provérbios 12:4, 31:10, 11, 23).

1c4. O argumento mais forte e mais convincente de todos para um bom homem, é o amor de Cristo à Sua Igreja; que é o padrão e exemplo do amor de um homem para com sua esposa e o que mais fortemente o encoraja a amá-la (Efésios 5:25-28).

Deveres das Esposas

2. Em segundo lugar, os deveres que cabem à esposa são reverência, submissão, obediência e etc.

2a. Reverência. E “a mulher reverencie o marido” (Efésios 5:33); esta reverência é tanto interna como externa; ela deveria pensar bem, e até mesmo muito bem dele, e não desprezá-lo em seu coração, como Mical, a filha de Saul, fez com Davi, seu marido (2 Samuel 6:16), e ela deveria falar dele e para ele, de uma maneira respeitável, como Sara fazia a Abraão, chamando-o de senhor (1 Pedro 3:6; Gênesis 18:12).

2b. Sujeição e submissão a ele. “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos”, e não como para os outros, mas “como ao Senhor”, o Senhor Jesus Cristo, é o cabeça de todo homem, e também da Igreja. “Assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos”; isto é, em coisas relacionadas aos assuntos familiares; não em tudo o que é contrário às leis de Deus e de Cristo; pois Deus deve ser obedecido antes do que os homens, qualquer homem, até mesmos dos próprios maridos (Efésios 5:22, 24), e esta sujeição e submissão não é um ato servil; não é como a de servidores aos seus patrões, ou como das servas às suas patroas, e muito menos como a dos escravos aos tiranos, ou daqueles que os arrebatam e os mantêm cativos; mas como o corpo e os membros estão sujeitos à cabeça, pela qual eles são regidos, guiados e dirigidos para o seu bem; e isto de forma sábia, afetuosa e gentil.

2c. Obediência. O apóstolo prescreve que as mulheres sejam “obedientes a seus maridos” (Tito 2:5) Sara é um exemplo disso; e temos um exemplo de sua obediência imediata e rápida às ordens de Abraão (1 Pedro 3:6; Gênesis 18:6).

2d. Assistência e ajuda em assuntos familiares, agradável ao propósito original de sua criação; guiando a casa com discrição, mantendo seus filhos e servos em boa ordem e decoro; habitando em casa, e gerenciando todos os assuntos domésticos com sabedoria e prudência (1 Timóteo 2:14; Tito 2:5).

2e. Não assumindo nenhuma autoridade sobre o marido, nem na igreja, mas somente quanto aos assuntos domésticos; buscando agradá-lo em todas as coisas, não fazendo nada sem a sua vontade e consentimento, e nunca contrário a estes; não se intrometendo nos negócios e preocupações seculares, mas deixando-os a ele (1 Timóteo 5:11-12; 1 Coríntios 7:34).

2f. Permanecendo com ele em todos os estados e circunstâncias da vida; indo com ele onde quer que Deus em Sua providência, e seu negócio na vida, chamá-lo; como Sara acompanhou a Abraão na terra da promessa, no Egito e em outros lugares; ela deve fazer como Rute propôs Noemi (Rute 1:16). Existem razões pelas quais a mulher deve ser encontrada no cumprimento dos seus deveres. Algumas delas são:

2f1. Extraídas de sua criação, tempo, modo e propósito dos mesmos; primeiro foi formado Adão, e depois Eva; e, por conseguinte, no ponto de tempo ele possuía a superioridade; o homem não foi feito de e para a mulher; mas a mulher foi feita do e para o homem, para ser uma ajudadora idônea e assistente dele (1 Timóteo 2:13; 1 Coríntios 11:8-9; Gênesis 2:18).

2f2. A partir da consideração da Queda, e o que lhe diz respeito nela: “E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”, pelo menos a princípio, e os meios de conduzir o seu marido a isso; e, portanto esta é parte da sentença pronunciada sobre ela pela sua transgressão: “Teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (1 Timóteo 2:14; Gênesis 3:16).

2f3. Devido ao homem ser o cabeça da mulher; e, portanto, ela deve estar em sujeição a ele como tal (1 Coríntios 11:3; Efésios 5:23).

2f4. Pelo fato de que ela é o vaso mais frágil e, portanto, necessitando de seu abrigo e proteção.

2f5. Pelo seu próprio crédito e honra aqui em causa. Pois seria para ela descrédito e desonra o comportar-se de forma irreverente e ser desobediente; submeter-se a ele “como convém no Senhor” é decente e vem a ser (Colossenses 3:18) assim um ornamento para as mulheres, e o melhor ornamento com que podem cobrirem-se é “estarem sujeitas aos seus próprios maridos” (1 Pedro 3:3-5).

2f6. O principal argumento de todos é retirado da sujeição da Igreja a Cristo (Efésios 5:22, 24).

Em suma, ambas as partes devem considerar o prazer do outro, a paz, o conforto e a felicidade, e, especialmente, a glória de Deus; para que Sua Palavra, caminhos e adoração não possam ser censurados e mal falados por causa de qualquer conduta deles (Tito 2:5).

Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Rebeca Teixeira
Texto orignalmente postado no site PBMinistries.org • Traduzido e publicado com permissão.
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