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Qual o Lírio Entre os Espinhos, Tal é Meu Amor Entre as Filhas, por R. M. M’Cheyne

“Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas. Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar.” (Cânticos 2:2-3)

 

Se um homem não-convertido fosse levado para o céu, onde Cristo está sentado em glória, e se ele ouvisse as palavras de Cristo de admirável amor para com o crente, ele não conseguiria entendê-las, ele não conseguiria compreender como Cristo vê beleza em pobres pessoas religiosas, a quem ele no fundo do seu coração desprezou. Ou ainda, se um homem não-convertido ouvisse um Cristão em suas devoções quando ele está realmente dentro do véu, e ficasse para ouvir suas palavras de admiração, adoração amorável para com Cristo, ele, possivelmente, não poderia entendê-lo! Ele não conseguiria compreender como o ser crente deve ter uma tal afeição ardente em relação a Alguém invisível, em quem ele mesmo não viu nem beleza nem formosura.

 

Então, é verdade que o homem natural não conhece as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura. Pode haver alguém agora me ouvindo que têm uma aversão arraigada às pessoas religiosas, elas são tão duras, tão precisas, tão melancólicas, você não pode suportar a sua companhia. Pois bem, veja aqui o que Cristo pensa deles: “Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas”. Quão diferente você é de Cristo! Pode haver alguém me ouvindo que não têm desejos por Jesus Cristo, que nunca pensou nEle com prazer, você não vê nenhuma beleza nem formosura nEle, nenhum encanto para que você deva desejá-lO, você não ama a melodia do Seu Nome, você não ora a Ele continuamente.

 

Pois bem, veja aqui o que o crente pensa dEle, como difere de você: “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar”. Oh, que você fosse despertado por isto mesmo — que você é tão diferente de Cristo, e tão diferente do crente — a pensar que você deve estar em uma condição natural e debaixo da ira de Deus.

 

Doutrina. O crente é indescritivelmente precioso aos olhos de Cristo, e Cristo é indescritivelmente precioso aos olhos do crente.

 

I. Indague o que Cristo pensa do crente, e a reposta será: “Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas”.

Cristo não vê nada tão justo em todo este mundo como o crente. Todo o resto do mundo é como espinhos, mas o crente é como um lírio bonito aos Seus olhos. Quando você está andando em um deserto todo coberto de espinhos e abrolhos, se o seu olho recai sobre uma flor solitária, alta e branca, pura e graciosa, crescendo em meio aos espinhos, ela lhe parecerá peculiarmente bonita. Se fosse no meio de algum rico jardim entre muitas outras flores, então não seria tão notável, mas quando é cercada de espinhos por todos os lados, então, ela envolve o olho. Tal é o crente aos olhos de Cristo. “Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas”.

 

(1) Veja o que Cristo pensa do mundo não-convertido. É como um campo cheio de espinhos e abrolhos aos Seus olhos. 1. Porque não tem frutos. “Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?”. Assim também Cristo não recebe nenhum fruto do mundo não-convertido. Todo o mundo é um campo espinhoso imprestável. 2. Porque, quando a Palavra é pregada entre eles, é como semear entre espinhos. “Divida sua terra em pousio e não semeie entre espinhos”. Quando o semeador semeava, uma parte caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram a boa semente, assim é a pregação para os não-convertidos. 3. Porque o seu fim será como o de espinhos: “eles estão secos e que só servem para ser queimados”, como espinhos cortados que são queimados no fogo. “Mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada” [Hebreus 6:8]. Meus amigos, se vocês não são Cristãos, veja o que vocês são aos olhos de Cristo: espinhos. Vocês acham que possuem muitas qualidades admiráveis??, que são membros valiosos da sociedade, e vocês têm a esperança de que tudo estará bem com vocês na eternidade. Veja o que Cristo diz: que vocês são espinhos e abrolhos, inúteis neste mundo, e que só servirão para serem queimados.

 

(2) Veja o que Cristo pensa do crente. “Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas”. O crente é como uma linda flor aos olhos de Cristo. 1. Porque, justificado aos olhos de Cristo, lavado em Seu sangue, ele é puro e branco como um lírio. Cristo não pode ver nenhuma mancha em Sua própria justiça e, portanto, Ele não vê mancha no crente. “Tu és toda formosa, meu amor, como um lírio entre os espinhos assim é o meu amor”. 2. A natureza de um crente é mudada. Uma vez que ele era como o estéril espinheiro, que só serviria para ser queimado, agora Cristo colocou um novo espírito nele, o orvalho tem sido concedido a ele, e ele cresce como o lírio. Cristo ama a nova criatura. “Todo meu prazer está neles”. “Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas”. Você é um Cristão? Então não importa se o mundo te despreza, embora eles chamam-lhe por nomes depreciativos, lembre-se que Cristo te ama, Ele te chama: “Meu amor”. Permanecei nEle, e você deve permanecer no Seu amor. “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos”. 3. Porque, estão sós no mundo. Observem, só há um lírio, mas muitos espinhos. Há um grande deserto cheio de espinhos, e apenas uma flor solitária. Portanto, há um mundo que jaz no maligno, e um pequeno rebanho dos que creem em Jesus. Alguns crentes ficam abatidos porque eles se sentem solitários e sozinhos. Pensam: “Se eu estivesse no caminho certo, certamente eu não seria tão solitário”.

 

Certamente as pessoas sábias, e as amáveis e gentis que eu vejo ao redor de mim, com certeza, se houvesse alguma verdade na Religião, elas saberiam disso. Não te abatas. É uma das marcas do povo de Cristo, a saber, que eles estão sozinhos no mundo, e ainda assim eles não estão sozinhos. É uma das peculiares belezas que Cristo vê em Seu povo, que eles são solitários entre um mundo de espinhos. “Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas”. Não desanimes. Este mundo é o mundo da solidão. Quando vocês forem transplantadas para o jardim de Deus, então vocês não serão mais solitários, então vocês ficarão longe de todos os espinhos. Como flores em um belo jardim misturam seus milhares de odores para enriquecer a brisa que passa, assim, no paraíso acima, você deve se unir aos milhares de redimidos misturando o aroma deles como o seu louvor. Você deve se unir aos redimidos como flores vivas para formar uma guirlanda para a fronte do Redentor.

 

 

II. Indague o que o crente pensa de Cristo, e a reposta será: “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar”.

 

1. Cristo é mais precioso do que todos os outros salvadores aos olhos do crente. Como um viajante prefere uma macieira à todas as outras árvores do bosque, porque ele encontra abrigo e alimento nutritivo debaixo dela, assim o crente prefere Cristo a todos os outros salvadores. Quando um homem está viajando em países orientais, ele com frequência gosta de repousar dos calorosos raios de sol. É um grande alívio quando ele vem a um bosque. Quando Israel estava viajando no deserto, chegaram a Elim, onde havia doze fontes de água e setenta palmeiras, e acamparam-se ali por causa da água. Eles estavam contentes pelo abrigo das árvores. Então Miquéias diz que o povo de Deus “habita a sós, no bosque” [Miquéias 7:14], e Ezequiel promete “dormirão nos bosques” [Ezequiel 34:25].

 

Mas se o viajante estiver com fome e fraco por falta de comida, então ele não se contentará com qualquer árvore do bosque, mas ele escolherá uma árvore frutífera, sob a qual ele pode sentar-se e encontrar alimento, bem como sombra. Ele vê uma macieira e ele a escolhe dentre todas as árvores do bosque justamente porque ele tanto pode se sentar sob sua sombra como comer seus frutos excelentes. Assim é com a alma despertada por Deus. Ela sente que está sob o ardor da ira de Deus, ela está em uma terra cansada, ela é levada para o deserto, ela está prestes a perecer, ela vem a um bosque, muitas árvores oferecem sua sombra, onde se assentará debaixo? Sob a faia? Ai! qual fruta esta tem para dar? Ele pode morrer ali. Sob a árvore de cedro, com seus poderosos ramos? Ai! ela pode perecer ali, pois o cedro não tem frutos para dar. A alma que é ensinada de Deus procura um Salvador completo. A macieira é revelada para a alma e a alma faminta a escolhe sempre. Ela precisa ser salva do inferno e alimentada para o céu. “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos”.

 

Almas despertas, lembrem-se que vocês não devem sentar-se debaixo de toda árvore que se oferece: “Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em nome de Cristo, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos”. Há muitas maneiras de dizer paz, paz, quando não há paz. Vocês serão tentados a encontrar paz no mundo, no auto-arrependimento, na autorreforma. Lembrem-se, escolham uma árvore que lhes produzirá frutos, bem como sombra. “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos”. Ore por uma fé que escolhe. Orem por um olho que discerne a macieira. Oh! não há descanso para a alma, exceto sob esse ramo que Deus fortaleceu. O desejo do meu coração e oração por vocês é, que possam encontrar todo seu descanso ali.

 

2. Por que o crente estima tão altamente a Cristo?

 

Resposta (1). Porque ele tem experimentado a Cristo.

 

“Sentei-me à sua sombra com grande prazer”. Todos os verdadeiros crentes se sentaram sob a sombra de Cristo. Algumas pessoas pensam que serão salvas porque elas têm uma “cabeça-conhecedora” de Cristo. Elas leem sobre Cristo na Bíblia, ouvem de Cristo na casa de Deus, e elas pensam que isso é ser um Cristão. Ai, meus amigos, que bem vocês obteriam de uma macieira, seu eu apenas a descrevesse para vocês, contasse para vocês como é bonita, como está muito carregada com maçãs deliciosas? Ou, se eu apenas mostrasse uma imagem da árvore, ou se eu mostrasse a árvore em si, a certa distância, quão melhor seria para você? Você não receberia o bem da sua sombra ou seu fruto agradável.

 

Desta forma, queridos irmãos, que bem vocês receberão do próprio Cristo, se vocês só ouviram falar dEle em livros e sermões; ou se vocês O veem retratado perante vocês, no sacramento; ou se vocês O vissem com seus olhos corporais? Que bem faria tudo isso, se vocês não se sentarem debaixo da Sua sombra? Meus amigos, deve haver um sentar pessoal sob a sombra de Cristo, se vocês serão salvos. Cristo é a sarça que foi queimada, no entanto, não consumida. Oh! é um lugar seguro para um pecador merecedor do inferno encontrar descanso.

Alguns que estão me ouvindo podem dizer: “Sentei-me à sua sombra”. E ainda assim você O tem abandonado. Ah! você tem ido após seus amantes, e para longe de Cristo? Bem, então, Deus pode obstruir seu caminho com espinhos. Volta, volta, oh Sulamita! Não há nenhum outro refúgio para a sua alma. Venha sentar-se novamente sob a sombra do Salvador.

 

Resposta (2) Porque ele sentou-se com grande deleite.

 

Primeiro. Algumas pessoas pensam que não há alegria na Religião, isto é uma coisa triste. Quando um jovem se torna um Cristão, eles dizem: “Ah! ele deve se despedir do prazer, adeus para as alegrias da juventude, adeus a um coração alegre. Ele trocará esses prazeres pela leitura da Bíblia, sermões, livros secos, para uma vida de seriedade e rigor” — isto é o que o mundo diz. O que a Bíblia diz? “Sentei-me à sua sombra com grande deleite”. Ah! Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso. No entanto, ninguém pode acreditar nisso, exceto aqueles que têm tentado fazê-lo. Ah! Não vos enganeis, meus jovens amigos, o mundo tem muitos prazeres sensuais e pecaminosos; as delícias do comer e beber, e vestir roupas alegres; as delícias da folia e da dança. Nenhum homem de sabedoria negará que essas coisas são deliciosas para o coração natural, mas elas perecem no uso, e eles acabam em um inferno eterno. Mas, sentar-se sob a sombra de Cristo, após ter estado sob a ira ardente de Deus, fatigado com a procura de salvadores vãos, e finalmente encontrar descanso sob a sombra de Cristo, ah! esta é uma grande alegria. Senhor, que cada vez mais eu possa sentar-me sob esta sombra! Senhor, que eu possa sempre ser cheio com esta alegria!

 

Segundo. Algumas pessoas têm medo de qualquer coisa como alegria na Religião. Eles não têm nenhuma alegria em si mesmos, e eles não gostam de vê-la em outros. Sua religião é algo como as estrelas, muito sublimes e muito brilhantes, mas muito frias. Quando veem as lágrimas de ansiedade, ou lágrimas de alegria, clamam: entusiasmo, entusiasmo! Bem, então à lei e ao testemunho: “Sentei-me à sua sombra com grande deleite”. Isto é entusiasmo? Oh, Senhor, dá-nos sempre deste entusiasmo! Que o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz na vossa crença! Se for realmente por sentar-se sob a sombra de Cristo, que não haja limites para a sua alegria. Oh, se Deus lhes abrisse os olhos e lhes desse uma fé simples, como uma criança, para olhar para Jesus, para se sentar à Sua sombra, então haveria canções de alegria subindo de todas as nossas moradas. Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.

 

Terceiro. Porque o fruto de Cristo é suave ao paladar. Todos os verdadeiros crentes não apenas sentam-se sob a sombra, mas participam de seus frutos excelentes assim como quando você senta-se sob uma macieira, o fruto paira acima de você e ao seu redor, e convida-o para levá-los à mão e ao paladar. Assim, quando você vier para apresentar-se à justiça de Deus, curve a cabeça, e sente-se sob a sombra de Cristo, todas as outras coisas são adicionadas para você:

 

Em primeiro lugar, misericórdias temporais são doces ao paladar. Ninguém, senão aqueles de vocês que são Cristãos sabem disso, isto é, que quando vocês se sentam sob a sombra das misericórdias temporais de Cristo, em razão das misericórdias do Pacto: “Pão vos será dado; sua água será certa”. Estas são maçãs doces da árvore de Cristo. Oh, Cristão, diga-me, não é o pão doce quando comido assim? Não é a água mais rica do que o vinho? E o legume de Daniel melhor do que as iguarias da mesa do rei?

 

Em segundo lugar, aflições são doces ao paladar. Toda boa maçã tem algum azedinho nela. Assim é com as maçãs da árvore de Cristo. Ele dá aflições, bem como misericórdias. Ele faz os dentes ficarem embotados; mas mesmo estes são bênçãos disfarçadas, são dádivas do Pacto. Oh! Aflição é uma coisa triste quando você não está sob a sombra de Cristo. Mas as aflições são coisas tristes para vocês, Cristãos? olhem para suas tristezas como maçãs daquela árvore abençoada. Se vocês soubessem quão saudáveis elas são, não desejariam abster-se delas. Muitos de vocês sabem que não há contradição em dizer que estas maçãs, apesar de amargas, são doces ao seu paladar.

 

Em terceiro lugar, os dons do Espírito são doces ao paladar. Ah! Estes são os melhores frutos que crescem na árvore; aqui estão as mais maduras do galho mais alto. Vocês que são Cristãos sabem quantas vezes as suas almas estão desfalecendo. Bem, aqui está o alimento para as suas almas desfalecentes. Tudo que vocês precisam está em Cristo “A minha graça te basta”. Querido Cristão, sente-se mais debaixo esta árvore, e coma mais deste fruto. “Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor” [Cânticos 2:5].

 

Em quarto lugar, as promessas de glória. Algumas das maçãs têm um sabor de céu nelas. Alimentem-se destas, queridos Cristãos. Algumas das maçãs de Cristo dão-lhes um deleite como o fruto de Canaã por meio dos cachos de Escol. Senhor, dê-me sempre destas maçãs, pois oh! elas são doces ao meu paladar.

 

São Pedro, 1837.