Como Philip Schaff indicou, confissões e credos não possuem autoridade absoluta para os protestantes. Sua autoridade é apenas um padrão ad hoc, eclesial, e situado para o bem da unidade em comunhão e consistência de testemunho, seja em uma denominação ou em uma assembleia local de crentes. Eles podem ser alterados ou expandidos à luz de provas de exegese bíblica mais madura ou à luz de desafios doutrinários e culturais à verdade bíblica. Por essa razão, as confissões que surgem do protestantismo geralmente contêm um artigo que afirma a autoridade única, inspiração e infalível da Escritura. Por exemplo, a Segunda Confissão Batista de Londres afirmou em sua primeira frase: “As Sagradas Escrituras são a única, suficiente, correta e infalível regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos”. No parágrafo 6 do mesmo Capítulo sobre a Escritura, refletindo as palavras e conceitos da Confissão de Fé de Westminster e da Declaração de Savoy com uma pequena variação [em itálico], a Confissão acrescentou: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado ou necessariamente contido nas Sagradas Escrituras, ao que nada, em qualquer tempo, deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito ou por tradições humanas”. Assim, uma das confissões mais influentes no protestantismo começa com um artigo de dez parágrafos afirmando a única e segura autoridade da Escritura, concluindo com essas palavras: “O Juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias da Religião devem ser determinadas, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos particulares devem ser examinados, e em cuja sentença devemos nos firmar, não pode ser outro senão as Sagradas Escrituras anunciadas pelo Espírito” [CFW]. Novamente, a Segunda Confissão de Londres modificou levemente a linguagem, insistindo ainda mais claramente na autoridade única da Escritura, terminando com a frase após as palavras “não pode ser outro”, com essas palavras “senão as Sagradas Escrituras anunciadas pelo Espírito; no que a Escritura assim anuncia, nossa fé é finalmente decidida”.
Para o Catolicismo Romano e para a Ortodoxia Oriental, entretanto, a visão da tradição credal é completamente diferente. As igrejas Ortodoxas consideram os primeiros sete concílios ecumênicos como guiados pelo Espírito Santo, resultando em um testemunho autoritativo e infalível da verdade doutrinária. Isso inclui o Concílio de Nicéia, em 325; de Constantinopla, em 381; de Éfeso, em 431; de Calcedônia, em 451; de Constantinopla, em 553; em Constantinopla, em 680 e de Nicéia, em 787. Estes começam com a Pessoa de Cristo como o principal assunto, com implicações para a doutrina da Trindade de 325 a 680 e terminam com uma afirmação da legitimidade do uso de imagens no culto como uma manifestação lícita de confiança na encarnação.
A igreja de Roma também aceita o status canônico dos sete primeiros concílios ecumênicos, mas acrescenta o caráter autoritário do ensino papal e conciliar como um dom contínuo para a igreja. O exemplo mais notável disso é o decreto da infalibilidade papal que foi produzido no Concílio Vaticano I em 1870. Tanto a Igreja Católica Romana quanto a Igreja Ortodoxa aceitam a tradição como de igual autoridade com a Escritura, mas o Catolicismo Romano a estende mais do que os Ortodoxos. Roma vê o bispo de Roma como o vigário de Cristo. No Concílio de Trento, os católicos romanos, em contraposição à afirmação protestante do princípio de Sola Scriptura, Somente a Escritura, como autoridade revelada para toda a fé e a moral, afirmam a autoridade da fé e das “tradições não escritas”. Em 1870, no Concílio Vaticano I, para que a revelação constituída por tradição não escrita pudesse ser interpretada e declarada com precisão, foi proclamado como “dogma divinamente revelado” que o papa “quando fala ‘ex cathedra’ [‘da cadeira’], ou seja, quando exercendo o cargo de pastor e doutor de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, estabelece uma doutrina sobre fé ou moral a ser cumprida pela Igreja universal, pela ajuda divina prometida a ele no bendito Pedro, está possuído dessa infalibilidade com a qual o divino Redentor queria que sua Igreja fosse dotada para definir doutrina sobre fé ou moral”.
Dados esses exemplos de comunidades cristãs históricas aprovando autoridade extra-canônica, os protestantes devem guardar cuidadosamente sua herança de Sola Scriptura.
Na discussão doutrinária, as tentativas de interagir cuidadosamente com as Escrituras não devem ser descartadas como meros “biblicismos”.
A teologia confessional fornece considerações hermenêuticas importantes e, em muitas questões, estabelece predisposições doutrinárias bíblicas e historicamente convincentes, mas não deve ser vista como exaustiva ou como algo que torna desnecessário o envolvimento contínuo com o texto bíblico em todos os pontos doutrinários. As ideias nas confissões se identificam com palavras particulares que podem ser usadas de maneira opressiva, se as definições e relações estreitamente concebidas são permitidas governar e não estão sujeitas à possibilidade de uma definição expandida e mais rica à luz da discussão bíblica fraterna. Devemos trabalhar arduamente para perceber a diferença entre uma posição contraditória, uma posição complementar e uma legítima expansão e aplicação de uma ideia.
Mesmo com a possibilidade dessas falsas aplicações dos credos e outras supostas fontes de autoridade extra-bíblicas, a utilidade dos credos e confissões da história Cristã é bastante profunda. Eles dão proeminência aos pontos altos da revelação bíblica, guiando assim nossos pensamentos na literatura bíblica como um mapa e uma bússola para que conheçamos as direções da nossa peregrinação e os destinos ricamente gratificantes para os quais a narrativa canônica nos aponta.