[Cartas de Anne Dutton Sobre Temas Espirituais • Carta 1: Regeneration; Carta 2: The New Birth]
Regeneração
Prezado Senhor,
Que diremos a estas coisas? Onde a graça e os dons se encontram, e Deus chama para a obra ministerial, essa pessoa deve ser usada por Ele, seja educada em escola ou não.
Eu tenho, meu caro senhor, uma grande veneração pela aprendizagem, e acho que isso é uma grande vantagem para o ministro do evangelho, mas não que ela seja essencialmente necessária para o chamado de uma pessoa para o ministério do evangelho; pois deixe que um homem tenha sempre tão perfeita compreensão das línguas originais em que os mistérios de Deus estão escritos, se ele não é abençoado com uma compreensão espiritual sobrenatural, enquanto ele sabe perfeitamente as palavras, ele é completamente ignorante do poder das verdades espirituais. Isto é evidente a partir do que o apóstolo Paulo diz: “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. E ele falou isso por experiência, pois por homem natural falava não somente do profano, ímpio, nem do homem fraco e ignorante, que tem apenas pouca capacidade natural para compreender os mistérios espirituais, mas também do homem moral, o homem erudito, o homem de sagacidade; com a máxima capacidade natural, mesmo este homem, o homem de grande erudição, enquanto natural, não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois lhe são loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
O apóstolo Paulo estava longe de ser um homem profano, um homem fraco, ou iletrado, enquanto um homem natural; ele era um fariseu, uma das mais severas seitas da religião judaica, perfeitamente ensinado, e até excessivamente, na lei dos Pais; ele foi perfeitamente ensinado na lei de Moisés, que falou das coisas concernentes ao Senhor Jesus; ele foi criado em Jerusalém, aos pés de Gamaliel, tanto que foi dito a ele depois de sua conversão, “as muitas letras te fazem delirar”. E ainda assim este homem de sagacidade, de moralidade, de muito aprendizado, enquanto um homem natural, ou no seu estado não convertido era bastante ignorante de Cristo, até que Deus fez dele um homem espiritual, e de uma forma sobrenatural revelou Seu Filho nele, ou deu-lhe uma capacidade espiritual para entender os mistérios espirituais; e, então, ele estava apto a pregar o Senhor Jesus. E Deus pode assim chamar e usar um homem inculto, se Lhe agradar. E a maioria dos apóstolos eram tais, quando o nosso Senhor primeiro os enviou a pregar.
E ao contrário, como foi com Nicodemos — um fariseu, um moralista rigoroso, um homem culto, um professor da lei de Moisés, um governante em Israel, um do Sinédrio judaico? Ai! ainda sendo apenas um homem natural, quão ignorante era ele sobre doutrina da regeneração, quando o nosso Senhor a pregou para ele?
E quantos são, senhor, atualmente, os mestres de nosso Israel que não têm tanto como uma verdadeira noção desta importante doutrina da regeneração, e muito menos uma experiência abençoada em seus corações? Quantos há que pensam que o batismo é a regeneração; ou, no máximo, reforma externa de um homem ímpio de imoralidades grosseiras, para praticar os deveres de moralidade? Não é por esta razão que eles são completamente ignorantes da obra de regeneração, como é a obra de Deus sobre nós? Eles fazem as pessoas alterarem as suas vidas e tornarem-se novas criaturas, “o que”, como um clérigo digno bem diz, “é a pregação de um caminho de salvação que é impraticável para o homem caído”. Assim uma pessoa precisa nascer de novo, ou ser um homem espiritual, e, como tal, ensinado por Deus, seja erudito ou não, antes que ele possa espiritualmente ou verdadeiramente conhecer ou pregar o evangelho de Cristo.
Mas, Senhor, se a regeneração é, portanto, necessária, e alguém poderia dizer: Se não podemos fazer-nos novas criaturas, como devemos nos tornar tais? E em que consiste a regeneração? Eu respondo: Nenhum homem pode tornar-se uma nova criatura; ele deve ser totalmente dependente do Espírito Santo para esta obra, na qual a criatura é completamente passiva. É dever de todo homem natural reformar a sua vida, e abster-se de todo pecado conhecido, desde que por todo o pecado que ele comete traz mais desonra a Deus, e entesoura para si mesmo mais ira para o dia da vingança. Mas nada que qualquer homem natural faça pode torná-lo uma nova criatura. Como ele não poderia dar a si mesmo uma existência natural, assim ele não pode dar a si mesmo uma existência na graça; esta é a prerrogativa exclusiva de Deus, operar pelo Seu Espírito Santo em quem Ele quer; pois, sobre aqueles que são novas criaturas devem ser ditos ser “obra de Deus, criados em Cristo Jesus para boas obras”, sendo por Ele “gerados novamente para uma viva esperança, pela ressurreição de Cristo dentre os mortos”.
E quem pode criar uma nova natureza espiritual no coração, senão Deus? Que homem pode gerar em si mesmo para uma viva esperança? E, ainda assim, se ele não é abençoado com esta obra de Deus, ele não irá, não poderá, ser um participante da herança dos santos na luz, não tendo aptidão em si mesmo para esse gozo glorioso. E como todo o gozo provém da afabilidade do objeto para o sujeito, e um homem natural é um homem profano, que júbilo ele pode ter em um Deus infinitamente santo? Como aquele que ama o pecado pode deliciar-se com uma perfeita conformidade com a imagem santa de Deus, e uma dedicação inteira e eterna somente para o Seu louvor, que são as felicidades dos santos em alegria enquanto eles contemplam a face de Jeová? E se esses temperamentos santos não são criados em nossos corações aqui, em uma medida começada, devendo ser preenchida a seguir, as nossas almas serão miseráveis para sempre, pois nenhuma pessoa ou coisa impura entrará na nova Jerusalém. Mas, senhor, quanto ao próximo ponto, no que a regeneração consiste? Permita-me responder brevemente:
A regeneração consiste em uma mudança universal forjada em nossas almas em todos os seus poderes e faculdades pelo Espírito e palavra de graça — ou no dom de uma nova natureza, uma natureza espiritual, na alma de quem está sendo renovado segundo a imagem de Deus no conhecimento e verdadeira santidade, na qual a nova natureza contém em si a fé e o amor, esperança e toda a graça — e é a nossa aptidão para comunicar com objetos novos e espirituais. E este novo e espiritual princípio da graça tem o seu lugar em todas as potências da alma. O entendimento, que antes era trevas, a seguir, é feito luz no Senhor. A vontade, que era toda rebelião contra a salvação de Deus em Cristo, que é toda a partir da livre graça, é então feita disposta a confiar na livre graça em Cristo para toda a felicidade da salvação. A consciência, que estava cheia de culpa e medo, é então aspergida com o sangue de Cristo, e, portanto, abençoada com paz. As afeições, que eram fixadas em uma propensão terrena, sensual, são, então, erguidas a objetos espirituais e celestes. Em uma palavra, “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”; cada homem que está em Cristo é uma nova criatura.
Que homem pode dizer em um sentido espiritual, como o homem que nasceu cego, cujos olhos o nosso Senhor abriu, “Uma coisa eu sei, que eu era cego, agora vejo”. A fé é novo olho da alma, para discernir o pecado em outra luz completamente diferente do que o homem fazia antes; discernir o pecado no coração em sua natureza odiosa e consequências lamentáveis; discernir a lei de Deus em sua espiritualidade, estendendo aos pensamentos, bem como aos atos, na equidade de sua exigência de obediência perfeita, e na justiça de sua maldição para cada, até mesmo a menor desobediência; e, portanto, para discernir a insuficiência de sua própria obediência para justificar a justiça da alma diante de um Deus de infinita santidade; discernir pelo evangelho a total suficiência, a excelência transcendente de Cristo. A fé que opera pelo amor aos seus gloriosos objetos, o totalmente desejável Jesus, se submete à Sua perfeita justiça, rejeita a sua própria justiça, como escória e lixo, e deseja ser achado nEle, e na Sua justiça apenas; e aprovação do Salvador, como novo Chefe da alma, recebe-O em Sua Pessoa e ofício para todos os confins da graça como dom gratuito de Deus para o principal dos pecadores, e dá-se a si mesmo para ser inteiramente dEle em toda santa obediência para a glória do Senhor e felicidade presente e eterna na alma.
A fé dobra os joelhos à Cristo, e reverencia o Salvador em toda a plenitude da Sua salvação; e fé nos afetos eleva a alma para cima, até todos os objetos celestiais, a todas aquelas delícias superiores que devem ser apreciadas em Deus, parcialmente aqui, e completamente e eternamente no porvir; com um “quem tenho eu no céu, senão a Ti? e ninguém há na terra que eu deseje além de Ti”. Os desejos daquela alma estão centrados em Cristo, como seu presente e porção eterna; e se deleita em todas as coisas que carregam a Sua imagem, Sua palavra, Suas obras, Seus caminhos e ordenanças, e todos os Seus santos; e a alma abomina com indignação, tudo o que Deus abomina, todo pecado é uma abominação para aquele homem desde que ele é nascido de novo. Pois, senhor, o homem que é uma nova criatura em Cristo o é, sem dúvida, em todos os seus poderes e faculdades, embora esta obra como ainda é apenas uma obra iniciada, esta deve ser concluída na dissolução de seu corpo para sua plena salvação.
A obra é perfeita quanto ao tipo, e perfeita quanto às partes, estendendo-se a todos os seus poderes e faculdades, mas ainda não é perfeita quanto ao grau, como uma criança tem todas as partes de um homem, embora não chegou à completa estatura de homem perfeito. E assim é com as almas que são recém-nascidas, o que fez um digno religioso dizer: “cada homem regenerado é dois homens”, ou seja, ele tem uma nova natureza nele, que é inteiramente para Deus, e uma velha natureza ainda na parte restante, que é inteiramente para o pecado. E essas duas naturezas que residem na mesma alma e em todas as suas faculdades, que são santificadas apenas em parte — a natureza corrupta, a carne cobiça contra o Espírito, ou natureza santa em seu coração — e o Espírito contra a carne; e sendo estes contrários, um ao outro, as almas que nasceram de novo não podem fazer perfeitamente as coisas que eles desejam, por causa do pecado que habita neles. Isso fez o santo Paulo dizer: “Quando quero fazer o bem, o mal está comigo”. E como ele gemia sob essa miséria, com um “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. E estes gemidos sob o fardo restante do pecado são peculiares ao recém-nascido, para aqueles que têm uma santa natureza espiritual neles, em virtude da regeneração. E essa natureza nova e santa neles é a sua aptidão para discernir as coisas espirituais, que não podem ser conhecidas por nenhum homem natural; pois, iniciada comunhão com Deus em Cristo, e uma dedicação solene para o Seu louvor, como a sua conclusão, irá prepará-los para a visão beatífica de Sua face pelos séculos sem fim!
Feliz, três vezes feliz, então, são aqueles que nasceram de novo! Eles são herdeiros daquela herança gloriosa que é incorruptível, imaculada, e que não se desvanece, reservada no Céu para eles!
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Novo Nascimento
Querido Amigo,
Graça a ti e paz te sejam multiplicadas,
Eu ouço você dizer, “eu desejo muito saber se eu sou um daqueles que nasceram de novo”. Há duas maneiras pelas quais uma alma vem a saber se ela nasceu de novo. A primeira é pela revelação do Espírito testemunhando à alma em alguma palavra ou outra na qual essa verdade é declarada. A segunda é por Ele permitir que a alma discirna seus próprios atos em luz Divina, e tire conclusões a partir destes discernidos atos da graça que tenha o princípio; e em ambas as maneiras o Senhor pode lhe dar satisfação em um instante se Lhe agradar. Mas, de modo geral, leva um tempo antes de um filho de Deus poder tirar conclusões constantes de seu novo nascimento a partir dos seus próprios sentimentos da nova vida; e, portanto, você pode ser recém-nascido apesar de você não saber!
A criança viva, você sabe, quando primeiro nascida no mundo tem vida, mas ela não sabe disso. Ela tinha uma vida secreta a partir de sua primeira vivificação no útero, e daí um movimento secreto; mas assim que nasce, começa a viver visivelmente para os outros, mas ainda assim, a própria criança não sabe nada sobre o assunto. Ele chora, deseja mamar, experimenta o leite, e é satisfeita, vê a luz e sente o calor com prazer, todos os quais são manifestações visíveis de sua vida aos espectadores, mas a criança não sabe nada sobre isso, porque não é capaz de autorreflexão.
E assim é com a alma recém-nascida; há uma obra secreta de Deus sobre todo o coração, um princípio de vida dado, e dali, alguns movimentos secretos e agitações fracas agora e depois, sob convicções iniciadas, antes de ser trazida para a vida visível da graça, que se descobre assim que a alma é nascida de novo, na respiração ou clamor da nova criatura, seus desejos, seus discernimentos, e seus prazeres, que, quando comunicada aos cristãos adultos, eles sabem que tal alma é um dos recém-nascido de Cristo, embora esta criança em si ainda não seja capaz de refletir sobre seus próprios atos de forma a concluir a sua vida a partir dali.
E se for este o seu caso, que você não pode fazer um julgamento a partir do que você já experimentou se você tem a vida da graça, ou é um nascido de novo, então me diga, como uma criatura racional, como é com você, para que, como tal, possa dizer o que os sentimentos da alma tem sido, embora como uma nova criatura que você ainda pode não vir a tal exercício de seus sentidos espirituais como conhecer esses sentimentos sendo sentimentos de graça, e uma certa demonstração de seu ser nascido de novo.
Bem, uma criança viva vê. O que você tem visto? Você já viu-se ser um pecador por natureza, bem como pela prática, de coração, bem como a vida, e que você é totalmente arruinado, e deve perecer para sempre, sem um interesse salvador em Jesus Cristo, como sendo totalmente incapaz de fazer qualquer coisa para livrar-se da ira vindoura? Você já viu a sua própria justiça ser apenas trapos imundos, e sua própria força para fazer qualquer boa obra ser apenas fraqueza? Mais uma vez, você viu tão excelência em Cristo, como um Salvador completo, que é extremamente adequado para o seu caso como um pecador perdido? E você tem qualquer discernimento da glória da livre graça de Deus e da misericórdia em Cristo? Você tem, então, o olho da nova criatura, discernimento da fé, a fé dos eleitos de Deus.
E a partir desses discernimentos você foi feito a clamar ao Senhor, para lamentar o seu pecado diante dEle, e para suplicar Seu Trono de misericórdia, orando a Ele para dar-lhe Cristo independente do que mais Ele negue a você? Você tem, então, a respiração da nova criatura, que flui de ninguém, senão daqueles que têm a vida da nova criatura.
Mais uma vez, quais são os seus desejos? Os anseios de sua alma são pela livre graça e misericórdia de Deus em Cristo, como manifestado nas promessas, aqueles seios de consolação? Você tem, então, o apetite da nova criatura, e é certamente nascido da Palavra e do Espírito de Deus.
Mais uma vez, quais são os seus prazeres? O que mais satisfaz e agrada a sua alma? A graça de Deus e do Senhor Jesus Cristo têm sido doces e saborosos para você em uma promessa ou em uma ordenança, o refrigério e satisfação de sua alma por alguns momentos, apenas contanto que você teve o peito em sua boca, a graça da promessa vertida para você? Então, você provou que o Senhor é bom, e é um dos bebês recém-nascidos de Cristo.
E você já sentiu qualquer calor refrescante e conforto no amor de Deus, que, como o fogo, já aqueceu e acalorou a alma fria? Você tem, então, aquela sensação que é própria de uma nova criatura, e é evidente nestes aspectos que você certamente nasceu de novo, e como tal, você deve ver, ou seja, aproveitar o reino de Deus como um reino de graça aqui, que é um reino de poder, justiça, paz e alegria no Espírito Santo; e você entrará no reino de glória no futuro, como sendo feito apto para ser um participante da herança dos santos na luz; pois aquele que é o seu Deus preparou para você uma cidade, e fez a sua alma para essa mesma finalidade, não havendo nunca uma alma no mundo que seja assim criada, que não seja um vaso de misericórdia preparada para a glória, por uma obra salvífica do Espírito Santo sobre ela, bem como no propósito de Deus a seu respeito.
Vá em frente, portanto, como um recém-nascido, para o genuíno leite espiritual da Palavra — a graça sem mistura do Evangelho — para que você possa crescer assim, pois isso é com o propósito de que você mantenha e aumente a vida graça iniciada em sua alma, até que seja aperfeiçoado na vida de glória. Alegre-se, então, você ovelha de Cristo, pois você está extremamente seguro sob os cuidados de seu amoroso Pastor. Ele vai te levantar com o Seu braço, e carregá-lo-á em Seu seio; Ele vai conduzir você a pastos verdes, junto das águas, e fará com que você repouse em segurança.