[Um Compêndio de Teologia Doutrinária • Livro 6 • Capítulo 11 • Editado]
A regeneração segue a adoção, sendo a evidência disso; regeneração descreve as pessoas que receberam o poder de se tornarem filhos de Deus (João 1:12-13), e ainda que estas sejam coisas distintas, mas são intimamente ligados entre si; onde uma está, a outra também está, como a alegria e a experiência; e possuem uma semelhança uma com a outra. A regeneração pode ser considerada tanto mais amplamente, e aí ela inclui com ela o chamado eficaz, conversão e santificação: ou, mais estritamente, ela esboça o primeiro princípio de graça infundido na alma; o que o torna um objeto apropriado para o chamado eficaz, um sujeito apropriado de conversão, e é a fonte e origem daquela santidade que é gradualmente desenvolvida em santificação e aperfeiçoada no céu. Sobre a regeneração, as seguintes coisas podem ser analisadas:
I. O que é a regeneração, ou o que se quer dizer com isso, a natureza da mesma; a qual é tão misteriosa, desconhecida e inexplicável para um homem natural, como era a Nicodemos, embora um mestre em Israel; agora pode ser melhor entendida pela observação das frases e termos em que ela é expressa.
1. Ela é expressa por “nascer de novo”, que propriamente significa regeneração; (João 3: 3, 7; 1 Pedro 1:3, 23 e isto supõe um nascimento anterior, um primeiro nascimento, a qual a regeneração é o segundo, e que pode receber alguma luz ao observar o contraste entre os dois nascimentos, eles sendo o inverso um do outro: o primeiro nascimento é de pais pecadores, e à sua imagem, o segundo nascimento é de Deus, e à Sua imagem; o primeiro nascimento é corruptível, o segundo nascimento da semente incorruptível; o primeiro nascimento está em pecado, o segundo nascimento é em santidade e justiça; pelos primeiros os homens são contaminados e imundos, pelo segundo nascimento eles se tornam santos e começam a ser santificados, o primeiro nascimento é da carne e é carnal, o segundo nascimento é do Espírito e é espiritual, e faz homens espirituais; pelo primeiro nascimento os homens são tolos e ignorantes, nascendo como um potro selvagem; pelo segundo nascimento eles ficam inteligentes e sábios para a salvação: pelo primeiro nascimento são escravos do pecado e dos prazeres da carne, são nascidos escravos, pelo segundo nascimento tornam-se livres homens de Cristo: a partir de seu primeiro nascimento eles são transgressores, e continuam em um caminho de pecado, até que sejam parados pela graça; no segundo nascimento deixam de cometer o pecado, de ir em um curso de pecar, mas vivem uma vida de santidade, sim aquele que é nascido de Deus não pode pecar; pelo primeiro nascimento são filhos da ira, e sob sinais de desagrado Divino, no segundo nascimento evidenciam-se ser os objetos do amor de Deus; a regeneração sendo o fruto e efeito dela, e dão evidências disso; um tempo de vida é um tempo de amor aberto.
2. É chamado de “nascer do alto”, pois assim a frase em João 3:3-7 pode ser anunciada. O apóstolo Tiago diz, essencialmente, que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto”; e a regeneração sendo tal presente, deve ser do alto. E na verdade ele particularmente exemplifica isso; por isso segue, “de sua própria vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tiago 1:17-18). O autor deste nascimento é do alto; aqueles que são nascidos de novo são nascidos de Deus, seu Pai, que está nos céus; a graça dada na regeneração é do alto (João 3:27). Verdade na parte interior, e sabedoria no oculto, ou a graça de Deus no coração produzidas na regeneração, é esta “sabedoria que vem do alto” (Tiago 3:17), os tais que nascem de novo, por serem de nascimento elevado e nobre, são participantes da celeste e elevada vocação de Deus em Cristo Jesus, e certamente a possuem (1 Pedro 1:3-4; Hebreus 3:1; Filipe 3:14).
3. É comumente chamada de novo nascimento, e com grande propriedade; uma vez que a lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, são unidas como que significando a mesma coisa; e o que é produzido na regeneração é a chamada nova criatura, e o novo homem; e aqueles que nasceram de novo são considerados bebês recém-nascidos (Tito 3:5; 2 Coríntios 5:17; Efésios 4:24; 1 Pedro 2:2), que é um novo homem, em distinção do velho homem, ou o princípio da natureza corrupta, que é tão antigo quanto o homem é; mas o princípio de graça infundido na regeneração é muito novo; é algo “de novo”, diferente, implantado no coração, que nunca esteve antes na natureza humana, não, nem em Adão, em seu estado de inocência; não é uma obra sobre os velhos princípios da natureza, nem a trabalhá-los até um estado mais elevado: não é uma melhoria deles, nem a reparação da imagem quebrada, arruinada de Deus no homem. Mas é completamente um novo trabalho; ele é chamado de uma criatura, sendo uma obra do poder onipotente; e uma nova criatura, e um novo homem, que consiste em várias partes, e todos eles novos: há nele um “coração novo”, e um “novo espírito”, um novo entendimento, para conhecer e entender as coisas, nunca conhecidas nem entendidas antes: um novo coração, para conhecer a Deus; não como o Deus da natureza e da providência; mas como o Deus da graça, Deus, em Cristo, Deus em um Mediador; o amor de Deus nEle, o Pacto da Graça, e as bênçãos desse pacto feito por meio dEle; Cristo, e a plenitude da graça nEle, o perdão dos pecados pelo Seu sangue, a justificação pela Sua justiça, expiação por Seu sacrifício, e aceitação com Deus, por Ele, e completa salvação por meio dEle; coisas que Adão não conhecia no paraíso. Neste novo coração estão novos desejos por esses objetos, por conhecer mais sobre eles, novos afetos, que são colocados em direção a eles, novas delícias neles e novas alegrias, que surgem a partir deles (Ezequiel 36:26; 1 João 5:20; 1 Coríntios 2:9). Neste novo homem, há “novos olhos” para enxergar. Para alguns Deus não dá olhos para ver as coisas Divinas e espirituais; mas para os regenerados Ele o faz; eles têm um olho que vê, feito pelo Senhor (Deuteronômio 29:4; Provérbios 20:11), pelo qual eles veem seu estado perdido e condição natural, a excessiva malignidade do pecado… a insuficiência de sua justiça própria; sua impotência para toda boa obra, e falta de força para ajudarem a si mesmos para fora do estado e condição em que se encontram, e a necessidade que eles têm do sangue, justiça e sacrifício de Cristo e da salvação por meio dEle. Eles têm os olhos da fé, por meio dos quais contemplam as glórias da Pessoa de Cristo, a plenitude da Sua graça, pela excelência de Sua justiça, a virtude de Seu sangue e sacrifício, e a idoneidade e integridade de Sua salvação e regeneração, nesta visão dela, não é outra senão a luz espiritual no entendimento. Além disso, no novo homem estão novos ouvidos para ouvir; nem todos têm ouvidos para ouvir; alguns têm, e eles vêm do Senhor, e abençoados são eles! (Apocalipse 2:11; Deuteronômio 29:4; Provérbios 20:12, Mateus 13:16-17), que ouvem a Palavra de uma forma nunca antes ouvida; ouvem-na como para compreendê-la, e receber o amor dEle; de modo a distinguir a voz de Cristo nela, da voz de um estranho; de modo a senti-la operar eficazmente em si, e tornar-se o poder de Deus para a salvação para eles; que conhecem o som alegre, e se gloriam em ouvir isso. O novo homem tem também “novas mãos”, para lidar e trabalhar; a mão da fé, para receber a Cristo como o Salvador e Redentor, para segurar nEle para a vida e salvação, para abraçá-lO, abraçá-lO rápido, e não deixá-lO ir; para lidar com Ele, a Palavra da vida, e receber dEle graça por graça: e eles têm as mãos para labutar e trabalhar a partir de melhores princípios, e para melhores fins do que antes. E eles têm “novos” pés para andar, a fugir para Cristo, a cidade de refúgio; a andar pela fé nEle; e para andar nEle, visto que eles O receberam; para cumprir com alegria os caminhos dos Seus mandamentos; a seguir firmes após Ele, e prosseguir em conhecê-lO; e até mesmo para correr, e não se cansar e andar e não desfalecer.
4. A regeneração é expressa por ser vivificado. Como há um tempo de vivificação na geração natural; também existe na regeneração; “Ele vos vivificou” (Efésios 2:1). Antes da regeneração, os homens estão mortos enquanto vivem. Embora corporalmente vivos, são moralmente mortos, mortos em um sentido moral, para as coisas espirituais, em todos os poderes e faculdades de sua alma. Eles não têm mais conhecimento delas, afeto por elas, vontade para elas, ou o poder de realizá-las do que um homem morto tem com relação às coisas naturais. Mas na regeneração, um princípio de vida espiritual é infundido; que é um momento da vida em que o Senhor declara a vida, e a produz neles. Cristo é a ressurreição e a vida para eles, ou levanta-os de uma morte do pecado para a vida da graça; e o espírito de vida, a partir de Cristo, entra neles. A regeneração é uma passagem da morte para a vida; é um princípio de vida espiritual implantado no coração; em consequência do qual, o homem respira, em um sentido espiritual; onde há ar, há vida. Deus soprou em Adão o fôlego da vida, e ele se tornou uma alma vivente, ou uma pessoa viva, e respirou novamente, assim o Espírito de Deus sopra sobre os ossos secos, e eles vivem, e respiram novamente. A oração é a respiração espiritual de um homem regenerado: “Eis que ele está orando!”. Observa-se de Paulo quando regenerado; o qual, pouco antes, murmurava ameaças e matança contra os discípulos de Cristo. Um homem regenerado respira em oração a Deus, e anelo por Ele; por mais conhecimento dEle em Cristo, por comunhão com Ele, após as descobertas de Seu amor; particularmente por graça perdoadora e misericórdia, e às vezes esses anseios e desejos só são expressos por suspiros e gemidos, mas estes são um sinal de vida; se um homem geme, é claro que ele está vivo. Há, em um homem regenerado, o que mostra que ele é vivificado, desejos por alimento espiritual: assim, uma criança ao nascer mostra desejos pelo leite de sua mãe, pelo peito: então, bebês recém-nascidos desejam o leite da Palavra, para que possam crescer. Eles têm os seus sentidos espirituais exercidos sobre os objetos espirituais; eles têm o que corresponde aos sentidos na vida animal, a sua visão e audição, como antes observado, e também os seus sentimentos; eles sentem o peso do pecado em suas consciências; as obras do Espírito de Deus em seus corações; bem como lidam com Cristo, o Verbo da vida; o que torna um caso claro que eles estão vivos; um homem morto não sente nada. Eles têm um paladar espiritual, um deleite pelas coisas espirituais; A Palavra de Cristo é mais doce ao seu paladar do que o mel ou o favo de mel; eles se sentam à Sua sombra com prazer, e o Seu fruto, as bênçãos de Sua graça, é suave ao seu paladar; experimentam que o Senhor é bom, e convidam outras pessoas para provar e ver também como Ele é bom; eles saboreiam as coisas que são de Deus, e não dos homens. Cristo e Sua graça são saborosos para eles; o manto de justiça, e as vestes da salvação, cheiram deliciosamente como mirra, etc. (Cantares 1:3; Salmos 45:8.) E esses sentidos espirituais e o exercício deles neles, prova que estão vivos, ou nascidos de novo; estas pessoas vivem uma vida de fé; vivem pela fé; não sobre ela, mas sobre Cristo, o objeto da mesma; e eles crescem dentro dEle, o seu Cabeça, de quem recebem alimentação; e assim aumentam com o aumento de Deus; que é uma evidência de vida. Em uma palavra, eles vivem uma nova e outra vida do que antes; não para si mesmos, nem para as concupiscências dos homens; mas para Deus, e Cristo, que por eles morreu e ressuscitou; andam em novidade de vida.
5. Regeneração é representada por “Cristo sendo formado no coração”, Sua imagem está estampada na regeneração (Gálatas 4:19); não a imagem do primeiro Adão, mas do segundo Adão. Pois o novo homem é segundo a imagem dAquele que o criou de novo, que é a imagem de Cristo; para serem conformes o que os eleitos de Deus são predestinados, e que se realiza na regeneração (Romanos 8:29; Colossenses 3:10). As graças de Cristo, como a fé, a esperança e o amor, são feitas nos corações de pessoas regeneradas, e logo aparecem ali; sim, o próprio Cristo vive neles; “Não eu”, diz o apóstolo, “mas Cristo vive em mim”; Ele habita pela fé ali; Cristo e o crente, mutuamente permanecem um no outro.
6. Regeneração é dita ser “uma coparticipação da natureza divina”. E não da natureza de Deus essencialmente considerada: uma criatura não pode participar da essência Divina, ou tê-la comunicada a ela (2 Pedro 1:4). Isso seria divinizar os homens: as perfeições Divinas, muitas delas, são totalmente incomunicáveis, como a eternidade, imensidão, etc., nem da natureza Divina, ou de que em tal sentido, como Cristo é participante da mesma, pela união pessoal ou hipostática das duas naturezas nEle; de modo que a plenitude da Divindade habita corporalmente nEle. Mas na regeneração há a operação na alma, que tem uma semelhança com a natureza Divina, na espiritualidade, santidade, bondade, benignidade, etc. e, portanto, é assim chamada.
7. Existem também vários termos ou palavras, pelos quais a graça da regeneração é expressa; como pela própria graça; não como significando o amor e favor de Deus para com o Seu povo, ou as bênçãos da graça concedida a eles; mas a graça interna, a obra da graça no coração; e que consiste nas várias graças do Espírito implantado ali; como fé, esperança e amor: tais são gerados de novo, são gerados para uma viva esperança, e tê-la, e crer no Filho de Deus; e amar o que gerou, e o que é nascido (1 Pedro 1:3; 1 João 5:1). Ele é chamado de “espírito” (João 3:6) de seu Autor, o Espírito de Deus; e da sua sede, o espírito do homem; e da sua natureza, que é espiritual, e é denominado homens espirituais. Ele também é representado por “semente” (1 João 3:9). “Todo aquele que é nascido de Deus, sua semente permanece nele”; que é o princípio de graça infundido na regeneração; e como a semente contém em si praticamente tudo o que depois prossegue a partir dela, a folha, haste, espiga, e grão cheio na espiga; de modo que o primeiro princípio da graça implantada no coração, consequentemente contém toda a graça que mais tarde aparece, e todas as frutas, efeitos, atos e exercícios do mesmo.
II. As fontes e causas de regeneração; eficiente, motivadora, meritória e instrumental.
Em primeiro lugar, a causa eficaz da mesma; que não é o homem, mas Deus.
1. Em primeiro lugar, não o homem; ele não pode regenerar a si mesmo; seu caso, bem como a natureza da coisa em si, mostra isso; e é de fato negado dele. O caso em que os homens antes da regeneração estão claramente mostra que não é, e não pode ser deles mesmos. Eles são muito ignorantes do próprio problema em si. A regeneração é uma, e uma das principais coisas do Espírito de Deus, e que o homem natural não pode discernir e compreender; deixe-o ter conhecimento que for da natureza; como Nicodemos, um mestre em Israel, e ainda assim disse: “como pode ser isso?”. Um homem não pode ser o autor daquilo do qual ele não tem conhecimento: nem homens, antes da regeneração, veem nenhuma necessidade dela; como aqueles que se julgam sãos, não veem necessidade de um médico, nem fazer uso de algum. E quem se acha rico, e não necessita de nada; como não da justiça, e por isso não de arrependimento. E, se não de arrependimento, então não de regeneração. E seja qual for a noção que eles possam ter dela, do que os outros dizem a seu respeito; eles não têm nenhuma inclinação, nem desejo, nem vontade dela, até que Deus opere neles tanto o querer como o efetuar; a tendência de suas mentes está em outra direção; sim, suas mentes carnais são inimizade contra ela; eles zombam dela, e contam-na como sonho e entusiasmo. E se tivessem qualquer disposição de espírito para isso, o que eles não têm, eles não têm poder para efetivá-la; eles não podem fazer nada, nem a mínima coisa de natureza espiritual; e muito menos realizar uma obra como esta: isso não é por força ou poder dos homens, mas pelo Espírito do Senhor dos Exércitos. Para tudo o que pode ser adicionado, e que o torna impraticável, é que os homens estão mortos em seus delitos e pecados; e não mais podem vivificar-se mais do um homem morto pode; mais cedo poderia Lázaro ter ressuscitou a si mesmo dentre os mortos, e os ossos secos da visão de Ezequiel, terem vivificado a si mesmos e vivido.
2. A natureza da obra mostra claramente que não está no poder dos homens realiza-la; é representada como uma criação; ele é chamado de uma nova criatura, a obra de Deus realizada em Cristo, o novo homem da parte de Deus, criado em justiça. Agora a criação é uma obra de onipotência; uma criatura não pode criar a menor coisa, nem uma mosca, ele poderia mais cedo criar um mundo; e poderia mais cedo um homem criar um mundo a partir do nada, do que criar um coração puro, e renovar um espírito reto dentro dele. Ela é falada como uma “ressurreição” dos mortos; e tão cedo poderiam cadáveres vivificarem-se, como os homens, mortos em pecado, elevarem a si mesmos a uma vida espiritual. Isso requer um poder igual ao que ressuscitou Cristo dentre os mortos; e é feito pelo mesmo. Seu próprio nome, “regeneração”, mostra a natureza da mesma e sugere claramente, que ela está fora do poder do homem efetivá-la: como os homens não contribuem em nada para o seu primeiro nascimento, assim, nem para o segundo; como nenhum homem a si mesmo gera, assim também ele não regenera a si mesmo; como uma criança é passiva na sua geração natural, e não tem nenhuma preocupação nela; tão passivo é um homem em sua geração espiritual, e não é mais colaborativo nela. É uma “implantação” daquela graça nos corações dos homens, que não estava lá antes; a fé é uma parte dela, que é dita ser “não de nós mesmos”, mas o dom gratuito de Deus; e a esperança é outra, sem a qual os homens estão, ao mesmo tempo em um estado não-regenerado; e o amor é de tal natureza, que, se um homem desse tudo o que tem por ela, seria de todo desprezado; é uma máxima que vigorará, “nil dat quod non habet”, ninguém pode dar aquilo que não tem: um homem destituído de graça, não pode dar a graça, nem a si mesmo nem para outro. Este trabalho encontra-se em tirar o “coração de pedra”, e dar um “coração de carne”; até mesmo “um novo coração” e “um novo espírito”. E ninguém pode fazer isso, além dAquele que está sentado no trono, e diz: “Eis que faço novas todas as coisas”. Para não dizer mais nada, é uma “transformação” dos homens pela renovação da sua mente, tornando-os outros homens do que eram antes, como Saulo era, e mais ainda; a mudança da pele de um etíope e das manchas do leopardo, não é maior, nem tão grande, como a mudança do coração e da natureza do homem; e que, na verdade, não é uma mudança do velho homem, ou a corrupção da natureza, que permanece a mesma; mas a produção do novo homem, ou de um novo princípio, que antes não estava presente.
3. Regeneração é expressamente negada ser dos homens; é dita ser “não do sangue”, o sangue da circuncisão, que não valerá nada, mas uma nova criatura é de proveito, quando isso não é; nem do sangue dos antepassados, do melhor dos homens, o mais santo e mais eminente para a graça; o sangue de tal pode correr nas veias dos homens, e ainda assim ser destituído da graça regeneradora; como foi o caso dos judeus, de multidões deles, que se gabavam de ser da descendência de Abraão, e do seu sangue: ninguém precisa valorizar-se sobre o seu sangue por qualquer motivo, e muito menos um religioso; uma vez que todas as nações da terra são feitas do sangue de um homem, e este está manchado pelo pecado, e transmite a corrupção; pecado é propagado dessa forma, mas não a graça: nem são os homens nascidos “da vontade da carne”, que é carnal e corrupta; impotente para aquilo que é bom, e inimizade a ela: a regeneração não é do que quer; Deus, de Sua própria vontade, gera homens de novo, e não deles mesmos: nem eles nascem da “vontade dos homens”, dos maiores e melhores dos homens, que são pessoas regeneradas; estes, por sua vontade, não podem transmitir a graça regeneradora para os outros; se pudessem, um bom mestre regeneraria todo servo de sua família; um bom pai regeneraria todo filho seu; e um ministro do evangelho regeneraria todos os que se assentam sob o seu ministério; eles só podem orar e usar os meios. Só Deus pode fazer a obra. Por isso,
Em segundo lugar, a causa eficaz da regeneração é somente Deus; portanto, tantas vezes lemos “que nasceram de Deus”, e “todo aquele e tudo que é nascido de Deus” (João 1:13; 1 João 3:9; 1 João 5:1, 4), e isto é verdade de Deus, Pai, Filho, e Espírito Santo, que têm cada um uma atribuição na regeneração.
1. Deus, o Pai, que é o Pai de Cristo; Ele como tal gera homens de novo segundo a Sua grande misericórdia: e como o Pai das luzes, da Sua vontade soberana e prazer, regenera com a palavra da verdade (1 Pedro 1:3). E como a luz foi uma das primeiras coisas na velha criação, também na nova criação, ou regeneração, a luz é a primeira coisa que brotou no coração do Pai e fonte de luz (Tiago 1:17-18), e como o Pai dos homens por adoção, Ele regenera; é dEle que nascem de novo, quem é o seu Deus e Pai pela aliança em Cristo; Ele os escolheu para a santidade, do qual a regeneração é raiz, semente e o princípio. Ele os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, que é feito na regeneração; e é pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, o qual Ele derrama abundantemente através de Cristo o Salvador, que Ele salva os Seus eleitos.
2. Deus o Filho, tem também uma atribuição na regeneração, e tão grande atribuição, que os que nascem de novo são ditos serem “nascido dEle”, isto é, de Cristo; pois de nenhum outro é falado no contexto (1 João 2:29), Ele é a “ressurreição e a vida”; o autor da ressurreição espiritual para a vida espiritual, que não é outra senão a regeneração; Ele vivifica a quem Ele quer, como o Pai faz; e é através de Sua voz poderosa no evangelho, que os mortos em pecado ouvem e vivem; é seu Espírito, que é enviado para os corações de Seu povo, como para dar testemunho de sua adoção, de modo a regenerá-los. Sua graça é dada a eles, sim Ele mesmo está formado neles; Sua imagem está estampada neles; e é em virtude da sua ressurreição que “eles são gerados” para uma viva esperança da herança celestial (João 11:25; 5:21, 25; Gálatas 4:6, 19; 1 Pedro 1:3-4).
3. O Espírito Santo de Deus é o autor da regeneração e esta Lhe é atribuída por nosso Senhor; “A não ser que o homem nasça da água e do Espírito” (João 3:5), por “água”, não se intenciona a ordenança do batismo nas águas, que nunca se expressa apenas por água, sem alguma outra palavra com ela no texto ou o contexto que determina o sentido; nem é a regeneração por ela; Simão, o Mago foi batizado, mas não regenerado: a regeneração deve preceder o batismo. Fé e arrependimento, que são graças dadas na regeneração, são necessários antes do batismo. Nem é o batismo nas águas absolutamente necessário para a salvação. Mas, sem regeneração ninguém pode ver nem entrar no reino dos céus; mas a graça do Espírito se entende por água, assim chamada por sua limpeza e uso purificador, já que tem relação com o sangue de Jesus, por isso chamado de lavagem da regeneração; desta graça o Espírito é o autor, de onde vem seu nome, é chamado de “Espírito”; é a renovação do Espírito Santo, ou a nova criatura é a sua obra; a graça da vivificação é dEle; é o Espírito que vivifica e dá a vida, e liberta da lei do pecado e da morte (Tito 3:5; João 3:6; 6:63).
Em segundo lugar, a causa impulsiva, ou a causa motivadora, é a livre graça, amor e misericórdia de Deus; “Deus, que é rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, nos vivificou” (Efésios 2:4-5). Regeneração, ao ser um momento da vida em que os homens são tocados, é um tempo de amor, de amor aberto; que brota do amor, que move a misericórdia a exercitar-se desta forma. É “segundo a sua grande misericórdia Deus tem nos regenerou para uma viva esperança” (1 Pedro 1:3), e esta foi a soberana graça e misericórdia, não estimulada por quaisquer motivos ou condições em homens, ou por quaisquer trabalhos preparatórios neles; o que havia ali nos três mil, alguns dos quais haviam participação na morte de Cristo, convertidos sob o sermão de Pedro? O que havia no carcereiro, que anteriormente tinha acabado de tratar os apóstolos de uma forma cruel? O que havia ali em Saulo, o blasfemo, perseguidor, e injurioso, entre estes personagens e sua misericórdia obtida? Não, não é de acordo com a vontade e obras dos homens, que eles são regenerados, mas Deus, “de sua própria vontade, Ele nos gerou” (Tiago 1:18), Sua própria vontade soberana e prazer; e esta graça e misericórdia é abundante; e ricamente e abundantemente exibida; ela “superabunda”, flui e transborda; existe um pleonasmo, uma redundância dela (1 Timóteo 1:14), e para isso, como uma causa motivadora, a regeneração é dada.
Em terceiro lugar, a ressurreição de Cristo dentre os mortos é a causa virtual ou aquisição da mesma; há um poder ou virtude na ressurreição de Cristo, que tem uma influência sobre muitas coisas; como em nossa justificação, para o que Ele ressuscitou, assim na nossa regeneração; pois os homens são ditos serem “gerados de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Cristo dentre os mortos” (1 Pedro 1:3), e que também pode ser considerado como a causa exemplar da mesma; para que haja uma plantação juntos “na semelhança da sua morte, por isso, à semelhança da sua ressurreição dentre os mortos”; como a ressurreição de Cristo foi uma declaração dEle ser o Filho de Deus, assim a regeneração é uma evidência da participação na adoção de filhos; e como a ressurreição de Cristo foi pelo poder de Deus, assim é a regeneração e vivificação de um pecador morto; e como a ressurreição de Cristo foi o Seu primeiro passo para a Sua glorificação, assim é a regeneração quanto ao ver e entrar no reino de Deus.
Em quarto lugar, a causa instrumental da regeneração, se assim pode ser chamada, é a Palavra de Deus, e os ministros dela; portanto, pessoas regeneradas são ditas terem “nascido de novo pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pedro 1:23), e de novo, “de sua própria vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tiago 1:18), a não ser que Palavra nestas passagens signifiquem o Logos eterno, ou Palavra essencial de Deus, Cristo Jesus, pois Logos é usado em ambos os lugares; embora os ministros do evangelho não são apenas representados como ministros e instrumentos pelos quais os outros creem, mas como pais espirituais; “se você tem dez mil instrutores em Cristo”, diz o apóstolo aos Coríntios: “ainda não tendes muitos pais, pois em Cristo Jesus eu vos gerei por meio do evangelho” (1 Coríntios 4:15); por isso ele fala de seu filho Onésimo, a quem ele havia “gerado em suas amarras” (Filemom 1:10) ainda esta instrumentalidade da palavra na regeneração não parece tão conforme ao princípio da graça implantada na alma na regeneração, e para ser entendida com respeito a isso; desde que é feita por infusão imediata, e é representada como uma criação; e agora como Deus não fez uso de qualquer instrumento na primeira e velha criação, assim também não parece tão concordante que Ele usasse qualquer instrumento na nova criação. Portanto, isso deve ser mais entendido sobre o esforço do princípio da graça, e a atração dela ao ato e exercício; o qual é animado e encorajado pelo ministério da palavra, pelo que parece que um homem é nascido de novo; de modo que os primeiros três mil convertidos, e o carcereiro, foram regenerados em primeiro lugar, ou tiveram o princípio da graça operada em suas almas pelo Espírito de Deus, e em seguida foram encaminhados e incentivados pelo ministério dos apóstolos a se arrependerem e crerem em Cristo: pelo que tornou-se evidente que eles nasceram de novo. Embora, afinal, aparece claro que o ministério da palavra é o veículo no qual o Espírito de Deus transmite a Si mesmo e Sua graça nos corações dos homens; o que é feito quando a palavra não vem somente em palavras, mas em poder, e no Espírito Santo; e opera eficazmente, e é o poder de Deus para a salvação; a fé é pelo ouvir, e o ministros são instrumentos pelos quais, ao menos, os homens são encorajados a crer: “recebestes o Espírito”, diz o apóstolo, “pelas obras da lei, ou pela pregação da fé” (Gálatas 3:2), ou seja, pela pregação da lei, ou pela pregação do evangelho? Por esta última, sem dúvida.
III. Os sujeitos da regeneração são os próximos a serem investigados, ou quem são aqueles a quem Deus tem o prazer de conceder esta graça. Estes são homens e não anjos; anjos bons não têm necessidade de regeneração; eles são anjos santos e continuam nesse estado de santidade em que foram criados, e estão confirmados nesse estado; eles não têm necessidade dela para fazê-los adequados para o céu, eles já estão lá; eles são os anjos do Céu, e sempre veem a face de nosso Pai celestial ali. Quanto aos anjos maus, nenhum deles jamais teve, nem nunca terá qualquer participação na regeneração da graça; eles creem, de fato, mas eles não têm a fé dos regenerados, ou aquela fé que opera pelo amor. Acreditam que existe um Deus, mas não O amam, nem podem amá-lO; Eles acreditam que Ele existe, e tremem diante da Sua ira; eles não têm nenhuma esperança como os regenerados têm, mas vivem em desespero sombrio, e para sempre viverão. São homens que Deus regenera, e não bestas, nem animais, nem pedras; estes não são sujeitos capazes de serem regenerados. Deus pode suscitar filhos destes, mas não é o Seu caminho e obra. São sobre criaturas racionais que Ele assim atua e Ele os trata como tal no ministério da Sua palavra; apesar dEle ser apresentado como que lidando de outra forma pelos adversários da graça de Deus, mas eles são homens, e homens apenas, a quem Deus regenera, mas nem todos os homens. Não são todos os homens que têm fé e esperança, e amor; eles são uma espécie de primícias das Suas criaturas, a quem de Sua própria vontade Ele gera com a palavra da verdade; eles são tais que são chamados e separados do restante do mundo; eles são tais que são os objetos peculiares de Seu amor; para a regeneração é o fruto e o efeito do amor, e a prova disto; eles são de tal ordem que Deus os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, no qual a imagem que eles são criados na regeneração; aqueles a quem o apóstolo fala como “gerados de novo para uma viva esperança”, são descritos pela primeira vez como “eleitos segundo a presciência de Deus” (1 Pedro 1:2-3), e são tais que são redimidos por Cristo, pois aqueles que são eleitos por Ele, têm a redenção pelo Seu sangue; e aqueles que são tocados pelo Seu Espírito e graça, enquanto mortos em delitos e pecados, porque tal é o seu estado e condição antes de nascerem de novo; são tais que são os filhos de Deus pela graça da adoção, que por serem filhos, o Espírito de Deus é enviado para eles, como para testemunhar a sua adoção, de modo a regenera-los, o que evidencia isso; e, assim, tornam-se abertamente os filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Que seja mais observado que, embora a principal e essencial base da regeneração é o espírito ou a alma do homem, no entanto, estende a sua influência para o corpo e os membros do mesmo; em que eles são impedidos dos desejos da carne, como a produzir uma obediência pronta, constante e universal a eles; ou, de modo a “produzir seus membros como instrumentos de injustiça para o pecado”; mas, pelo contrário, estão tão sob o poder do princípio reinante da graça, implantada neles na regeneração, que, “pelo Espírito, mortificam os feitos do corpo, e vivem” (Romanos 6:12-13; 8:13).
IV. Os efeitos da regeneração, ou os fins a serem atingidos, e que são respondidos por ela, e que mostram a importância e a necessidade da mesma.
1. O principal efeito dela; ou, se preferirem, concomitante a ela, é uma participação de toda a graça do Espírito. Regenerar aqueles que têm não só a promessa da vida feita a eles, mas têm a graça da vida dada; eles vivem uma vida nova, e andam em novidade de vida: eles participam da graça da luz espiritual; antes, o seu entendimento era obscurecido; mas agora eles são iluminados pelo Espírito de sabedoria e de revelação, no pleno conhecimento das coisas Divinas. Eles eram antes, as próprias trevas; mas agora são feitos luz no Senhor. Na regeneração é posta em início a santificação, que é realizada até ser concluída, sem a qual ninguém verá o Senhor; pois o novo homem é criado em verdadeira justiça e santidade. O princípio da santidade é então formado, de onde as ações santas nascem. A graça do arrependimento em seguida, aparece; a pedra, dura, inflexível, e coração impenitente, sendo levado embora, e um coração de carne, suscetíveis a impressões Divinas, é dado; no que segue, o senso do pecado, a tristeza por ele de um tipo piedoso, e arrependimento para a vida e para a salvação […], a fé em Cristo, que não é do homem, mas o dom gratuito de Deus e a operação do Espírito de Deus, é agora dada e trazida à exercício; no qual sendo um efeito, é uma evidência de regeneração; para “todo aquele que crê que Jesus é o Cristo”, e, especialmente, o que crê em Cristo como seu Salvador e Redentor “é nascido de Deus” (1 João 5:1), e os tais possuem esperança de vida eterna por Cristo; enquanto os homens não-regenerados estão sem esperança, sem uma verdadeira, sólida e bem fundamentada esperança; mas na regeneração, são gerados para uma “esperança viva”, e a têm; uma boa esperança, pela graça, fundada sobre a Pessoa, sangue e justiça de Cristo, que é de utilidade para eles, tanto na vida quanto em morte. Pessoas regeneradas têm os seus “corações circuncidados”, que é apenas um outro termo para a regeneração de graça, para “amar o Senhor seu Deus de todo o seu coração e alma” (Deuteronômio 30:6), E apesar de que antes as suas mentes carnais eram inimigas de Deus, e tudo o que é bom; agora eles O amam, e tudo o que Lhe pertence, a Sua Palavra, adoração, ordenanças e povo; e por isso é conhecido, que “já passaram da morte para a vida”, que não é outra coisa senão a regeneração, “porque amamos os irmãos” (1 João 3:14). Em suma, as pessoas regeneradas são participantes de todos os frutos do Espírito; de todas as demais graças, além das mencionadas; como a humildade, a paciência, a abnegação e resignação à vontade de Deus. E eles são abençoados com as medidas de graça e força espiritual, a ponto de serem capazes de resistir ao pecado e Satanás, e para vencer o mundo, e cada inimigo espiritual; “Porque todo o que é nascido de Deus, vence o mundo”, o deus dele, os homens dele, e suas concupiscências: “Todo aquele que é nascido de Deus, não peca”, não vive em pecado, nem ele é superado pelo pecado; “mas aquele que é nascido de Deus, guarda-se” de Satanás e suas tentações, de ser superado por eles; “e o maligno não lhe toca”: estando vestido com toda a armadura de Deus, ele tem a habilidade de manejar; ele se mantém à distância, de modo que ele [Satanás] não pode se apoderar dele; ele levanta o escudo da fé para ele, pelo que ele anula todos os seus dardos inflamados (1 João 5:4, 18).
2. Conhecimento e gozo efetivo das várias bênçãos da graça seguem a regeneração. O Pacto da Graça é “ordenado em todas as coisas”, e está repleto de todas as bênçãos espirituais; e uma doação de todas as bênçãos da graça foi feito a Cristo, e os eleitos nEle, antes dos tempos eternos, e eles foram secretamente abençoados com elas nEle desde tão cedo; mas, em seguida, até que o Espírito de Deus é enviado para baixo em seus corações na regeneração, para dar a conhecer-lhes as coisas que Deus lhes tem dado livremente, eles são estranhos a elas, e não têm conhecimento delas, não podem pleitear o seu interesse por elas, nem, na verdade, as possuem. Eles são amados de Deus com um amor eterno; mas, em seguida, a primeira exibição aberta, para eles é na regeneração, quando Deus chama-os com bondade para Si mesmo, como um fruto e efeito, e por isso uma evidência de seu antigo amor por eles. Eles são escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo; mas isso não é conhecido por eles até que o evangelho vem, não somente em palavras, mas em poder, e no Espírito Santo; operando poderosamente neles, regenerando, vivificando, e santificando-os; quando aquela santidade para a qual são escolhidos, é implantada, e aquela imagem de Cristo, a que estão predestinados, é impressa: há uma união com Cristo, que a eleição nEle concede; e há uma união legal entre Ele e os eleitos, como entre um fiador e devedor, em virtude de compromissos de fiador para com eles; e há uma união mística, como entre a cabeça e os membros; e um conjugal, como entre marido e mulher, mas antes da regeneração não há união vital, ou como uma união entre videira e os ramos, por quem eles realmente recebem vida e graça, e alimentação, e nutrição, e dão fruto. Eles são os filhos de Deus pela predestinação; e na aliança, a adoção de filhos pertence a eles; mas esta não aparece até que a regeneração ocorre, quando recebem pessoalmente o poder e o privilégio dele, e são manifestamente os filhos de Deus pela fé em Cristo. A justificação foi uma sentença concebida na mente de Deus desde a eternidade; foi pronunciada em Cristo e Seu povo nEle, quando Ele ressuscitou dos mortos; mas não se sabe para aqueles interessados nela, até que o Espírito de Deus revela a justiça de Cristo, de fé em fé, e pronuncia sobre ele a sentença de justificação na consciência do crente; até que nasça de novo, ele não tem conhecimento desta bênção, nenhuma percepção confortável dela; nem pode pleitear o seu interesse nela, nem tem aquela paz e a alegria que dela decorrem. E agora é que um pecador despertado tem a aplicação do perdão da graça e misericórdia; pois, embora o perdão do pecado é fornecido na aliança, e no sangue de Cristo é derramado por ele, e Ele é exaltado para dar-lhe; no entanto, não é realmente dado, aplicado, e apreciado, até que o arrependimento seja dado também; pois ambos são um dom de Cristo juntamente; e é também quando Deus abençoa o Seu povo com a paz, com a paz de consciência, que flui a partir do sangue, justiça e sacrifício de Cristo.
3. Outro efeito da regeneração é uma aptidão e capacidade para o desempenho das boas obras. Na regeneração, os homens são “criados em Cristo Jesus para boas obras”; e com a sua nova criação, tornar-se apto e capaz de executá-las. O novo homem é formado neles “para a justiça e verdadeira santidade”, para os atos e exercícios de justiça e santidade (Efésios 2:10; 4:24), tais que nasceram de novo, são “santificados e idôneos para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra, para toda boa obra” (2 Timóteo 2:21), enquanto que um homem não-regenerado é “reprovado para toda boa obra”. Ele não tem nem vontade nem poder para realizar o que é bom, até que Deus “opere nele tanto o querer como o efetuar”. Os principais ingredientes nas boas obras estão faltando neles, por isso eles não podem ser aceitos por Deus, e, de fato, “sem fé”, pois estes não a tem, “é impossível agradar a Deus”; nem podem os que estão “na carne”, que são carnais e não-regenerados, “agradar a Deus”; ou seja, fazer as coisas que são do Seu agrado (Hebreus 11:6; Romanos 8:8), sem o Espírito de Deus, e a graça e a força de Cristo, ele não pode desempenhar nada desse tipo; pelo que também Deus prometeu colocar o Seu “Espírito” em Seu povo, o que Ele faz na regeneração, para “levá-los a andar nos seus estatutos, e guardar os seus juízos, e cumpri-los”: assim que eles não podem fazer nada por si mesmos, ainda assim, por meio do Espírito, a graça e a força de Cristo, eles podem fazer todas as coisas (Ezequiel 36:27; Filipenses 4:13) a que eles devem ser encaminhados; até mesmo um próprio pagão poderia dizer, qualquer boa coisa que tu fazes, atribua isso a Deus1.
4. Regeneração dá uma iminência para o reino de Deus; sem isso, nenhum homem pode ver, nem entrar nele (João 3:3, 5), se por “o reino de Deus” significa um estado da igreja evangélica, e uma participação dos privilégios e ordenanças, ou o estado final de glória e felicidade: o primeiro pode ser significado em que os publicanos e as meretrizes iam adiante dos fariseus; e que eles não entram eles mesmos, nem deixam entrar outros que estavam entrando; e uma remoção do que Cristo os ameaça (Mateus 23:13; 21:31, 43). Homens não-regenerados, de fato podem, em certo sentido, ver e entrar neste reino de Deus; eles podem participar da palavra, e abraçar as verdades dela, fazer uma profissão de fé, submeterem-se às ordenanças do evangelho, e tornarem-se membros de uma igreja evangélica; isso eles podem fazer de fato, mas não de direito; eles são tais como os que não entram pela porta correta, Cristo e a verdadeira fé nEle; mas sobem de outra forma, e são ladrões e salteadores; hipócritas em Sião, joio no campo de Cristo, e virgens tolas entre as sábias; a quem o reino de Deus é comparado. Homens não-regenerados não têm as qualificações adequadas para a igreja de Deus, e as ordenanças da mesma; estas particularmente, são fé e arrependimento; estes são necessários para a admissão de uma pessoa para o batismo (Mateus 3:2, 8; Atos 2:38; 8:12, 37), e assim, para a ordenança da Ceia do Senhor; “Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma” (1 Coríntios 11:28). Se ele tem verdadeiro arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo; e se um homem, desprovido destes, que advêm ou fluem da regeneração, fica admitido a estas ordenanças, e em um estado da igreja, de que adianta a ele aqui ou no futuro? O que significa agora ter a aparência de piedade, sem o poder? Um nome de que vive, e ainda ser morto? Ou no futuro; pois “o que é a esperança do hipócrita”, de que serve para ele? “Embora ele tenha conquistado” o nome de um professo, de um homem religioso, e um lugar na casa de Deus “quando Deus lhe arrebatar a alma”, estes serão de alguma utilidade para ele? Embora o estado final de glória possa ser entendido como reino de Deus, nas passagens acima; como em (1 Coríntios 6:9, Lucas 12:32; Mateus 25:34). Um homem não-regenerado não tem o direito legítimo a ele; ou adequação para ele. O direito próprio a ele reside na adoção; “Se filhos, também herdeiros”. Mas esse direito, de modo fundamentado, não aparece até que um homem nasça de novo, o que é a evidência de adoção; nem pode ser adequado e apto para isso, sem a graça Divina da regeneração, vivificando, e santificando; pois sem santidade nenhum homem verá o Senhor; e nada entra em estado celestial que contamine ou faça uma abominação; mas quando os homens nascem de novo, eles são, herdeiros legítimos para a herança celestial; eles são ricos pela fé e herdeiros do reino; e são idôneos para participar da herança dos santos na luz.
V. As propriedades da regeneração; e que podem servir para esclarecer melhor a natureza da mesma.
1. A regeneração é um trabalho passivo, ou melhor, os homens são passivos nela; como devem ser, na primeira infusão e implantação da graça, e a vivificação dos mesmos; mesmo tão passivos quanto a primeira matéria criada, a partir do qual todas as coisas foram feitas; e como é um homem morto, quando ressuscitou dentre os mortos; ou como os ossos secos da visão de Ezequiel eram, ao passo que o Espírito de Deus soprou sobre eles, e então eles se tornaram ativos; e como as crianças são na geração natural delas; pois os homens não contribuem mais para o seu nascimento espiritual, do que as crianças fazem em seu nascimento natural; tudo isso aparece a partir da regeneração sendo uma criação, a ressurreição dos mortos, e um ser gerado e nascido de novo.
2. É um ato irresistível da graça de Deus; não mais resistência pode ser feita a ela, do que poderia haver na primeira questão de sua criação; ou em um homem morto quanto à sua ressurreição; ou em uma criança em sua geração. A regeneração é a partir da vontade de Deus, que não pode ser resistida; o Espírito, na regeneração, é como “o vento”, que “sopra onde quer”, e ninguém pode impedi-lo, “assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (João 3:8), é feito pelo poder de Deus, que é incontrolável; qualquer que seja a aversão, contrariedade e oposição que possa haver na natureza corrupta dos homens a ela, esta é breve e facilmente superada pelo poder da graça Divina; quando o coração de pedra é tirado, e um coração de carne é dado. Quando Deus age, nada pode impedir. Um povo indisposto é feito voluntário no dia do Seu poder; pensamentos elevados, raciocínios e imaginação da mente carnal, são derrubados por Ele.
3. É um ato que é instantaneamente feito, de uma só vez; não é como a santificação que ela dá origem; que não é senão uma obra iniciada, e é realizada de forma gradual; a fé cresce, esperança e amor aumentam mais e mais, e luz espiritual e conhecimento aumentam de graus, até que eles cheguem ao dia perfeito, mas a regeneração é de uma só vez; como uma criança na natureza é gerada de uma só vez, e também nasce de uma só vez, e não por graus; assim é a geração espiritual; um homem não pode ser dito ser mais regenerado que o outro, embora ele possa ser mais santificado; e o mesmo homem não pode ser dito ser mais regenerado em um momento, mais que em outro.
4. Como é feito de uma só vez, por isso é perfeito; algumas pessoas falam de uma parte regenerada e uma parte não-regenerada nos homens; e que eles são, em parte, regenerados e em parte não-regenerados. Devo confessar que não entendo isso; já que a regeneração é uma nova criatura, e perfeita em sua espécie. Há, de fato, dois princípios em um homem que nasce de novo; um princípio da natureza corrupta, e um princípio de graça; um é chamado o ‘velho homem’, e o outro o ‘novo’: todo o velho homem é não-regenerado, nenhuma parte nele é regenerada; ele permanece intocado, e é exatamente o mesmo que era, só há perda do seu poder e domínio; e o novo homem é totalmente regenerado, nenhuma parte não-regenerada nele: não há pecado em si, nem feito por ele, ele não pode cometer o pecado; “A filha do rei é toda ilustre lá dentro”: um filho homem, logo que nasce, tendo todos os seus membros, é um homem perfeito, como partes, ainda que estas não estão em seu crescimento e em tamanho total, como eles serão, se ele viver. Também o novo homem é um homem perfeito de uma vez, como as partes, embora ainda não chegou à medida da estatura da plenitude de Cristo.
5. A graça da regeneração nunca pode ser perdida; uma vez regenerado, sempre será assim. Aquele que é nascido em um sentido espiritual, nunca pode ‘desnascer’ de novo; pois ele não pode morrer uma morte espiritual; ele é nascido da semente incorruptível e imortal; ele é nascido da água e do Espírito, ou da graça do Espírito, que é como um poço de água viva dentro dele, que jorra para a vida eterna, e todos esses que são gerados de novo para uma viva esperança de uma herança gloriosa, são guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação (1 Pedro 1:3-5, 23). Ao qual pode ser adicionado,
6. Um complemento que sempre acompanha a regeneração, uma guerra espiritual entre o velho e o novo homem, o princípio do pecado, e o princípio da graça; a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; a lei nos membros guerreando contra a lei do espírito; que são, por assim dizer, a companhia de dois exércitos em guerra um com o outro, que sempre acaba com uma vitória para o lado da nova criatura; pois todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e o pecado e Satanás, e todos os inimigos, e é mais do que um vencedor sobre todos, por meio de Cristo.
__________
[1] ti an agaqon pratths eis qeous anapemte, Bias apud Laert. 1.1. in vita ejus.