[Capítulo 14 do livro A Guide to Fervent Prayer • Editado]
“E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém” (Apocalipse 1:5-6).
Duas evidências do amor de Cristo por Seu povo são mencionadas nesta oração: Sua purificação de seus pecados por Seu próprio sangue, e o Seu valoriza-los pelas dignidades que Ele lhes concede. Mas há também uma terceira expressão e manifestação do Seu amor que, embora não claramente expressa, é necessariamente implícita aqui, ou seja, Sua provisão para eles. Como o resultado da obra que o Seu amor O levou a realizar em lugar deles, Ele meritoriamente garantiu o Espírito Santo para o Seu povo (Atos 2:33). Cristo, portanto, envia o Espírito Santo para regenerá-los, para tomar as coisas de Cristo e revelá-las a eles (João 16:14-15), para comunicar um conhecimento experiencial e salvífico do Senhor Jesus, e produzir fé em seus corações para que eles creiam nEle para a vida eterna. Eu digo que tudo isso está necessariamente implícito, pois somente por estas realidades eles são capacitados a real e sensivelmente exclamar “o qual me amou”, sim, de modo que cada um deles veja que este Cristo, o Filho de Deus “me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gálatas 2:20). Esta é a quintessência da verdadeira bem-aventurança, a saber, ser assegurado pelo Espírito da Palavra que eu sou um objeto de amor infinito e imutável de Cristo. O conhecimento disso torna-O “totalmente desejável” em minha estima (Cantares de Salomão 5:16), regozija a minha alma, e santifica minhas afeições.
Por meio da Fé Salvadora, Alguém Olha para Fora de Si Mesmo, para Cristo
Veja aqui a apropriada natureza da fé salvadora. Ela se apega a Cristo e Seu sacrifício pelos pecadores como revelado pela Palavra da verdade. Ela diz: Aqui está uma carta de amor do céu sobre o glorioso evangelho do Filho de Deus, que relata o amor de Cristo e as mais fortes e maiores provas possíveis do mesmo. Eu vejo que esta carta é para mim, pois ela é dirigida aos pecadores, sim, até ao principal dos pecadores. Ela tanto convida quanto ordena-me a receber este amável Ser Divino e acreditar sinceramente na suficiência de Seu sangue expiatório pelos meus pecados. Por isso, O tomo como Ele é oferecido gratuitamente pelo Evangelho, e confio em Sua própria palavra: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37). Esta fé não vem por sentimentos de meu amor a Cristo, mas pelo anúncio de Seu amor pelos pecadores (Romanos 5:8; 10:17). É verdade, o Espírito Santo, no dia do Seu poder, faz impressões sobre o coração pela Palavra. No entanto, o fundamento da fé não são essas impressões, mas o Evangelho em si mesmo. O objeto da fé não é Cristo operando no coração e suavizando-o, mas sim Cristo como Ele é apresentado para nossa aceitação na Palavra. O que nós somos chamados a ouvir não é Cristo falando secretamente dentro de nós, mas é Cristo que fala abertamente, objetivamente, sem nós.
Os Benditos Frutos da Fé Salvadora
Uma maldição mui terrível é pronunciada sobre todos os que “não amam ao Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 16:22). Solene, em verdade, é perceber que essa maldição recai sobre a grande maioria dos nossos companheiros, mesmo nos países que têm a reputação de serem Cristãos. Mas por que algum pecador ama a Cristo? Alguém só pode fazê-lo, porque ele crê no amor de Cristo pelos pecadores. Ele percebe a maravilha e a preciosidade do mesmo; pois “a fé opera pelo amor” (Gálatas 5:6), mesmo pelo amor de Cristo, que se manifesta em nossa direção. Ela recebe ou toma o Seu amor para o coração. Em seguida, opera a paz na consciência, concede acesso consciente a Deus (Efésios 3:12), desperta alegria nEle, e promove a comunhão com e conformidade a Ele. Essa fé, implantada pelo Espírito Santo, que opera pelo amor, o reflexo de nossa apreensão e apropriação do amor de Cristo, mata nossa inimizade contra Deus e leva a nos deleitarmos em Sua Lei (Romanos 7:22). Tal fé conhece, sob a autoridade da Palavra de Deus, que os nossos pecados, que eram a causa da nossa separação e alienação dEle, foram lavados pelo sangue expiatório de Cristo. Quão inefavelmente bendito é saber que na plenitude dos tempos, Cristo apareceu “para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hebreus 9:26), e que Deus diz sobre todos os crentes “e jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades” (Hebreus 10:17).
Sobre nossa confiança nos testemunhos Divinos do Evangelho dependem, em grande medida, tanto a nossa santidade prática quanto o nosso consolo. Nosso amor a Cristo e adoração a Ele crescerá ou diminuirá em proporção à nossa fé na Pessoa e obra de Cristo. Onde existe uma garantia pessoal do Seu amor, não pode deixar de haver uma união com os santos no céu em louvor a Cristo por lavar-nos de nossos pecados (Apocalipse 5:9-10). Mas muitos se oporão: “Eu ainda tenho tanto pecado em mim; e tantas vezes obtêm o domínio sobre mim, de modo que eu não me atrevo a acalentar a segurança de que Cristo me lavou dos meus pecados”. Se isso este é o seu caso, eu pergunto: Você se lamenta a respeito de suas corrupções, e sinceramente deseja ser para sempre livrar delas? Se assim for, isso é prova de que você tem o direito de se alegrar no sangue expiatório de Cristo. Deus vê quão apropriado é deixar o pecado em você, para que nesta vida você seja mantido humilde diante dEle e maravilhe-se mais em Sua longanimidade. É Sua designação que o Cordeiro seja agora comido “com ervas amargas” (Êxodo 12:8). Este mundo não é o lugar do seu descanso. Deus permite que você seja assediado por suas concupiscências, para que você olhe adiante mais ansiosamente pela libertação e descanso que esperam por você. Embora Romanos 7:14-25 descreva com precisão a sua experiência presente, Romanos 8:1 também declara: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”!
As Elevadas Posições e Privilégios Concedidos aos Cristãos em Virtude da União com Cristo
“E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai”. Aqui está o terceiro motivo inspirador para a atribuição que se segue. Tendo reconhecido o endividamento dos santos pelo amor e sacrifício do Salvador, o apóstolo João agora celebra, na linguagem dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Apocalipse 1:6; Hebreus 12:23), as elevadas dignidades que Ele lhes conferiu. Nós, que somos filhos do Altíssimo, na devida medida, somos feitos participantes das honras dAquele que é o Rei dos reis e nosso grande Sumo Sacerdote; e a apreensão deste fato evoca uma canção de louvor a Deus. Quando percebemos que o Senhor Jesus compartilha Suas próprias honras com Seus remidos, conferindo-lhes tanto dignidade real quanto sacerdotal proximidade de Deus, não podemos deixar de exclamar, com exultação: “a ele glória e poder para todo o sempre”. Somos virtualmente feitos reis e sacerdotes quando Ele contraiu o cumprimento dos termos da aliança eterna, por este engajamento, fomos assim constituídos. Por compra fomos feitos reis e sacerdotes quando Ele pagou o preço de nossa redenção, pois foi por Seus méritos que Ele comprou esses privilégios para nós. Federalmente fomos feitos assim, quando Ele subiu às alturas (Efésios 4:8; 2:6) e entrou no interior do véu como nosso Precursor (Hebreus 6:19-20). De fato, nós somos feitos assim em nossa regeneração, quando nos tornamos participantes de Sua unção.
“E nos fez reis e sacerdotes para Deus”. Aqui nós temos o Redentor exaltando e enobrecendo Seus remidos. Isto pressupõe e decorre do nosso perdão, e é o resultado positivo da obediência meritória de Cristo à Lei de Deus (sem a qual Ele não poderia ter morrido no lugar dos pecadores). Aquele que nos amou não somente removeu nossas impurezas, mas também nos tem restaurado ao favor e comunhão Divinos. Além disso, Ele garantiu para nós uma recompensa gloriosa; Ele tomou o nosso lugar para que pudéssemos compartilhar o Seu. A fim de que possamos ser protegidos de certos erros insidiosos, que trouxeram não poucos dos filhos de Deus em cativeiro, é importante perceber que essas designações não pertencem apenas a uma classe muito seleta e elevada de Cristãos, mas também a todos os crentes. Também é necessário, para que não sejamos roubados pelo Dispensacionalismo, que compreendamos que essas dignidades pertencem a nós agora. Elas não estão adiadas até a nossa chegada no céu, e muito menos até ao amanhecer do milênio. Cada santo tem estas duas honrarias conferidas a ele de uma vez: ele é um sacerdote real, e um rei sacerdotal. Aqui vemos a dignidade e nobreza do povo do Senhor. O mundo olha para nós como miseráveis e desprezíveis, mas Ele fala sobre nós como “ilustres em quem está todo o meu prazer” (Salmos 16:3).
Quando Paulo diz em 2 Coríntios 1:21 que Deus “nos confirma convosco em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus”, ele está indicando que Deus nos fez reis e sacerdotes; pois a palavra ungido é expressivo de dignidade. Reis e sacerdotes eram ungidos quando inauguravam em seus ofícios. Portanto, quando se diz que Deus ungiu todos os que estão em Cristo Jesus, ele dá a entender que Ele os qualificou e autorizou ao cumprimento desses cargos elevados. Ao elaborar um nítido contraste entre os crentes verdadeiros e falsos irmãos e falsos mestres, o apóstolo João diz: “E vós tendes a unção do Santo… E a unção que vós recebestes dele, fica em vós” (1 João 2:20, 27). Temos uma participação na unção de Cristo (Atos 10:38), recebendo o mesmo Espírito com que Ele foi ungido (um belo tipo da unção de Cristo é apresentado em Salmos 133:2). A bem-aventurança dos eleitos aparece na medida em que são feitos reis e sacerdotes, em virtude do Nome em que eles são apresentados diante de Deus. Aqueles que “recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo” (Romano 5:17). Embora em todas as coisas Cristo tenha a primazia, sendo “o Rei dos reis”, pois Ele foi “ungido com óleo de alegria mais do que a teus [Seus] companheiros” (Salmos 45:7), ainda assim, os Seus companheiros são investidos com a realeza; e “qual ele é, somos nós também neste mundo” (1 João 4:17). Oh, a fé deve apropriar-se desse fato, e pela graça conduzir-nos em conformidade com ele!
Aparentemente, há um contraste projetado entre as duas expressões, “os reis da terra” e “nos fez reis e sacerdotes para Deus”. Eles são reis, naturalmente, nós espiritualmente; eles quanto aos homens, nós quanto a Deus. Eles são apenas reis, mas nós somos ambos, reis e sacerdotes. O domínio dos monarcas terrestres é apenas passageiro; sua glória real desaparece rapidamente. Mesmo a glória de Salomão, que superou a de todos os reis da terra foi apenas de curta duração. Mas nós seremos co-regentes com um Rei, cuja fundação do trono (Apocalipse 3:21) é indestrutível, cujo cetro é eterno, e cujo domínio é universal (Mateus 28:18; Apocalipse 21:7). Devemos nos vestir com a imortalidade e ser investidos de uma glória que nunca se esmaecerá. Os crentes são reis, não no sentido de que eles tomam parte no governo do céu sobre a terra, mas como partícipes da vitória de seu Senhor sobre Satanás, o pecado e o mundo. Nisso os Cristãos também são distinguidos dos anjos, pois eles não são reis, nem jamais reinarão, pois eles não são ungidos. Eles não têm união com o Filho de Deus encarnado, e, portanto, eles não são “coerdeiros com Cristo”, como são os redimidos (Romanos 8:17). Assim, longe disso, todos eles são “espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hebreus 1:14). Dele é um lugar subordinado e uma tarefa subserviente!
Um Domínio Moral Exercido pelo Cristão
Cristo não apenas realizou uma grande obra para o Seu povo, mas Ele efetua uma grande obra neles. Ele não apenas os lava de seus pecados, os quais Ele odeia, mas Ele também transforma pelo Seu poder as pessoas deles, as quais Ele ama. Ele não os deixa como Ele os encontra inicialmente sob o domínio de Satanás, o pecado e o mundo. Não, mas Ele torna os reis. Um rei é aquele que é chamado para governar, que é investido de autoridade, e que exerce o domínio; e assim o fazem os crentes sobre os seus inimigos. É verdade que alguns dos sujeitos a que somos chamados para governar são fortes e turbulentos, ainda assim, somos “mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8:37). O Cristão é “rei a quem não se pode resistir” (Provérbios 30:31). Embora ele seja muitas vezes superado em sua pessoa, contudo ele nunca deve ser superado em sua causa. Ainda há uma lei em seus membros guerreando contra a lei de seu espírito (Romanos 8:23), mas o pecado não terá domínio sobre ele (Romanos 6:14). Uma vez o mundo o mantinha em cativeiro, presumindo ditar a sua conduta, de modo que ele temia desafiar seus costumes e envergonhava-se de ignorar suas regras de conduta, mas agora “todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1 João 5:4). Por meio do dom da graça Divina da fé, somos capazes de buscar a nossa porção e deleite nas coisas de cima. Observe bem as palavras de Thomas Manton sobre este assunto:
Rei é um nome de honra, poder e ampla possessão. Aqui nós reinamos espiritualmente, enquanto vencemos o diabo, o mundo e a carne, em alguma medida. É algo principesco estar acima dessas coisas inferiores e pisar tudo sob os nossos pés em uma santa e celeste dignidade. Um pagão poderia dizer: “Ele é um rei que não teme nada e não deseja nada”. Aquele que está acima das esperanças e temores do mundo, aquele que tem o coração no céu e está acima das ninharias temporais, dos altos e baixos do mundo, o mundo sob suas afeições; este homem é de um espírito real. O reino de Cristo não é deste mundo, nem o é o de um crente. “E para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra” (Apocalipse 5:10), ou seja, de uma forma espiritual. É algo bestial atender às nossas concupiscências, por outro lado é algo majestoso ter a nossa conversação no céu e vencer o mundo para viver de acordo com a nossa fé e amor com um espírito nobre. Depois, reinaremos visível e gloriosamente quando nos assentarmos no trono com Cristo.
Os santos ainda julgarão o mundo, sim, e também os anjos (1 Coríntios 6:2-3).
A Superioridade do Auto-Governo sobre a Regra Secular
O trabalho que é atribuído ao Cristão como um rei é governar a si mesmo. “Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade” (Provérbios 16:32). Como um rei o Cristão é chamado a mortificar a sua própria carne, resistir ao diabo, disciplinar seu temperamento, subjugar suas paixões e trazer cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:5). Essa é uma tarefa que dura por toda a vida. O Cristão não consegue realizá-la em sua própria força. É o seu dever buscar capacitação do alto, e recorrer à plenitude da graça que está disponível para ele em Cristo. O coração é o seu reino (Provérbios 4:23); e é sua responsabilidade fazerem a razão e a consciência, ambos formados pela Palavra de Deus, governarem os seus desejos de modo que a sua vontade seja sujeita a Deus. É exigido dEle ser o mestre de seus apetites e regulador de suas afeições, negar concupiscências ímpias e mundanas, e viver sóbria, justa e piedosamente neste mundo. Ele deve “de tudo se abster” (1 Coríntios 9:25). Ele deve subjugar sua impetuosidade e impaciência, recusar a vingar-se quando os outros o prejudicam, refrear suas paixões, “vencer o mal com o bem” (Romanos 12:21), e ter tal controle de si mesmo que ele se alegre com tremor (Salmos 2:11). Ele deve aprender o contentamento em cada estado ou condição de vida que Deus, em Sua sábia e boa providência tenha o prazer de colocá-lo (Filipenses 4:11).
Alguns monarcas terrenos têm não poucos súditos infiéis e indisciplinados que os invejam e os odeiam, que se irritam com seu cetro, e que querem depô-los. No entanto, eles ainda mantêm seus tronos. Da mesma maneira, o rei Cristão tem muitas e rebeldes concupiscências e traidoras disposições que se opõem e resistem continuamente ao seu governo, no entanto, ele deve buscar graça para contê-las. Em vez de esperar a derrota, é o seu privilégio ter a certeza: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4:13). O apóstolo Paulo estava exercendo seu ofício real, quando ele declarou: “Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Coríntios 6:12). É nisso ele nos deixou um exemplo (1 Coríntios 11:1). Ele também estava conduzindo-se como um rei quando ele disse: “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão” (1 Coríntios 9:27). No entanto, como tudo nesta vida, o exercício do nosso ofício real é muito imperfeito. Ainda não temos entrado totalmente em nossas honras reais ou agido em nossa dignidade real. Ainda não recebemos a coroa, ou nos sentamos com Cristo em Seu trono, cujas cerimônias de coroação são essenciais para a manifestação completa de nosso reinado. No entanto, a coroa está guardada para nós, uma mansão (infinitamente superior ao Palácio de Buckingham) está sendo preparado para nós, e essa promessa é nossa: “E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés” (Romanos 16:20).
Os Privilégios Sacerdotais e Deveres do Crente
Seguindo meu costume habitual, tenho me esforçado para fornecer o máximo de auxílio onde comentaristas e outros expositores forneceram o mínimo. Tendo procurado explicar em algum pormenor o ofício real do crente, menos necessita ser dito sobre o ofício sacerdotal. Um sacerdote é aquele a quem é dado um lugar de proximidade de Deus, quem tem acesso a Ele, que tem santo relacionamento com Ele. É o seu privilégio ser admitido à presença do Pai e ser dado sinais especiais de Seu favor. Ele tem um serviço Divino a executar. Seu ofício é um de grande honra e dignidade (Hebreus 5:4-5). No entanto, isso não se refere a nenhuma hierarquia eclesiástica, mas é comum a todos os crentes. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real”. Os Cristãos são “o sacerdócio real” ordenado a “oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pedro 2:5, 9). Eles são adoradores da majestade Divina, e trazem com eles um sacrifício de louvor (Hebreus 13:15). “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei” (Malaquias 2:7). Como sacerdotes, eles devem ser intercessores por todos os homens, especialmente pelos reis e por todos os que estão em posição de autoridade (1 Timóteo 2:1-2). Mas o exercício pleno e perfeito de nosso sacerdócio está no futuro, quando, livres do pecado e dos temores carnais, veremos a Deus face a face e O adoraremos de forma ininterrupta.
Uma Doxologia Apropriada com Base em Quem Cristo é e no Que Ele fez
“A ele glória e poder para todo o sempre. Amém” [Apocalipse 1:6]. Este é um ato de adoração, uma atribuição de louvor, um suspiro de adoração ao Redentor a partir do coração dos redimidos. Cristãos variam muito em suas capacidades e realizações, e eles diferem em muitos pontos de vista e práticas menores. Mas todos eles se unem com o apóstolo nisso. Todos os Cristãos têm substancialmente as mesmas visões de Cristo e o mesmo amor por Ele. Onde quer que o Evangelho tenha sido salvificamente apreendido, ele não pode deixar de produzir este efeito. Primeiro, há um reconhecimento devoto do que o Senhor Jesus fez por nós, e, em seguida, uma doxologia é prestada a Ele. Enquanto contemplamos quem foi que nos amou — não um companheiro mortal, mas Deus — nós não podemos senão nos prostrar diante dEle em adoração. Ao considerarmos o que Ele fez por nós: derramou Seu sangue precioso, os nossos corações são inclinados em amor a Ele. Na medida em que percebemos como Ele concedeu tais dignidades maravilhosas sobre nós, fazendo-nos reis e sacerdotes, não podemos deixar de lançar nossas coroas aos Seus pés (Apocalipse 4:10). Quando esses sentimentos verdadeiramente dominam a alma, a Cristo será concedido o trono de nossos corações. Nosso desejo mais profundo será o de agradar a Deus e viver para Sua glória.
“A ele glória”. Esta é uma palavra que significa (1) brilho visível ou esplendor, ou (2) uma excelência de caráter que coloca uma pessoa (ou coisa) em uma posição de boa reputação, honra e louvor. A “glória de Deus” denota principalmente a excelência do Seu Ser Divino e as perfeições de Seu caráter. A “glória de Cristo” compreende Sua Divindade essencial, as perfeições morais de Sua humanidade, e o alto valor de todos os Seus ofícios. Secundariamente, as manifestações físicas da glória de Jeová (Êxodo 3:2-6; 13:21-22) e do Seu ungido (Mateus 17:1-9) são derivadas da grande santidade do Deus Triuno (Êxodo 20:18-19; 33:17-23; Juízes 13:22; 1 Timóteo 6:16). Cristo tem uma glória intrínseca como o Filho de Deus (João 17:5). Ele tem uma glória oficial como o Mediador Deus-Homem (Hebreus 2:9). Ele tem uma glória meritória como a recompensa de Seu trabalho, e isso Ele compartilha com Seus remidos (João 17:5). Em nosso texto, glória é atribuída a Ele, por cada uma das seguintes razões. Cristo é aqui magnificado tanto pela excelência não-derivada de sua Pessoa que O exalta infinitamente acima de todas as criaturas e pela Sua glória adquirida que ainda será exibida diante de um universo reunido […]. Há uma glória que pertence a Ele como Deus encarnado, e isso foi proclamado pelos anjos sobre as planícies de Belém (Lucas 2:14). Há uma glória que pertence a Ele, em consequência de Seu ofício e obra de Mediador, e que pode ser devidamente celebrada apenas pelos remidos.
“E poder”. Isto, também, pertence a Ele em primeiro lugar por direito como o Deus eterno. Como tal o domínio de Cristo é não-derivado e supremo. Como tal, Ele tem soberania absoluta sobre todas as criaturas, estando o próprio diabo sob Seu domínio. Além disso, o domínio universal também é Seu por mérito. Deus fez “a esse Jesus”, a quem os homens crucificaram, “Senhor e Cristo” (Atos 2:36). Toda autoridade é dada a Ele, tanto no céu como na terra (Mateus 28:18). Isso foi prometido a Ele na aliança eterna como recompensa de Seu grande empreendimento. O reino mediatório de Cristo está fundamentado sobre a Sua morte sacrificial e ressurreição triunfante. Estas dignidades são Suas “para todo o sempre”, pois “do aumento deste principado e da paz não haverá fim” (Isaías 9:7, cf. Daniel 7:13-14). Por meio de um fiel “Amém”, estabeleçamos o nosso selo à veracidade da declaração de Deus.
Bem-aventurado é isso: antes que qualquer anúncio seja feito sobre os terríveis juízos descritos no Apocalipse, antes que uma trombeta de desgraça seja tocada, antes que um cálice da ira de Deus seja derramado sobre a terra, os santos (pela bênção inspirada de João) são primeiramente ouvidos louvando no cântico do Cordeiro:
“Aquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, E nos fez reis e sacerdotes [não para nós mesmos, mas] para Deus e seu Pai [para a Sua honra]; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém”!