A Prerrogativa Real, Sermão Nº 1523. Pregado na manhã do Dia do Senhor, 15 de fevereiro de 1880. Por C.H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.
“O nosso Deus é o Deus da salvação; e a DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte. Mas Deus ferirá gravemente a cabeça de seus inimigos e o crânio cabeludo do que anda em suas culpas.” (Salmos 68:20-21)
Não importa o que for dito sobre a dispensação do Antigo Testamento, e embora de forma tênue ela possa ter revelado algumas verdades de Deus, contudo havia uma questão que era clara como o sol, sob a economia do Antigo Testamento, a saber, o Senhor Deus de Israel é sempre muitíssimo notável. Deus está em tudo e sobre tudo, e a partir das páginas dos profetas, assim como dos lábios dos coros do templo, ouvimos soando alto a nota: “O Senhor reinará eternamente; o teu Deus, ó Sião, de geração em geração. Louvai ao Senhor” (Salmos 146:10). Pelo sacerdote e profeta, santo e vidente, o testemunho único é confirmado: “O SENHOR reina”. Você não pode ler o livro de Jó sem tremer na majestosa presença do Altíssimo. Também não podemos nos voltar para os Salmos sem sermos tomados com solene reverência, à medida que você vê Davi, Asafe, Hemã adorando o Senhor que fez o céu, a terra e o mar.
Em todas as passagens, desde Abraão até Malaquias, o homem é tido em pouca consideração e Deus é tudo em todos. Pouquíssima atenção é dada para quaisquer direitos imaginários e reivindicações do homem, e o espanto é demonstrado no fato do Criador atentar para o homem. Não lemos nenhum discurso sobre a dignidade da natureza humana, ou sobre a beleza do caráter humano, mas Deus, por Si só, é santo e quando Ele olha do Céu Ele não vê ninguém que faça o bem, nenhum sequer! O homem é envolvido no pó de onde ele surgiu e para o qual ele retornará. Todo o seu orgulho é extirpado e sua formosura mirrada e, acima de tudo somente Deus é visto e ninguém ao lado dEle.
Será uma grande ofensa se, entrando na luz mais brilhante do Novo Testamento, formos menos vívidos em nossas concepções sobre a glória de Deus. Se Deus for menos claramente visto na Pessoa de nosso Senhor Jesus do que quando Ele estava sob os símbolos da Lei, será culpa de nossos corações cegos. Será prejudicial para nós transformarmos o dia em noite e, como corujas, vejamos menos por que a luz é aumentada! Que não seja assim entre nós, mas que seja em nossas igrejas como no antigo Israel, do qual foi dito: “Conhecido é Deus em Judá; grande é o seu nome em Israel” [Salmos 76:1]. “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” [Hebreus 1:1], e por Ele, como o Verbo encarnado, Ele se revelou com um esplendor sétuplo, portanto, deve ser o grande deleite de nossa alma perceber Deus em todas as coisas, nos alegrarmos em Sua presença e engrandecê-lO em todas as coisas como Rei dos reis e Senhor dos senhores!
O Salmista, neste caso particular, atribui ao Senhor a ação universal e poder sobre nós, pois ele atribui a Ele as misericórdias da vida e as questões da morte. Ele diz: “Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos carrega de benefícios” [Salmos 68:19]. O Senhor amontoa Seus favores até que seu número se acumula na memória e seu valor sobrecarrega os ombros da gratidão. Ele nos concede tantas misericórdias que a mente é dominada no esforço para calcular o seu valor! Somos sobrecarregados com um senso de Sua bondade e a consciência de que não podemos retornar algum agradecimento adequado para tal abundância de graça diária. Esse é o nosso Deus na vida, Ele será na morte? Ficaremos sem Ele ali?
Não, bendito seja o Seu nome, “a DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte” [Salmos 68:20]. Seu reino inclui a terra da sombra da morte e todos os seus termos. Nós não morreremos sem Sua permissão, nem sem a Sua presença! Embora misericórdias temporais encontrarão o seu fim quando a vida terminar, ainda existem misericórdias eternas que ao longo da vida eterna devem manifestar a bondade do Altíssimo. E enquanto isso, por salvamentos, recuperações e fugas, seremos preservados de descer ao túmulo prematuramente.
Se qualquer um de vocês, queridos amigos, foram trazidos para perto das portas da morte; se foram derrubados pela doença cansativa; se o seu coração se afundou dentro de você em uma espécie de morte mental, você irá, ao voltar à saúde e à força, mais cordialmente bendizer ao Senhor, que encontra para nós um caminho para retornarmos das proximidades do sepulcro! Ele não somente é o Deus da vida, mas o Deus na morte. Ele nos mantém em vida e torna a vida feliz. Ele nos impede da morte e das agências ferozes que esperam arrastar-nos para o túmulo. Há questões fora da sombria terra limítrofe da doença, perigo e desespero, e o Senhor nos conduz pela Sua própria mão direita, para conduzir-nos ao livramento. Será que Ele não diz: “Eu os farei voltar de Basã, farei voltar o meu povo das profundezas do mar”? [Salmos 68:22]. Devemos e vamos louvá-lO por isso com um novo cântico! Eu entendo a partir de nosso texto que a morte está na mão de Deus; que os livramentos da morte são manifestações de Seu poder Divino e que Ele é digno de ser louvado por eles.
O esboço do discurso desta manhã, como indicado pelo texto, é apenas isso: Em primeiro lugar, a prerrogativa soberana de Deus: “a DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte”. Em segundo lugar, o caráter do Soberano a quem essa prerrogativa pertence: “O nosso Deus é o Deus da salvação”. E, em seguida, em terceiro lugar, a solene advertência que este grande Soberano dá em referência ao exercício de Sua prerrogativa. Severas são as palavras! Que o Espírito Santo nos conduza a sentir o Seu poder: “Deus ferirá gravemente a cabeça de seus inimigos e o crânio cabeludo do que anda em suas culpas”.
I. Primeiro, então, com profunda reverência, falaremos sobre A SOBERANA PRERROGATIVA DE DEUS. “DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte”. Reis estiveram acostumados a deter o poder da vida e da morte em suas próprias mãos. O grande Rei dos reis, o Governante soberano e Senhor absoluto de todos os mundos reserva isso mesmo a Si, Ele permitirá que os homens morram ou lhes dará livramento da morte segundo aprouver à Sua própria boa vontade e prazer. Ele pode igualmente criar e destruir. Ele envia o Seu Espírito e eles são criados e em Seu próprio prazer Ele diz: “Voltai, ó filhos dos homens”, e eis que eles caem diante dEle como as folhas caídas no outono!
A prerrogativa da vida ou morte pertence a Deus em uma ampla gama de sentidos. Primeiro de tudo, quanto à vida natural somos todos dependentes de Sua boa vontade. Nós não morreremos até o tempo que Ele indica, pois o tempo de nossa morte, como todo o nosso tempo, está em Suas mãos. Nossas orlas podem roçar nos portais do sepulcro e ainda atravessarmos o portão de ferro ilesos se o Senhor for o nosso Protetor. Os lobos da doença nos caçam em vão até que Deus permite-lhes vencer-nos.
Os inimigos mais desesperados podem nos atacar de surpresa, mas nenhuma bala encontrará o seu destino em qualquer coração sem que o Senhor o permita. Nossa vida nem sequer depende do cuidado dos anjos, nem a nossa morte pode ser causada pela malícia dos demônios. Somos imortais até que nosso trabalho esteja concluído! Somos imortais até que o Rei imortal chame-nos de voltar à terra onde seremos imortais em um sentido ainda mais elevado.
Quando estamos muito doentes e mais prontos para desfalecer na sepultura, não precisamos nos desesperar por causa da recuperação, uma vez que as questões da morte estão nas mãos do Todo-Poderoso: “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” [1 Samuel 2:6]. Quando o nosso estado estiver além da habilidade do médico, não estamos além do socorro do nosso Deus, a quem pertence os livramentos da morte. Espiritualmente também, essa prerrogativa está em Deus. Estamos, por natureza, sob a condenação da Lei por causa dos nossos pecados, e nós somos como criminosos julgados, condenados, sentenciados e enviados para a morte. Pertence a Deus, como o grande Juiz, ver a sentença executada, ou emitir um perdão gratuito, de acordo com o que Lhe agrada! E Ele nos fará saber que é do Seu supremo prazer que este assunto depende.
Sobre a cabeça de um universo de pecadores, eu ouço esta frase retumbante: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” [Romanos 9:15]. Presos nos laços da morte, como os homens estão devido aos seus pecados, pertence a Deus perdoar quem Ele quer, ninguém tem qualquer pretensão de Seu favor e este deve ser exercido mediante mera prerrogativa, porque Ele é o Senhor Deus, misericordioso e clemente e Ele tem prazer em perdoar a transgressão e o pecado. Assim, também, o Senhor liberta Seu próprio povo crente da “morte, muitas vezes”, que faz parte da experiência deles. Embora, em Cristo Jesus, nós sejamos libertos da morte como penalidade, entretanto muitas vezes sentimos uma morte interior causada pela velha natureza, que exerce uma influência mortal dentro de nós. Sentimos a sentença de morte em nós mesmos que não podemos confiar em nós mesmos, mas em Jesus, em quem a nossa vida está escondida.
Pode ser que por algum tempo as nossas alegrias estejam amortecidas, o nosso vigor espiritual desvaneça, e dificilmente possamos saber se temos alguma vida espiritual remanescente dentro de nós. Tornamo-nos como as árvores de inverno cuja substância existe em si, mas a seiva deixa de fluir e não há nem fruta nem folha para acusar a vida interior secreta. Nós quase não sentimos uma emoção espiritual nestes tempos tristes e não nos atrevemos a nos incluir entre os vivos em Sião! Nesses momentos, o Senhor pode nos devolver a plenitude da vida! Só Ele pode restaurar nossa alma da cova da corrupção e levar-nos não somente para a vida, mas para tê-la mui abundantemente. Os livramentos da morte estão com o Espírito vivificador e quando nossas almas apegam-se ao pó, Ele pode nos revivificar novamente, até que exultemos com alegria indizível!
Como o clímax de tudo, quando realmente viermos a morrer e quando esses nossos corpos descerão ao túmulo sem piedade, como provavelmente eles irão, nas mãos de nosso Senhor Redentor estão os livramentos da morte! O arcanjo está agora mesmo esperando o sinal, uma rajada de sua trombeta será suficiente para reunir os eleitos de todas as terras, do leste ao oeste, do sul ao norte! Então, a morte, em si, deve desaparecer, e os justos se levantarão:
“Dos leitos de pó e barro silencioso,
Para os reinos do dia eterno.”
“Eu sou a ressurreição e a vida” [João 11:25], diz Cristo, e Ele é ambos para todo o Seu povo. Não é Ele a Vida, pois Ele diz: “quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”? Não é Ele a Ressurreição, pois Ele diz: “quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”? Aquele resplandecente dia brilhante em que os santos hão de subir com o seu Senhor mostrará como a Deus, o Senhor, pertencem os livramentos da morte!
A nossa tradução é muito feliz, porque ela traz tantas representações e inclui não apenas o livramento da morte, a libertação da condenação, renascimento da morte espiritual e o levantar-se da mortal depressão mental, mas o resgate de estragos diretos da morte pelo nosso ser ressuscitado novamente do túmulo! Em todos estes aspectos, o Senhor Jesus tem a chave da morte, Ele abre e ninguém fecha, Ele fecha e ninguém abre. Quanto a esta prerrogativa, podemos dizer, primeiro, que a Deus pertence o direito de exercê-la. Este direito advém, em primeiro lugar, dEle ser o nosso Criador. Ele diz: “todas as almas são minhas” [Ezequiel 18:4]. Ele tem um direito absoluto de fazer conosco o que Lhe agrada, vendo que Ele nos fez e não nós a si próprios. Os homens se esquecem do que eles são e vangloriam-se de grandes coisas, mas, na verdade, eles são apenas como o barro na roda do oleiro e Ele pode formá-los ou pode quebrá-los como Lhe aprouver. Eles não pensam assim, mas Ele sabe que seus pensamentos são vãos.
Oh! a dignidade do homem! Que tema para um discurso sarcástico! Como o sapo da fábula se inchou até que explodiu, o mesmo acontece com o homem, em seu orgulho e despeito contra o seu Criador, que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos [Isaías 40:22], e as nações são consideradas por Ele como a gota de um balde, e como o pó miúdo das balanças [v. 15]. A prerrogativa do Senhor sobre a criação é manifestamente ampliada moralmente pela nossa perda de qualquer consideração que possa ter surgido por obediência e retidão se os tivéssemos possuído. Nossa culpa envolveu a perda de reivindicações na qualidade de criatura, qualquer que elas pudessem ter sido. Somos todos culpados de alta traição, e cada um de nós é culpado de rebelião pessoal; portanto, não temos os direitos dos cidadãos, mas jazemos sob sentença de condenação.
O que diz a voz infalível de Deus? “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” (Gálatas 3:10). Estamos debaixo dessa maldição; a justiça nos sentenciou como culpados, e, por natureza, nós permanecemos condenados. Se, então, o Senhor terá o prazer de nos livrar da morte, isto permanece com Ele para fazê-lo; mas não temos direito a tal libertação, nem podemos usar qualquer argumento que seria proveitoso nos tribunais de justiça para a reversão da pena ou suspensão da execução. Antes, no tribunal de justiça no que diz respeito ao nosso caso será difícil fazer qualquer alegação de direito. Seremos expulsos com o desdém do Juiz imparcial, se nós apelarmos o nosso processo sobre essa base. Nosso procedimento mais sábio é apelar para a Sua misericórdia e Sua graça soberana, pois somente isto é a nossa esperança.
Compreenda-me claramente: Se o Senhor fizer com que todos nós pereçamos, nós apenas receberemos o que merecemos, e nós não temos, nenhum de nós, sequer uma sombra de reivindicação de Sua misericórdia; nós estamos, portanto, absolutamente nas mãos de Deus, e a Ele pertencem as questões da morte. Este direito de Deus para salvar é ainda manifestado pela redenção de Seu povo. Poderia ter sido dito que Deus não tinha direito de salvar, se ao salvar, Ele diminuísse a Sua justiça. Mas agora que Ele colocou o socorro sobre Alguém que é poderoso e Seu Filho unigênito tornou-se uma vítima em nosso lugar, para magnificar a Lei e torná-la gloriosa, o Senhor Deus tem um direito inquestionável de libertar da morte os Seus próprios redimidos por quem o Substituto morreu! Nosso Deus salva o Seu povo, em coerência com a justiça, ninguém pode questionar Seu agir corretamente, mesmo quando Ele justifica o ímpio. Seu direito e poder sobre os livramentos de morte são, no caso de Seus próprios entes comprados por sangue, claros como o sol ao meio-dia e quem discutirá com Ele?
Nosso texto, no entanto, coloca a prerrogativa sobre o único fundamento de senhorio e nós preferimos voltar a isso. “A DEUS, o Senhor, pertencem os livramentos da morte”. Esta é uma doutrina que é muito desagradável nestes dias, mas, no entanto, deve ser sustentada e ensinada: que Deus é um soberano absoluto e age como quer. As palavras de Paulo não podem ser silenciadas: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” [Romanos 9:20]. O Senhor não pode agir errado. Sua natureza perfeita é a lei em si! No caso dele Rex é Lex — o Rei é a Lei! Ele é o manancial e fonte de todos os direitos, verdade, regra e ordem. Sendo absolutamente perfeito em Si mesmo e compreendendo todas as coisas, não é possível para Ele fazer o contrário do que é correto. Ele é a bondade, verdade e justiça em Si e, portanto, as prerrogativas do Seu trono não são limitadas e ao Senhor do Céu e da terra pertencem os livramentos da morte!
Falamos o suficiente sobre essa questão de direito. Eu prossigo para observar que o Senhor tem o poder dessa prerrogativa. Com Ele está a capacidade de libertar os homens da morte natural. Jeová Rafá é um Médico que nunca fica perplexo. Medicamentos podem falhar, mas não o grande Criador de todas as plantas, ervas e medicamentos úteis! Estudos e experiências podem não ser inovadores, mas Aquele que formou o corpo humano conhece suas partes mais complexas e em breve pode corrigir seus distúrbios! Deus pode restaurar nossa saúde mesmo quando uma centena de doenças nos acometem ao mesmo tempo. Coragem, vocês desfalecidos, e olhem para cima! Certamente, quanto à alma, não há nenhum caso de homem tão distante que Deus não possa encontrar um livramento de sua morte. Ele pode expulsar sete demônios e uma legião de pecados diabólicos! Pois a Deus, o Senhor, pertence os livramentos da morte, embora o pecado seja sujo e desesperadora seja a condição causada pela transgressão. Aquele que ressuscitou Lázaro dentre os mortos depois de quatro dias pode levantar o mais corrupto da sepultura de suas iniquidades. Oh! que pecadores despertados cressem nisso!
Lembro de ter lido sobre um antigo ministro que tinha, há alguns anos, caído em desânimo profundo. Ele desistiu de seu púlpito e manteve-se por muito tempo isolado, sempre escrevendo coisas amargas contra si mesmo. Por fim, quando ele estava em seu leito de enfermidade, um servo de Deus foi enviado a ele, que lidou sabiamente com ele. Este bom homem disse ao desesperançado: “Irmão, você crê nesta passagem: ‘Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus’?”, “Eu creio nisso”, ele disse, “com todo o meu coração, estou convencido”, aqui o outro o deteve: “Eu não perguntei quais são as suas convicções, nem o que seus sentimentos podem ser, mas eu vim para te dizer que o homem que confia nessa promessa vive”. Esta declaração simples do Evangelho foi feita, pelo Consolador Divino, o meio de suprema consolação para o desesperançado!
Que ela possa ser igualmente útil a todos aqueles que a ouvem. Aquele que pode pendurar a esperança de sua alma sobre a capacidade infinita de Cristo para salvar, é um homem salvo! Aquele que crê nEle tem a vida eterna! Que bênção é essa! O Diabo pode me dizer que eu nunca escaparei da morte merecida e que eu estou preso para sempre por causa dos justos resultados das minhas transgressões. Minha própria consciência, conhecendo minha indignidade também pode me condenar milhares de vezes! Mas a Deus, o Senhor, pertencem os livramentos da morte e Ele pode e me arrebatará do meio das garras da morte, pois acredito nEle! Ele é capaz de trazer aqueles que Ele ordena, para poupar até mesmo da extrema profundeza do desespero!
O direito absoluto de Deus é apoiado pela onipotência e, portanto, Sua prerrogativa torna-se um fato. E isso não é tudo, o Senhor tem efetivamente exercido essa prerrogativa em abundantes casos. Quanto a esses livramentos de morte, que são vistos na restauração da doença, não preciso lembrar que estes são abundantes o suficiente. Às vezes, estes têm vindo de forma milagrosa, como quando Ezequias teve sua vida prolongada em resposta à oração, e quando muitos outros foram curados pelo Salvador e Seus Apóstolos. A vida tem sido preservada na cova dos leões e na barriga de um peixe; em uma fornalha ardente e no coração do mar. A morte não tem flecha na sua aljava que possa ferir o homem a quem Deus ordena viver! Fora do perigo iminente, o Senhor ainda liberta em meio ao curso normal da providência e há pessoas presentes, nesta manhã, que são provas de Seu poder de interposição. Ele levantou alguns de nós a partir de prostração do corpo e da depressão de espírito. Ele salvou outros de naufrágio e incêndio de forma muito singular e aqui estamos nós, vivendo para louvar a Deus, como fazemos neste dia!
Deus tem exercido essa prerrogativa espiritualmente. Em que miríade de casos Ele libertou almas da morte! Pergunte acolá, aos anfitriões vestidos de branco no céu: “Deus não demonstrou a vocês o Seu poder soberano para salvar?”. Pergunte a muitos aqui abaixo que provaram que Ele é misericordioso e eles te dirão: “Ele me salvou”. De acordo com a Sua misericórdia, concedeu um perdão gratuito, assinado por Sua mão real, dizendo: “Livre-o de descer à cova, pois eu encontrei um resgate”. Por que Sua soberania foi interposta para nos resgatar da morte não sabemos explicar. Nós muitas vezes perguntamos: “Por que eu fui levado a ouvir Sua voz? Como eu fui escolhido para viver?”. Contudo, permanecemos em silêncio, com grata admiração, e não inventamos nenhuma resposta! A vontade Divina, apoiada pelo poder Divino, operou o propósito soberano de amor e aqui estamos, salvos de uma morte tão grande por meio do amor invencível. Sim, de fato, a Deus, o Senhor, pertencem os livramentos da morte!
Venham, então, irmãos e irmãs, que Ele tenha toda a glória por isso! Se vocês estão vivos depois de uma longa doença, bendizei o Senhor, que perdoa todas as nossas iniquidades, quem sara todas as nossas enfermidades! Se vocês estão salvos da condenação nesta manhã e o sabem, bendizei o Senhor que nos aceita no Amado! Se vocês sentem, neste momento, que a morte do pecado não tem domínio sobre vós, pois a vida da graça reina interiormente, então bendigam ao Senhor, que vos vivificou e nos fez andar em novidade de vida! Glorifiquem o Seu nome neste dia, a Quem, em amor por suas almas, libertou-os do abismo da corrupção e lançou todos os seus pecados para atrás de Suas costas! Outrossim, se vocês têm uma gloriosa esperança de uma ressurreição abençoada e sentem que vocês podem sorrir na morte porque Deus sorri para vocês, então bendigam ao Senhor, que vos ressuscitará no último dia! Seu Redentor vive e vocês viverão, porque Ele vive! Portanto batam palmas com santa alegria! Bendigam ao Nome todo-glorioso dAquele a Quem pertencem os livramentos ou libertações da morte.
II. Assim, eu expus a prerrogativa. E agora, em segundo lugar, sigam-me com os seus pensamentos enquanto eu mostro O CARÁTER DO SOBERANO em quem essa prerrogativa é investida. Não podemos, em cima desta terra, exibir muito amor a príncipes humanos que afirmam domínio absoluto. O imperialismo não é a nossa posição. Entre as piores maldições que já caíram sobre a humanidade estão os monarcas absolutistas, hoje em dia os homens os repelem como Paulo sacudiu a víbora no fogo. Que o Senhor conceda que vejamos o fim da última das dinastias despóticas e que as nações sejam livres. Não podemos suportar um tirano e ainda se pudéssemos ter déspotas absolutamente perfeitos, humanamente falando, essa não poderia ser a melhor forma de governo.
Certamente, o grande e eterno Deus, que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, é absolutamente perfeito e podemos estar muito contentes em deixar todas as prerrogativas e investir todos os poderes em Suas mãos. Ele nunca pisou os direitos do mais vil, nem esqueceu o mais fraco. Seu pé não esmaga um verme desnecessariamente, nem Ele matou uma mosca com injustiça. Ele nunca fez uma maldade, nem operou uma injustiça. Nós oprimimos os outros, mas o Juiz de todos não oprime a ninguém! O Senhor é santo em todos os Seus caminhos e Sua misericórdia dura para sempre e as prerrogativas mais amplas são apresentados de forma segura em tais mãos.
Nosso texto nos diz ainda mais, isto é, nas mãos de quem os livramentos da vida e da morte são deixados: “O nosso Deus é o Deus da salvação”. Pecador, a sua salvação pertence a Deus, mas, por isso, não fique desencorajado, pois este Deus, em quem o assunto repousa é o Deus da salvação, ou de “salvações”, pois assim está no Hebraico. O que queremos dizer com isso? A Escritura quer dizer, em primeiro lugar, que a salvação é o mais glorioso de todos os desígnios de Deus. Desde que o mundo foi feito, o trabalho de salvação foi executado por meio de Sua história como um fio de prata. O Senhor fez o mundo e iluminou a lua e as estrelas e estabeleceu o céu, a terra e o mar em ordem, com os Seus olhos sobre a salvação em todo o arranjo. Ele regulou todas as coisas pelo Seu supremo governo, com o mesmo fim.
As grandes rodas de Sua providência estiveram girando esses 6.000 anos diante dos olhos dos homens e entre eles. E em suas costas uma mão sempre esteve se movendo para realizar cada movimento quanto à questão final, que é a salvação dos que estão na Aliança! Este é o objeto mais querido para o coração de Jeová. Ele ama salvar! Deus estava contente com a criação, mas não como Ele está com a redenção. Quando Ele fez os céus e a terra, foi uma obra comum para Ele. Ele apenas falou e disse: “É bom”. Mas quando Ele deu Seu Filho para morrer, de modo a redimir o Seu povo, e quando os Seus eleitos iam sendo salvos, Ele não falou com de maneira breve como na criação: Ele cantou! Não está escrito: “calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com cânticos”? (Sofonias 3:17, tradução literal).
A redenção é uma questão sobre a qual o Senhor canta! Você é capaz de imaginar o que deve acontecer para Deus cantar? Para o Pai, Filho e Espírito Santo irromperem em um hino de júbilo sobre a obra da salvação? Isso ocorre porque a salvação é muitíssimo querida ao coração de Deus, e na qual toda a Sua natureza está mais intensamente envolvida. O juízo é a Sua obra estranha, mas Ele Se deleita na misericórdia! Ele tem demonstrado muitos atributos na realização de outras obras, mas nesta, Ele revelou todo o seu Ser. Ele é visto nesta como mui poderoso para salvar. Nisto, Ele desnudou Seu braço. Para isso, Ele tomou o Seu Filho do Seu seio. Para isso, Ele fez com que Seu Unigênito fosse ferido e levado a sofrer. A salvação é o propósito eterno do mais íntimo do coração de Deus e por meio dela Sua maior glória é revelada! Esse, então, é o Deus a quem pertencem os livramentos da morte, o Deus cujo desígnio grandioso é a salvação! Cantai ao Seu nome e exultai que o Senhor reina, o Senhor é a minha força e o meu cântico, e também se tornou a minha salvação.
Se você perguntar, mais uma vez, o que isso significa: “O nosso Deus é o Deus da salvação”, lembramos que as obras mais encantadoras que o Senhor tem realizado foram as obras de salvação. Salvar os nossos primeiros pais no portão do Éden e dar-lhes uma promessa de vitória sobre a serpente foi a alegria de Deus. Abrigar Noé na arca também foi Seu prazer. O afogamento de um mundo culpado era necessário, mas a salvação de Noé foi agradável ao Senhor, nosso Deus. Ele destruiu a terra com a mão esquerda, mas com a mão direita Ele guardou os únicos justos que encontrou. Salvar o Seu povo é sempre a Sua alegria, Ele prossegue nisso avidamente! Montou um querubim e voou, sim, voou sobre as asas do vento, quando Ele veio libertar Seus escolhidos! Que proclamação Ele faz sobre a Sua obra salvadora no Mar Vermelho! Toda a Escritura está cheia de alusões à grande salvação da escravidão no Egito e até no Céu eles cantam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro.
O Antigo Testamento parece tocar esta nota: “Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro” [Êxodo 15:21]. O Senhor se alegrou muito ao fazer um caminho através do deserto e um caminho através das profundezas para o Seu próprio povo, para que pudesse operar a salvação para eles no meio da terra. Depois, no Antigo Testamento, como eles mantêm os registros de salvações! Há o registro dos reis que oprimiam o povo, mas quão dedicadamente eles gastam tempo descrevendo a maneira em que Deus redimiu Israel de seus adversários. Que nota de alegria há sobre Golias que foi morto e o filho de Jessé trazendo sua cabeça ensanguentada, e Israel liberto da jactância da Filístia! Eles bem disseram: “O nosso Deus é o Deus da salvação”. Ele tem prazer nos atos da graça, estes são os Seus deleites. Estas são Suas recreações. Ele sai em Suas vestes reais e coloca a Sua coroa com joias quando Ele se levanta para salvar o Seu povo e, portanto, Seus servos, clamam bem alto: “Bendizei, povos, ao nosso Deus, e fazei ouvir a voz do seu louvor, ao que sustenta com vida a nossa alma, e não consente que sejam abalados os nossos pés” [Salmos 66:8-9].
Este, então, é o Deus em quem está investida toda a soberania sobre os livramentos da morte. Ele tem prazer, não na destruição, mas na salvação dos filhos dos homens! Onde a prerrogativa estaria melhor colocada? “O nosso Deus é o Deus da salvação”, também significa que no tempo presente o Deus que é pregado para nós é o Deus da salvação. Vivemos, neste momento, sob a dispensação da misericórdia. A espada é embainhada, a balança da justiça é afastada. Essa balança não está destruída e aquela espada não está quebrada, nem mesmo está anulada, mas, por um tempo, ela repousa em sua bainha. Hoje, sobre todas as nossas cabeças se estende o cetro de prata do amor eterno. Um coro angelical ouvido pela primeira vez pelos pastores em Belém, persiste, ainda, nas regiões celestes, se você tem ouvidos para ouvi-lo: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens” [Lucas 2:14].
O reinado mediatório de Cristo é aquele de múltiplas salvações. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” [Mateus 11:28] é o anúncio salvífico do Deus que reina! O Deus da era Cristã é o Deus da salvação. Ele é apresentado diante de nós como vindo buscar e salvar o perdido! Ele habita entre nós pelo Seu Espírito permanentemente, não como um Juiz punindo criminosos, mas como um Pai recebendo Seus filhos errantes em Seu seio e alegrando-se com eles, uma vez mortos, mas agora vivos! Deus, em Cristo Jesus, nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, é Aquele que vivifica a quem Ele quer e é ordenado a dar a vida eterna a todos quantos o Pai Lhe deu. Onde mais todo o poder poderia ser colocado com mais segurança? Mais uma vez: “O nosso Deus é o Deus da salvação”, ou seja, para àqueles que pertencem à Sua Aliança, aqueles que podem chamá-lo de “nosso Deus”, Ele é especial e enfaticamente o Deus da salvação. Não há destruição para aqueles que O chamam de “nosso Deus”, pois, “agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” [Romanos 8:1]. Jesus não veio para condenar o mundo, mas para que o mundo, por meio dEle, fosse salvo. “Porque este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será…”, nosso destruidor? Não, “Ele será nosso guia até à morte” [Salmos 48:14]. Este Deus é o nosso sol e escudo e Ele dará graça e glória. Agora, observem bem este fato: nós, que com fé invocamos ao Senhor, “nosso Deus”, nesta manhã vos diremos que fomos salvos inteiramente pela graça soberana de Deus e não através de qualquer melhoria natural provinda de nós mesmos, nem através de qualquer coisa que nós tenhamos feito para merecer o Seu favor.
Foi porque Ele olhou para nós com consideração piedosa e bondosa, quando estávamos mortos em pecado que, portanto, vivemos! Quando estávamos deitados em nosso sangue e em nossa imundícia, Ele passou no tempo de amor e nos disse: “Vive”. Se Ele tivesse passado e nos deixado para morrer, Ele teria sido infinitamente justo ao fazê-lo, mas Seu coração O inclinou a fazer de outra maneira. Ele olhou para nós e disse: “Vive”, e nós vivemos e nós bendizemos ao Seu nome, de forma que ainda estamos vivendo e louvando a Sua eterna e infinita misericórdia! Aquele que diz: “eu mato, e eu faço viver” [Deuteronômio 32:39] é Aquele que nos vivificou, embora nós estivéssemos mortos em nossos delitos e pecados! Certamente, Aquele que exerceu Sua prerrogativa, tão gentilmente para conosco, pode ser confiável para exercê-la para com todos os que vêm a Ele de acordo com o Seu convite gracioso!
Se houver qualquer homem que diz: “Alegro-me com a eleição de Deus, porque, embora Ele tenha me salvado, deixou os outros a morrer”, eu não desejo ter nenhuma simpatia com o seu espírito. Minha alegria é de um tipo muito diferente, pois eu argumento que Aquele que salvou um tal indigno como eu sou, não lançará fora ninguém que vem a Ele pela fé! Sua eleição não é estreita, pois abrange um número que ninguém pode contar, sim, todos os que hão de crer em Jesus! Ele espera para ser misericordioso e aquele que vem a Ele, Ele de maneira nenhuma o lançará fora. A festa de casamento precisa de inúmeros convidados e todos os assentos devem ser preenchidos. Desejamos que toda a raça humana pudesse vir e aceitar as disposições do amor infinito e estamos ansiosos para ir para as ruas e valados e compeli-los a entrar! Nós nos alegramos em saber que, se qualquer homem está excluído de Cristo e da esperança, ele trancou a si mesmo do lado de fora, embora, ao mesmo tempo, sentimos que, se alguém está sendo trazido para o lado de dentro, este alguém não levou a si mesmo para dentro, antes a graça imerecida operou a sua salvação. A justiça governa na condenação, mas a graça reina na salvação!
Na salvação devemos atribuir tudo à graça, de forma absoluta e sem reservas. Não deve haver nenhuma gagueira sobre esta verdade de Deus! Alguns começam a dizer “graça”, mas eles não terminam com a palavra, eles a gaguejam terminando em “livre-arbítrio”. Isso nunca funcionará! Isso não está de acordo com o ensinamento da Sagrada Escritura, não está de acordo com os fatos. Se há aqui alguém que pensa que foi salvo como o resultado de sua própria vontade, à parte da poderosa graça de Deus, deixe-o jogar o chapéu para cima e engrandecer a si mesmo para sempre: “Glória à minha boa disposição!”. Mas, quanto a mim, cairei aos pés do trono de Deus e direi: “A graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo. Tivesse Tu, ó Deus, me deixado em minha própria vontade, eu ainda continuaria a desprezar o Teu amor e a rejeitar a Tua misericórdia”.
Certamente, todo o povo de Deus concorda que este é o fato em seu próprio caso, no entanto, embora isso seja diferente, teoricamente, da declaração geral. Sim, a prerrogativa de vida e morte está em boas mãos, está nas mãos dAquele que é o Deus da nossa salvação e rogo a todos aqui presentes que não são salvos, a serem encorajados a se curvarem diante do trono do grande Rei e clamarem pela misericórdia dAquele que está sempre pronto para salvar! Vá para casa e tente merecer a salvação e você perderá os seus esforços! Prossiga em adequar a si mesmo para receber a misericórdia e forjar algum bem que possa atrair a atenção de Deus e você enganará a si mesmo e insultará a majestade do Céu!
Mas, venha como você está, totalmente culpado, vazio, sem mérito e caído diante do grande Rei que você tão frequentemente provocou e rogue a Ele, que em Sua infinita misericórdia, apague as suas transgressões, mude a sua natureza e faça de você uma propriedade Sua e veja se Ele te rejeitará! Não está escrito: “Mas contigo está o perdão, para que sejas temido” [Salmos 130:4]? E mais uma vez: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” [João 6:37]. Seu trono é um trono da graça! A misericórdia está para sempre posta diante dEle! Ele é o Senhor, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade! Alguma vez, foi rejeitado algum penitente que pediu perdão aos Seus pés soberanos? Nunca! Nem tal caso ocorrerá enquanto a terra permanecer.
Se você tentar comprar o Seu favor, você será recusado. Se você reivindicá-lo como um direito, você será rejeitado. Mas se você vier e aceitar a salvação da caridade Divina e a receber por meio da expiação de Cristo Jesus, o Senhor, você encontrará um livramento da morte! Ouça o testemunho de Jeremias e seja encorajado a prostrar-se diante do Senhor: “Invoquei o teu nome, Senhor, desde a mais profunda masmorra. Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas. Pleiteaste, Senhor, as causas da minha alma, remiste a minha vida” [Lamentações 3:55-58].
III. Nosso último dever é ouvir A SOLENE ADVERTÊNCIA DE NOSSO SOBERANO SENHOR. Um novo deus tem sido ultimamente criado entre os homens, o deus do “cristianismo” moderno, o deus do pensamento moderno, um deus feito de mel ou açúcar. Ele é todo clemência, bondade, mansidão e indiferente quanto à questão do pecado. Justiça não há nele e quanto à punição pelo pecado, ele não a conhece. O Antigo Testamento, como você está, sem dúvida, ciente por meio dos sábios deste mundo, tem uma visão muito severa de Deus e, portanto, a sabedoria moderna coloca-O de lado. Na verdade, metade da Palavra de Deus está desatualizada e tornou-se um desperdício de papel!
Embora o nosso Senhor Jesus não veio “destruir a Lei ou os Profetas”, mas cumpri-los, contudo os avançados pensadores destes tempos iluminados nos dizem que a ideia de Deus no Antigo Testamento é falsa. Temos que acreditar em um novo deus que não se importa se o que fazemos é certo ou errado! “Por sua disposição todos virão para o mesmo fim. Pode haver alguma distorção por algum tempo por alguns que são bastante incorrigíveis, mas, finalmente tudo se endireitará. Viva como você gosta! Vá e blasfeme e beba. Vá e oprima os povos e faça guerras sangrentas e aja como quiser. Por meio do patriotismo, você estará bem quando tudo acabar!”. Este é aproximadamente o credo moderno que envenena toda a nossa literatura.
Mas deixe-me dizer por Jeová: isso não será como os homens sonham! Jeová, o Juiz de toda a terra, tem que cumprir o direito. O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó é o Deus de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Ele será chamado o Deus de toda a terra. Ele não mudou nem uma partícula na severa integridade de Sua natureza e Ele, de modo algum, poupará o culpado! Leia, a seguir, o último versículo do nosso texto e creia que é tão verdadeiro hoje como quando foi escrito pela primeira vez e que, se o próprio Jesus estivesse aqui, o Ser manso e humilde, Ele poderia dizer isso em tom de terna solenidade, mas Ele proferiria dizer o mesmo, a saber: “Deus ferirá gravemente a cabeça de seus inimigos e o crânio cabeludo do que anda em suas culpas”. É evidente a partir destas palavras que Deus não é indiferente ao caráter humano. Nosso Deus conhece os Seus inimigos. Ele não os confunde com os amigos, nem os trata como tais. Ele considera a iniquidade como uma transgressão e, portanto, Ele não quebrou os limites da Lei, nem as fronteiras do direito, ainda há ofensas e Deus as percebe e as observa, e os tais que continuam em seus pecados estão provocando a Sua longanimidade e provocando a Sua justiça! Deus não dorme, nem dormita diante do pecado humano, mas convoca a todos os homens em todos os lugares que se arrependam! E é claro, também, que Deus tem o poder para ferir aqueles que se rebelam contra Ele.
Não sonhem confiando que leis naturais resguardarão os ímpios: “Deus ferirá gravemente a cabeça de seus inimigos”. Eles podem erguer aquelas cabeças tão alto quanto quiserem, mas não podem estar fora do alcance das Suas mãos! Ele não apenas ferirá seus calcanhares, ou ferirá as costas com golpes que podem ser curados, mas em suas cabeças Ele fará golpes fatais e abatera até o pó. Ele pode fazê-lo e Ele o fará! Eles podem ser muito fortes e seu couro cabeludo coberto de pelos pode indicar força inabalável, mas eles não podem resistir à onipotência! Pode não haver nenhum sinal até agora da calvície, que advém da fraqueza ou da escassez de cabelo que é um sinal de velhice, mas vãos são aqueles que se vangloriam do vigor, mesmo em seu apogeu Ele pode fazê-los murchar como a erva do campo!
O orgulho pode gloriar-se de sua beleza — seu crânio cabeludo, como o de Absalão, pode ser sua glória —, mas como o Senhor fez o cabelo de Absalão ser o instrumento de sua desgraça, assim Ele pode fazer a vanglória do homem ser a sua ruína. O orgulho vem antes da destruição e um espírito altivo, antes da queda. Ninguém está fora do alcance de Deus, e nenhuma nação também! Os grandes estão altivos sobre os seus lugares elevados e eles falam sobre a “multidão vulgar”, e desprezam os piedosos da terra. Quanto às raças estrangeiras, quão pouco eles O estimam, embora o Deus único fez a todos eles! Populações e nações, o que são? Mera comida para o pó quando uma nação orgulhosa é estabelecida sobre o seu próprio engrandecimento. Derrubam seus reinos, abatem seus defensores patrióticos, avermelham a terra com sangue, queimam suas casas, fazem passar fome as suas mulheres e crianças. Deus não os conhece e não há ali julgamentos do Altíssimo?
Nós somos um grande povo, e temos homens, navios e dinheiro. Quem nos convocaria a prestar contas? No entanto, deixem, ainda, a pequena fala ser ouvida! Assim diz o Senhor para uma grande nação do passado: “Porque confiaste na tua maldade e disseste: Ninguém me pode ver; a tua sabedoria e o teu conhecimento, isso te fez desviar, e disseste no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra. Portanto sobre ti virá o mal, sem que saibas a sua origem, e tal destruição cairá sobre ti, sem que a possas evitar; e virá sobre ti de repente desolação que não poderás conhecer” [Isaías 47:10-11]. De tais castigos, bom Senhor, livrai-nos! Quando o Senhor coloca as mãos à obra de vingança, Sua matança será terrível, mesmo até uma derrota total, pois fará cair um uma matança sobre a cabeça!
Se Ele não ferir os Seus inimigos até a hora da morte, que golpe eles receberão! Eles se gabam de sua justiça própria, ou de sua grandeza, mas, o terror os acometerá, no último momento; enquanto eles sonham com o céu, eles serão lançados para dentro da insondável profundidade, ali receberão a recompensa eterna de sua rebelião audaz contra o seu Rei! Guerreiros da antiguidade, quando iam para a batalha, muitas vezes raspavam todo o cabe-lo, exceto aqueles cachos que estão na parte de trás do couro cabeludo. No entanto, quando se viravam para fugir frequentemente acontecia que eles eram agarrados por seus perseguidores pela sua cabeleira! Deus não costuma pegar os ímpios pelo topete, pois Ele tem muita paciência e tolerância com eles. Em casos especiais, como quando os homens jovens por meio de hábitos dissipados apressam a sua condenação, ele os toma pela frente, mas como regra, Ele espera para ter misericórdia. E mesmo assim Ele os suporta enquanto eles permanecem impunes, pois por fim, Ele agarra o seu crânio cabeludo. Se por oitenta anos a infinita paciência permitiu que um homem continue em sua rebelião, contudo se ele continua em suas culpas, ao fim, Deus deve enfiar a mão em seu crânio cabeludo e o agarrará para a sua própria destruição!
Convertei-vos, sim, vocês que não conhecem a Deus! Convertam-se diante de Sua repreensão, nesta manhã, pois a repreensão significa amor! E se eu usei palavras duras, é porque o meu coração está honestamente desejoso de que vocês se arrependam e escapem para Aquele que tem em Seu poder os livramentos da morte! Eu não sou como os bajuladores acolá que lhe dizem que há um pequeno inferno e um pequeno deus, de onde vocês naturalmente inferem que podem viver como quiserem. Ambos, você e eles perecerão eternamente, se acreditarem neles! Há um inferno terrível, pois há um Deus justo!
Convertei-vos a Ele, suplico-vos, enquanto ainda, em Cristo Jesus, Deus coloca a misericórdia diante de vocês! Ele é o Deus da salvação e suplica-lhes para que venham e aceitem a Sua grande graça em Cristo Jesus. Que o Senhor abençoe esta palavra de acordo com Sua própria mente e a Ele seja o louvor, para sempre e sempre. Amém.